Quando entrou no ar, em maio desse ano, I Love Paraisópolis despontava como uma trama promissora e de audiência robusta. Passados seis meses, o estouro de I Love ficou só na promessa. As notícias de que, em muitos dias, tinha dado mais audiência do que Babilônia, a catastrófica produção das nove, ajudou a criar uma imagem de que ela foi um grande sucesso. I Love termina acumulando média geral de 24 pontos, dois pontos a mais que Alto Altral (22), sua antecessora no horário, e a melhor média desde 2013, com Sangue Bom (25). Um ótimo resultado, é claro! Ainda mais em tempos de baixa audiência no horário nobre global. Mas os números de audiência também mostram que o público foi aos poucos se decepcionando com o retrato fantasioso de uma das maiores favelas do país. Não era a novela das sete que era forte. Era a das nove que era fraca. Se no início I Love dava picos de 34 pontos no Ibope da Grande São Paulo, nos últimos meses estacionou nos 20 pontos e poucos. A novela perdeu cerca de 13% de seu público inicial. Essa curva decrescente de audiência de I Love reflete perfeitamente a sua queda de qualidade também e os rumos que a história tomou. Listamos alguns pontos positivos e negativos da trama escrita por Alcides Nogueira e Mário Teixeira com direção de Wolf Maia. Confira:
Desde o início, I Love é centrada nos dilemas sentimentais de Grego (Caio Castro), Mari (Bruna Marquezine), Ben (Maurício Destri) e Margot (Maria Casadevall). Só que o romance do casal Mariben não se mostrou forte o bastante para sustentar a novela. Isso porque na primeira dificuldade ou briga, cada um ficava com seus respectivos ex. Uma repetição chata demais que não levou a trama a lugar nenhum! E quando os autores resolveram dar um final feliz para o casal bem na metade na novela, aí que a coisa piorou de vez. Com Ben e Mari casados e Grego namorando Margot, quase nada sobrou para ser mostrado. Pra piorar a situação, os vilões da trama se mostraram fracos demais. De mau, Grego só tinha a cara mesmo, porque não metia medo em ninguém. O bandidão virou um cara fofo e carismático e, infelizmente, deixou de lado a obsessão por Mari assim que ela se casou com Ben, o que poderia ter rendido bem mais para a trama principal. Soraya (Letícia Spiller) enveredou por uma linha mais cômica (o que deu muito mais certo, diga-se de passagem) e foi ficando cada vez mais humana, desconstruindo aquela figura caricata que a vilã tinha no início da trama. E Gabo (Henri Castelli) está desde o primeiro capítulo querendo transformar a Paraisópolis em um local lucrativo para seus negócios, mas tudo ficou só na promessa. A passividade dos vilões, inclusive, implicou na volta de Dom Pepino (Lima Duarte), alçado à condição de grande vilão do folhetim. Porém, o objetivo dele era exatamente o mesmo de Soraya e Gabo: dominar a empresa de Ben e controlar Paraisópolis. Ou seja, não mudou muita coisa. A novela das sete terminou dando a sensação de já ter chegado ao fim há alguns meses...
O melhor: Timaço de coadjuvantes
Tradicionalmente, a estrutura de uma novela compreende em uma trama central forte e bem estruturada com várias tramas paralelas interligadas a ela para auxilia-la. É a história principal que norteia a novela. Isso é fato. E foi aí que I Love errou feio. Com uma galeria rica de coadjuvantes, foram as tramas paralelas que carregaram a novela inteira nas costas. Para começo de conversa, tem Tatá Werneck no elenco e não se pode esperar outra coisa dela senão muitas gargalhadas. Sua personagem Danda é estabanada, fala rápido e seu inglês enrolation rendeu bastante. Frank Menezes, que viveu o mordomo Júnior, foi o que mais arrancou risos. Seu bordão "favelaaaaaaada!" foi um sucesso. Suas brigas com a empregada Melodia (Olívia Araújo) e sua parceria com a patroa Soraya (Letícia Spiller) foram hilárias. A profunda ignorância de Lindomar (Gil Coelho), o malandro Juju (Alexandre Borges) tentando reconquistar Eva (Soraya Ravenle), a divertida disputa de Claudete (Mariana Xavier), Mirela (Luana Martau) e Omara (Priscilla Marinho) pelo coração de Raul (André Loddi) e as tiradas da doce Izabelita (Nicette Bruno), apesar de seu Mal de Alzheimer ter sido muito mal explorado, foram outras situações que se destacaram. Também merecem menção: Expedito (Jose Dumont), Fabiula Nascimento (Paulucha), Caroline Abras (Ximena), Babu Santana (Jávai), Márcio Rosário (Bazunga), Dani Ornellas (Deodora), Ilana Kaplan (Silvéria), Zezeh Barbosa (Dália) e Rosicler (Paula Cohen).
