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sábado, 29 de abril de 2017

Fraca, Os Dias Eram Assim decepciona em não traduzir a real complexidade do que retrata



De um lado da história, temos Arnaldo (Antonio Calloni), um vilão com tintas carregadas. Um empresário arrogante, que maltrata a mulher Kiki (Natália do Vale) e tenta controlar a filha Alice (Sophie Charlotte). Mas vai além: não só apoia financeiramente o aparato repressor do regime militar, como sente um prazer sádico em acompanhar as sessões de tortura. Do outro lado, o idealista Túlio (Caio Blat), que adere à luta armada. Sim, idealista, pois na minissérie (ou supersérie ou qualquer outro nome que a Globo queira dar para suas novelas mais curtas) não existem as palavras comunistas e terroristas. Logo no primeiro capítulo, ele comete um atentado "light": solta uma bomba na entrada da fictícia Construtora Amianto, que pertence a Arnaldo. Sem vítimas, só uns poucos danos materiais, que é para manter a simpatia do público. Imediatamente capturado pela polícia, morre ao som de Walter Franco – um requinte a mais de crueldade.

Entre os dois extremos, há uma dezena de personagens que não está nem aí para a política. Como o protagonista Renato (Renato Góes), que se apaixona por Alice à primeiríssima vista numa passeata onde ambos estavam por acaso. Renato é irmão de Gustavo (Gabriel Leone), que é amigo de Túlio. Só por causa disso, o pai da mocinha irá infernizar sua vida, acusando-o de envolvimento com a subversão. Afastado através de mentiras de seu grande amor, o jovem médico será obrigado a se exilar do país. Esta é, em linha gerais, a trama central de Os Dias Eram Assim. Um romance proibido que começa em 1970 e vai até 1984.


As autoras Angela Chaves e Alessandra Poggi, pela primeira vez como titulares de uma obra, já colaboraram em inúmeras novelas e séries alheias. Aprenderam todos os clichês da nossa teledramaturgia, embora ainda não tenham conseguido traduzir a complexidade do período que escolheram retratar aqui. Nem todos os militares eram brucutus sanguinários que sentiam tesão em torturar alguém, assim como nem todos os "subversivos" eram anjinhos caídos do céu perseguidos inocentemente. Naquele momento, vários grupos que se diziam revolucionários estavam praticando atos contra o governo, desde sequestros de diplomatas estrangeiros a assaltos a bancos, passando por crimes contra figuras que apoiavam o regime. A maioria deles, inclusive, não lutavam pela democracia coisa nenhuma e sim para implantar o comunismo no Brasil.

Não estou querendo defender a ditadura militar. Longe disso. Porém, é como dizem: "o lobo sempre será mau se você ouvir apenas a versão da chapéuzinho vermelho". Os atos terroristas dos comunistas na série são amenizados e retratados como se fossem pura molecagem, sem vínculo com nenhuma organização de esquerda. Com um tema tão complexo quanto o que a série retrata, aqui não cabe maniqueísmo: não estamos falando de uma luta do bem contra o mal, entre vilões (os militares) e mocinhos (os comunistas), mas sim de revolucionários que praticavam terrorismo para implantar um regime comunista no Brasil, enquanto eram reprimidos com torturas e crimes obscuros pelo governo militar. Não havia inocentes. Não é à toa que a série vem fracassando na audiência (chegando a míseros 12 pontos) e repercute na web mais por conta dos telespectadores mais conservadores que resgatam imagens e vídeos daquela época para confrontar com a atualidade (através da hashtag #OsDiasNãoEramAssim) do que pela trama em si.

Pelo menos, nessas suas duas primeiras semanas, a supersérie carregou nas tintas do romance, distorcendo a real história e não se preocupando em examinar as contradições de um tempo ainda pouco explorado pela nossa teledramaturgia. Perdeu uma oportunidade de ouro. Não fosse pelas poucas cenas de violência, a série poderia ser facilmente uma novela das seis (como estava inicialmente prevista).

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Mudanças sem sentido fazem de 'Pro Dia Nascer Feliz' mais uma decepção



Emanuel Jacobina retornou à Malhação após a elogiada temporada Sonhos, desenvolvida por Rosane Svartman e Paulo Halm. Intitulada Seu Lugar no Mundo, a história desenvolvida por Jacobina parecia interessante no começo, mas foi se perdendo em meio a conduções inverossímeis, personagens perdendo suas funções e abordagens equivocadas. Ainda assim, parecia que a chance de se redimir viria com a temporada seguinte, intitulada Pro Dia Nascer Feliz, que chega ao fim semana que vem. Ledo engano.

A atual edição conseguiu repetir os mesmos erros da anterior, apesar de apresentar um elenco um pouco melhor. Foram aproveitados poucos personagens para o novo enredo, entre eles Jéssica (Laryssa Ayres), Nanda (Amanda de Godoi), Krica (Cynthia Senek) e Cleiton (Nego do Borel). Enquanto isso, como exemplo, Marina Moschen e Nicolas Prattes, que viveram o casal Luciana e Rodrigo (malconduzido pelo autor), estão repetindo o par em Rock Story, atual novela das sete, desta vez de forma bem mais rica e realmente convincente, interpretando respectivamente a patricinha Yasmin e o cantor Zac, líder da banda 4.4.

Um dos erros é a personalidade da mocinha Joana (Aline Dias). De início uma protagonista de atitude e pulso firme, ao longo do tempo, a personagem se tornou muito intrometida e chata. A falta de química com Felipe Roque (que vive o mocinho Gabriel e também mostrou altas doses de canastrice) também foi evidente, a ponto de Joana passar a se envolver com o irmão dele, Giovane (Ricardo Vianna).

A rival de Joana, Bárbara (Bárbara França), também sofreu com as mudanças estapafúrdias. A filha mais velha de Ricardo (Marcos Pasquim) sempre foi uma vilã voluntariosa, a ponto de fazer ofensas racistas e xenofóbicas contra a rival. Até aí, sem problemas. Porém, a personagem guardava um lado humano interessante em função da convivência com suas irmãs Juliana (Giulia Gayoso) e Manuela (Milena Melo). Essa complexidade foi esquecida sem qualquer motivo aparente. As brigas entre as personagens, que deveriam ser usadas como um bom recurso para a relação conflituosa entre elas, tornaram-se constantes a ponto de cansar. Dia sim e dia também Bárbara e Joana tinham longas cenas de discussão, brigando sempre pelos mesmos motivos: ora pelo Gabriel, ora pelo pai Ricardo, ora pela academia... Ai, que soninho...


Juliana, por sua vez, tinha uma interessante relação de gato e rato com Lucas (Bruno Guedes). As provocações entre os dois faziam do par o mais promissor da temporada. Até que ela se apaixonou por Jabá (Fábio Scalon) e houve uma inversão de personalidades entre eles: o primeiro, arrogante, virou uma boa pessoa, enquanto Lucas virou um babaca irresponsável. Este chegou a se envolver com Martinha (Malu Pizzatto) sem nunca ter sido amigo dela e, para piorar, ela ficou grávida. A abordagem da gestação foi erroneamente desenvolvida, parecendo algo engraçadinho e super legal na vida de um adolescente - e não uma coisa séria, como deveria ser - e repetindo o erro cometido com Krica e Cleiton na temporada anterior.

Nanda, por sua vez, chegou a se envolver com Rômulo (Juliano Laham) para tentar esquecer Filipe (Francisco Vitti), todavia, as constantes desconfianças e a indecisão amorosa dela a transformaram em um tipo irritante e cansativo, desvalorizando o talento de Amanda de Godoi (a mais promissora revelação de Seu Lugar no Mundo). Para piorar, entrou na história o professor Renato (Jayme Matarazzo), para quem supostamente o coração do ex foi doado. O triângulo nada acrescentou e o autor resolveu recorrer a cenas de Filipe como fantasma (bem cafonas, diga-se de passagem) e aproximar Rômulo de Sula (Malu Falangola), amiga cearense de Joana, para fazer ciúmes em Nanda. Nada disso funcionou. Inclusive, fez o efeito contrário, já que Rômulo e Sula formaram, inesperadamente, um casal até que bonitinho.

Agora, foi a vez de Caio (Thiago Fragoso) também sofrer com a mudança de personalidade. O cunhado de Ricardo, irmão da esposa falecida deste, era uma boa pessoa, embora guardasse mágoa do dono da academia Forma em função do acidente. Entretanto, foi transformado em um psicopata perverso, a ponto de se disfarçar de enfermeiro para matar o próprio irmão, assassinar a ex-namorada de Ricardo e sequestrar Tita. Tudo com a maior frieza do mundo. Algo que em nada condiz com seu perfil inicial.

