Só em 2015, tivemos três novelas da Globo cujo cenário principal era uma favela. São elas: I Love Paraisópolis, cujo título se refere de forma tão amorosa a uma das maiores e mais violentas favelas de São Paulo, Babilônia, que tinha seu nome emprestado de uma favela no Leme, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro; e A Regra do Jogo, que se passa no fictício Morro da Macaca, também no Rio. As três, no entanto, mostraram uma visão diferente do subúrbio. A primeira trama não mostrou absolutamente nada a respeito de criminalidade ou tráfico de drogas, a segunda tinha muito mais cenas rodadas no "asfalto" no que no morro e esta última mostra uma favela que é point cultural, frequentada pelos moradores, pelo pessoal do "asfalto" e até mesmo pela "alta sociedade". Mas você sabe como foi que as favelas começaram a ter um destaque maior nas novelas?
Para começo de conversa, nesta matéria optei por usar o termo "favela" ao invés de um eufemismo 'politicamente correto' como "comunidade", até porque a palavra está longe de ser considerada pejorativa. Segundo o dicionário 'Houaiss', por exemplo, favela é "um conjunto de moradias precárias, situada em morros e onde vive a população de baixa renda dos centros urbanos". Curiosamente, embora sempre presente na sociedade brasileira, tal localidade quase nunca era abordada na nossa dramaturgia televisiva. O oposto acontece no cinema, onde temos até um boom de filmes com esse tipo de temática (podemos citar Cidade de Deus, Tropa de Elite e Alemão).
Citada antes esporadicamente em algumas novelas, a primeira vez em que uma favela de fato ganhou importância numa novela foi em Pátria Minha (1994). Na história, Claudia Abreu interpretava Alice, uma estudante super correta que entra em guerra contra o empresário Raul (Tarcísio Meira), que comete uns crimes impunemente e depois ainda manda desapropriar uma favela. Quase uma década se passou até uma favela voltar a ter importância em uma nova trama. Em 2004, Senhora do Destino apresentou a Comunidade da Pedra Lascada, uma região subdesenvolvida do subúrbio carioca que visava conseguir uma emancipação. A tal comunidade tinha grande destaque porque a protagonista Maria do Carmo (Susana Vieira) tinha um forte laço afetivo com o local e sempre ajudava seus moradores, de quem era amiga e respeitada por todos.
Nos últimos 12 anos, o Brasil passou por alguns processos políticos que visaram dividir melhor a renda e isso gerou a ascensão da classe C, um novíssimo público consumidor que virou a menina dos olhos de ouro do mercado publicitário e o pesadelo das emissoras acostumadas a produzir dramaturgia só pensando nos núcleos mais ricos. Nesta última década, os personagens mais pobres foram conseguindo mais destaque e as tramas passaram a se deslocar dos bairros ricos para o subúrbio. Não que isso seja inédito, já que Rainha da Sucata e outras novelas mais antigas também davam voz aos mais pobres, mas tornou-se mais comum nos últimos anos.
Podemos dizer que a primeira novela a colocar uma favela em papel de destaque foi Vidas Opostas (2006), da Record, que aproveitou a explosão do tema no cinema e produziu uma novela que misturava um núcleo rico com moradores de uma favela, com direito a muito "tiro, porrada e bomba". Muitas cenas, inclusive, foram gravadas em uma comunidade real. Na Globo, devido ao sucesso da concorrente, a trama que marcou o destaque absoluto de uma favela veio logo depois, em 2007, com Duas Caras, ambientada na fictícia Portelinha e que também mostrou a diferença social colocando uma comunidade pobre localizada ao lado de um empreendimento de luxo.
Atualmente, muitas novelas já mostram favelas pareando em importância com bairros mais ricos, algumas vezes até superando as antigas localidades de destaque. Avenida Brasil e Cheias de Charme, por exemplo, acertaram em cheio ao mostrar um subúrbio mais alegre e divertido, enquanto Salve Jorge foi a pioneira em colocar como protagonista uma mãe solteira moradora do Complexo do Alemão, um tipo que provavelmente seria apenas coadjuvante em novelas do passado. E para mostrar que não se trata de um fenômeno pontual, podemos lembrar de um exemplo ainda mais recente: Em Família foi escrita por Manoel Carlos, autor conhecido por colocar suas histórias apenas em bairros ricos do Rio de Janeiro (Leblon), mas mesmo assim precisou se adequar às novas necessidades da emissora e até incluiu uma "favela" improvisada com um personagem, Jairo (Marcelo Melo Jr.), que conseguiu um destaque maior que o esperado.
Entretanto, parece que a fórmula exaltada até pouco tempo atrás não está dando muito certo. Desde sua estreia, A Regra do Jogo ainda não empolgou na audiência e acumula, até o momento, média de 25 pontos (a meta para o horário das nove é de 35), mesma marca de sua antecessora, Babilônia, tida como o maior fracasso do horário nobre global de todos os tempos. Curioso que as duas têm em comum a ambientação em favelas. Com isso, várias questões vem sendo levantadas: será que duas novelas simultâneas focadas em favelas não são um pouco demais? Será que não está na hora da Globo buscar novos cenários para as suas novelas, afinal, o Brasil é muito maior do que isso? O público está cansado de tramas que se passam nas favelas?
Babilônia foi uma trama rejeitada pela maior parte do público e boicotada por evangélicos pelas cenas polêmicas iniciais, por sua trama mal remendada e pelas mil e uma mudanças que a trama e os personagens sofreram para "agradar a Família Brasileira", deixando-a ainda mais equivocada e perdendo sua identidade. Mas em nenhum momento o fato dela ter se passado na favela foi o motivo da sua baixa audiência. E cá entre nós, até onde me lembro, nunca havia ouvido falar de alguma reclamação do público que novelas seguidas na Globo eram todas centradas em bairros ricos do Rio de Janeiro! Mas se o problema são mesmo as favelas, então porque I Love Paraisópolis teve uma boa audiência? Estranho, não!? Pelo visto, com o passar dos anos teremos cada vez menos distinção entre as áreas mais ricas e mais pobres das cidades, até porque sabemos que o primordial de uma novela não é o cenário, e sim sempre contar uma boa história.
Bem, eu estou de saco cheio de tanta favela nas novelas! A impressão é que todas são iguais, com os mesmos personagens (periguetes de shortinho, mulheres barraqueiras, etc), e o pior: a overdose de funk, que é simplesmente insuportável!! Qdo aparecem Merlô e as duas funkeiras, eu troco de canal na hora.
ResponderExcluirSem falar que todos os "barracos" são super bem decorados, melhores que a maioria das casas da população em geral. Lembro que a casa da Morena de Salve Jorge não combinava em nada com o cenário da favela. Não que as pessoas de lá não possam ter uma casa arrumada, mas a dela era fake demais.
Acho que nem os telespectadores que moram em favelas aguentam mais vê-las nas novelas. Já deu, já encheu o saco, pelo amor de Deus Globo, mude os cenários! Que tal uma novela ambientada no nordeste, ou em Minas? Não precisa ser no meio do sertão, basta mudar as locações. Ex: Alto Astral se passava no interior de SP, e eu adorava as paisagens de cidade pequena.
E qto a I Love Paraisópolis, sinceramente, que novelinha podre. Nem teve tanta audiência assim, e a que teve se deve aos fãs clubes do Caio Castro e da Bruna Marquezine, além daquela galera que torce para determinados "shippers". A trama em si era uma droga, super mal escrita. Totalmente Demais dá de mil a zero nesse lixo.
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