Não perca nenhum dos nossos posts

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Novo Mundo: ótima junção de História e entretenimento



E acabou-se o que era doce... Hoje (25) chegou ao fim Novo Mundo. A trama das seis de Thereza Falcão e Alessandro Marson foi uma agradável surpresa que, ao misturar folhetim com figuras históricas, fazendo uma aventura de época inserida no início do Brasil Império, conseguiu manter o interesse do público e entregar uma trama redonda, divertida e sem barrigas.

A trama foi uma sucessão de acertos. A saga de Anna (Isabelle Drummond) seguiu a cartilha do folhetim básico, trazendo uma mocinha que tinha a sua força. Como era uma trama de época, a heroína, claro, era à frente do seu tempo, fugindo da chatice das protagonistas convencionais. Teve sua cota de dramalhão, sequestros e de cárcere, mas nada que prejudicasse o andamento da trama. Ao seu lado, outro herói idealizado, mas bem eficiente. Joaquim (Chay Suede) era quase um super-herói onipresente, mas funcionava, graças ao bom texto e ao carisma impresso pelo ator ao personagem.

Mas foi o casal que andou ao lado dos heróis que concentrou os olhares do público que curte uma boa história de amor. Os personagens históricos Dom Pedro I (Caio Castro) e sua primeira esposa, Leopoldina (Letícia Colin), caíram nas graças da audiência, sobretudo em razão do excelente trabalho da atriz, que deu humanidade à princesa. Assim, valeu a "licença poética" da trama, que aproveita do recorte da época retratada para dar um final feliz ao casal (infelizmente, na vida real, o destino da princesa foi bem melancólico), ao mesmo tempo em que conferiu ares de vilã à amante de Pedro, Domitila (Agatha Moreira).

Além do folhetim tradicional, os autores foram felizes ao usar a temática histórica para fazer um paralelo com o Brasil atual. Com muita sagacidade, Thereza Falcão e Alessandro Marson colocaram na boca de seus personagens diálogos de duplo sentido, que encaixavam perfeitamente no contexto atual do país. O resultado foi uma novela com diversas camadas, que não saía de seu objetivo principal, o entretenimento, mas que também era capaz de provocar o público e despertar a reflexão.

Além disso, Novo Mundo tinha uma galeria de personagens simpáticos, carismáticos e muitos divertidos, que sempre protagonizavam ótimas cenas e situações. Uma delas é a atriz Elvira Matamouros, sem dúvidas o melhor trabalho de Ingrid Guimarães na TV. A personagem começou como uma vilã, que fazia de tudo por amor a Joaquim, atrapalhando o romance dele com Anna. Quando cumpriu sua missão nesta trama, caminhava para a morte, mas o público tratou de "salvá-la". A solução encontrada pelos autores, então, foi armar uma falsa morte para Elvira, fazendo sua trama andar, mas colocando-a como uma carta na manga, para ser sacada num momento oportuno. E, quando voltou, Elvira assumiu de vez sua porção cômica, em novas situações. Elvira formou uma equipe e tanto com Germana (Vivianne Pasmanter) e Licurgo (Guilherme Piva), tipos impagáveis donos de uma pavorosa estalagem. Intrometidos, sem asseio e com muita cara-de-pau, o casal roubou todas as cenas com muito humor e até alguma crítica social. Elvira, Germana e Licurgo, juntos, foram os responsáveis pelos melhores momentos da trama.

Outro destaque foi o interessante triângulo amoroso formado por Wolfgang (Jonas Bloch), Diara (Sheron Menezzes) e Ferdinando (Ricardo Pereira). Os três personagens tão simpáticos, que ficou difícil tomar partido na situação. E o núcleo ganhou um tempero e tanto com a entrada da terrível Greta, mais um trabalho brilhante de Julia Lemmertz. Outro acerto foi a presença dos piratas que, embora pontual, teve trajetória sempre marcante. Fred Sem Alma (Leopoldo Pacheco) foi um vilão e tanto. Tal como Sebastião (numa interpretação terrivelmente fantástica de Roberto Cordovani, ator premiado na Europa) e, claro, o diabo-mor Thomas (Gabriel Braga Nunes).

Tantos acertos fizeram de Novo Mundo um novelão da melhor qualidade. Agora é aguardar mais um clichezão daqueles que será Tempo de Amar, mas torcer para que nela sejam bem utilizados também.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Os Dias Eram Assim: de "super", só se foi super ruim



Os Dias Eram Assim foi a primeira novela das onze a receber a esquisita nomenclatura de "supersérie". Contudo, encerrada sua exibição nesta segunda (18), pode-se afirmar que nela não teve nada de "super", nem de "série". Foi, na verdade, uma autêntica novela, com todos os elementos do gênero. O que não seria uma crítica por si só, caso fosse um enredo bem conduzido. Não foi o que aconteceu. O texto raso, arrastado, tendencioso e maniqueísta cansou o público, apesar de sua boa audiência (por causa do sucesso de A Força do Querer, é bom deixar claro, que beneficia as atrações seguintes).

