Não perca nenhum dos nossos posts

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Confusa, A Lei do Amor precisa de foco



No ar há um mês, A Lei do Amor ainda não decolou. Pior: vem perdendo terreno a cada semana. A trama de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari está encontrando dificuldades em envolver a audiência, que se mostra, até aqui, bastante apática. Novelão clássico, celebrada como a volta das novelas "com cara de novela" na faixa das nove, a história ainda não disse a que veio.

A explicação para a indiferença do público em relação à A Lei do Amor pode estar justamente na troca de fases. E não pela substituição duvidosa de atores (como Gabriela Duarte virar Regina Duarte e Vera Holtz seguir Vera Holtz numa passagem de vinte anos), pois este tipo de estranheza costuma esfriar após alguns dias (falei mais sobre essa e outras incoerências na escalação do elenco AQUI e AQUI). A questão é que, até aqui, o prólogo de A Lei do Amor ficou parecendo uma trama à parte, bastante desconexa da história que vemos atualmente no ar.

Em seus cinco primeiros capítulos, a novela foi toda centrada no casal principal, Pedro (Chay Suede) e Helô (Isabelle Drummond), e na armação da vilã Magnólia (Vera Holtz) para separá-los. Quando saltou 20 anos no tempo, o enredo, inexplicavelmente, alterou o seu rumo. Toda a armação que ganhou destaque na primeira fase logo foi desnudada. Pedro (Reynaldo Gianecchini) e Heloísa (Cláudia Abreu) descobriram que foram vítimas de uma armação. O clímax dramatúrgico já ocorreu. Até porque, verdade seja dita, foi uma armaçãozinha boba e manjada demais. A solução encontrada pelos autores para justificar o fato da Helô não largar o Tião (José Mayer) e continuar fingindo um casamento feliz com ele ao invés de reviver logo esse amor com Pedro foi fazer a filha dela, Letícia (Isabella Santoni), abusar do direito de se sentir frágil e desprotegida, usando da doença para manter os pais unidos. Essa atitude imatura dela em relação a uma possível separação de Helô e Tião é algo chato e bem difícil de engolir. A menina tem cerca de 19 anos e age como se tivesse 10! Falei mais sobre a chatonilda AQUI.


Letícia também usa a doença para segurar o namorado, Tiago (Humberto Carrão), que está apaixonado por Isabela (Alice Wegmann). Esses dois, aliás, já roubaram de Pedro e Helô a função romântica da trama e vivem um casal fofo que encontra sérias dificuldades em ficar juntos. Esta história vem ocupando boa parte dos capítulos. O que só reforça o fato de que Pedro e Helô (apesar da ótima química entre eles e da atuação segura de ambos os intérpretes) ficaram diluídos diante de tantas novas histórias que foram despejadas, de uma vez, no público.

Assim que aconteceu o atentado contra Fausto Leitão (Tarcísio Meira) e Suzana (Regina Duarte), deixando o primeiro em coma e matando a segunda, A Lei do Amor ganhou cores de trama policial. A história passou a girar em torno dos mistérios do atentado. Pedro até tenta descobrir o que aconteceu com o pai e foi preso recentemente suspeito de ser o mandante, mas não é figura central em torno deste eixo. Mais distante ainda está Helô, que vive a dar patadas no marido mau-caráter e aturando a filha voluntariosa. Pedro e Helô mal se encontram, nem tem grandes cenas de amor. Já descobriram a verdade sobre a armação que os separou e, mesmo assim, não ficam juntos. É algo que não dá para entender. Outra dúvida: afinal de contas, qual é a música tema que embala o casal protagonista? Seria “Maior”, “Chuva no mar”, “What's going on” ou “Grito de alerta”? Nem uma canção única que o identifique de cara o casal tem...

