Se na primeira versão, Aparício Varella (Paulo Autran) e seus sassaricos guiava a trama, hoje, 29 anos depois, o tema central está na trajetória de Tancinha (Mariana Ximenes). Quando Daniel Ortiz decidiu pegar Sassaricando e colocar no microondas, mudou o nome da novela para Haja Coração, colocou personagens novos, requentou gente de outras novelas do seu mentor Silvio de Abreu e, principalmente, elevou Tancinha ao posto de protagonista. Na versão de 1987, a icônica personagem de Cláudia Raia era apenas do núcleo secundário, mas seu triângulo amoroso com o baixinho Beto (Marcos Frota) e o fortão Apolo (Alexandre Frota) acabou roubando a cena e fez muito mais sucesso do que a trama principal. Mas parece que o jogo virou... Em Haja Coração, é a Tancinha de Mariana Ximenes quem está sendo ofuscada!
Essa comparação dos personagens de Sassaricando, como a Tancinha, com os de Haja Coração é inevitável, assim como a Fedora de Tatá Werneck em relação a vivida por Cristina Pereira (que também roubou a cena na versão de 1987). O objetivo não é reviver o mesmo personagem e sim recriá-lo, afinal, são épocas distintas. Foi preciso não deixar aquela impressão de novela desatualizada que tivemos com o remake de Guerra dos Sexos. Fedora, sem dúvida, foi a que mais mudou e ganhou força na trama como antagonista de Tancinha. Menos ninfomaníaca e ardilosa que a original, a nova Fedora agora leva o narcisismo às alturas e representa uma gama gigantesca de pessoas que se alimentam de likes e tentam suprir suas carências lutando para se fazer notar na internet. Ela já foi capaz, por exemplo, de parar o trânsito, literalmente, só porque queria fazer uma selfie e de tentar se suicidar se jogando de uma ponte após ver o número de seus seguidores nas redes sociais despencar diante do fiasco da sua festa de aniversário.
Tudo nesse núcleo é carregado à potência máxima. E é justamente o clã Abdala o ponto alto da trama. Todas as situações ali, por mais absurdas que sejam, são divertidíssimas. Tatá melhorou muito da sua dicção incompreensível e, mesmo que o sotaque paulistano seja forçado, Fedora acaba sendo beneficiada pelo excelente talento cômico da atriz. Ela e Grace Gianoukas (a terrível Teodora) formam uma ótima dobradinha como mãe e filha. Simbióticas, quando estão juntas em cena, não tem pra ninguém. Hilárias! Uma pena a saída (mesmo que temporária) de Grace da trama (SPOILER: Teodora não morreu e reaparecerá viva na reta final). Vai fazer muita falta. A parceria de Tatá com Gabriel Godoy (Leozinho) também deu liga e diverte. Outra ótima dupla é o casal Lucrécia e Agilson. Cláudia Jimenez está mostrando que é capaz de muitas nuances de comédia e Marcelo Médici construiu seu personagem nos mínimos detalhes.
Enquanto Fedora conseguiu se atualizar, o mesmo não se pode dizer da Tancinha. Nos anos 80, a imigração italiana ainda ecoava na cidade de São Paulo. Hoje, são os bolivianos, haitianos... Não existem mais Tancinhas por aí no mundo real. Vale frisar que Cláudia Raia também foi muito criticada pelo sotaque e os exageros de sua interpretação no início. Dei uma pesquisada na internet e encontrei uma publicação da crítica Regina Helena, na revista Visão, no ano de 1987, que dizia o seguinte: "Silvio de Abreu está colocando excesso de caricatura na linguagem de Claudia. Os paulistas descendentes de italianos falam 'me vou embora', mas não 'eu me amo ele' e nem 'ele me é trabalhador'". A atriz fez aula de prosódia para ganhar o jeito de falar e acabou criando diversas expressões ao longo da trama que caíram na boca do povo. Mas se mesmo naquela época, o sotaque da Tancinha incomodava, hoje, em pleno 2016, ficou mais over ainda.
Tancinha continua uma feirante que erra na concordância verbal e não fala o plural das palavras e isso é uma coisa completamente irritante de se ouvir. Os bordões "Olha os melão", "Não me enche os pacová" e "Me tô toda divididinha" foram mantidos nessa releitura, mas já não empolgam mais. Exuberante, estabanada e chegada aos barracos, ela continua romântica e "divididinha" pelo caminhoneiro Apolo (Malvino Salvador como o bruto-romântico pela milésima vez) e o publicitário Beto (João Baldasserini), o atrapalhado-romântico. Fico com o segundo. Baldasserini vem mostrando uma ótima veia cômica e suas cenas com Ximenes estão demais. É ao lado de Beto que Tancinha se torna bem mais atrativa e digerível do que o entediante clima de "tapas e beijos" com Apolo, cujo intérprete parece um pedaço de madeira ambulante quando o assunto é interpretação. E isso não tem nada a ver com "shipper" e sim com trama mesmo.
