sábado, 14 de novembro de 2015

Além do Tempo perde ritmo com "nova novela", mas continua encantadora


Num momento em que patina no horário nobre, a Globo não tem do que reclamar em outros horários. O das seis, por exemplo, vem acumulando acertos. Além do Tempo mudou de fase há três semanas e mostrou um vigor surpreendente ao deixar o século XIX para os dias atuais.

A trama de Elizabeth Jhin já estreou com a promessa dessa passagem de tempo de mais de cem anos. A proposta é uma trama de reencarnação, que começava no passado e atravessaria o tempo, como bem sugere o título, mostrando duas vidas distintas de um mesmo grupo de almas. Uma ideia ousada, tendo em vista que correria o risco do público se apaixonar pelos personagens e pelo clima do século passado e não se mostrar interessado pela grande reconfiguração da estrutura proposta a partir do salto no tempo. Será que o público se manteve interessado pelo novo contexto destas almas que agora se reencontraram numa nova vida? A resposta é... Sim!


Ao impedir a felicidade dos mocinhos Lívia (Alinne Moraes) e Rafael (Rafael Cardoso) no "último capítulo" do século XIX (dando-lhes, inclusive, um final trágico), a autora desperta a curiosidade do telespectador sobre os finais que os personagens terão nessa nova vida e propõe uma brincadeira ao público de perceber o que mudou neste reencontro e onde estão posicionados os personagens que tanto curtiu em suas vidas anteriores. Vitória (Irene Ravache) e Emília (Ana Beatriz Nogueira) seguem inimigas, mas agora são mãe e filha. A ex-Condessa segue com cara de poucos amigos, mas agora é pobre. Ao contrário de Emília, que agora é rica e usa o dinheiro para passar por cima de quem quer que seja... Tal como sua rival fazia na vida passada. É curioso notar que a essência dos personagens ainda não se perdeu. Vitória, por exemplo, segue alfinetando Zilda (Nívea Maria), que era sua empregada que tanto maltratou na vida passada; agora, são cunhadas e Zilda está numa posição superior, o que não impede Vitória de seguir destilando seu amargor.


Nesses vinte e poucos capítulos que se passaram no século XXI, tudo ainda funciona como uma nova descoberta, uma espécie de reinício, mas que não é total, já que já existe certa familiaridade do público com os personagens. Eles estão em novas posições, vivendo novas situações, mas ainda são aquelas pessoas. A autora vem dando a chance do telespectador compreender os carmas do passado daquelas almas, que agora serão colocadas à prova nesta nova fase. Talvez, por isso que Além do Tempo tenha perdido ritmo e deu uma desacelerada inicial. A trama está com cara de que acabou de estrear, sabe? Além do Tempo é uma novela "duas em uma". A primeira, que se passou no século XIX, teve início, meio e fim. Em ritmo de reta final, com o desenrolar dos fatos e revelações dos segredos, culminando com a não concretização do amor entre os mocinhos, do nada, pulamos para 2015. Começa uma "nova novela". A segunda fase ainda está começando a ser formada. E novela é hábito, demanda tempo para conquistar o engajamento do público.


Lamenta-se apenas que alguns personagens tenham perdido espaço nessa nova fase, como é o caso de Zilda e Salomé (Inês Peixoto), que viraram quase figurantes. Em contrapartida, Ana Beatriz Nogueira foi uma que cresceu bastante. Sua personagem começou como uma das protagonistas para depois passar capítulos e mais capítulos escondida da Condessa. Agora, Emília ganhou força e o conflito com Vitória voltou ao centro das atenções. Quem também ampliou sua participação foi Severa (Dani Barros). Ela agora está no núcleo principal e bate de frente com Melissa (Paolla Oliveira) em grandes sequências. Na primeira fase, sua personagem resmungava, mas não tinha influência na ação. O mesmo vale para Rosa (Carolina Kasting) e Bento (Luiz Carlos Vasconcelos).

Outra questão que me incomoda um pouco foi o tom didático e "mastigadinho" que a trama ganhou a partir de agora para explicar ao telespectador o sentido da reencarnação dos personagens, principalmente nas conversas entre o Anjo Ariel (Michel Melamed), seu colega Cícero (Saulo Arcoverde) e o Mestre (Othon Bastos), que seguem observando e interferindo na vida dos personagens. Isso sem falar nos excessivos flashbacks da primeira fase intercalando todas as cenas em que ocorre um reencontro dos personagens. Nós já conhecemos os personagens e sabemos exatamente tudo o que aconteceu com eles na vida passada. Não precisava disso.


Além do Tempo reiniciou, mas continua uma história encantadora e cativante e fazendo bons usos dos principais recursos clássicos do folhetim. E deixou sua marca ao apostar numa virada narrativa ousada, dando-se ao luxo de zerar sua trama e recomeçar outra em plena metade da obra.

Que bom seria se todas as novelas pudessem ter viradas assim, né?


3 comentários:

  1. Amandoa segunda fase de além do tempo... aliás primeira crítica com nexo que vejo. Parabéns!

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  2. Eu estou adorando a segunda fase! E ao contrário do que vc disse, acho legais as explicações sobre causa e efeito do Anjo Ariel e do Mentor. Quem é leigo no Espiritismo consegue compreender melhor as relações entre os personagens, as consequências de suas atitudes da vida passada na vida atual. Essa novela é ótima!

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  3. Acho muito legal os flashbacks em cada encontro, até porque intercalam com uma fala dos personagens, é de encher os olhos!!

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