Além do Tempo tinha, de saída, um grande desafio: suceder a maravilhosa Sete Vidas, xodó de público e crítica. E, felizmente, esse fantasma já não existe mais. A história escrita por Elizabeth Jhin e dirigida por Rogério Gomes agradou em cheio e com todos os motivos. Com uma trama cheia de ganchos poderosos e muito bem realizada, se tornou um ótimo programa para os fins de tarde.
A aposta da autora é ambiciosa: para falar sobre reencarnação, trabalha com duas fases distintas, separadas por um salto de mais de 100 anos no tempo. Em outras palavras, serão, praticamente, duas novelas em uma. A história, que se passou no século XIX nesses 87 capítulos iniciais, passou a ser ambientada nos dias atuais do final do capítulo dessa quarta-feira (21/10) em diante. Entretanto, apesar da ousadia, a primeira fase de Além do Tempo foi um verdadeiro "arroz com feijão". Elizabeth retomou o melodrama clássico, com mocinhos (sofredores) e vilões (cruéis) bem definidos, amores impossíveis, desencontros amorosos, ódio entre famílias, vinganças... A novela usou e abusou de clichês sem o menor pudor. Estou criticando isso? Claro que não! As vezes, um bom arroz com feijão é bem melhor do que muitos pratos gastronômicos por aí. E esse é o caso de Além do Tempo.
Entre seus trunfos está a assinatura da autora. De novo, ela recorreu ao misticismo para narrar uma fábula clássica. Elizabeth trafegou muito bem entre o realismo e o sobrenatural e nunca perdeu de vista o que mais importava: a credibilidade da história. Todo esse ambiente de mistério foi plenamente compreendido e traduzido pela direção competente de Rogério Gomes. Foi uma sintonia fácil de notar na luz e nas opções estéticas (figurino, cenografia, locações escolhidas e produção de arte muito inspirados). E no ritmo das cenas, todas elas atravessadas por um certo caráter soturno.
O elenco é outro ponto alto. Ana Beatriz Nogueira (Emília) foi levada a demonstração extrema de emoção — o que não foi pouco. Alinne Moraes (Lívia), além de esbanjar química com Rafael Cardoso (Conde Felipe), soube aproveitar todos os dilemas emocionais da sua mocinha para mostrar todo o seu talento. A divertida família composta por Luis Melo (Massimo), Inês Peixoto (Salomé), Mel Maia (Felícia) e Flora Diegues (Bianca) é um dos melhores núcleos cômicos das novelas nos últimos tempos. Nívea Maria (Zilda) brilhou sempre que aparecia em cena. Paolla Oliveira (Melissa), Emílio Dantas (Pedro), Julia Lemmertz (Dorotéia), Louise Cardoso (Gema), Luiz Carlos Vasconcelos (Bento), Felipe Camargo (Bernardo) e Dani Barros (Severa) foram outros que se destacaram. Mas, sem dúvida, Irene Ravache foi o grande nome de Além do Tempo, sendo um deleite diário vê-la na pele da Condessa Vitória, que fez o mundo girar ao seu redor. De uma vilã dada a grandes crimes sem se furtar a pequenas maldades no dia a dia, como espezinhar a governanta Zilda, a atriz se mostrou mais humana e frágil nos últimos capítulos da primeira fase e cresceu ainda mais como personagem.
Da mansão mais suntuosa à humilde tapera em meio às árvores, os personagens cavalgam ou vão de carruagem pelas belas paisagens do interior gaúcho, com direito a vinhedos e cânions. Um belo refresco visual para a correria cotidiana que fará muita falta. E esse será o maior desafio de Além do Tempo daqui pra frente: nos fazer esquecer o século XIX e se apegar ao século atual. É fato que as tramas de época possuem uma magia especial, pois nos fazem sonhar e atuam como um contraponto ao mundo tecnológico e sem muitas ilusões em que vivemos hoje. Para isso, será preciso atravessar sem percalços a passagem de um século para outro. Só assim provará que, dependendo da boa condução, é possível produzir uma trama em vários tempos sem escorregar em degraus abruptos. Só nos resta torcer para que a segunda fase de Além do Tempo seja tão boa quanto a primeira. Mas algo me diz que quem não acredita em "outras vidas" vai ficar meio deslocado nesta nova fase...
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