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sábado, 27 de agosto de 2016

Eta Mundo Bom foi um "feijão com arroz" requentado que deliciamos como um manjar dos deuses



Existem duas formas de assistir Eta Mundo Bom. Ou você embarcava na total despretensão da novela (deixando de lado os vícios do autor e de parte do elenco) e acabava se divertindo com o universo criado por Walcyr Carrasco ou fincava o pé no perfeccionismo e torcia o nariz para as inúmeras repetições e problemas que a trama apresentou. O público preferiu a primeira opção, afinal, a novela se tornou um fenômeno de audiência e terminou com média geral de 27 pontos na Grande São Paulo (a maior do horário das seis desde 2007, com o fim de O Profeta).

Particularmente, em qualidade, nesse período de 2007 pra cá, ainda prefiro largamente tramas como Sete Vidas, Além do Tempo, Lado a Lado, Cama de GatoA Vida da Gente Cordel Encantado e considero-a a mais fraquinha das tramas das seis escritas pelo Walcyr (Alma Gêmea, Chocolate com Pimenta e O Cravo e a Rosa foram bem superiores). Se eu fizer um "Encontre o erro" em Eta Mundo Bom, não hei de terminar de apontar todos eles tão cedo.

O mais evidente deles é a Filomena (Débora Nascimento), uma das mocinhas mais fracas e insuportáveis da teledramaturgia brasileira, tanto pela má trajetória criada pelo autor, quanto pela má atuação de sua intérprete (leia AQUI). Aliás, o que não faltou em Eta Mundo Bom foram atuações canastronas. São os casos, além da dita cuja, de Eriberto Leão (Ernesto), Rainer Cadete (Celso), Klebber Toledo (Romeu), Flávio Tolezani (Araújo), Giovanna Grigio (Gerusa), Rômulo Neto (Braz), Guilhermina Guinle (Ilde), entre outros. Falei mais detalhadamente sobre os atores e atrizes que mais se destacaram (para o bem e para o mal) na novela bem AQUI.

O texto (didático) do Walcyr também foi outro ponto sofrível. Enquanto os personagens da cidade falavam um português extremamente culto e corretíssimo, com o verbo sempre no infinitivo ("Sandra está a tramar algo!", "Estou a esperá-lo", "Hei de conseguir", etc), os da fazenda falavam todos errado e com um sotaque caipira pra lá de caricato e estereotipado.


Poderia falar também dos núcleos que não foram bem desenvolvidos ou que só serviram para encher linguiça. Como o casal Gerusa e Osório (Arthur Aguiar), que teve inspirações em A Culpa é das Estrelas e foi afetado pela atuação inexpressiva da Giovanna Grigio e pela falta de química entre os dois atores. Se o tema da leucemia era para emocionar, missão realizada sem sucesso. Outro núcleo dispensável era a da madrasta má com o enteado cadeirante. Nada ali fazia sentido: nem o ódio gratuito que Ilde sentia pelo enteado, nem o fato de Cláudio (Xande Valois) nunca revelar ao pai as humilhações que sofria dela. Depois de mais de cem capítulos adormecido em seu jardim secreto, o núcleo só veio ganhar função a partir do momento em que Sandra (Flávia Alessandra) usou Araújo para roubar a fortuna da titiiiiiia. A vingança de Braz contra o pai também demorou demais para, enfim, ter função e ganhar outros desdobramentos. Aquele povo lá da radionovela "Herança de Ódio" também foi dispensável e poderiam serem excluídos sem grandes prejuízos. Aliás, pruma novela que promove uma radionovela de verdade em seu site oficial ("Herança Do Ódio" existiu no Gshow), pouquíssimos personagens de Eta Mundo Bom a ouviram. E o que dizer daquele núcleo da Emma (Maria Zilda Bethlem) e dos "amigos" Tobias (Cleiton Morais) e Lauro (Marcelo Arjenta)? Totalmente desnecessários!