Entretanto, é outro triângulo amoroso que vem roubando a cena na novela. Estou falando de Giovanni, Camila e Bruna. Agatha Moreira e Jayme Matarazzo têm boa sintonia em cena. Apesar de algumas loucuras nonsenses envolvendo a personagem (leia AQUI), a atriz tem feito boas cenas tanto nos momentos em que Camila se mostra grosseira, quanto nas sequências em que ela evita ao máximo lembrar-se de seu passado, ainda que se depare com lapsos que retomem estas memórias. Jayme, por sua vez, também convence em cena, apesar de interpretar mais um jovem revoltado e inseguro, o que é uma constante em sua carreira. O destaque especial vai para Fernanda Vasconcellos, que, com uma carreira marcada por papéis de mocinhas choronas, tem nas mãos a primeira vilã de sua carreira e, assim que Bruna descobre o romance de Giovanni e Camila, ganhou um merecido destaque, protagonizando ótimas cenas com os dois. A personagem vem se mostrando capaz de manipular friamente o casal um contra o outro, em virtude da rejeição que aos poucos vai se transformando em ódio. Estas sequências valorizaram ainda mais o talento de Fernanda, que já de algum tempo merecia um papel diferenciado como este. Mais situações vêm por aí, conforme Camila vai retomando a memória e Bruna vai agindo para separar o casal. E estas situações irão render mais boas cenas provavelmente.
Outro triângulo que também vem ofuscando o principal não é amoroso, mas de amigas: Leonora (Ellen Roche), Penélope (Carolina Ferraz) e Rebeca (Malu Mader), curiosamente, o núcleo principal de Sassaricando. Na verdade, é um quadrilátero, pois a empregada Dinalda (Renata Augusto) também merece menção e dá um toque especial ao núcleo. É aqui que está o texto mais esperto, cheio de referências e alguma crítica social embalada no humor. E as três atrizes estão ótimas (destaque para Ellen Roche e sua ex-BBB louca por fama) como estas amigas sem nenhuma sorte no amor que se unem por acaso. Suas sequências vem rendendo cenas bem divertidas. Malu também tem dado liga com seu amor do passado mal-resolvido com Alexandre Borges (que conseguiu escapar da mesmice dos tipos caricatos bobões de trabalhos anteriores com seu Aparício); assim como o romance entre Penélope e Henrique (Nando Rodrigues), bem mais novo que ela e melhor amigo do seu filho, Beto. Quando a verdade vier à tona, promete.
Se tem alguém que está assumindo o papel de mocinha da trama, esse alguém é a Shirley, que, ironicamente, é irmã da Tancinha. Como eu disse no início dessa matéria, o autor Daniel Ortiz requentou gente de outras novelas do Silvio de Abreu. Esse é o caso da Shirley Manca (Karina Barum), que fez sucesso em Torre de Babel e agora "ressuscitou" na pele de Sabrina Petraglia em Haja Coração. Ambas são doces, meigas e de baixa autoestima por possuírem um defeito na perna que a fazem mancar. Mas a Shirley da vez ganhou ares de Cinderela. É ridicularizada pela irmã malvada Carmela (Chandelly Braz), rejeitada pelo homem que ama, Adônis (José Loreto), até que um príncipe encantado, Felipe (Marcos Pitombo), entra na sua vida e encontra seu sapatinho de cristal, quer dizer, sua bota ortopédica. E é claro que, depois de tantos desencontros, os dois irão se envolver e a mimada namorada dele, Jéssica (Karen Junqueira), infernizará a vida dos dois. Eu já estou shippando o casal #Shirlipe. A "nova" Cinderela está sendo muito bem defendida pela Sabrina e consegue despertar nossa torcida. A trama dela é bem bacana e renderia uma novela independente facilmente. Chandelly Braz também está dando um show na pele de uma adorável malvadinha. Karen Junqueira promete crescer ainda mais na trama. E Marisa Orth merece menção por sua Francesca (mãe de Tancinha, Giovanni e Shirley). Está provando que sabe fazer drama com a mesma competência que sabe fazer rir.
Haja Coração acaba divertindo por ser escrachada e não ter medo do ridículo. Muita gente reclama do exagero. Mas não é isso que importa numa comédia romântica, fazer rir?!
Promover Tancinha ao posto de protagonista foi o maior equívoco desse remake. Por mais linda e talentosa que seja MAriana Ximenes, sua Tancinha é chata, caricata e datada. O melhor de Haja Coração e justamente os núcleos secundários, principalmente o formado por Malu Mader, Carolina Ferraz, Ellen Roche e Renata augusto, nao por acaso o melhor da novela. As atrizes estão maravilhosas, dando show. O autor deveria dar mais espaços a esses núcleos que sao o q salvam a novela.
ResponderExcluirSe em 1987 eu ja considerava Tancinha uma insuportavel, quase trinta anos depois nao poderia ser diferente. A personagem é uma insuportavel, aquele prosódia desnecessária dá nos nervos. Mariana Ximenes é muito talentosa, mas Tancinha é muito chata e quando Apolo aparece a coisa fica ainda mais chata. So mesmo Malu, Ellen (grata surpresa),Carolina e Renata para tornar Haja Coração assistivel.
ResponderExcluirHaja coração é uma novela que se sustenta nos coadjuvantes, que sao os personagens e histórias mais convincentes e interessantes. Apolo, Tancinha e Beto sao uma grande chatice.
ResponderExcluirEu acho insuportavel Camila e Giovanni nao gosto acho chatos.
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