Apesar dos problemas, o elenco consegue tirar proveito do fraco roteiro e aproveita todas as oportunidades. Bárbara França é o maior destaque da temporada e uma das maiores revelações da Malhação dos últimos tempos. Sua entrega total a personagem foi fantástica! Aline Dias, Malu Falangola, Giulia Gayoso, Amanda de Godoi, Laryssa Ayres e Milena Melo são outros bons nomes da turma jovem. Entre os adultos, Deborah Secco também está muito bem como Tânia e Thiago Fragoso, bom ator que é, consegue convencer em todas as nuances de Caio (apesar dos pesares). A grandiosa Joana Fomm, em participação especial, emociona como a avó de Gabriel e Giovane, dona Cleo. Como pontos negativos, as fracas atuações de Felipe Roque (Gabriel), Nego do Borel (Cleiton) e Juliano Laham (Rômulo).

Apesar da boa audiência, Malhação - Pro Dia Nascer Feliz sai de cena nada feliz, repetindo a fraca trajetória de sua antecessora e novamente se perdeu em meio a uma condução pífia e ao desperdício de personagens e enredos, por parte do autor Emanuel Jacobina. Com isto, só resta torcer pela próxima temporada, intitulada Viva a Diferença e assinada pelo cineasta Cao Hamburger, responsável por produções como Castelo Rá-Tim-Bum, Pedro e Bianca e Que Monstro Te Mordeu?, exibidas na TV Cultura.

sábado, 22 de abril de 2017

Power Couple Brasil - Primeiras Impressões



E começamos a segunda temporada do Power Couple Brasil, um reality que tem tudo que gosto no formato: subcelebridades, barracos, votação, provas involuntariamente divertidas e coisas trash. Dessa vez, o número de casais aumentou (são 11) e o programa é exibido duas vezes na semana (terça e quinta).

Eu ainda gosto de Masterchef, é um reality mais sério. Mas o problema é que a Band resolveu transformar o programa na sua Malhação, ficando no ar infinitamente sem parar. Isso cansa e acaba virando mais do mesmo. Se o Masterchef não se reinventar ou parar de ter 902 edições por ano, ele só tende a perder mais e mais público. Fico no aguardo para a Band usar o card de subcelebridades para alavancar o programa.

Já o Power Couple não faz cerimônia em enfiar o pé na jaca, com adultos sem medo do ridículo. É o único reality que nos presenteia com um casal de ex-BBB e um casal de ex-Fazenda competindo no mesmo universo. Isso é tipo fazer um filme com os Vingadores e a Liga da Justiça duelando entre si. Assustadoramente, eu conhecia o(a) famoso(a) de quase todos os casais. E o elenco desse ano é super diversificado. Temos um casal que já passou com certo destaque pela Fazenda (Diego Cristo e Lorena Bueri), uma ex-Panicat (Carol Narizinho) preenchendo a vaga regulamentar de qualquer produção desse gênero, um rapper (Thaíde), uma ex-Globeleza (Nayara Justino), um roqueiro decadente dos anos 80 (Sylvinho Blau-Blau), casal de ex-BBBs (Andressa e Nasser), funkeira (MC Marcelly), imitador de Sérgio Mallandro e ex-Panico (Marcelo Ieié), um ator decadente (Fábio Villaverde), um casal de atores que você nem sabia que existia que se conheceu durante as gravações de Os Mutantes (Mauricio Ribeiro e Suyane Moreira) e o Rafael Ilha que dispensa comentários no que diz respeito a barracos e confinamentos.

A seguir, minhas primeiras impressões sobre a primeira semana da nova temporada do reality.

Diego e Lorena Is The New Casal Kamikaze?




O casal Kamikaze encantou o país ano passado, quando se entregou de corpo e alma para a competição do Power Couple Brasil e apostaram num jogo bem suicida. Não obstante, foram os protagonistas da edição e Laura Keller e seu marido Jorge sagraram-se campeões graças a performances maiúsculas e uma popularidade que entristeceu Simony e Gretchen. Lorena Bueri e Diego Cristo não ficaram quase famosos durante a ótima passagem pela Fazenda 7 graças ao equilíbrio ou à civilidade. Lorena ficou conhecida como Lorena Boca de Boeiro por só falar barbaridades dos outros participantes e Diego ficou conhecido pelas discussões acaloradas que sempre protagonizava usando cueca de R$ 3,99. Ou seja: garantia de bom entretenimento. Vejo neles um potencial enorme de serem o novo casal Kamikaze da edição, pelo menos, nesse estilo de jogo agressivo e bastante força nas provas.. Quem o casal fará chorar dessa vez?

Regiane Is The New Esposa do Túlio Maravilha?




A primeira reação quando você lê o nome Fábio Villa Verde provavelmente é "quem diabos é Fábio Villa Verde???". Mas depois vê o rosto e vem um estalo no cérebro. Aquele cidadão não é de todo estranho, apesar de não chegar a ser familiar. Eu sempre achei ele um dos atores com mais cara de banana do universo. E o Power Couple veio para nos comprovar que isso é mesmo verdade. Sua esposa Regiane já pulou na frente a candidata de mala da edição. Essa loira dos infernos conseguiu dar 902 broncas no marido e encher o saco do resto da casa em apenas um único dia de programa. Nem a esposa do Túlio Maravilha na primeira temporada era tão mandona assim... Já peguei ranço com todas as minhas forças!

Por que diabos Narizinho usa sutiã por cima da blusa?!




Para quem não conhece, Carol Narizinho foi a Panicat mais inútil que já passou pelo Pânico. A gente gosta mesmo é de Panicat raiz, Panicat verdade. A gente gosta é de Nicole Bahls acusando Juju Salimeni de ter feito macumba pra sua bunda cair. O resto? Nunca vi, nem comi... Ficou apenas uma temporada no programa e foi dispensada por falta de carisma. Power Couple veio para nos mostrar que ela continua a mesma. Tão inútil que já foi eliminada na primeira semana e eu nem sei o que escrever sobre ela em um parágrafo inteiro a não ser pelo estranho hábito dela em sempre usar o sutiã por cima da blusa.

Mais uma Ana Paula para ganhar nossos corações?




Com uma relação extremamente bem resolvida, onde a esposa se mostra estratégica e mais enérgica, Silvinho Blau Blau e Ana Paula já parecem incomodar alguns participantes do sexo masculino. Ana Paula carrega o estereótipo da mulher guerreira e bem resolvida, que é doce mas não foge de um embate quando necessário, e suas discussões com o marido fizeram criar logo no segundo dia de convivência a impressão de uma pessoa mandona e voluntariosa, deixando para o marido o título de "pau mandado" reforçado pela edição. Ou essa impressão sobre o casal se desfará ou ficará ainda mais forte, o que certamente gerará conflitos. Pelo temperamento explosivo e imperativo da esposa, ela tem tudo para ser a possível barraqueira da edição. Até porque Ana Paula é sinônimo de barraco e entretenimento. Olha elaaa!

Vai demorar muito para o Rafael Ilha ter um surto e pirar total?




Quem em sua sã consciência e completamente sóbrio olharia para o Rafael Ilha e diria "quero casar com esse homem"?! Sério, olhem para a cara da Aline, esposa dele, e reparem bem na pupila do olho dela. Dá pra ver que tá escrito HELP! Esse homem me dá medo. Gosto assim. Quero treta, quero confusão!

Que o Power Couple nos traga tudo aquilo que o BBB17 não trouxe: barraco e diversão. Amém!

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Dancing Brasil, a "Dança dos Famosos" (muito) melhorada



Há algumas semanas, a Record estreou em nosso país a versão de grande sucesso das emissoras BBC da Inglaterra e da ABC dos Estados Unidos, Dancing With the Stars, aqui intitulado como Dancing Brasil. Pode parecer precipitado, mas acho que já podemos afirmar que o novo reality show de dança é uma das mais interessantes estreias deste primeiro semestre. E, de bônus, já podemos dizer também que o reality vence de sobra o reality mais famoso até então, o Dança dos Famosos, do Faustão. E se você perguntar o porquê da comparação, bem, a própria Globo chegou a pensar em processar a Record por achar que uma é cópia da outra. Então nada mais justo que colocarmos os dois realitys no mesmo texto e compará-los.

Diferentemente do famoso quadro do Faustão, o Dancing Brasil traz toda semana ritmos para embalar as danças dos competidores, exibindo performances de músicas variadas – não necessariamente pertencente ao tema, tendo em consideração um leque de variedades na dança. Também, os jurados são fixos e não variados, semanalmente, como acontece no quadro do Faustão. Sendo assim, os mesmos acompanham consideravelmente os desempenhos dos participantes (se evoluem ou decaem na competição).

E no processo de comparação, o show da Record ganha em quase todos os quesitos, a começar pela apresentação. Enquanto que na Globo temos o sempre impertinente Faustão, que gosta de monopolizar o microfone, na Record vimos uma Xuxa bem sóbria, fazendo um papel de coadjuvante. Fala o necessário, brinca o necessário e interage o necessário. E só isso. Faz o básico e não chama mais atenção que os candidatos, pois esses sim, são as estrelas do programa. E, mesmo assim, ela consegue roubar a atenção. Esbanjando carisma, fazia tempo que não víamos a eterna Rainha dos Baixinhos toda alegre, tão sorridente, brincando e dançando, apresentando um programa – acho que desde o icônico Planeta Xuxa.


