Recebi da leitora Andrea Marques pelo facebook um texto bastante interessante e coeso sobre Velho Chico e essa "síndrome" do público em querer uma "nova" Avenida Brasil. Confira-o na íntegra:
Avenida Brasil foi, indiscutivelmente, uma grande novela. Daquelas que pararam o país, como há tempos não acontecia. Deu até pra relevar alguns desacertos, que não chegaram a comprometer a trama. Mas desde seu fim, cresceu a mania do público (em especial, no twitter) de comparar todas as novelas seguintes com Avenida Brasil, como se, depois ou antes dela, nenhuma mais prestasse.
Radicalismos à parte, nenhuma novela está livre de deslizes. Ainda mais hoje em dia, diante do escrutínio do público, sempre com a boca no trombone nas redes sociais. Qualquer errinho mínimo se agiganta, vira piada nacional. O extintor de incêndio em Os Dez Mandamentos que o diga. Os tuiteiros são implacáveis e rápidos demais nos julgamentos. É claro que algumas novelas realmente não são bem sucedidas. Vão mal no Ibope, a trama apresenta muitos furos, irregularidades, os personagens não cativam o público... No entanto, no twitter, tenho a impressão de que as novelas ficam quase em segundo plano, já que o foco é comentá-las freneticamente. Vira uma espécie de competição para ver quem vai apontar um erro primeiro ou quem vai fazer a piada/montagem mais rapidamente.
É comum comentar as novelas em tempo real em um grande sofá virtual. É quando a maioria dos tuiteiros comentaristas convergem para o mesmo programa. Novela ainda é uma paixão nacional, por mais que o gênero passe por altos e baixos. Seja para aplaudir ou atirar pedras, o Brasil está sempre de olho nela. Se por um lado o público (por meio do twitter) está muito próximo de quem faz a novela (emissoras, autores, artistas) e tem a chance de expressar sua euforia pelas tramas, por outro, parece que muita gente está mais preocupada em fazer comparações ou achar falhas e defeitos nas novelas.
Velho Chico, de Benedito Ruy Barbosa, a nova trama das 21h que estreia semana que vem, nem começou e já estão pipocando críticas nas redes sociais sem terem visto ao menos um capítulo. Reclamam que vai ser mais do mesmo, que será lenta, arrastada, com os mesmos assuntos, enfim. Mas novela é isso: são sempre os mesmos assuntos. E cada autor tem seu estilo e sua marca. Se não gosta de determinado autor, é simples: não assista. Ou então faça críticas inteligentes e bem-humoradas. Mas ficar sempre resmungando a mesma coisa torna-se cansativo até mesmo no twitter.
Particularmente, não sou lá muito fã de novelas no campo. Poucas me conquistaram. Mas acho difícil julgar Velho Chico apenas por algumas chamadas e propagandas. Os tuiteiros parecem não querer aceitar o fato de que a nova novela NÃO será uma Avenida Brasil e nem tem obrigação de ser. Não é essa a proposta. É chata essa má vontade que se instalou no público depois do fim de Avenida Brasil. E fico com a impressão de que, para os internautas, nenhuma novela vai prestar depois da saga de Nina (Adriana Esteves) e Carminha (Adriana Esteves). O que é uma pena, pois acabam perdendo o prazer de curtir uma nova trama que, se não for sensacional, poderá ser ao menos potencialmente boa.
No momento, todo mundo quer aquele ritmo instantâneo de Avenida Brasil. Mas quem fez aquilo foi o João Emanuel Carneiro, um autor jovem que buscava seu jeito de fazer novela. Isso não quer dizer que o Benedito Ruy Barbosa, aos 84 anos, nem qualquer outro novelista deva sair por aí o imitando. Cada um tem seu jeito, suas qualidades, seus defeitos... JEC não é nenhum Monstro Sagrado, como muitos insistem em dizer. Assim como todo autor, ele possui erros e acertos. A Regra do Jogo (que nem parece ser escrita "pelo mesmo autor de Avenida Brasil") é a prova disso. Então vamos esperar até dia 14 de março para criticar Velho Chico. Por enquanto, só tenho uma coisa a dizer:
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