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quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Deliciosa mistura de ficção e História, Nada Será Como Antes não deveria ser semanal



Deve ser a primeira vez que isso acontece: não há comédias dentre as produções de séries em exibição na Globo. Atualmente, são dois produtos do gênero em cartaz, todos nas noites de terça: Nada Será Como Antes, um drama, e Supermax, de terror/suspense. Duas boas experimentações na grade da emissora.

Apesar de vir numa embalagem bem diferente do que normalmente aparece nas produções de séries da Globo, Nada Será Como Antes conta com um enredo simples e à prova de erros. Sua espinha dorsal trata das idas e vindas de um casal, formado por Saulo (Murilo Benício) e Verônica (Débora Falabella). Ele é um empresário visionário que aposta fundo no lançamento da televisão no Brasil; e ela uma atriz de radionovelas que desponta como uma das primeiras estrelas da telinha. Casados, eles se separam quando Saulo descobre ser estéril, num momento em que Verônica sonha em ser mãe. O casal vai e volta, sendo impedido sempre de permanecer unido por percalços que vão surgindo no desenrolar do enredo.

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O plot é quase um folhetim água-com-açúcar, mas ganha um tempero especial graças ao seu pano de fundo. Ao mostrar o início da televisão no Brasil por meio da fictícia TV Guanabara, Nada Será Como Antes mostra, também, a telenovela como um produto feito para vender sabonetes, mas que arrebata o público e se torna uma paixão nacional. Neste contexto, o drama vivido por Saulo e Verônica se confunde com o mais básico folhetim e a série assume-se como uma grande homenagem ao seu próprio veículo; além de brincar com os estereótipos típicos do "mundinho pantanoso" dos famosos, como diria uma certa cobríola.

Na trama, a TV Guanabara produz e exibe, ao vivo, sua primeira novela, uma adaptação do romance Anna Karenina. Verônica Maia, estrela das radionovelas e rosto da TV Guanabara, vive o papel-título, enquanto Beatriz de Souza (Bruna Marquezine), uma ex-dançarina de boate transformada em atriz pelo namorado, o patrocinador da obra, é sua antagonista. Rodolfo do Vale (Alejandro Claveaux) é o galã da obra e vértice do triângulo amoroso. A trama torna-se um grande sucesso, para a alegria do magnata Pompeu (Osmar Padro), mas é Beatriz quem cai nas graças do público apaixonado pela história. Verônica não aceita ser ofuscada por uma dançarina e dá seus chiliques típicos de estrela. A solução encontrada é transformar sua personagem na grande vilã da trama, invertendo os papéis. Assim, a trama fala sobre a paixão do público das novelas por grandes vilãs, além de deixar claro que a vontade da audiência influi nos rumos da obra.

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Nada Será Como Antes também enfoca o universo da televisão nos anos 50 reforçando ideias que ficam no imaginário do público e não necessariamente são verdades absolutas. Um exemplo é a glamorização vista nos bastidores da TV Guanabara, com cenários e figurino impecáveis. Sabe-se que o início da televisão foi de uma precariedade absoluta, mas, aos olhos do público, o mundo dos famosos é praticamente um universo particular e é isso que a série reforça. E há também personas típicas deste universo, como o patrocinador que coloca a namorada como protagonista ou o galã que esconde sua homossexualidade para garantir seu lugar na mídia e não decepcionar suas fãs apaixonadas. A “pimenta” da história fica por conta também de Beatriz, que, ao mesmo tempo em que namora Otaviano (Daniel de Oliveira), também se envolve com a irmã dele, Júlia (Letícia Colin). O que me incomoda é esse artifício de tentar criar uma relação incestuosa entre os irmãos. Podem me chamar de careta, mas acho desnecessário. Só serve para querer chocar. Tudo isso sob a direção firme e arrojada de José Luiz Villamarim, cujo nome já se tornou uma grife, e com um elenco competente e homogêneo, sem destaques negativos.

Ou seja, Nada Será Como Antes mostra os anos 50 com uma lente de aumento, quase idealista, mas encanta pela sua temática, que traz a TV falando da própria TV. O canal, porém, perdeu a chance de ousar mais, colocando a história da TV, de fato, como protagonista, menos glamourizada, e ido fundo em questões políticas e sociais que permeiam a implantação da TV no Brasil. Neste ponto, a série acaba ficando na superfície. O fato de ser semanal também quebra o ritmo, bem como o tempo de arte reduzido dos episódios, que compromete o ritmo da narrativa, deixando-a em certos momentos lenta e morna demais. Poderia ter seguido o exemplo de Justiça, que tinha uma estrutura de série, porém, era diária (exibida às segundas, terças, quintas e sextas). Mas, ainda assim, Nada Será Como Antes é uma deliciosa opção e abre novos caminhos para a narrativa seriada nacional dentro da programação da Globo.

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