O pior: Realidade Paralela
Novelas são obras de ficção e sem compromisso com a realidade, certo? Sim. Entretanto, ao apresentar uma novela cujo título se refere de forma tão amorosa a uma das maiores e mais violentas favelas de São Paulo, a Globo assume um desafio ainda mais complexo. A proposta de I Love, para alguns, pode até parecer um deboche. Uma comédia romântica ambientada numa comunidade carente? Um conto de fadas moderno em um local com vários problemas sérios, mas nenhum grave o suficiente para abalar o ânimo e a moral da comunidade? Todo o universo em cima dessa favela ficou surreal demais se comparado com a realidade. Afinal, na Paraisópolis fictícia os bandidos eram bacanas, não havia gente perigosa e nem problemas. Parecia um lugar perfeito. Uma realidade paralela. Claro que não teria como expor o drama pesado no horário das sete, nem mostrar certas coisas (como armas de fogo). Mas se o intuito era fantasiar, seria muito mais plausível inventar uma favela idealizada e batizá-la com um novo nome. Acho bem possível e justificável que o morador da Paraisópolis verdadeira se pergunte por que o folhetim leva o nome da sua comunidade, já que mostra tão pouco da sua realidade.
O Melhor: Questões sociais
Por conta dos problemas que o horário das sete enfrenta com a classificação indicativa, Alcides Nogueira e Mário Teixeira encontraram uma forma até bem inteligente de lidar com uma proposta diferente sem o compromisso de retratar fielmente a vida real, mas a todo momento lembrando dela. Na fantasia sugerida pelos autores de I Love, graves questões sociais foram mencionadas, mas raramente mostradas. Os moradores sofriam com desemprego, dificuldades para pagar o aluguel, transporte insuficiente, atendimento médico precário, comércio informal, apesar de não reivindicarem. Logo no primeiro mês, um problema sério foi exibido: o desabamento de uma casa, na qual crianças da comunidade faziam uma apresentação de balé. O acidente ocorreu porque o líder da comunidade desviou dinheiro de uma obra que deveria ter sido feita no local. Tinha umas três mães solteiras na trama (Deodora, Eva e Paulucha). Quase não se viu poder público e polícia incluída nas cenas na favela. I Love também abordou o racismo e o preconceito social de forma criativa e informativa sem cair na apelação.
