A expectativa em torno do Chapa Quente era tamanha, afinal, o programa é o substituto de A Grande Família, o humorístico que ficou no ar por 14 anos com grande sucesso. Para agradar o público (em especial, a emergente classe C), o seriado apostou em algo bem popular, tanto é que a história se passa em São Gonçalo, famoso município da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Entretanto, de nada adiantou. De quente mesmo, o Chapa Quente só tem o nome, porque foi morno do início ao fim! A série é tão ruim, mas tão ruim, que apenas três minutos e treze segundos de Os Normais é melhor que todos os episódios de Chapa Quente. Não acredita? Então confere:
Chapa Quente conta a história de Marlene (Ingrid Guimarães), dona do salão de beleza "Marlene's", que conta com a ajuda do fiel escudeiro, o fofoqueiro cabeleireiro Fran (Tiago Abravanel), e da manicure Josy (Renata Gaspar). A empresária corta um dobrado com a dupla. Fran vive com a cabeça no passado e não se conforma por ter voltado para São Gonçalo após ter cuidado do visual das famosas nos inesquecíveis tempos em que trabalhou na Globo e dos quais se vangloria até hoje. Já Josy tem o dedo podre para relacionamentos e vive às voltas com seus afetos. Marlene é casada com Genésio (Leandro Hassum), um desempregado profissional e boa praça, apaixonado pela mulher, que conta com a ajuda de Marreta (Paulinho Serra) para os seus quase sempre desajeitados planos de descolar uma graninha. Genésio sempre bate ponto no bar da Creuza (Ana Baird), apaixonada pelo malandro. Na história, ainda tem o Sargento Bigode (Lúcio Mauro Filho), que tem Noronha (Eduardo Estrela) como seu fiel escudeiro, e seu envolvimento com Josy, noiva de ninguém menos que Godzila (Paulo Américo), chefe do tráfico na região que continua dominando os bandidos do local.
O elenco é, sem dúvida, o ponto alto da série. Afinal, Ingrid Guimarães e Leandro Hassum são dois comediantes natos e responsáveis pelos maiores sucessos de humor do cinema nacional dos últimos tempos (Loucas pra Casar, Até que a Sorte nos Separe e De Pernas pro Ar). E juntá-los em uma produção foi uma ótima ideia. Eles têm uma boa sintonia e esbanjam química, carisma e, principalmente, talento. Tiago Abravanel esteve muito bem à vontade na pele de um gay pra lá de espalhafatoso, assim como Renata Gaspar interpretando uma periguete chave de cadeia e Paulinho Serra vivendo um picareta de mão cheia. Lúcio Mauro Filho, embora tenha praticamente emendado A Grande Família com este seriado, conseguiu diferenciar bem o seu policial do Tuco; e forma uma ótima dupla com Eduardo Estrela, divertido na pele do ingênuo Noronha. E ainda merece menção Mila Ribeiro, que sempre se destacou positivamente nos poucos momentos em que sua fofoqueira Dona Gracinha aparecia em cena. Mas então porque Chapa Quente é tão ruim assim?!
É que nem mesmo um elenco multitalentoso como esse pode salvar um péssimo roteiro (vide Babilônia, que tinha Glória Pires, Adriana Esteves, Fernanda Montenegro, Nathália Timberg e, mesmo assim, foi um horror!). O enredo de Chapa Quente é fraco e as piadas são, quase sempre, óbvias demais. Todos os conflitos dos personagens são desinteressantes, o que acaba fazendo com que o telespectador não tenha ânimo para acompanhar os demais episódios. Para culminar, os perfis, embora muito popularescos, não provocam empatia. Aquelas pessoas que protagonizam a trama parecem cópias de outros tipos já vistos anteriormente em vários outros seriados e outras novelas. Sem falar que a grande maioria peca pelo exagero e o excesso de gritaria chega a dar dor nos ouvidos.
Devo admitir que a entrada de Thalita Carauta (perfeita na pele da maluca Celma) e de Oscar Magrini (vivendo Nelson) na reta final deu um gás novo para a série, já que eles se envolveram, respectivamente, com Genésio e Marlene após o casal se separar. Mas a impressão que eu tenho é que resolveram juntar tudo o que deu certo em séries anteriores em uma nova produção, mas se esqueceram de criar ingredientes que funcionem neste novo conjunto. A relação de Genésio com Marlene me lembra muito a de Bebel (Guta Stresser) e Agostinho (Pedro Cardoso) em A Grande Família, assim como a relação de amizade dele com Marreta se parece com a Agostinho e Paulão (Evandro Mesquita). O "Marlene's" foi cuspido e escarrado do salão de beleza da série Macho Man. De Pé na Cova, pegaram a forma caricatural e um tanto pejorativa em retratar a vida dos suburbanos. E ainda fizeram uma espécie de CTRL+C + CTRL+V do estabelecimento do Seu Chalita (Flávio Migliaccio) com o bar da Creuza, que também é o principal local para barracos entre todos os personagens, tal como o de Tapas & Beijos. E por aí vai... Não me importaria com isso se, ao menos, provocasse boas gargalhadas. Mas não. Além de chato, essa mistureba é muito mal feita!
Entretanto, por incrível que pareça, Chapa Quente rendeu bons índices de audiência para a Globo (entre 17 e 21 pontos) e deve ganhar infelizmente uma segunda temporada em abril de 2016. É como eu sempre digo: audiência nem sempre implica em qualidade! Particularmente, A Grande Família não merecia ter uma substituta tão ruim como Chapa Quente, que, aliás, pode dar as mãos para o Tomara que Caia e disputar, pau a pau, com ele qual foi o pior programa humorístico de 2015!
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