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sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

CRÍTICA | 'O Outro Lado do Paraíso' confunde licença poética com subestimação da inteligência do público


Que O Outro Lado do Paraíso é um enorme sucesso de audiência e repercussão, isso é indiscutível. O mesmo, porém, não se pode afirmar quanto à sua qualidade. Tão carregada de clichês mal utilizados que chegam a transbordar pela TV e se esparramar no chão da nossa sala, dona de um texto de uma pobreza abaixo da linha da miséria e onde a realidade, a lógica e o bom senso são personagens que quase não aparecem na trama, fica a pergunta: por que causa, motivo, razão ou circunstância faz tanto sucesso?!


As bases criativas de O Outro Lado do Paraíso não surpreendem ninguém. Assim como fez com Amor à Vida, o autor Walcyr Carrasco "inspirou-se" em filmes, livros, novelas e séries de TV de uma forma quase literal e agora continua seu caminho de reinterpretações de velhos recursos dramáticos que já conhecemos muito bem. Não é difícil encontrar inúmeras """referências""" (e bota-lhe aspas nisso) de outras histórias nela. De uma coisa não podemos reclamar: a trama está sempre em movimento e cheia de grandes viradas. Porém, as motivações para que a novela ande são o ponto mais delicado.

Nos últimos capítulos, por exemplo, a vilã Sophia (Marieta Severo) seguiu sua trajetória como serial killer e tratou de despachar mais uma personagem para o além a tesouradas. A prostituta Vanessa (Fernanda Nizzato) foi vítima da megera porque era testemunha do ataque da vilã à sua vítima anterior, Laerte (Raphael Vianna). Enquanto isso, Elizabeth (Gloria Pires) finalmente voltou a usar sua identidade original após ser surpreendida pela antiga família em pleno julgamento no qual era acusada de matar Laerte e defendida por Adriana (Julia Dalavia), sua filha (sem que nenhuma das duas soubesse do parentesco, inicialmente). A ex-Duda teve problemas de saúde por conta da emoção de rever a filha, o ex-marido e a amiga, sendo que esta última era cúmplice do sogro Natanael (Juca de Oliveira), que foi quem obrigou a moça a se fingir de morta. Agora, Natanael tenta dar cabo da vida de Elizabeth com as próprias mãos. São momentos de fortes emoções, mas que trazem uma grande incoerência.

Afinal, se Sophia e Natanael são tão ruins que são capazes de matar, por que é que não fizeram isso antes? Se Sophia tivesse matado Clara (Bianca Bin) logo de cara, não estaria agora enfrentando a fúria vingativa da mocinha. Interná-la num hospício era o mesmo que deixar uma bomba-relógio pronta para explodir. E se Natanael tivesse mandado matar a nora, ao invés de obrigá-la a se fingir de morta, não estaria, agora, presenciando o retorno dela. Claro, se a coisa tivesse acontecido de outra forma, não haveria novela. Mas, sem dúvidas, falta coerência na trajetória de ambos. O autor deveria ter, ao menos, criado um motivo mais forte que justificasse o fato de os vilões terem preferido pôr em prática seus planos mirabolantes contra as protagonistas da novela, ao invés de simplesmente matá-las. Mas isso não aconteceu. Agora, ficam as pontas soltas. Uma filha não lembrar de sua mãe, como é o caso de Elizabeth e Adriana, também é inconcebível. Pense: Adriana tinha uns 10, 11 anos quando sua mãe "morreu". Idade suficiente para ter uma ótima lembrança, não é mesmo? Fora isso, havia fotos, vídeos e coisas do tipo. É impossível esquecer. Isso foi um furo grande demais explicado de maneira tosca.


Por mais que seja uma novela, é difícil "voar" e digerir situações como essa (entre tantas outras da trama, que se listasse aqui ficaria horas escrevendo) sem causar um certo humor involuntário. A preguiça de planejar uma trama que seja coerente com a linguagem visual contemporânea muito bem imprimida pela direção de Mauro Mendonça Filho jogou a novela numa contradição artística bizarra. É como se o texto não tivesse nenhum compromisso com a coesão do que quer dizer e o resultado dessa falta de intelecto é uma série de diálogos didáticos e grosseiros que até querem se fazer de importantes e diretos, mas que só são toscos e pobres. As decisões são tomadas por vontade e não por ação de circunstâncias implantadas com a inevitabilidade necessária para que um "destino" nos pareça real e emotivo.

Os problemas avançam para os outros núcleos que sofrem da mesma falta de sutilezas. Alguns diálogos são construídos de modo tão pouco naturalista que soam escritos por alguém que começou a escrever dramaturgia ontem. O caso da anã vivida por Juliana Caldas é o mais perturbador nesse sentido. É claro que evidenciar o sofrimento e o desajuste de uma pessoa de baixa estatura rejeitada pela mãe é importante, mas tudo fica superficial e barato quando essas conversas entre Estela e Sophia parecem conversas travadas entre Cinderela e a Madrasta Má. Ao invés de escolher mostrar uma mulher pequena com alma grande, decidida, forte e ativa na vida, Carrasco escolheu apresentar uma mulher pequena com alma menor ainda, viciada em vitimização e discorrida na história como se fosse revolucionária, disputada por dois lindos homens. Virou uma chatonilda! Essa vilania chapada, aliás, é um problema sério da novela. A socialite vivida por Fernanda Rodrigues durante o período de empregada doméstica de Clara parecia uma vilã mexicana daquelas que usam até tapa-olho. E o que dizer dos impropérios de Nádia (Eliane Giardini)? Se o objetivo era discutir o racismo e causar uma conscientização através dela e Raquel (Erika Januzza), falhou miseravelmente. Soa mais como algo gratuito, feito puramente para chocar quem assiste.