Poderia criticar também a repetitividade e os inúmeros giros dos acontecimentos da trama que foram se desgastando até cansar. Alguns casos: as maldades de Ilde contra Cláudio, as inúmeras tentativas do Romeu em se casar com Mafalda (Camila Queiroz) e comprar a fazenda, as inúmeras tentativas da família de Cunegundes (Elizabeth Savalla) tentando vender a fazenda (que estava em leilão desde o começo da novela), os inúmeros planos mirabolantes da Sandra e do Ernesto tentando dar um golpe em Anastácia (Eliane Giardini), as inúmeras tentativas de fazer o cegonho do Pandolfo (Marco Nanini) voar, os inúmeros disfarces do Pancrácio (Marco Nanini), as centenas de vezes que Gerusa e Osório dançaram valsa, a indecisão de Mafalda sobre qual cegonho escolher (ela só decidiu no último capítulo), os casamentos desfeitos em pleno altar, as guerras de comida, os banhos de chiqueiro, entre outros ciclos viciosos.


Também foi possível identificar milhares de semelhanças em Eta Mundo Bom com outros folhetins do Walcyr. O autor conduziu sua história reutilizando vários elementos conhecidos de suas novelas anteriores da faixa, como a comédia pastelão através das guerras de comida, dos banhos de chiqueiro, casamentos fracassados, núcleo na fazenda com caipiras e bichinhos de estimação e na tentativa de emplacar bordões e expressões à constante repetição (os principais exemplos foram o bordão "Meu nome é CU-negundes!" , dito pela fazendeira quando alguém lhe chamava de "Boca de Fogo", e a expressão cegonho para se referir ao órgão sexual masculino). A Sandra (pelo menos, no início), em muito, lembrou a Cristina de Alma Gêmea (ainda mais porque ambas são loiras e vividas pela Flávia Alessandra); assim como a Mafalda parecia mais uma reedição da Mirna (Fernanda Sousa) de Alma Gêmea (só trocou a pata pela porquinha) e o final de Gerusa e Osório, felizes para sempre "em outra vida", lembrou muito o desfecho de Serena e Rafael (Priscila Fantini e Eduardo Moscóvis) de Alma Gêmea. Já vimos também mulheres encalhadas como a Eponina sonhando em se casar e o Ari Fontoura vivendo um marido submisso em outras tramas do autor. Para alguns, esta ideia se caracteriza uma total falta de ousadia e criatividade, enquanto outros pareceram não se importar com o fato.

Foi como eu disse no início dessa matéria: ou você embarcava na total despretensão da novela (deixando de lado os vícios do autor e de parte do elenco) ou fincava o pé no perfeccionismo e torcia o nariz para as inúmeras repetições e problemas que a trama apresentou. Quem optou pela primeira opção e ligou o "dane-se" para todos esses pontos negativos apontados fartamente anteriormente, acabou se divertindo com o universo criado por Walcyr Carrasco. E, afinal de contas, não é isso que se espera de uma comédia romântica? Fazer rir?


Com sua receita simples, seus personagens queridos, populares e carismáticos (como Candinho, Pancrácio, Anastácia, Pirulito/JP Rufino, Mafalda, Cunegundes, Eponina, Zé dos Porcos e Maria/Bianca Bin) e, principalmente, sua mensagem otimista de que tudo que acontece de ruim na vida da gente é para melhorar (falei sobre isso AQUI), o autor conseguiu um feito admirável e que poucos autores de novelas alcançam com tanta frequência quanto ele: a de unir todas as massas em torno de uma mesma história em um determinado horário.

Em tempos de noticiário carregado de violência e escândalos das mais variadas origens, a trama virou um antídoto eficiente contra a soturna realidade. Eta Mundo Bom nos remeteu aquelas clássicas novelas em que nos tornávamos público cativo, sentadinhos à frente da TV, naquele horário certinho, levantando só para ir ao banheiro na hora do intervalo para não perder nadinha. Mesmo nesses tempos de concorrência acirrada, com outras formas de entretenimento e mil possibilidades de se assistir o que se quer à hora que se deseja (como pelo próprio Globo Play, da emissora), o gostinho de vê-la às 18hrs na TV tinha um sabor mais do que especial. Foi um feijão com arroz requentado que deliciamos como um manjar dos deuses. Eta novela boa!


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