A direção da Globo surpreendeu a todos quando anunciou que a temporada 2016 do Programa do Jô seria a última. A atração das madrugadas da Globo estreou em 2000, ou seja, são 16 anos de boas e divertidas entrevistas. Somados aos 11 anos do Jô Soares Onze e Meia, do SBT, onde Jô começou sua bem-sucedida incursão no mundo dos late shows, já são quase 30 anos dedicados ao bate-papo informativo, descontraído e com humor nas antes sonolentas madrugadas da televisão brasileira.
Quando Jô Soares optou por deixar os programas de humor que o consagraram para trazer ao Brasil o formato de late nights, tão populares na televisão estadunidense, o artista abriu um importante espaço na televisão brasileira. O final da noite, antes “morto”, ganhou mais vida com as entrevistas de Jô Soares. Jô virou sinônimo de boa opção de entretenimento de qualidade na faixa de tarde da noite, fazendo jus ao texto que o anunciava nas chamadas do SBT, que repetia o bordão “Não vá para a cama sem ele”. Outra curiosidade das chamadas do Jô Soares Onze e Meia é que o programa, muitas vezes, era anunciado como exibido “mais ou menos às onze e meia da noite”, deixando claro que o horário da atração variava a cada dia da semana. Em seus últimos anos de SBT, Jô já entrava em cena depois da meia-noite. Na Globo, seu horário também variava, girando em torno da meia-noite e meia e 1h da matina.
Em praticamente todos estes anos, Jô Soares seguiu um estilo único na TV brasileira. Mas, nesta década, o cenário começou a se modificar e outros jovens comediantes surgiram para comandar programas de formato semelhante e em horário parecido. A aposta começou na Band, quando escalou Danilo Gentili para comandar Agora É Tarde. Quando migrou para o SBT, Danilo lançou o The Noite e deixou o Agora É Tarde nas mãos de Rafinha Bastos. Até aí já eram três late shows nas madrugadas de três canais abertos diferentes. O Agora É Tarde porém, não sobreviveu muito tempo sem seu primeiro comandante e saiu do ar. The Noite e Programa do Jô passaram a polarizar a atenção da audiência insone até o segundo semestre deste ano, quando ganharam novos “companheiros”: Fabio Porchat e seu Programa do Porchat, na Record, e Marcelo Adnet e o seu semanal Adnight, na Globo.
Porchat e Danilo apostam em formatos parecidos em seus programas. Enquanto Jô Soares seguiu a cartilha de David Letterman e outros “dinossauros” do gênero, priorizando a entrevista e dedicando algum momento ao bom humor, seus jovens seguidores já fazem o inverso. Tanto o Programa do Porchat quanto o The Noite têm forte inspiração no The Tonight Show with Jimmy Fallon (exibido por aqui pelo GNT), que aposta em convidados e entrevistas, mas prioriza o humor. O que os difere é justamente a personalidade de seus comandantes: Gentili é mais ácido (principalmente, em relação a política) e atira para todos os lados, enquanto Porchat costuma ser mais brando e não tira sarro de minorias. Além disso, o The Noite conta com um elenco afiado (Ultraje a Rigor, Juliana, Dieguinho, Léo Lins e Murilo Couto) que traz quadros de humor diversos à atração, enquanto no Programa do Porchat a aposta está em propor brincadeiras com o convidado.
O Programa do Porchat estreou bem, mas logo perdeu terreno na madrugada. Seu Ibope oscila muito, de acordo com a programação da linha de shows da Record. Porchat ainda não garante o segundo lugar todos os dias, mas aumentou a audiência de seu horário, anteriormente ocupado por enlatados. Também agregou mais prestígio à grade da emissora, propondo um programa bem produzido, com bom roteiro e ótimas tiradas - mesmo que com uma gama limitada de artistas. Além disso, Porchat tem um bom domínio de palco e raciocínio rápido, levando a atração com muita destreza. Pouco mais de dois meses após a estreia, o programa tem tido bons momentos e, sem dúvidas, é uma das melhores estreias do ano.
Enquanto isso, a Globo não quis bater de frente com os novos talk shows noturnos e fez sua aposta num night show numa faixa semanal, entregando a Marcelo Adnet o Adnight. Exibido nas noites de quinta-feira, o programa muito prometia, pois Adnet é uma das maiores novidades do humor e da TV nos últimos anos. Mas, até aqui, seu programa tem decepcionado e, de longe, é o mais fraco dentre os três mais recentes night shows do Brasil. Adnet tentou fugir do formato adotado pelos seus colegas e apostou num programa mais voltado ao espetáculo, com um convidado e coisas acontecendo com ele a todo o momento. E é aí que está o problema, pois Adnight tem tanta parafernália para mostrar que acabou excessivamente dependente de um roteiro bem amarrado. E este roteiro culmina com apresentador e convidado ensaiados ao extremo e o humor acaba ficando meio sem graça. Ensaiar um apresentador como Adnet é um erro grave, já que a capacidade de improviso sempre foi algo a ser destacado no artista. E pior ainda é ensaiar um convidado, afinal, uma das graças de um programa com um entrevistado é justamente pegá-lo de surpresa. Ao contrário do Danilo e do Porchat, que conseguem fazer o programa render por si só, o Adnight só rende quando o entrevistado está inspirado (como foi com Cauã Reymond, Dani Calabresa, Mateus Solano e Lília Cabral com Alexandre Nero).
Com o fim do Programa do Jô, portanto, os “late shows brasileiros” ficarão todos mais voltados ao humor do que à entrevista. O que não é um demérito: trata-se de uma proposta válida e que os dois primeiros têm sabido fazer bem (o terceiro ainda tateia em busca de um propósito). Enquanto isso, o espectador brasileiro que gosta de um bom programa de entrevistas terá de se contentar com as atrações do segmento que apostam em outros formatos, como o Mariana Godoy Entrevista, da RedeTV, ou o Programa com Bial, do GNT. Aliás, Pedro Bial ocupará a vaga de Jô na Globo no ano que vem. Se ele fizer algo semelhante ao programa do GNT, pode vir coisa boa por aí. Vamos ver. Quanto ao destino de Jô Soares, nos resta é continuar torcendo para que o fim do seu programa não seja sinônimo de aposentadoria. Queremos continuar a ver o Jô, seja na Globo ou fora dela, na TV aberta ou paga.
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