Outra vitória da Record vem no quesito produção. Enquanto que o Dancing Brasil é ambientado num palco gigantesco, bem produzido, rico em detalhes passados para quem está em casa acompanhando – um show à parte –, no Dança dos Famosos vemos a estrutura ser montada no palco de um programa de televisão. Ou seja, de um lado temos um programa, de outro temos um quadro dentro de outro programa .

Por conta disso, tudo no reality da Record funciona melhor: edição, câmeras, roteiro do programa. Os candidatos aqui conseguem se mostrar de forma mais completa e o público consegue acompanhar melhor a evolução de cada um deles. Óbvio que em um ponto o reality da Rede Globo consegue vencer: escolha do elenco. Não dá para comparar o cast da Globo com o cast da Record, mesmo com todo o esforço da emissora paulista para trazer para a primeira temporada alguns de seus "grandes" nomes. A escolha do robótico Sérgio Marone como repórter de bastidores do programa também é outro ponto fraco. É tão sem sal atuando quanto apresentando. Nany People seria o nome perfeito para tal posto #FicaADica.

Ainda assim, a Globo consegue chamar mais atenção neste quesito. Mas, fora isso, a Record está de parabéns por estar exibindo um programa de entretenimento muito bem acabado, produzido, com uma estrela apresentando bem e com tudo funcionando direito. Uma pena que um programa tão grandioso como esse fique patinando entre apenas 4 ou 5 pontos no Ibope num fim de segunda-feira. Merecia muito mais!

P.S.: Achei essa abertura do programa um verdadeiro LUXO!!!


quarta-feira, 19 de abril de 2017

Para o desespero dos haters, A Força do Querer vai bem, obrigado!



Estreou bem a nova investida de Gloria Perez no horário nobre, A Força do Querer. A trama entrou no ar sem pressa, mas não desinteressante. Teve um primeiro capítulo que fugiu do didatismo já cansativo da apresentação dos personagens num ritmo acelerado e foi desenrolando sua trama principal aos poucos, revelando a conexão entre as histórias de maneira bastante harmônica. Soma-se a isso o ótimo elenco e uma direção criativa de Rogério Gomes. Tudo isso vem fazendo do início da atual novela das nove um entretenimento saboroso, com Glorinha apresentando algumas novidades em seu estilo já tão conhecido.

Desta vez, a veterana novelista não centrou toda a sua história numa única heroína, como fez com Morena (Nanda Costa), Maya (Juliana Paes), Sol (Deborah Secco), Jade (Giovanna Antonnelli) e Dara (Tereza Seiblitz). Ao invés disso, trouxe diferentes tramas entrelaçadas por três personagens centrais, Ritinha (Isis Valverde), Bibi (Juliana Paes) e Jeiza (Paolla Oliveira). E até mesmo para apresentar seu trio central, a autora não teve pressa, já que o primeiro capítulo focou num prólogo envolvendo dois dos mocinhos, Zeca (Marco Pigossi) e Ruy (Fiuk). A partir deles nasce a relação entre duas grandes famílias, encabeçadas por Eugênio (Dan Stulbach) e Eurico (Humberto Martins), de onde se ramificam as tramas principais e paralelas. Ligado a eles está Caio (Rodrigo Lombardi), que tem uma história de amor com Bibi (Juliana Paes), uma das donas do primeiro capítulo. No final do primeiro episódio surge Ritinha, namorada de Zeca, mas que se envolverá com Ruy. A policial Jeiza surgiu apenas capítulos depois, ao abordar o caminhão de Zeca na estrada. Com a fuga de Ritinha para o Rio de Janeiro com Ruy, a aproximação entre Zeca e Jeiza e, mais pra frente, a entrada de Bibi no mundo do crime, as três protagonistas, finalmente, baterão de frente.

Além de não centrar sua trama numa única grande heroína, Gloria Perez também imprimiu outra novidade no enredo. Ao contrário de suas últimas novelas, que tinham o elenco tão inchado que vários personagens sumiam e apareciam ao sabor do vento, desta vez, em A Força do Querer, são poucos núcleos e personagens. Toda a trama está bastante concentrada nas duas famílias centrais e é a partir das personagens que as compõem que a autora propõem os temas que pretende discutir, como o vício em jogo de Silvana (Lilia Cabral) e a transexualidade de Ivana (Caroline Duarte), que se "descobrirá" homem.

A terceira novidade no enredo de Gloria Perez é a falta da "ponte aérea" entre o Rio de Janeiro e qualquer outra parte do mundo, como a Turquia, Marrocos, Índia ou Estados Unidos. Desta vez, o núcleo "quase estrangeiro" da história está no estado do Pará, no Brasil mesmo, dando a chance de o público “viajar” com as personagens além do eixo Rio-São Paulo, explorando uma cultura tipicamente nacional, mas não tão conhecida aqui pelos lados do Sudeste. Assim, A Força do Querer tem o ritmo e o colorido do Carimbó, do artesanato de inspiração indígena e das lendas da região amazônica, como a do Boto cor de rosa. A locação proporciona um espetáculo visual para quem assiste que dá à A Força do Querer um charme especial.

E mesmo trazendo algumas novidades, Gloria Perez continua ainda sendo Gloria Perez e carrega muito do seu DNA. Assim, A Força do Querer não esconde que pretende ser um novelão, com muitas reviravoltas e amores impossíveis. Ou seja, é um folhetim rasgado, do qual a autora é especialista. Além disso, pode-se observar alguns enredos que remetem a outras de suas histórias, como a relação entre Eurico e Eugênio, que parece um remake dos irmãos Cadore de Caminho das Índias (incluindo aí a presença de Humberto Martins nas duas histórias). À Eugênio caberá se envolver com uma vilã interesseira, neste caso Irene (Débora Falabella), tal e qual Raul Cadore (Alexandre Borges) e a psicopata Yvone (Letícia Sabatella). Já Eurico e Silvana também remetem a Glauco (Edson Celulari) e Haydée (Christiane Torloni), de América. Duas mulheres elegantes que sofrem em segredo diante de uma dificuldade: Haydée era cleptomaníaca, enquanto Silvana, como já foi dito, é viciada em jogo. Sem falar no jeito sempre caricato e estereotipado de Glorinha em retratar temas, digamos, inusitados. Do gótico Reginaldo (Eri Johnson) de De Corpo e Alma, que só andava vestido de preto, para o cosplayer Yuri (Drico Alves), que só se veste de Goku e só se comunica com a mãe através do celular, nada mudou. É tão bizarro que chega a ser divertido!

Ou seja, Gloria Perez retornou ao horário nobre inspirada e A Força do Querer, ao menos nestas primeiras semanas, parece oferecer bastante vigor à faixa. Há bons personagens, situações interessantes e belos cenários prontos para fazer o horário das nove da Globo retornar às boas diante do público. A audiência também está acima das expectativas, com médias sempre acima dos 30 pontos (é a melhor audiência para um início de novela das nove desde Império). Pelo visto, os que esperavam uma nova Salve Jorge para poderem apontar furos, erros e defeitos na nova trama de Glória Perez (como esse redator que vos fala, não vou negar) se deram mal. Se bem que ainda tem muita coisa pra acontecer na trama, então...

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Elenco ruim, casal fake e parcialidade da edição fazem do BBB17 o pior da história



A décima sétima temporada do Big Brother Brasil pode ser definida em duas palavras: catastrófica e esquecível. A seguir, confira alguns motivos que mostram que esse foi o pior BBB da história.

"Os Silva" e Cortez: As tradicionais (e maravilhosas) charges de Maurício Ricardo foram trocadas por uma família de fantoches, a família Os Silva. Dublada por Lúcio Mauro Filho e Heloísa Périssé, os bonecos tinham a função de tecer comentários e piadinhas sobre os participantes, mas nunca provocou um riso sequer. Pelo contrário, era constrangedor. O resultado foi o cancelamento do quadro em menos de um mês. E outro quadro sem relevância foi o comandado por Rafael Cortez, que simplesmente lia tweets de telespectadores do Twitter e tecia uma ou outra piadinha (sem graça) a respeito. Inútil. Uma besteira.