Enquanto isso, o público acompanha boa parte das investigações acerca do atentado contra Fausto pelos olhos de Élio Bataglia (João Campos), a criança que ajudou, sem querer, na aproximação entre Pedro e Suzana na primeira fase. Agora é um adulto, jornalista idealista, que se dedica a desmascarar os desmandos da família Leitão. Até aqui, Élio e sua busca pela verdade dominam boa parte dos capítulos, fazendo do personagem praticamente o protagonista deste momento da novela. Ou seja, um personagem que apareceu sem grande importância na primeira fase ganha, agora, status de herói da obra. E vivido por João Campos, uma cara praticamente desconhecida do público. Nada contra o trabalho do ator, que está indo muito bem, mas parece muito peso para um novato carregar, ainda mais em meio a um elenco lotado de medalhões.

Resultado de imagem para coisas de tv a lei do amor malhação

Para piorar, Élio também faz parte de uma ciranda juvenil que ocupa a maior parte dos capítulos de A Lei do Amor, fazendo da trama praticamente uma espécie de Malhação em horário nobre. Nesta salada há Analu (Bianca Müller), Camila (Bruna Hamu), Aline (Arianne Botelho), Jéssica (Marcella Rica), Edu (Matheus Fagundes), Wesley (Gil Coelho), Marcão (Paulo Lessa), Antônio (Pierre Baitelli), Xanaia (Bella Piero)… E mais uma porção! Rostos poucos conhecidos do público, o que causa certa dificuldade de assimilação. E, além destes, há ainda figuras conhecidas que vivem em núcleos desconexos, como a pensão de Zuza (Ana Rosa), a casa de Mileide (Heloisa Périssé) e o núcleo de Salete (Cláudia Raia). Parecem intrusos no roteiro. Com o agravante de que são papéis secundários demais para três atrizes talentosas como estas (é o caso também da Maria Flor/Flavia e do grande Tato Gabus Mendes/Olavo).

Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari são adeptos de lançar mão de diversos personagens e tramas variadas em suas novelas. Foi assim em Ti Ti Ti e Sangue Bom, no horário das sete, com muitos atores e núcleos jovens fortes por diferentes núcleos. Mas em A Lei do Amor pesaram a mão na criação, acrescentando muitas tramas paralelas que acabaram por desviar a atenção do que seria a trama central do enredo. O núcleo de gente jovem é tão grande que tenho sérias dificuldades para entender quem é filho, irmão, primo ou namorado de quem. E se fosse esse o único problema, estaria tudo bem. Afinal de contas, sobrevivemos a mil novelas de Glória Perez e Walcyr Carrasco com mil personagens e estamos aqui vivaços; mas o problema é que as histórias desses personagens se misturam tanto e são tão irrelevantes pro cenário geral que às vezes me pergunto se não fomos parar sem querer em uma temporada de Malhação.

Assim, quem comprou todo o romantismo e as intrigas da primeira semana da novela acabou ficando a ver navios, pois nada daquilo se mostrou verdadeiramente importante para a continuidade da narrativa. Vejam o caso da Magnólia. Ela dava sinais de que seria uma grande vilã na primeira fase, mas foi engolida nesse quesito pelo Tião (este sim um capeta).


A Lei do Amor não é uma novela ruim. Longe disso. Tem uma boa história para contar e é muito bem escrita. Grazi Massafera, até o momento, tem sido o grande destaque para mim, conseguindo ser um bom alívio cômico na trama com sua ambiciosa Luciane. Um novelão despudorado, que lança mãos dos mais diversos artifícios e intrigas para manter o movimento da história. Mas ela precisa de um foco que guie sua trama principal e de ajustes urgentes para ficar menos confusa. Não seria ruim se a trama jovem fosse enxugada e os protagonistas voltassem ao centro do enredo. Fica difícil se envolver nos mistérios que permeiam o atentado contra Fausto se nem os personagens da novela parecem muito preocupados com isso e tendo que decorar o nome de trocentos personagens (e seus parentescos e suas histórias paralelas).

2 comentários:

  1. Gostei muito da sua crítica Marllon... gostaria de conversar melhor contigo. Qual é o seu e-mail para contato?

    ResponderExcluir

Bora comentar, pessoal!

Poderá gostar também de

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...