Praticamente entrando em sua reta final, A Lei do Amor já pode ser considerada uma tremenda porcaria. A história, prejudicada por mudanças abruptas em seu roteiro em função da baixa audiência e da influência do resultado dos grupos de discussão, continua enfrentando problemas na condução de seus núcleos.
O erro mais evidente é visto no triângulo amoroso entre Tiago (Humberto Carrão), Letícia (Isabella Santoni) e Isabela/Marina (Alice Wegmann), cujo desenvolvimento se mostra pífio desde o início da novela. Mesmo envolvido com a filha de Helô (Cláudia Abreu), o rapaz se apaixonou pela garçonete e se envolveu com ela sem encerrar o seu compromisso com a patricinha. Algum tempo depois, Helô passou a ajudar Isabela, que havia se comprometido por ter informações valiosas sobre o envolvimento da família Leitão com o senador Venturini (Otávio Augusto). Uma situação sem cabimento, pois a garota jamais iria gostar de ver sua mãe ajudando a atual namorada do ex. Porém, tudo iria piorar com a chegada de Marina. A personagem (que ninguém sabe se é Isabela disfarçada querendo vingança, uma irmã gêmea ou outra pessoa muito parecida) aposta na sedução e vem tentando envolver Tiago, mais uma vez traindo Letícia. Uma situação inverossímil e também machista, já que coloca os dois perfis femininos como "culpadas" do caráter de Tiago, como se Marina fosse uma devoradora de homens que está "se aproveitando" dele e Letícia não reagisse.
Agora, o casal principal também foi afetado. Helô e Pedro (Reynaldo Gianecchini), que andaram por um bom tempo sem história juntos, foram vítimas de uma armação de Tião (José Mayer), que descobriu uma ex-namorada do protagonista: Laura (Heloísa Jorge), que retornou ao Brasil revelando que Pedro tinha uma filha escondida. Isto bastou para provocar a revolta da mocinha, porém, o conflito se mostrou igualmente ilógico e também repetitivo, uma vez que Helô também escondeu de Pedro que tinha uma filha (Letícia) e por isso não tem legitimidade para se revoltar. Para piorar, [ALERTA SPOILER!] os autores vão fazer com que ela flagre Pedro na cama com Laura, assim como aconteceu na primeira fase com Suzana (Gabriela Duarte) — com um diferencial: enquanto a primeira “traição” foi uma armação de Magnólia, aqui Pedro e Laura transarão por livre e espontânea vontade, o que indica uma surreal transformação no caráter de Pedro, até então apresentado como um mocinho justo, gentil e de bom caráter, ao contrário do que este “envolvimento” sugere. Seria muito mais coerente se a rejeição de Letícia por Pedro tivesse sido mais explorada — ela aceitou o pai biológico rápido demais, acabando com um possível ponto de conflito do casal — e se o médico Bruno (Armando Babaioff) tivesse se envolvido com Helô, como era previsto.
As tramas paralelas também não escapam do saldo negativo: a trama política envolvendo a eleição para a prefeitura de São Dimas — justificativa (ridícula) para o adiamento da novela — não tem nem de longe o impacto que deveria ter. Pelo contrário, não passa de uma piada de mau gosto que vai do nada a lugar nenhum. Até mesmo Luciane (Grazi Massafera), uma das melhores personagens da história, perdeu função na mesma, devido à repentina saída de Venturini, com quem a ex-prostituta se envolvia para conseguir informações privilegiadas e ajudar o marido Hércules (Danilo Grangheia) a se eleger. O casal Yara (Emanuelle Araújo) e Misael (Tuca Andrada) também sofre com a falta de um enredo mais consistente, prejudicado pela saída da problemática Aline (Arianne Botelho), que retornou à novela como prostituta de luxo; além de soar forçado o envolvimento de Misael com Flávia (Maria Flor), filha de Salete (Cláudia Raia).
E outro grande erro envolve justamente a frentista. Salete se apaixonou por Gustavo (Daniel Rocha), um dos bandidos que assaltaram seu posto no começo da novela, em um relacionamento marcado pela conduta problemática dele. Chegou-se a colocar o rapaz para ter problemas com drogas, numa referência ao drama sofrido pela personagem de Grazi em Verdades Secretas, mas o tiro saiu pela culatra. A evidente falta de química entre os dois atores e o desempenho apático de Rocha contribuem ainda mais para este erro.
Ainda merece destaque a trama em que Tião se vinga de Magnólia, atualmente um dos eixos centrais do que sobrou da sinopse. Após ser desmascarada em público por suas armações, a megera passou a ser alvo da vingança do inescrupuloso empresário, humilhado por ela na juventude e que irá à forra em um casamento de fachada. Algumas das situações chegam a lembrar bastante dos vilões Laura e Renato (Claudia Abreu e Fábio Assunção) de Celebridade — após um casamento forçado, Laura passa a ser humilhada por Renato e vira sua escrava; logo depois, o jogo se inverte —, porém, sem o mesmo impacto e verossimilhança.
Em virtude de tudo isso, infelizmente, A Lei do Amor se mostrou um horror de novela, onde o amor parece fazer parte apenas do título (falei sobre seu título inadequado AQUI). A estreia de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari na faixa mais nobre da emissora acabou marcada por conduções equivocadas, baixa audiência, desvalorização de talentos e transformações esdrúxulas de personalidade de personagens.