Quem acompanha as novelas do Walcyr Carrasco, sabe que o autor não tem um texto fácil e exige que o ator siga à risca o que ele escreve, sem cacos. Seu estilo teatral e empostado na escrita já foi visto em vários trabalhos anteriores e é até condizente com a proposta ora melodramática, ora farsesca de suas novelas das seis, como é o caso de Eta Mundo Bom. Percebam que na trama os personagens da cidade falam um português extremamente culto e corretíssimo, com o verbo sempre no infinitivo ("Sandra está a tramar algo!", "Estou a esperar", "Hei de conseguir", "Perdoo-te por me traíres", etc), enquanto os personagens da fazenda falam errado e com um sotaque caipira pra lá de caricato e estereotipado.
O problema é que o texto do Walcyr só funciona quando o ator é experiente. Até funciona no teatro, mas na televisão (e no cinema) há de se ter cuidado para não parecer que o ator não acabe resvalando no jogral de escola. Como uma faca de dois gumes, alguns conseguem pronunciá-lo sem perder a naturalidade e brilham em cena, enquanto outros acabam canastrando. Confira os destaques positivos e negativos do elenco da novela:
OS SOBREVIVENTES
Sérgio Guizé - A alma de Eta Mundo Bom! Poucas vezes se viu um ator honrar o protagonismo de uma novela com tanto brilhantismo como ele, que não ficou devendo em nada ao Mazaroppi (que imortalizou o personagem do filósofo Francês Voltaire nos cinemas e que também inspirou a trama do Walcyr), dando um jeito próprio ao caipira. Nem mesmo o fato do Candinho ter ficado sem sua grande parceira em cena, visto que a Debora Nascimento não conseguiu se firmar como protagonista e par romântico (leia mais abaixo), abalou o sucesso e a credibilidade do personagem. Candinho poderia soar ridículo se mal construído e sua ingenuidade excessiva irritante, mas o domínio do ator foi tanto que a gente não apenas torce pelo Candinho, mas também tem vontade de cuidar dele, de orientá-lo, de abraçá-lo, de tê-lo por perto como amigo.
Eliane Giardini - Quando uma grande atriz tem o seu talento valorizado, é sucesso na certa. Na pele da destemida Anastácia, a intérprete deu um show do início ao fim. Acabou sendo uma compensação do Walcyr, que não havia a valorizado em Amor A Vida, onde viveu a Ordália.
Bianca Bin - Foi a mocinha moral da história! O que seria dos personagens bons de Eta Mundo Bom se não fosse as investigações da Maria, que desconfia até do ar que respira? Praticamente, todos os planos infalíveis da Sandra foram por água abaixo graças a perícia na arte de investigar da personagem. Confesso que até cansou ver tanta desconfiança em uma só personagem, mas a Bianca Bin é tão boa atriz que um papel de coadjuvante era um espaço muito pequeno para o seu talento. O drama de Maria, aliado a excelente atuação da sua intérprete, engoliu a Filó.
Marco Nanini - Depois de treze anos vivendo o Lineu de A Grande Família, ganhou os gêmeos Pancrácio e Pandolfo e um leque de personagens com os disfarces do Pancrácio durante todo o decorrer da trama. Confesso que, inicialmente, não via futuro naquela trama dos disfarces, que, verdade seja dita, já cansaram a muito tempo de tantas repetições. Até porque temos que saber "voar" muito (como diria Glória Perez) para achar verossímil que um homem velho desses consiga enganar todos os personagens disfarçado de noiva (?) ou bailarina (??). Porém, o Nanini é tão fantástico que a gente acaba perdoando a incoerência e não consegue parar de rir.
JP Rufino, Nathália Costa e Xande Valois - A dobradinha de JP (como o serelepe Pirulito) com Sérgio Guizé, brilhando de igual para igual com o protagonista da trama, foi um dos pontos fortes de Eta Mundo Bom desde o início. Ele, Nathália (a doce Alice) e Xande (o cadeirante Cláudio) são uns amores e fazem mais do que decorar o texto na ponta da língua: passam naturalidade e emoção. Coisa que muitos adultos dessa novela não conseguiu (leia mais abaixo).
Arthur Aguiar e Ana Lúcia Torre - Os dois se saíram bem, mas acabaram sendo prejudicados pela outra ponta desse núcleo, Giovanna Grigio (leia mais abaixo). O casal Gerusa e Osório foi mais insosso que salada de chuchu sem tempero, mas Arthur correspondeu a altura nas cenas que lhe exigiram bastante emoção com o drama da doença da amada. A sorte é que os dois são amparados pela Ana Lúcia Torre (como Camélia), mas ela é grandiosa demais para ficar fazendo escada para ex-Chiquitita e ex-Rebelde, merecia uma personagem mais à sua altura.
Ary Fontoura (repetiu com sucesso a boa parceria com Elizabeth Savala como o marido covarde, Quinzinho), Miguel Rômulo (Quincas), Jeniffer Nascimento (Dita), Dhu Moraes (Manuela) e Anderson Di Rizzi (que já se especializou em viver tipos meios bobos nas novelas do Walcyr, como o Zé dos Porcos) foram os outros destaques positivos do núcleo caipira.
Flávio Migliaccio e Suely Franco - Sempre achei Donda Paulina meio sem função em Eta Mundo Bom. Apenas a dona do Dancing, realizava alguns números de música lá, algumas armações... Mas agora ficou ótima na reta final da novela ao se casar com Osias (com quem forma um par bonitinho) e juntar-se ao núcleo da fazenda, nos proporcionando cenas hilárias em parceria com a Savalla (falei disso AQUI). Flávio, mesmo em poucas cenas, sempre conseguiu divertir.