Elenco apático: O que move um bom reality show é, obviamente, o seu elenco, com a formação de alianças e ótimos embates, despertando picuinhas e rivalidades. O jogo bem disputado provoca um clima de tensão constante, ao mesmo tempo que não impede momentos de diversão. E absolutamente nada disso aconteceu na atual edição. Não houve qualquer tipo de vínculo mais forte entre os participantes e nem uma disputa que despertasse interesse. Foi uma temporada fria, sem alma. Os selecionados não criaram afetos no programa. Todos se aliavam por conveniência e os laços mudavam a cada paredão, de acordo com quem retornava da berlinda. Claro que um jogo que vale um milhão e meio de reais provoca interesses e disputas, mas nunca na história do reality houve tantas traições entre os competidores. Até mesmo a imunização do anjo era dada por interesse e não por afeto ou proteção. Se ainda movimentasse o jogo, mas não, pois todos fugiam de confrontos diretos. Não houve bons enfrentamentos e nem grandes discussões. Os populares barracos foram elementos extintos nessa edição, pois todos preferiam falar somente pelas costas e pela frente optavam pelo clássico fingimento. Um jogo baixo em vários sentidos. Foi um ano onde tínhamos que ir torcendo pelo "menos pior". Faltou se entregar ao jogo de verdade (um dos poucos focos de conflitos que despertou interesse foi Elis). Faltou entreter. Faltou lealdade. Faltou carisma.


Doutor Machista e Ninfeta má: Como nenhum participante conseguiu construir uma história própria, o relacionamento entre Marcos e Emilly segurou toda a edição do programa. O grande problema foi o rumo que esse relacionamento tomou. Já começou todo errado, lá na primeira semana, com Marcos querendo formar casal desesperadamente (tentou com Gabi Flor, mas não conseguiu) e tentando beijar Emilly à força. Tudo, porém, sendo tratado de forma bonita e romântica pela edição. Ao longo do BBB, o casal teve incontáveis DRs pelos motivos mais fúteis e não apresentaram muito em comum além do sexo (em um momento infame, Emilly perguntou o que Marcos via de positivo nela e ele respondeu "Você beija bem, transa legal"). O estopim foram as agressões físicas e psicológicas que Emilly sofreu do namorado, que, graças unicamente à pressão popular em alertar as autoridades e pedir uma averiguação, fez Marcos ser expulso (leia mais AQUI). Completamente fake e chato, o casal Mally abusou da nossa paciência.

Mr. Edição vs PPV: Nunca antes houve tanta discrepância entre o que era exibido pela edição da Globo e que o que se acompanhou no pay per view. A edição absurdamente tendenciosa serviu de base para, com a ajuda do apresentador, influenciar o público do sofá a pensar da forma como eles queriam, beneficiando claramente Emilly e Marcos, que foram os protagonistas dessa temporada em virtude da fraqueza dos concorrentes. Como os dois rendiam cenas para o programa, a equipe não se preocupou em disfarçar a preferência pelos dois, sempre os favorecendo o quanto podiam. É óbvio que em todo ano há, sim, momentos em que a atração prejudica uns e ajuda outros, montando quase um enredo de novela para o público. Isso sempre aconteceu. E muitas vezes nem há problema, pois deixa tudo mais atrativo. Porém, nessa foi tudo feito de forma explícita, sem qualquer preocupação com a credibilidade do formato, transformando Emilly e Marcos num casal perseguido e os demais em vilões. Falei mais sobre isso AQUI.


Interferências externas: Um programa arrastado e desinteressante no seu início, viu a trama se movimentar com a união amorosa de Emilly e Marcos. União esta que se concretizou após o apelo do público durante uma festa, onde tweets a favor do casal não foram poupados. Mas não era o Big Brother Brasil um programa de confinamento? Onde informações externas e qualquer tipo de contato com o "mundo" exterior era vetado? Pois muito bem, nessa 17ª edição não mudaram apenas o apresentador, como também várias regras básicas. Vimos e escutamos quase tudo nesse BBB: participantes falando de conversas com a produção, inúmeras idas e vindas ao confessionário sem explicações... Até o nome do Boninho foi jogado na fogueira esse ano! A criação do muro separando os lados, por exemplo, deixou evidente a intenção de favorecer Emilly, pois a mais votada pelo grupo seria "eliminada", mas posteriormente migraria para o lado mexicano, podendo trazer mais quatro pessoas. Era óbvio que a garota seria a escolhida, pois estava no paredão justamente por causa do voto da casa. Ou seja, ainda fizeram isso com uma votação popular em curso, deixando tudo mais escancarado, tanto é que até Emilly e Marcos chegaram a reconhecer, semanas depois, que foram beneficiados com isso. Não é a toa que a tag #BBBManipulado ficou diversas vezes entre os temas mais comentados do Twitter.

Apresentador parcial: Com a difícil missão de substituir Pedro Bial, Tiago Leifert tentou diminuir ao máximo as comparações com o seu antecessor: não fez discursos poéticos no momento das eliminações, ganhou uma mesa de controle para poder participar do jogo e tentou criar uma relação de amizade com os confinados. Errou (e errou rude!), porém, ao interferir no jogo com as sugestões que deu aos competidores, como quando a casa foi dividida em duas pelo muro e sugeriu que o lado mexicano deveria mentir sobre o líder da semana (Marcos) ao grupo rival, que acreditava que Marinalva tinha vencido a prova. Ou querendo transformar Elis na vilã da casa fixando nela o rótulo de "agente do caos". Na tentativa de mobilizar o jogo e orientar o olhar do público, Leifert só ajudou a manipular ainda mais o BBB a favor do casalzinho.

Entretenimento nada saudável: Tivemos racismo e intolerância religiosa (contra Gabi Flor), passando desde a narração de sexo explícito ("Goza na minha boca") à acusação de não pagamento de pensão alimentícia. O ápice foi a violência moral e psicológica de Marcos com Emilly, culminando na real intervenção da polícia no programa e na expulsão do participante. Esse BBB foi muito Black Mirror!


Torcida fanática: A cada edição, é assustador constatar o fanatismo das torcidas, comprovando como os valores andam cada vez mais invertidos. A permanência de Marcos e a eliminação do Ilmar com quase 56% foi vexaminosa e inacreditável. Depois de ter sido humilhado covardemente pelo ex-amigo e depois de tudo o que o médico fez, intimidando e acuando todas as mulheres, a torcida fanática do "casal" mais uma vez fez diferença e o deixou na casa. Entretanto, não era o maior absurdo dessa edição porque ainda estava por vir o paredão do último domingo (09), onde Marcos ficou e Marinalva foi eliminada com 77% dos votos, mesmo depois do show de horror e machismo protagonizado por ele em cima de Emilly. Difícil uma pessoa sensata não se indignar diante de tudo isso. Aliás, esse casal ter uma torcida tão forte já demonstra que a sociedade está bem doente. Um homem agressivo, descontrolador e dono da verdade e uma menina mimada, egoísta e arrogante. Que Deus nos acuda... Aliás, acho que é hora de rever o sistema de votação do BBB, pois não representa mais a vontade popular e sim a vontade dos fã-clubes que fazem mutirão.


terça-feira, 11 de abril de 2017

BBB17 | A omissão da Globo e a distorção de valores e o fanatismo de 77% do público que apoiou o machismo de Marcos



Achei que a semana passada havia sido um divisor de águas. O caso José Mayer agitou as redes sociais e suscitou uma campanha contra o assédio liderada pelas funcionárias da Globo. O bafafá foi tão grande que a própria emissora precisou aderir ao movimento, suspendendo o ator e noticiando o episódio inteiro em seus telejornais. Os abusos cometidos pelos homens em casa, no trabalho ou em qualquer lugar não serão mais perdoados, pensei eu. A sociedade está evoluindo e mais consciente, refleti. Que tolo eu fui.

O que aconteceu no programa neste fim de semana foi gravíssimo e um verdadeiro inferno para quem tem o mínimo de discernimento sobre o certo e o errado para a vida em sociedade. Um certo participante em uma relação, até então, amorosa com uma colega de confinamento a abusou e agrediu física e verbalmente. Isso não é nem a pior parte, mas as consequências que a ação teve. Independente da trajetória da Emilly no programa (que demonstrou atitudes péssimas ao longo do jogo), o que ela sofreu nas mãos do Marcos foi algo nojento e inaceitável. Ele gritando. Cara de ódio. Dedo na cara. Aperta. Belisca. Machuca. Deixa marcas no corpo. Encurrala num canto. Agarra à força quando ela pede para ele se afastar. Força beijar quando ela não quer. Impede que ela fale. Ameaça e intimida valendo-se da maior força física. Esses foram alguns dos atos feitos pelo Marcos contra Emilly, que se encolhia, com o corpo tenso de medo. Depois, pediu perdão e chorou lágrimas de crocodilo, jurando que a amava. Idêntico ao que milhões de homens fazem com suas mulheres pelo mundo afora. E ela acreditou e nem percebeu a relação abusiva em que estava. Idêntico ao que milhões de mulheres vivem diariamente (e acabam sendo assassinadas por isso).