Basicamente, Os Dias Eram Assim se apresentou como uma história de amor convencional, cujos mocinhos Alice (Sophie Charlotte) e Renato (Renato Góes) viviam um amor proibido, tendo como um dos obstáculos os desdobramentos dos "anos de chumbo" brasileiros.O pano de fundo funcionava, a ambientação dos anos 1970 era extremamente bem-feita e a trilha sonora, embora não fugisse do lugar-comum, ajudava o telespectador a mergulhar no período histórico ainda recente. O tempo passou e a abertura política no Brasil ganhou força, desde a Lei da Anistia (1979) até as Diretas Já (1984). Neste momento, os mocinhos, finalmente, se reencontram. Parecia que a história finalmente ganharia um novo impulso. Ledo engano.

Alguns capítulos depois, tudo voltou à pasmaceira de sempre. A abordagem do período militar se esvaziou completamente, estando presente apenas na militância de Gustavo, o que irritou bastante. Os personagens perderam suas essências e ficaram cansativos (e isso também inclui os protagonistas, outrora cativante)s. Os núcleos paralelos (como a história envolvendo Toni e Monique; e, principalmente, os personagens que usavam as artes como protesto político, no qual se enquadravam Maria, Leon e Vera) se revelaram todos soltos, mal desenvolvidos e quase sem espaço. A morte de Arnaldo ficou esquecida por muito tempo e só foi relembrada (sem emoção) na reta final.

Para piorar, a loucura de Vitor com a rejeição de Alice chegou a níveis absurdos e surreais, resultando em cenas gratuitas, como a sequência em que o delegado Amaral abusa de Alice. Foi agonizante e desnecessário ver tamanho terror em uma cena sem a menor razão de existir, feita apenas para chocar.



Outro ponto que deixou claras as limitações do enredo da novela foi a personalidade excessivamente maniqueísta dos personagens: os opositores eram sempre os jovens românticos, enquanto os apoiadores eram os malvadões mais velhos. As autoras não conseguiram (ou fizeram isso de forma proposital) traduzir a complexidade do período que escolheram retratar. Nem todos os militares eram brucutus sanguinários que sentiam tesão em torturar alguém, assim como nem todos os "subversivos" eram anjinhos caídos do céu perseguidos inocentemente. Com um tema tão complexo quanto o que a trama retratava, aqui não cabia maniqueísmo: não estamos falando de uma luta do bem contra o mal, entre vilões e mocinhos, mas sim de revolucionários que praticavam terrorismo para implantar um regime comunista no Brasil, enquanto eram reprimidos com torturas e crimes obscuros pelo governo militar. Isto ficou evidente especialmente na personalidade de Gustavo, o tipo mais irritante da história. O rapaz prejudicou a família inteira em nome de sua militância, mas era colocado pelas autoras como um herói da resistência traumatizado pela tortura. Ficou pouco crível. E o que dizer daquelas verdadeiras aulas que a professora Natália dava para seus alunos (e para o público) para "explicar"o período histórico? Sem a menor sutileza e totalmente enfadonhas.

Resultado de imagem para os dias eram assim nanda

Ainda assim, apesar dos pesares, houve acertos, como a abordagem da AIDS através de Nanda (Julia Dalavia), irmã mais nova de Alice. Seu desempenho nos desdobramentos da revelação da AIDS de Nanda emocionou o público e foi impossível não se sentir tocado pelo desespero da garota. A entrega da atriz Julia Davila, que emagreceu bastante para o papel, se refletiu em uma impressionante maturidade cênica e a fez sair de cena ainda mais forte do que entrou, pronta para maiores desafios. Também chamou atenção a primorosa trilha sonora, repleta de clássicos dos anos 60, 70 e 80. Ainda merece destaque a inserção de imagens de arquivo dos anos 70 e 80 (embora estas, muitas vezes servissem como muletas para disfarçar a ausência de história).

Inicialmente planejada para o horário das 18h, Os Dias Eram Assim foi promovida para a faixa de maior liberdade artística da Globo após a suspensão do projeto de Jogo da Memória, da talentosa Lícia Manzo - alegou-se na época que a proposta de Lícia poderia não ter história suficiente. No entanto, a trajetória de Os Dias Eram Assim fez esta motivação cair por terra, uma vez que não teve estofo para segurar 88 capítulos (um número excessivo para uma trama das 23h).

Em resumo, a "supersérie" não passou de uma novela fraquíssima, decepcionou em muitos aspectos e se arrastou por muito tempo, deixando a sensação de que não acabava nunca. Personagens maniqueístas, enredo raso e tendencioso, clichês mal-usados e ritmo excessivamente arrastado foram as principais marcas desta que pode ser considerada facilmente a pior novela já exibida na atual faixa das onze. Um roteiro que não honrou o horário em que foi exibido e será rapidamente esquecido. E pensar que cancelaram "Jogo da Memória", da talentosa Lícia Manzo (com a alegação de que a proposta dela poderia não ter história suficiente), para exibirem essa porcaria, viu...

Poderá gostar também de

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...