E acabou-se o que era doce... Hoje (25) chegou ao fim Novo Mundo. A trama das seis de Thereza Falcão e Alessandro Marson foi uma agradável surpresa que, ao misturar folhetim com figuras históricas, fazendo uma aventura de época inserida no início do Brasil Império, conseguiu manter o interesse do público e entregar uma trama redonda, divertida e sem barrigas.
A trama foi uma sucessão de acertos. A saga de Anna (Isabelle Drummond) seguiu a cartilha do folhetim básico, trazendo uma mocinha que tinha a sua força. Como era uma trama de época, a heroína, claro, era à frente do seu tempo, fugindo da chatice das protagonistas convencionais. Teve sua cota de dramalhão, sequestros e de cárcere, mas nada que prejudicasse o andamento da trama. Ao seu lado, outro herói idealizado, mas bem eficiente. Joaquim (Chay Suede) era quase um super-herói onipresente, mas funcionava, graças ao bom texto e ao carisma impresso pelo ator ao personagem.
Mas foi o casal que andou ao lado dos heróis que concentrou os olhares do público que curte uma boa história de amor. Os personagens históricos Dom Pedro I (Caio Castro) e sua primeira esposa, Leopoldina (Letícia Colin), caíram nas graças da audiência, sobretudo em razão do excelente trabalho da atriz, que deu humanidade à princesa. Assim, valeu a "licença poética" da trama, que aproveita do recorte da época retratada para dar um final feliz ao casal (infelizmente, na vida real, o destino da princesa foi bem melancólico), ao mesmo tempo em que conferiu ares de vilã à amante de Pedro, Domitila (Agatha Moreira).
Além do folhetim tradicional, os autores foram felizes ao usar a temática histórica para fazer um paralelo com o Brasil atual. Com muita sagacidade, Thereza Falcão e Alessandro Marson colocaram na boca de seus personagens diálogos de duplo sentido, que encaixavam perfeitamente no contexto atual do país. O resultado foi uma novela com diversas camadas, que não saía de seu objetivo principal, o entretenimento, mas que também era capaz de provocar o público e despertar a reflexão.
Além disso, Novo Mundo tinha uma galeria de personagens simpáticos, carismáticos e muitos divertidos, que sempre protagonizavam ótimas cenas e situações. Uma delas é a atriz Elvira Matamouros, sem dúvidas o melhor trabalho de Ingrid Guimarães na TV. A personagem começou como uma vilã, que fazia de tudo por amor a Joaquim, atrapalhando o romance dele com Anna. Quando cumpriu sua missão nesta trama, caminhava para a morte, mas o público tratou de "salvá-la". A solução encontrada pelos autores, então, foi armar uma falsa morte para Elvira, fazendo sua trama andar, mas colocando-a como uma carta na manga, para ser sacada num momento oportuno. E, quando voltou, Elvira assumiu de vez sua porção cômica, em novas situações. Elvira formou uma equipe e tanto com Germana (Vivianne Pasmanter) e Licurgo (Guilherme Piva), tipos impagáveis donos de uma pavorosa estalagem. Intrometidos, sem asseio e com muita cara-de-pau, o casal roubou todas as cenas com muito humor e até alguma crítica social. Elvira, Germana e Licurgo, juntos, foram os responsáveis pelos melhores momentos da trama.
Outro destaque foi o interessante triângulo amoroso formado por Wolfgang (Jonas Bloch), Diara (Sheron Menezzes) e Ferdinando (Ricardo Pereira). Os três personagens tão simpáticos, que ficou difícil tomar partido na situação. E o núcleo ganhou um tempero e tanto com a entrada da terrível Greta, mais um trabalho brilhante de Julia Lemmertz. Outro acerto foi a presença dos piratas que, embora pontual, teve trajetória sempre marcante. Fred Sem Alma (Leopoldo Pacheco) foi um vilão e tanto. Tal como Sebastião (numa interpretação terrivelmente fantástica de Roberto Cordovani, ator premiado na Europa) e, claro, o diabo-mor Thomas (Gabriel Braga Nunes).
Tantos acertos fizeram de Novo Mundo um novelão da melhor qualidade. Agora é aguardar mais um clichezão daqueles que será Tempo de Amar, mas torcer para que nela sejam bem utilizados também.