A internet entrou em erupção. Ao longo de todo domingo (9), a hashtag #MarcosExpulso ganhou força. Tive a sensação de que o cara seria defenestrado pelo público depois do show de machismo explícito. Ou talvez até retirado do programa pela Globo. Afinal, por muito menos, um tapinha, Ana Paula foi expulsa da edição passada. A partir daí, ser #ForaMarcos deixou de ser uma simples questão de torcida e se tornou um assunto sobre o Brasil onde nós queremos viver, dando a chance do público mostrar o que realmente não pode mais ser tolerado. Mas, dessa vez, a Globo não interferiu, deixando para Emilly a responsabilidade de se livrar de seu agressor ou não – se ela quisesse, poderia expulsá-lo. E o mais chocante aconteceu: Marinalva foi eliminada com expressivos 77% dos votos. A audiência preferiu salvar Marcos. Por fim, a última pá de cal foi ver Emilly comemorar alegremente a vitória do brutamontes e sua própria família nem tchun pra isso, defendendo, inclusive, Marcos aqui fora. Por mais mulheres sensatas como a Vivian:


Relacionamento abusivo é o que acontece entre Marcos e Emilly. E, pior, ela sofre, sabe que sofre, mas volta atrás. Dizem que quem ama perdoa, mas quem ama alguém precisa se amar primeiro e se proteger, se manter sã e segura. Emilly perdeu sua consciência ao permitir que isso continuasse. Num país onde o assunto mais comentado na última semana foi o assédio sexual cometido por um ator veterano da Globo, a própria emissora, que puniu o seu funcionário, ter ficado omissa diante de tudo isso que aconteceu dentro de suas dependências, num reality onde tudo é monitorado e acompanhado por várias pessoas em todo o país, foi uma atitude covarde e lastimável. Teve que o pessoal do Twitter pressionar e ir uma delegada da Divisão de Polícia de Atendimento a Mulher ao Projac para investigar a conduta agressiva de Marcos e realizar exame de corpo de delito na Emilly para só assim a emissora tomar alguma providencia (expulsar Marcos do programa). A Globo voltou todas aquelas casas que avançou em nome da audiência.

Não sou mulher para falar com propriedade do caso e até me sinto um pouco estranho escrevendo sobre isso, mas não ficarei calado. Eu, homem, me senti acuado e assustado com as atitudes de Marcos – que já vinha encurralando, assediando e agredindo verbalmente os outros candidatos de uns tempos pra cá, sendo entre eles uma idosa e outra deficiente física – e não desejaria ver minha mãe ou minha irmã na situação que Ieda, Vivian, Marinalva e, principalmente, Emilly passaram. Saindo do mérito da Globo e sua parcela de culpa pela total omissão, é preciso tocar num ponto ainda mais importante: a torcida votante.


Sabe quando você pensa "não tem como tal coisa acontecer"? Pois é, foi o que eu pensei... Não tem como apoiarem um cara desses depois de tamanha falta de caráter e, acima de tudo, falta de humanidade que o mesmo demonstrou ter em rede nacional. Não tem como. Por que raios apoiariam? Vai contra todos os valores que a gente aprende desde cedo. Só que, infelizmente, eu estava enganado. Erroneamente enganado. Chegamos ao ponto onde esses fã-clubes de BBB se apoia em um fanatismo inexplicável e passa por cima de tudo acima citado. Caráter. Humanidade. Compaixão. VALORES UNIVERSAIS. Tudo porque escolheram amar e idolatrar um, até então, desconhecido. Amar e idolatrar alguém a quem não devem absolutamente nada. Amar, idolatrar e ignorar qualquer coisa que o mesmo fez, faça ou venha fazer.

A partir do momento que escolhem, poucos tem a dignidade de dizer, no decorrer do programa: "Pera lá, não estou aprovando as atitudes dessa pessoa". E menos ainda são os que abrem mão dela. Surreal, não? Se obrigam a estar com um desconhecido independentemente do que ele fizer. E o que esse fez, em questão, foi algo que me fez sentir desgosto e tristeza. E não só a mim. Eu vi milhares de telespectadores que detestam a Emilly defendendo ela, enquanto a própria torcida dela defendeu o indefensável. E mesmo assim não adiantou. O fanatismo falou mais alto do que todos nós e nos deu um xeque-mate.

Não adianta culpar apenas o programa por todas as incontáveis vezes que fizeram edições tendenciosas favorecendo o casal Mally (falei disso AQUI). Mas a culpa do que aconteceu no paredão de domingo é exclusivamente desses seres humanos que se cegam, que criam motivos absurdos para apoiarem outros absurdos, que passam da linha tênue entre torcer e perder a razão. Seres humanos jovens que são o futuro do país, que viram a cena que me horrorizou e ignoraram. Ou pior: concordaram. Concordaram com um homem expondo um assunto pessoal de um ex-amigo (Ilmar) que confiou nele, que se abriu e mostrou toda a sua preocupação e dor, falando ao vivo para o Brasil inteiro que esse ex-amigo não é um bom pai, expondo, inclusive, uma criança inocente. Concordaram com atitudes absolutamente machistas, onde este mesmo homem agrediu moralmente quase todas as mulheres da casa, até a própria namorada.


Ou seja: sujeitos como Marcos e José Mayer ainda têm a simpatia de uma parcela imensa da população. O comportamento deles não só é admitido, como perdoado, relativizado e recompensado. Sei que ninguém é perfeito e muitos ali já cometeram diversos erros, mas nada nunca foi tão triste de se assistir quanto o que aconteceu neste final de semana. Como bem disse Bial na edição do ano passado, o BBB não é vitrine de vícios e virtudes, porém, apoiar Marcos é de uma distorção de valores sem fim. E a campanha "Mexeu com Uma, Mexeu com Todas" ainda não pegou. Nem no público, nem na cúpula da Globo. Lastimável!

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Sem credibilidade, Troféu Imprensa precisa rever urgentemente seu sistema de votação



Ontem (9) rolou o Troféu Imprensa e a credibilidade passou longe da premiação de novo. O esquema de votação seguiu da mesma forma equivocada (selecionando apenas cinco jurados por categoria) e a escolha dos finalistas se mostra a cada ano mais absurda por conta do método utilizado (votos pela internet).

Ano após ano, fica claro o quanto que a premiação perdeu a sua relevância ao longo do tempo, não conseguindo evoluir e ficando estagnada. Até porque uma das poucas mudanças feitas durante os últimos dez anos, por exemplo, foi justamente a seleção dos finalistas por escolha popular, conseguindo deixar o conjunto ainda pior e mais injusto. Afinal, é natural que o produto ou o artista que tenha o maior fã-clube ou fãs mais dedicados que virem noites votando no seu ídolo seja beneficiado com larga vantagem. E é exatamente isso que acontece com as Anittas, Safadões, Luans Santanas e atores teens da vida.

Embora costume ser considerado mais justo por abranger todas as emissoras, o Troféu Imprensa insiste em manter falhas nas votações que já deveriam ter sido corrigidas há tempos. Outro fato que comprova a obsolescência da premiação é a categoria Melhor Programa Infantil. Todas as emissoras abertas já extinguiram seus eventos infantis e a única que ainda mantém é justamente o SBT. Não por acaso, o Bom Dia e Cia sempre ganha. Qual a necessidade de se manter uma categoria como essa nos dias de hoje?

A questão não é nem se os indicados são merecedores ou não de estarem ali, mas sim que existem outros melhores na frente que nem sequer foram indicados. Larissa Manoela, por exemplo, se saiu muito bem como a gêmeas de Cúmplices de um Resgate, mas na frente dela tiveram outras atrizes disparadamente superiores no ano passado que mereciam indicação: Adriana Esteves, Débora Bloch, Selma Egrei, Camila Pitanga, Andreia Horta, Nathália Dill, Thaís Fersoza... Só para enumerar alguns outros absurdos: uma garota de cinco anos (Lorena Queiroz) disputando com uma cantora (Marília Mendonça) e uma dupla sertaneja (Maiara e Maraísa) como Revelação do Ano, Malvino Salvador e Bruno Gagliasso serem indicados por suas atuações pífias como os mocinhos de, respectivamente, Haja Coração e Sol Nascente em detrimento a Marcos Nanini, Domingos Montagner, Irandhir Santos, Rodrigo Santoro, Marco Ricca, Lee Taylor ou Matheus Solanno, o Panico concorrer como Melhor Programa Humorístico e o Tá no Ar não, Eta Mundo Bom, maior sucesso do ano passado, esquecida como Melhor Novela, entre muitos outros.

Parece tão óbvio e simples afirmar isso, mas deveria ser assim: Troféu Imprensa, quem decide SÃO OS JURADOS "especializados" em TV. Troféu Internet, quem decide É A INTERNET. Não pode deixar nas mãos do público a escolha dos finalistas. Será que é tão difícil assim reformular a premiação?!

sexta-feira, 7 de abril de 2017

BBB17 | Casal Mally vs Mr. Edição: a criatura se voltou contra o criador



Existe um conceito básico de estrutura de um enredo que se aprende nas primeiras aulas de qualquer escolinha de roteiro, chamada de jornada do herói. É um molde, uma receita de bolo, que se usa pra escrever a maioria das histórias que você já leu em algum livro ou viu em algum filme, novela ou série. O trabalho de um autor/roteirista é fazer o público torcer pelo protagonista — seja ele um mocinho de coração bom como o Candinho (Sérgio Guizé) de Eta Mundo Bom ou um bandido controverso como o Romero Rômulo (Alexandre Nero) de A Regra do Jogo — e se envolver emocionalmente com seus problemas enfrentados. E foi exatamente essa a tática adotada pela edição do BBB17 em relação a Emilly.