Flávia Alessandra - Logo que foi anunciada como a grande vilã da trama e seu visual loiro platinado, pronto, não faltaram vozes para dizer que a Sandra de Eta Mundo Bom seria nada mais que uma cópia da diabólica Cristina de Alma Gêmea (2005), personagem que marcou a carreira da atriz (sua melhor atuação) e que também é do autor Walcyr Carrasco. Inicialmente, Flávia estava muito robótica e parecia mesmo ser uma cópia barata da Cristina, mas, com o tempo, a atriz foi contornando os problemas e logo vimos que a Sandra em nada tem a ver com a Cristina. A personagem tem vida e perfil próprios. Mais sensata do que a Cristina (que era passional ao extremo), a Sandra é má por puro interesse financeiro. E Flávia soube distinguir muito bem as duas vilãs com o decorrer do tempo e se destacou cada vez mais nesta reta final.
Elizabeth Savala - Outra atriz que foi muito criticada inicialmente por sua atuação muito, mas muito acima do tom (era necessário diminuir o volume da TV quando a Dona Boca de Fogo, digo, Cunegundes entrava em cena). Mas uma atriz do quilate da Elizabeth sabe como poucas driblar críticas e se manter digna a um trabalho. Não deu nem um mês e o tom acima da Cunegundes acabou virando a marca registrada da personagem e lhe deu um charme peculiar, o que lhe transforma em uma das mais queridas da novela, mesmo sendo uma espécie de vilã interesseira. Quem consegue segurar o riso quando ela grita "O meu nome é CU-ne-gun-des"? Eu não.
Tarcísio Filho e Priscila Fantin - Me lembro que, no início, esse núcleo me dava nos nervos. Tudo bem que existem homens extremamente machistas, mas Walcyr pesou a mão quando criou o Severo. Pelo menos, no início. Conforme ele foi se envolvendo com a Diana e, principalmente, depois do golpe que sofreu do filho, o personagem, enfim, ganhou um pingo de humanidade. E foi aí que o núcleo, depois de tanto andar em círculos, ganhou novos contornos. Tarcísio e Priscila (que estava meio deslocada no Dancing) esbanjaram química. Gostei da Pata e do Pato.
OS MORTOS
Eriberto Leão - Sandra merecia um comparsa bem mais a sua altura. O Ernesto não passou de uma figuração de luxo perto dela. Muito por culpa da atuação canastrona do seu intérprete, forte candidato ao prêmio de pior ator do ano. Sua sorte é que teve química com a Flávia.
Klebber Toledo e Juliane Araújo - Não adiantou mostrar o bumbum em pleno horário das seis inúmeras vezes (suas melhores cenas foram essas), porque no quesito atuação ficou devendo. Melhor o Romeu ficar com a Sarita mesmo. Ela também ficou devendo (e muito) nesse quesito.
Rainer Cadete - De um inescrupuloso cúmplice da irmã Sandra, o amor por Maria transformou Celso em um homem bom e honesto. Pena que, ao contrário da Camila Queiroz (ele também fez Verdades Secretas), Rainer não conseguiu vencer esse desafio de se despir de um papel e viver outro em pouco tempo. Por vezes, parecia que o Visky ia soltar as frangas a qualquer momento na novela. Nem mesmo a química com Bianca Bin conseguiu redimir sua má atuação.
Flávio Tolezani e Maria Carol - Formam um casal perfeito: o Sr. e a Sra. Inexpressividade!
Giovanna Grigio - Pense numa garota doente mais inexpressiva da história das novelas.... Gerusa!!! Ô garotinha chata! Se a intenção dessa trama da leucemia dela era emocionar, missão realizada sem sucesso. Além da doença ter sido tratada de forma superficial e desinteressante na trama, a canastrice da Giovanna Grigio pôs tudo a perder. Ela não passa emoção nenhuma em cena. Desse jeito, vai ficar difícil para a ex-Chiquitita firmar carreira na Globo...
Rômulo Neto e Guilhermina Guinle - Em meio a tantos personagens maniqueístas, Rômulo tinha em mãos um que destoava dos demais (o Braz, um tipo pra lá de ambíguo e controverso), mas não soube corresponder à altura, com expressão, entonação e trejeitos lineares, sem nuances (como bem pedia o personagem). O excesso de botox fez mal para a Guilhermina: está completamente robótica! Não convenceu nenhum pouco como madrasta má. Até o episódio do Chaves em que ele, Quico e Chiquinha visitam a casa da Bruxa do 71 deu mais medo que ela.
Débora Nascimento - Ao que tudo indica, o prêmio de pior atriz do ano já é dela. Filomena foi uma das piores mocinhas de todos os tempos, extremamente cansativa, chorona, burra e insuportável. O seu sotaque caipira soava extremamente falso, o que só piorou o resultado (o sotaque caipira de Filó sumiu misteriosamente num passe de mágica). Pra piorar de vez, não teve química alguma com Candinho, que só não foi prejudicado pela fraqueza da intérprete de Filó porque Sérgio Guinzé está muitíssimo bem no papel (como já falei anteriormente). Em determinados momentos, ficou esquecida e sem função nenhuma na novela. Não deu outra: foi ofuscada pelo brilho da Bianca Bin e a Maria virou a mocinha oficial da história! Cheguei até a pedir que o mandato de Filomena como mocinha na novela fosse cassado (relembre AQUI).
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