Não perca nenhum dos nossos posts

terça-feira, 19 de abril de 2016

Como criar um índio no manual da TV


Se até hoje quase sempre aos negros são relegados papéis secundários nas novelas, a situação dos índios é ainda pior. Retratados de maneira caricata e estereotipada, poucas vezes índios de verdade foram escalados para os papéis que lhe caberiam por direito na teledramaturgia. Neste Dia do Índio, relembre as tentativas da TV brasileira de "homenagear" os primeiros habitantes do Brasil.

Potira (Lúcia Alves)

Novela: Irmãos Coragem (1970)
Papel: Potira vivia um relacionamento com Jerônimo, um dos irmãos coragem.
Grau de Verossimilhança (3): A maquiagem e o figurino ajudavam a disfarçar, mas a atriz não tinha nenhuma ascendência indígena. Não dava para comprar essa ideia.
Aritana (Carlos Alberto Ricelli)

Novela: Aritana (1978)
Papel: Aritana era o filho de uma índia com um branco. O grande drama da história é a necessidade de Aritana defender a terra dos índios de um grupo americano que deseja comprar tudo. Já na época em que a Tupi estava em decadência, a novela foi massacrada por Dancin' Days, da Globo, que fazia um estrondoso sucesso. Mas serviu para juntar o casal Ricelli e Bruna Lombardi, que faziam par romântico na novela, e estão juntos até hoje.
Grau de verossimilhança (6): Como Ricelli fazia o filho de um branco com uma índia, até que passava. Mas os parcos recursos da Tupi o deixaram parecido com um cosplay do Papa-Capim.

Potira (Dira Paes)

Novela: Irmãos Coragem (1995)
Papel: No remake da novela da década de 70, desta vez escalaram uma descendente de índios para o papel de Potira: Dira Paes, a primeira atriz bem escalada para o papel de uma índia.
Grau de verossimilhança (8): Com o biotipo certo (e muito talento), a atriz paraense de Abaetetuba se encaixou bem e convenceu no papel de índia.

Caraíba (Stênio Garcia) e Moatira (Maria Maya)

Minissérie: A Muralha (2000)
Papel: Stênio Garcia fez o papel de Caraíba, chefe da tribo e protetor dos guerreiros. Maria Maya, como a índia Moatira, era abusada sexualmente por Dom Braz (Tarcísio Meira), um bandeirante inescrupuloso e perverso que fazia os índios de escravos para vendê-los como mão-de-obra. Na trama, Moatira vive um romance proibido: ela se envolve com um padre, Miguel (Matheus Nachtergaele).
Grau de verossimilhança (5): A produção caprichada, feita para comemorar os 500 anos do descobrimento do Brasil, também caprichou na caracterização dos personagens. Mas como nem Maria Maya, nem Stênio Garcia são remotamente indígenas, ficou difícil vê-los como índios. Garcia ainda é melhor pilotando um caminhão. Foi uma cilada, Bino! (entendedores entenderão)

Paraguaçu (Camila Pitanga) e Moema (Deborah Secco)

Minissérie: Caramuru, A Invenção do Brasil (2000)
Papel: Camila e Deborah interpretam duas irmãs que se apaixonam por Diogo (Selton Mello), um degredado que acaba na costa brasileira antes de Pedro Álvares Cabral. Paraguaçu ensina o canibalismo e o amor livre a Diogo, que depois também se envolve com Moema.
Grau de verossimilhança (3): A minissérie, depois transformada em filme em 2001, era cômica. Não tinha intenção de ser fiel historicamente. As personagens marcaram mais pelo estereótipo das selvagens libidinosas do que por qualquer retrato fidedigno dos índios brasileiros.

Serena (Priscila Fantin)

Novela: Alma Gêmea (2005)
Papel: Serena é filha de uma índia com um garimpeiro que cresce em uma aldeia indígena, mas acaba indo parar na cidade grande, onde apaixona-se por Rafael (Eduardo Moscovis). A paixão tem razão para acontecer: Serena é a reencarnação da esposa de Rafael, Luna (Liliana Castro), que morreu pouco depois do casamento.
Grau de verossimilhança (3): Priscila é linda, mas não tem nada de índia. E numa história que mistura espiritismo e reencarnação com indígenas, a coisa fica ainda pior.

Ayani (Eunice Baía)

Minissérie: Amazônia (2007)
Papel: A história do Acre, narrada nesta minissérie de 55 capítulos, foi retratada após uma extensa pesquisa histórica. Para o papel da índia Ayani, chamaram Eunice Baía, hoje com 24 anos, protagonista do filme Tainá, Uma Aventura na Amazônia.
Grau de verossimilhança (10): Descendente de índios, Eunice nasceu no Pará, em Barcarena. Uma rara escolha acertada para o papel.
Estela (Cléo Pires)

Novela: Araguaia (2010)
Papel: Descendente da fictícia tribo dos karuês, Estela começa a novela casada com Fernando (Edson Celulari). Com a morte dele, passa a namorar o enteado Solano (Murilo Rosa). Sua intenção é garantir que uma maldição se abata sobre o rapaz, mas ela acaba (clichê) se apaixonando de verdade pelo mancebo.
Grau de verossimilhança (2): Como criar um índio no manual da TV: deixe o sujeito bronzeado, passe tinta preta e vermelha, saia de palha, adereços artesanais e voilá. Engana só com quem passou a vida na frente da TV.

Tatuapu (Cláudio Heinrich)

Novela: Uga Uga (2000)
Papel: Tatuapu era ainda criança quando é levado por seus pais Nikos Jr. (Marcos Frota) e Mag (Denise Fraga) a uma expedição na Amazônia. Sua família é dizimada por uma tribo, mas ele é adotado por índios rivais e criado como parte do grupo até a idade adulta, até ser descoberto e levado de volta à civilização.
Grau de verossimilhança (-1): Como índio não há nenhum motivo para convencer, já que ele é um homem branco que foi adotado por uma tribo. Mas a história (sem pé, nem cabeça) e as habilidades interpretativas de Heinrich foram uma catástrofe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Bora comentar, pessoal!

Poderá gostar também de

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...