Assim como nas novelas, o BBB, apesar de ser um reality show, tem seus personagens. Não existe história sem protagonistas e quem carrega o enredo todo são eles. Goste você deles ou não (EU ABOMINO!), Emilly e Marcos são os nomes dessa edição. Principalmente, a gêmea, que é chave para romance, intriga, combinação de votos, amizades e discussões dentro e fora da casa, sendo a mais comentada da edição e ganhando fãs e haters. Serpemilly está longe (bota longe disso) de ser uma das melhores participantes do BBB, de produzir um entretenimento divertido de assistir e de ser merecedora do prêmio, mas, pela falta de outros enredos interessantes dos outros personagens, se destacou e produziu conteúdo com seu romance com Marcos. E é justamente disso que precisa a edição do BBB para fazer audiência: de conteúdo.

É na edição exibida sempre a noite, depois da novela das nove, onde todo o material de todas as conversas que acontecem em um dia inteiro são condensadas e transformadas em vt's curtinhos, de um a três minutos, que mostram intrigas, polêmicas e romances — favorecendo e desfavorecendo determinados participantes, dependendo do contexto e da maneira que vão para o ar e do quê vai ao ar de cada um deles. Já quem tem pay per view, pode acompanhar absolutamente tudo e assim fazer seu julgamento. E nunca, em todas as edições, a discrepância entre a edição e o pay per view foi tão gritante como no BBB17.


Por serem os protagonistas da história, a Globo tratou de "proteger" o casal Mally. O problema é que Emilly, apesar de ter a maior torcida votante, é rejeitada por metade ou mais da audiência que restou do BBB17. Então, eles precisam limpar a imagem da menina para quando ela ou Marcos vencerem não deixar aquele gostinho de "a vilã se deu bem no final". O primeiro passo foi com aquele muro que dividiu a casa e a votação (quem nem foi popular, mas sim interna) de Emilly para a falsa eliminação junto com a escolha dos seus "amigos" para dividir o lado mexicano da casa — com Tiago Leifert, inclusive, induzindo Pedro ao erro na votação para que ele "eliminasse" Emilly. Ali, houve uma clara tentativa de traçar o ponto de virada na história da princesinha de Taubaté. Um marco, em que ela receberia uma notícia trágica de sua eliminação, choraria, cairia na real e aprenderia com os erros, voltando uma pessoa melhor. Uma humanização da personagem, criando uma conexão emocional entre público e protagonista. Ao mesmo tempo em que delimitaria para o público, de forma bem didática, colocando os amigos da heroína juntos de um lado da casa e todo mundo que votou nela do outro, quem eram os mocinhos e vilões que eles deveriam torcer.

Outro ponto importante de favorecimento do casal Mally é o próprio apresentador, que tem interferido de forma descarada no jogo desde o início — coisa que Bial jamais fez. Pra ficar bem didático, vou enumerar nesse parágrafo alguns momentos cruciais em que Leifert foi além da sua função de apenas apresentar o programa e tentou orientar (leia-se: manipular) o olhar do público sobre o jogo: 1 - fixando em Elis o rótulo de "agente de caos" para ela ficar como a vilã da história e Emilly a mocinha, sendo que ali era, na verdade, um duelo de cobras; 2 - forçando uma amizade que nunca existiu no paredão que eliminou Roberta, pedindo para ela e Emilly (que mal conversavam dentro da casa nas últimas semanas) sentarem lado a lado e se abraçarem, repercutindo positivamente para a imagem de Emilly; 3 - sugerindo para os brothers do lado mexicano mentirem para os do lado americano quando a casa ainda estava dividida pelo "Muro de Trump" e Marcos era o novo líder; 4 - quando não aceitou o argumento afinidade usado por Marinalva para indicar Marcos ao paredão e forçou a paratleta a dar outras explicações para a escolha, contrariando sua postura inicial; 5 - analisando a posição dos brothers no sofá (ATÉ ISSO!!!) e sugerindo que Emilly foi "abandonada" pelos demais; 6 - quando se calou em relação às graves acusações de Marcos sobre as conversas que supostamente ocorrem entre ele e a produção no confessionário... Ufa!


É por tudo isso que chegou a espantar o verdadeiro churrasco que fizeram do casalzinho durante o programa nesta segunda (3). O jogo da discórdia funcionou quase como um jogo de vingança pessoal da edição e dos haters do casalzinho. Chamaram os eliminados de paredões passados para constranger Marcos e Emilly — e foram terrivelmente felizes nessa empreitada. Nesses mais de dois meses, a edição protegeu Serpemilly e Machista Harter de suas próprias personalidades e atuações e, agora, faltando poucos dias para o fim do BBB17 (ALELUIA!), resolveu também acabar com o favoritismo dos dois e, finalmente, expôr todo o seu mau-caratismo, mentiras e incoerências? O público do sofá deve ter ficado confuso, afinal, tudo aquilo que lhes foi exibido nos últimos 71 dias mudou da água pro vinho. E se fez presente novamente no discurso de eliminação do Ilmar, em que Leifert criticou as torcidas dos telespectadores mais "fanáticos" e "hipnotizados" (indireta mais que direta para o fã-clube da Emilly).


A verdade é que, de uns tempos pra cá, Marcos se sentiu tão à vontade ali dentro que passou a afrontar a produção com desacatos e mentiras, reforçando a impressão de que ela está o favorecendo no jogo e colocando a credibilidade do programa — que já não está lá grande coisa a muito tempo — em xeque. A criatura se voltou contra o seu criador. E a culpa é toda da Globo, que deu corda e se enforcou.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Os erros em Salve Jorge que Glória Perez vai ter que evitar em A Força do Querer



Se você curte acompanhar novela das nove, sabe que ultimamente a safra do horário não tá das melhores. Faz tempo que não assistimos uma novela que una todas as tribos e nos dê vontade de ficar na frente da TV esperando pelo próximo acontecimento. A Lei do Amor foi mais um fiasco para se esquecer. Com isso, só nos resta esperar que a próxima novela de Glória Perez, depois da destrambelhada Salve Jorge, seja capaz de resgatar o sucesso dos tempos de outrora. Por isso, o Eu Critico Tu Criticas analisou a apresentação especial de A Força do Querer, que estreia hoje (03), e lançou alguns pitacos. Confira!


"Após uma década e meia apresentando a cultura de outros países, Gloria Perez decidiu mostrar os costumes brasileiros em seu novo projeto. A Região norte foi escolhida como cenário. A viagem é feita de barco até o fictício vilarejo de Parazinho. É lá que, no primeiro capítulo, Zeca (Marco Pigossi) e Ruy (Fiuk) - ainda crianças - se afogam e são salvos por índio que entrega à dupla uma espécie de amuleto e lhes dá um aviso: a água que os uniu será a mesma que irá separá-los. Uma grande desilusão amorosa é capaz de revirar a vida de qualquer pessoa e pode abrir caminhos para nova paixão. É isso que vai acontecer com Zeca. É no bairro de Portugal Pequeno que ele se refugia para esquecer Rita (Isis Valverde), que o abandonou logo após o casamento. E será nesta localidade de Niterói, bem distante de Parazinho, que ele vai conhecer Jeiza (Paolla Oliveira), uma mulher diferente de todas que já conheceu na vida".

Pra começar, ideia acertadíssima a autora resolver mostrar as riquezas do nosso Brasil ao invés de falar (pela trocentégima vez) sobre algum país estrangeiro. Salve Jorge mostrou que ninguém aguenta mais as dancinhas e os bordões estrangeiros, nem ver o português como língua oficial em qualquer lugar do mundo e a facilidade como as pessoas se locomovem, por exemplo, entre Istambul e o Rio de Janeiro. A própria Glória, que é natural do Acre, já tinha falado sobre a região na sua minissérie Amazônia, em 2007. E, mais recentemente, a novela Além do Horizonte tinha boa parte de suas cenas nessa região.

Essa parte meio mística da trama pode causar desconfiança inicial em alguns telespectadores mais exigentes e gerar cobranças caso Zeca e Ruy não tenham mais conflitos no decorrer da trama. E é o que pode acontecer se Fiuk se sair muito mal na novela e tiver seu espaço reduzido, que nem Bahuan (Márcio Garcia) de Caminho das Índias. Este tipo é muito arriscado: playboy mimado que "rouba" a namorada do mocinho pobre de coração bom. Se não for feito por um ator carismático que cative o público e que seja REALMENTE um bom ator, já era. E Fiuk, bem... Alguém se lembra de alguma atuação marcante dele? É, também não. Além do mais, Ísis Valverde e Marco Pigossi já mostraram que tem química de sobra como os mocinhos de Boogie Oogie, então Zeca já sai com vantagem na frente de Ruy na torcida do público.