O pior: Cenas absurdas
Como bem já disse anteriormente, entendo que, por conta do horário, a novela das sete não pode mostrar certas coisas (como armas de fogo, tiroteio, derramamento de sangue...), mas os autores se perderam em sua própria história, optando por saídas esdrúxulas e pela mudança radical na condução do roteiro. Pra começar, Expedito foi eletrocutado, morreu, virou fantasma, atormentou todos em seu velório e depois ressuscitou, para a alegria de todos. A situação ficou solta na trama, não contribuiu em nada para o andamento da novela e ainda por cima se mostrou uma bobagem, principalmente por nunca ter sido um folhetim voltado para o realismo fantástico e muito menos para o espiritismo mais cômico, visto de forma bem inserida na antecessora, Alto Astral. Outro momento que ficou forçado e sem lógica foi o aparecimento súbito da cantora Ludmilla no apartamento de Soraya (Letícia Spiller), enquanto havia uma festa funk no local. Ela desceu as escadas, cantou uma música e depois foi embora, sem mais nem menos. A transformação de Alceste (Pathy DeJesus) em uma louca sequestradora de crianças também ficou sem sentido e pareceu uma saída de última hora para movimentar o enredo, em virtude da falta de ação dos verdadeiros vilões. Vale mencionar ainda o assassinato de Omara (Priscila Marinho), que foi afogada no mar com os pés presos a um concreto. Ela morreu admirando os peixinhos de computação gráfica que nadavam ao seu redor e até foi beijada por um deles, que parecia o Nemo, do clássico filme da Disney. O intuito da sequência foi inserir um toque lúdico, mas o resultado beirou o ridículo. E o que dizer do "Salve Geral" na comunidade, com os traficantes de Grego e os mafiosos de Dom Pepino se enfrentando apenas com socos e chutes tão milimetricamente coreografados? No penúltimo capítulo, ainda houve uma sequência completamente tosca envolvendo o fantasma de Omara, que voltou do mundo dos mortos com escamas de peixe no rosto e querendo comida. Para culminar o festival nonsense, Gabo caiu da janela da empresa em cima de um andaime, não morreu e apareceu do nada para matar Dom Pepino, que havia sido picado por uma cobra. Preciso dizer mais alguma coisa?
O Melhor: Humor escrachado
Como bem já disse anteriormente, entendo que, por conta do horário, a novela das sete não pode mostrar certas coisas (como armas de fogo, tiroteio, derramamento de sangue...), mas os autores se perderam em sua própria história, optando por saídas esdrúxulas e pela mudança radical na condução do roteiro. Pra começar, Expedito foi eletrocutado, morreu, virou fantasma, atormentou todos em seu velório e depois ressuscitou, para a alegria de todos. A situação ficou solta na trama, não contribuiu em nada para o andamento da novela e ainda por cima se mostrou uma bobagem, principalmente por nunca ter sido um folhetim voltado para o realismo fantástico e muito menos para o espiritismo mais cômico, visto de forma bem inserida na antecessora, Alto Astral. Outro momento que ficou forçado e sem lógica foi o aparecimento súbito da cantora Ludmilla no apartamento de Soraya (Letícia Spiller), enquanto havia uma festa funk no local. Ela desceu as escadas, cantou uma música e depois foi embora, sem mais nem menos. A transformação de Alceste (Pathy DeJesus) em uma louca sequestradora de crianças também ficou sem sentido e pareceu uma saída de última hora para movimentar o enredo, em virtude da falta de ação dos verdadeiros vilões. Vale mencionar ainda o assassinato de Omara (Priscila Marinho), que foi afogada no mar com os pés presos a um concreto. Ela morreu admirando os peixinhos de computação gráfica que nadavam ao seu redor e até foi beijada por um deles, que parecia o Nemo, do clássico filme da Disney. O intuito da sequência foi inserir um toque lúdico, mas o resultado beirou o ridículo. E o que dizer do "Salve Geral" na comunidade, com os traficantes de Grego e os mafiosos de Dom Pepino se enfrentando apenas com socos e chutes tão milimetricamente coreografados? No penúltimo capítulo, ainda houve uma sequência completamente tosca envolvendo o fantasma de Omara, que voltou do mundo dos mortos com escamas de peixe no rosto e querendo comida. Para culminar o festival nonsense, Gabo caiu da janela da empresa em cima de um andaime, não morreu e apareceu do nada para matar Dom Pepino, que havia sido picado por uma cobra. Preciso dizer mais alguma coisa?
O Melhor: Humor escrachado
As tramas paralelas de I Love primaram pela comicidade e foram baseadas no humor escrachado, a receita do horário das sete. E cumpriram muito bem a função de divertir. Vale aqui um elogio para a direção de Wolf Maia, que abusou de clipagem com efeitos sonoros que ora remetiam ao realismo fantástico e outro nos desenhos animados. Basta lembrar as intervenções sonoras/visuais do núcleo de Rosicler e a risada exagerada de Dália.
Minha nota para I Love Paraisópolis: 5
Clique e escolha quantas estrelinhas você dá para I Love:
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