Não perca nenhum dos nossos posts

sábado, 6 de maio de 2017

Vade Retro está mais para 'O Dentista Mascarado' do que para 'Os Normais'



Quem esperava encontrar um novo Os Normais deu com a cara numa reedição de O Dentista Mascarado com toques de terror a la Zé do Caixão. Vade Retro estreou há três semanas e lembra pouco dos grandes trabalhos da dupla Alexandre Young e Fernanda Machado na TV. A nova série da Globo usa do humor para retratar as ideias maniqueístas de bem e mal, mas a julgar pelos três primeiros episódios, a produção precisa investir menos no sobrenatural e focar mais na trivialidade do cotidiano — coisas que Alexandre e Fernanda faziam como ninguém com Rui (Luiz Fernando Guimarães) e Vani (Fernanda Torres).

Desta vez, os autores resolveram brincar com o sobrenatural, usando da linguagem dos filmes de terror para fazer comédia. Não faltam elementos sacros e religiosos na nova aposta, que mostra a relação entre uma advogada que foi beijada pelo Papa quando criança, a doce Celeste (Monica Iozzi), e um empresário misterioso que mais parece o próprio diabo, que carrega o singelo nome Abel Zebu (Tony Ramos).

Verdade seja dita, Monica não é tão genial atuando quanto apresentando. Mas é correta, tem bom timing para o humor e convence bem fazendo um tipo meio sem graça e que carrega certa ingenuidade. Por outro lado, Tony Ramos usa todo o seu arsenal para fazer um Abel verdadeiramente diabólico. O ator usa o carisma que lhe é peculiar para dar a Abel Zebu um charme todo especial. Juntos, a dupla funciona bem, provocando um magnetismo interessante. Mas são Cecília Homem de Mello — que vive a simpática Leda, mãe de Celeste, senhorinha dona de uma língua afiada — e Maria Luísa Mendonça — trazendo mais uma desajustada (Lucy Ferguson, mulher de Abel) deliciosa à sua já ampla galeria — que roubam a cena.

Resultado de imagem para os normais gif

O grande problema de Vade Retro, porém, está na construção do texto. O maior trunfo de Os Normais eram os diálogos rápidos e cheios de ironia e humor corrosivo. Por ser uma comédia de costumes sobre a vida de um casal, gerou identificação imediata e tornou Rui e Vani fenômenos. Depois deles, Alexandre e Fernanda fizeram sátiras sem tanta identificação. Eles brincaram com o mundo das celebridades em Minha Nada Mole Vida, com o cinema-catástrofe em Como Aproveitar o Fim do Mundo, com as histórias em quadrinho na péssima O Dentista Mascarado e até retornaram ao mundo dos casais (desta vez, com narrativa de documentário) em Separação!?. Ou seja, tais séries vinham propondo universos satíricos que agradavam quem estava inserido no segmento satirizado, mas não fazia muito sentido para o espectador não familiarizado com tais universos, daí Alexandre e Fernanda jamais repetirem o sucesso de Os Normais.

Com Vade Retro, não está sendo diferente. Quando adentram na trama fantástica, os autores precisam ser um tanto didáticos para explicar as situações absurdas. E isso soa forçado, às vezes. No entanto, sempre que brincam com as periculosidades sociais, os dois conseguem diálogos debochados e bem-humorados. Piada precisa de ritmo, de timing. Lentas e de conteúdo pouco inspirado, as falas passam longe da esgrima verbal que se espera de uma comédia, especialmente as de Celeste. Ainda dá tempo de corrigir!

Poderá gostar também de

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...