Percebam também que há uma vaga semelhança ao núcleo principal de Haja Coração. Temos um caminhoneiro brutamontes (Zeca/Apolo) que disputa o amor de uma mulher (Ritinha/Tancinha) com um ricaço que promete o mundo (Beto/Ruy) e se envolve com outra que é meio feminista e não se deixa intimidar pelos homens (Tamara/Jeiza). Oxente, my good! Outro Apolo eu não vou suportar!

Aliás, seria Jeiza uma nova Dona Helo? Esse reboot de Salve Jorge tá liberado!

"Bibi (Juliana Paes) é uma mulher linda e cheia de personalidade, que necessita do fogo de uma paixão arrebatadora para ver sentido em sua vida. É em função disso que ela termina um noivado estável com o colega da faculdade de direito, Caio (Rodrigo Lombardi), para se entregar de corpo e alma à adrenalina que Rubinho (Emilio Dantas), um estudante de química que faz bicos como garçom, lhe proporciona. Com coração partido, Caio se mudou para os Estados Unidos, abandonando de vez o plano de fazer parte da diretoria da empresa de seus primos, a Irmãos Garcia. Passados 15 anos, ele está de volta ao Rio e o destino tratará de fazer Bibi cruzar o seu caminho novamente. Casada com Rubinho e mãe de Dedé, Bibi precisou interromper a faculdade para trabalhar e garantir o sustento da família. A vida do casal é cheia de paixão, mas com pouco dinheiro. Aurora (Elizângela), mãe dela, não se conforma com a escolha da filha e recorre a Caio quando Bibi está para ser despejada. Surpreendentemente, ele decide ajudar e empresta um imóvel para a ex morar com família, desde que Aurora não revele à filha quem a está ajudando. Amor, vingança ou apenas uma boa ação? Nem Caio consegue entender o que o leva a tomar tal decisão. Em princípio, a vida de Bibi melhora, mas sua louca paixão por Rubinho a levará a fazer escolhas erradas. Ela vai entrar no mundo crime e ficará conhecida por todos como 'Bibi Perigosa'. A esta altura, Caio estará ocupando um alto cargo ligado à Justiça e viverá um grande conflito íntimo entre a ética e o seu grande amor".

Juliana Paes promete e muito! A Bibi Perigosa é inspirada numa personagem real, que saiu da vida do crime e escreveu um livro sobre o assunto. Mas Caio pode ser o calcanhar de aquiles desse núcleo. Motivo? Parece ser a nova versão do (Pas)Théo, também interpretado pelo Rodrigo Lombardi, de Salve Jorge.

Em determinado momento, segundo a autora, Bibi ficará cada vez mais perigosa e mobilizará vários personagens em sua perseguição, incluindo Jeiza, e a novela ganhará contornos policialescos nessa parte. E é aí que mora o grande perigo. Em Salve Jorge, diante da patrulha que cobrava lógica e apontava diariamente todas as incoerências e os furos do seu roteiro, Glória Perez sempre usava como justificativa que novela é ficção, não tem obrigação de mostrar a realidade: "É preciso voar!". Em partes, concordo. Porém, em uma trama REALISTA e POLICIAL, não há telespectador que aceite "sonhar" ou "voar" quando está acompanhando uma história do gênero. Pistas falsas, lançadas intencionalmente pelo autor, tudo bem. Mas erros, furos, incoerências, falta de nexo são inaceitáveis. Inexperiente, talvez, no gênero, a autora acreditou que teria a cumplicidade do público em seus "voos". Lógico que não teve. Ao contrário, virou motivo de chacota. Espero que Dupla Identidade, maravilhosa série que a autora escreveu depois de Salve Jorge sobre um serial killer, tenha deixado Glorinha mais por dentro do gênero thriller policial.


"A empresa Irmãos Garcia é uma das maiores empresas de ramo alimentício no Brasil, comandada com pulso firme pelos irmãos Eugênio (Dan Stulbach) e Eurico (Humberto Martins). Embora parceiros, eles têm temperamentos completamente opostos. Eugênio quer sair do posto de chefia que ocupa e seguir a tão desejada carreira de advogado. No entanto, diversos infortúnios o fizeram adiar seus planos e, passados 15 anos, com Ruy já adulto, chega a hora de realizar o sonho adiado. Esta decisão vai acirrar os ânimos familiares. Assim como o irmão Eurico, a voluntariosa Joyce (Maria Fernanda Cândido), esposa de Eugênio, também não aceita o plano do marido. E este será apenas um dos dilemas familiares. O casal terá que lidar com as consequências das confusões de Ruy, que em uma viagem ao norte do país, se encanta por Rita (Isis Valverde) e coloca em risco seu noivado com Cibele (Bruna Linzmeyer). Já Ivana (Carol Duarte), a filha mais nova do casal, criada como a princesinha dos pais, entrará em conflito interno e se revelará trans homem. Ela vai querer resgatar a sua identidade: é um homem que nasceu em um corpo de mulher. Como a casal vai reagir diante desses turbilhões?"

Como o público vai reagir diante desse turbilhão, isso sim! Glorinha sempre foi uma mulher de vanguarda, levando discussões interessantíssimas e acaloradas ao público com temas difíceis através das suas novelas. A transexualidade é o grande trunfo de A Força do Querer e, antes mesmo da novela estrear, já gera polêmicas. Preparem-se para textões de ativistas LGBTUVWXYZ (uns dizendo que a autora "lacrou", outros criticando a abordagem) e telespectadores mais conservadores torcendo o nariz. A Globo vem meio que preparando o público sobre o tema com a série do Fantástico, "Quem Sou Eu?", encerrada no último domingo. Só espero que a transexualidade seja abordada de forma natural, sem ser enfiado goela abaixo.

"Em meio à crise em seu casamento, Eugênio se envolverá com a misteriosa Irene (Débora Falabella). Arquiteta e amiga de Silvana (Lília Cabral), a moça é manipuladora e é capaz de tudo para conseguir o quer. Tem um passado extremamente perigoso e desconhecido de todos".

Esse núcleo vem sendo extremamente similar ao de Caminho das Índias. Irene tem um quê de Ivone (Letícia MortadelaSabatella): seduz um ricaço (Eugênio/Raul), que vive em conflito com o irmão (Eurico/Ramiro) pela presidência da empresa (Irmãos Garcia/Irmãos Cadore) e está insatisfeito com sua vida e com o casamento com uma mulher voluntariosa (Joyce/Melissa) em crise, para dar um golpe nele. Só espero que Ivone seja uma vilãzona de raiz mesmo e não uma nova Lívia (a robótica líder da gangue em Salve Jorge).

"Do outro lado da família Garcia tem Eurico, um homem cético que quer ter o controle sobre tudo e sobre todos. Sua esposa, Silvana (Lilia Cabral), é o oposto. Viciada em jogo, vai cair de cabeça na dependência, colocando em risco o patrimônio da família. A filha do casal é Simone (Juliana Paiva), uma jovem linda e vaidosa e melhor amiga da prima Ivana".

O vício em jogo já tinha aparecido em Salve Jorge com o personagem Celso (Caco Ciocler), mas agora o tema terá uma abordagem ainda mais ampla, mostrando como o jogo pode destruir a vida das pessoas. Só espero que seja uma tema abordado de forma eficiente e não apenas para preencher tabela e depois ser esquecido (como o alzheimer da Vó Farid na trama anterior de Glorinha que desapareceu).


Outros personagens que podem bombar são Edinalva (Zezé Polessa) e Abel (Tonico Pereira), que prometem ser tipos bastante divertidos. Ela é mãe de Ritinha e ele é pai de Zeca, os dois não aprovam o relacionamento entre seus filhos e vivem implicando um com o outro. Eles provavelmente terão bordões e serão o alívio cômico da trama, já que Zezé e Tonico são experientes no humor e sempre cativam o público quando vivem esse tipo de papel (vide Ternurinha de Cordel Encantado e Ascânio de A Regra do Jogo).

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E eis que chegamos aos "voos" de Glória Perez. Segundo a sinopse, Ritinha acredita REALMENTE que seja uma sereia, porque ela tem certeza que é filha de um BOTO. Sim, na novela a personagem vai ser, supostamente, filha de uma união de Edinalva com um boto, boto cor de rosa mesmo, boto lenda da Amazônia. Quando uma amiga dela apresenta à ela o sereismo, ela fica empolgada não porque vai poder se vestir de sereia, mas sim porque acredita que JÁ É uma sereia, e aquilo seria um jeito de dar vazão a seu verdadeiro "eu". A coisa vai ser tão real que não vão faltar imagens de Isis de cauda e tudo. E ainda tem o núcleo cosplayer, com Yuri (Drico Alves), Heleninha (Totia Meirelles) e Junqueira (João Camargo), que vivem em conflito com o garoto que só se veste como personagens de animes e desenhos animados e só se comunica no celular. Teoricamente, o núcleo serve para fazer os pais entenderem melhor esse fenômeno de cosplayer no mundo jovem e a interferência da tecnologia em excesso na vida social e nos estudos dos mais jovens. Não sei vocês, mas já estou me preparando para rir muito involuntariamente disso tudo.

sábado, 1 de abril de 2017

Autores precisam ter a liberdade de bancarem suas ideias para evitar novos "Frankensteins" como A Lei do Amor


"Lá vai o trem sem destino...". Esse trecho da música de abertura de A Lei do Amor ("O trenzinho do caipira") resume perfeitamente toda a sua trajetória: uma novela desgovernada e sem rumo!

