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terça-feira, 28 de novembro de 2017

Enfadonha, 'O Outro Lado do Paraíso' carece de equilíbrio e sutileza


Depois de uma novela maravilhosa que vira fenômeno, como foi o caso de A Força do Querer, o desafio para que a novela sucessora consiga entrar no coração do público fica ainda maior. E é justamente nesse desafio aí que O Outro Lado do Paraíso anda falhando miseravelmente. Abaixo, listo os três principais motivos que me fizeram rejeitar a trama (e creio que represente grande parte do público também).

Excesso de clichês: As duas histórias centrais da trama das nove giram em torno de duas "muletas" já tão exploradas no horário nobre nos últimos anos. A história de Clara é a típica história da heroína vingativa, que aparece quase na frequência de "novela sim, novela não" e parece ter sido feita na base do "copiar e colar" de Chocolate com Pimenta, também escrita por Walcyr Carrasco. E a de Elizabeth, além de ter semelhanças fortíssimas com Madame X, também já foi vista inúmeras vezes: ela forjou a própria morte e mudou de identidade. Se juntar estas duas histórias centrais, já remetemos à A Lei do Amor, com a mal ajambrada saga de Isabela/Marina (Alice Wegmann). Tudo bem que, como diria Chacrinha, na TV nada se cria, tudo se copia, e novela nada mais é do que um novo jeito de contar uma mesma história; mas a sensação de "hum, já vi isso em algum lugar" é tão forte que chega a incomodar.

Primeira fase longa demais: Desde o início, sabíamos que Sophia (Marieta Severo) armaria para internar Clara (Bianca Bin) num hospício para poder explorar a mina de esmeraldas de seu avô. E que Clara, anos depois, conseguiria fugir e retornaria poderosíssima para se vingar da vilã e de todos que lhe fizeram mal. Mas este plot foi sendo adiado em razão de cenas e situações que foram se repetindo exaustivamente. Era Clara apanhando de Gael (Sérgio Guizé) capítulo sim, capítulo também (e a gente tendo que aturar esse embuste); era Elizabeth (Glória Pires) fugindo de Natanael (Juca de Oliveira); era Nádia (Eliane Giardini) e Sophia disparando barbaridades preconceituosas a cada aparição para, respectivamente, Raquel (Erika Januza) e a filha anã; era Samuel (Eriberto Leão) tentando fugir de sua homossexualidade... Enfim, várias histórias que ficaram andando em círculos e só enrolando. Bem que a direção podia ter cortado as gorduras do texto e adiantado logo a história principal. Esta primeira fase de O Outro Lado do Paraíso deveria ter sido mais curta. Uma ou duas semanas seria suficiente.

Falta de sutileza: Walcyr Carrasco sempre pecou na construção de seus textos, com diálogos fracos e excessivamente didáticos. Nas suas novelas das seis (de época e com pegada cômica), não chegava a incomodar tanto assim, mas o mesmo não acontece quando falamos de uma trama contemporânea e com os dois pés fincados no drama, como é o caso de O Outro Lado do Paraíso. Aqui, o autor não economiza nas frases feitas, no didatismo fora de hora ("Eu não entendo de leis, mas isso é homicídio culposo, não é?", disparou Elizabeth ao matar, acidentalmente, seu amante Renan/Marcello Novaes) e nas ofensas gratuitas feitas puramente para chocar e deixar claro os perfis dos personagens. Sem sutileza, o autor mostra que seus malvados adoram xingar todo mundo. É o caso de Nádia, que diz em alto e bom som: "Não quero meu filho namorando uma preta! Deus me livre de ter netos 'torradinhos'". É por aí, pra pior, o nível dos comentários da maioria dos personagens. O que incomoda é que, na vida real, o preconceito não é tão escancarado. Os diálogos de Walcyr passam longe da hipocrisia que costuma rodear esses assuntos. É tudo direto, na lata, sem rodeios. O mesmo acontece com o drama de Estela (Juliana Caldas). Sophia fala para quem quiser ouvir que tem horror à menina, a chama de "monstrengo", "aberração". Outra situação bizarra envolvendo essa questão foi o comentário de Lorena (Sandra Corveloni) ao encontrar a família da amiga. Dirigindo-se a Sophia, perguntou sobre Estela: "Essa é a sua filha de baixa estatura?". Não há sutileza ou meias palavras no texto da trama e é justamente isso que incomoda. O problema não está no clima sombrio, nos temas polêmicos, no excesso de vilões ou na falta de um núcleo cômico, mas sim no texto, que não dá um "descanso" em momento algum. As histórias de Bibi (Juliana Paes), Silvana (Lilia Cabral) e Ivana (Carol Duarte), por exemplo, em A Força do Querer foram tão espinhosas quanto e, mesmo assim, Glória Perez deu uma cara solar e agradável para a novela antecessora do horário e desenvolveu sua trama com a sutileza necessária que permitiu que o telespectador se envolvesse sem se sentir cansado ou angustiado.

Walcyr tem a sorte de contar com grandes nomes o cercando, que imprimem credibilidade à obra. A direção de Mauro Mendonça Filho é impecável, dando um acabamento maduro a uma novela que, apesar da trama forte, carrega muitas características infantis. Além disso, o autor conta com um elenco estelar, que, até aqui, vem driblando como pode as deficiências do texto. Apesar dos pesares, O Outro Lado do Paraíso demonstra potencial para deslanchar. Afinal, Carrasco é um exímio contador de histórias e sabe bem mexer com o público e, principalmente, oferecer à audiência o que ela quer. Resta aguardar.

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