Maria Adelaide Amaral é uma das autoras que mais gosto e uma das mais bem-sucedidas da TV. É dela os ótimos remakes de Anjo Mau e Ti ti ti e as excelentes minisséries Os Maias, A Muralha, JK e A Casa das Sete Mulheres. Sua última novela antes de A Lei do Amor, Sangue Bom, escrita também com Vincent Villari, foi mais uma produção vitoriosa. Portanto, é de se espantar o que aconteceu com a atual novela das nove. A autora nunca havia passado pela experiência dolorosa de ver sua obra desagradar e ser tão criticada pelo telespectador. Não dá para dizer que Adelaide e Vincent se perderam, porque, novelistas do quilate que são, eles não perderiam o rumo da história que queriam contar. A impressão que se tem é que os dois, na verdade, não contaram o que tinham planejado e, sim, que foram modificando a trama original ao sabor das circunstâncias. Só isso explica a sucessão de erros em que se transformou A Lei do Amor.


Os problemas já começaram na primeira fase, toda centrada no casal principal, Pedro (Chay Suede/Reynaldo Gianecchini) e Helô (Isabelle Drummond/Claudia Abreu), e na armação de Magnólia (Vera Holtz) para separá-los. Quando saltou 20 anos no tempo, toda a armação que ganhou destaque na primeira fase logo foi desnudada. Assim, quem comprou todo o romantismo e as intrigas da primeira semana da novela acabou ficando a ver navios, pois nada daquilo se mostrou verdadeiramente importante para a continuidade da narrativa. A história do casal apaixonado que foi separado na juventude por uma intriga da vilã e se reencontra anos depois ganhou cores de trama policial, passando a girar em torno dos mistérios do atentado de Fausto (Tarcísio Meira) e Suzana (Gabriela Duarte/Regina Duarte).

Soma-se a mudança brusca de rumo do enredo: o elenco numeroso — repleto de atores jovens e desconhecidos (que faziam da trama uma espécie de Malhação em horário nobre) e figuras tarimbadas em papéis aquém (como Cláudia Raia, Maria Flor, Ana Flor e Tato Gabus Mendes) — com núcleos desconexos; os erros absurdos de escalação do elenco entre as duas fases (como Mag e Fausto serem Vera Holtz e Tarcísio Meira desde o começo, mas Tião ser Thiago Martins e depois virar José Mayer, para mais adiante surgir uma Mag jovem em cenas de flashback); e, claro, a chatice extrema de Letícia (Isabella Santoni). A audiência não reagiu e, a partir daí, foram feitos os chamados "grupos de discussão" com o público. Infelizmente, o que já havia acontecido em Babilonia se repetiu: estes grupos, que deveriam orientar a condução da história, acabaram iniciando um desgaste que afetou a história irreversivelmente.

Com a intromissão de Silvio de Abreu no roteiro da novela, várias revelações e entrechos foram antecipados, personagens promissores foram eliminados, outros tiveram suas personalidades alteradas sem motivo aparente e conflitos foram inseridos sem nada acrescentar. A entrada do autor Ricardo Linhares piorou ainda mais a situação, uma vez que o autor vinha de Babilônia, maior fracasso do horário das nove, e, com isto, não tinha sentido que justamente ele "ajudasse" a melhorar outra novela.

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Se antes eram prejudicados pela falta de conflitos, Pedro e Helô foram destruídos por situações que não condiziam com o perfil dos personagens. O retorno de Laura (Heloísa Jorge), uma ex-namorada de Pedro, em nada acrescentou, tornou Helô (antes, uma pessoa de mente aberta) uma ciumenta possessiva e repetiu uma situação do começo: o mocinho tinha outra filha da qual não sabia da existência. Em função dos ciúmes, Pedro passou a conviver com Laura e chegou ao ponto de transar com ela, virando um sujeito machista, totalmente diferente da pessoa íntegra de outrora. A lei do amor ou do machismo e da traição?

O machismo também esteve presente no malfeito triângulo entre Tiago (Humberto Carrão), Letícia e Isabela/Marina (Alice Wegmann). Letícia era uma garota voluntariosa e irritante. Tiago, seu então noivo, passou a se envolver com Isabela, sem desfazer o seu compromisso com a mulher. Enquanto Pedro foi "vítima" do ciúme excessivo da Helo, Tiago foi colocado pelo roteiro como "vítima" da personalidade mimada da noiva. Após um acidente, Isabela desaparece e volta como Marina para se vingar do rapaz — pois pensava que ele havia tentado matá-la — e apresenta um temperamento totalmente diferente: mais sensual e misterioso. Ela começa um jogo de sedução que novamente faz Tiago trair Letícia, sendo outra vez posto como vítima da ardilosa Marina e da passividade da agora esposa, que se tornou menos insuportável. Aliás, foi justamente para "salvar" Letícia que se prolongou o sumiço de Isabela no mar. Um tiro que acabou saindo pela culatra. O que era para ser solucionado em breve tomou proporções imensas, sendo arrastado até o último capítulo e deixando o público totalmente desinteressado com esse "mistério".


O núcleo político de A Lei do Amor, que foi usado como justificativa para o seu adiamento e a entrada de Velho Chico no horário, não rendeu o que deveria. A campanha pela sucessão municipal de São Dimas se transformou em uma piada, contradizendo a alegação do Silvio de Abreu de que o mote político poderia ser prejudicado com as eleições daquele ano. Até mesmo Luciane (Grazi Massafera), uma das melhores personagens da história, perdeu função na mesma, devido à repentina saída de Venturini (Otávio Augusto), com quem formava uma ótima dobradinha. Yara (Emanuelle Araújo) e Misael (Tuca Andrada) também sofreu com a falta de um enredo mais consistente, prejudicado pela saída da problemática Aline (Arianne Botelho), que retornou à novela como prostituta de luxo; além de ter soado forçado o envolvimento de Misael com Flávia (Maria Flor) e, posteriormente, com Ruty Raquel (Titina Medeiros); que, por sua vez, formava um casal divertidíssimo com Antonio (Pierre Baitelli), que foi desfeito sem mais, nem menos.

Outra trama paralela que sofreu com a má condução foi a de Salete (Cláudia Raia), dona de um posto de gasolina, que se envolveria com os frentistas de seu estabelecimento. Estes foram retirados da trama e ela passou a se envolver com Gustavo (Daniel Rocha), bandido que participou do atentado que matou Suzana e deixou Fausto em coma. O romance não funcionou e os autores reeditaram um drama de Verdades Secretas, colocando o rapaz para sofrer com o uso de drogas. Não convenceu. Assim como também a transformação de Ciro (Tiago Lacerda) de vilão cruel a bom samaritano, a do bobão Hércules (Danilo Grangheia) em mestre do crime na reta final e tantas outras que daria para eu ficar horas comentando.

Ainda merece destaque (negativo, é claro!) a trama em que Tião se vinga de Magnólia, que acabou se tornando um dos eixos centrais do que sobrou da sinopse. As cenas de humilhação foram todas previsíveis. Um embate arrastado que careceu de tensão verdadeira. A atriz Vera Holtz, coitada, não teve muito o que fazer com a apatia do roteiro, mas interpretou Magnólia com inspiração e dominou a novela.

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Muito se fala sobre a prática de pautar as decisões sobre as novelas de acordo com os famosos grupos de discussão. Mas desde quando o público que vê novela sabe o que quer? E o que é melhor? Se a novela inova demais, o telespectador reclama. Se ela é "mais do mesmo", reclamam. Se é violenta demais, reclamam. Se é muito bobinha, reclamam também. Velho Chico não foi nem de longe a minha novela preferida, mas o autor Benedito Ruy Barbosa (e, nesse caso, o diretor Luiz Fernando Carvalho, que não aceitava intromissões) fez um trabalho original e coerente. A Regra do Jogo seguiu o mesmo caminho porque João Emanuel Carneiro não muda uma vírgula do que quer contar. É por isso que insisto em dizer que os autores precisam de liberdade para trabalhar e que errem seus próprios erros. Fica mais bonito e mais digno do que transformar uma novela num verdadeiro Frankenstein como, infelizmente, se tornou A Lei do Amor.

Confira o Desgraçômetro atualizado das últimas novelas das 9:



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