E o que dizer do núcleo de Samuel (Eriberto Leão)? Inicialmente, a vida dupla do psiquiatra era contada em tom dramático, pois ele sofria com a falta de coragem de viver sua real natureza e transformava suas frustrações em comportamentos homofóbicos. Agora assumido e posto à força para fora do armário na vingança esquemática e previsível de Clara, o tom de seu núcleo mudou e agora virou uma espécie de Zorra Total. Walcyr jogou por terra duas temáticas muito interessantes: homossexuais que se escondem em relacionamento de fachada e que usam de atitudes homofóbicas para esconder sua real condição e a de mulheres que se descobrem casadas com um gay. Isso não tem graça. É um drama, assunto sério. Carrasco, no entanto, preferiu seguir o caminho mais fácil e tratou de pisar fundo na caricatura. A cena em que Suzy (Ellen Roche) descobre a verdade, por exemplo, já foi de um pastiche constrangedor, da "forçação de barra" vista no flagra, passando pelo diálogo infantiloide que beirava o ridículo. Até um "cala a boca já morreu" foi disparado por Suzy, para se ter uma ideia do nível de maturidade do texto. E a tendência é que a trama descambe ladeira abaixo. Samuel e Cido (Rafael Zulu) foram morar juntos, na companhia de Adnéia (Ana Lúcia Torre). E Suzy, ao se descobrir grávida, também voltará a viver com Samuel, levando também a antiga noiva de Cido. Os quatro vivendo sob o mesmo tempo transformarão o núcleo numa espécie de "novela paralela", onde o humor raso característico de Carrasco será usado à exaustão. Deus me defenderay!

Para e pense: quantas vezes você já ouviu... Nádia dizendo "aquela preta" e "não sou racista"? Estela reclamando "Você fala isso só porque eu sou anã"? Aquela prostituta lá do bordel que eu nem sei o nome falando que é "moça pura e virgem"? Clara jurando que vai se vingar do psiquiatra, do juiz e do delegado e que "Patrick é um dos melhores advogados criminalistas do país"? Sophia dizendo "não posso perder as esmeraldas"? Suzy chamando Samuel de "tigrão" (agora, "tigresa") e Cido zoando Adneia de "mãe de bicha"? Ou "Marcel que caiu do céu" e "Pronto, falei!" naquele núcleo afetadísssimo do salão? É irritante essa mania do autor de colocar frases de efeito ou bordões repetidos à exaustão na boca de seus personagens. Tem que ser tudo desenhadinho, repetido dezenas de vezes, do mesmo jeitinho infantilóide, para que a "mensagem" seja captada e entendida como se deve; como se o telespectador fosse idiota.


Bianca Bin se esforça, mas, coitada, Clara parece um androide e a vingança da protagonista nem de longe tem a mesma elegância que uma Emilly Thorne da vida (ou até mesmo de uma Nina). Grazi Massafera, cuja Lívia foi anunciada como vilã, simplesmente não aconteceu. Marieta Severo tenta torcer o texto até ele deixar escorrer algo que se aproveite, mas é difícil. Rafael Cardoso luta para dar alguma dubiedade interessante ao seu Renato, mas o texto rasteiro e previsível não permite. Glória Pires parece visivelmente frustrada com uma personagem que não faz sentido. E ver Fernanda Montenegro servindo de oráculo-cego ("As vozes me disseram") é lamentável. Lima Duarte ainda consegue defender seu Josafá com uma sensibilidade notável. E é preciso admitir que o trabalho de Sérgio Guizé como Gael é surpreendentemente bom, considerando o texto tão rasteiro. Alguns sites começaram a divulgar que ele deve passar a ser mocinho e sua fase de sofrimento na cadeia foi um indicativo disso. Se a notícia de que ele deve passar por uma espécie de "exorcismo" for confirmada, o estrago promovido por O Outro Lado do Paraíso já será definitivamente leviano. O agressor de mulheres só bate porque bebe e desperta um "encosto", a culpa não é dele… Um precedente terrível em um país com números alarmantes de violência contra a mulher.

Acredito que a altíssima audiência da novela se dá porque o autor escolheu como par romântico a catarse e o maniqueísmo, sem o benefício da dúvida, o que fisga telespectadores menos exigentes que só querem se distrair em frente a TV. Muito comum em histórias infantis em função da necessidade de se estabelecer conceitos com inequívoca clareza. Já para seres humanos com idade mental superior a 14 anos... De uma falta absoluta de sutileza e uma visão infantilizada da vida, Carrasco promove mil e uma reviravoltas em sua história, mas mandando a lógica e o discernimento às favas. Confunde polêmica com sensacionalismo; confunde verdade nua e crua com grosseria; confunde licença poética com escárnio e subestimação.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Os maiores destaques negativos da TV aberta brasileira em 2017



Depois de listar os maiores destaques positivos (relembre AQUI), eis a segunda parte da retrospectiva 2017 do Eu Critico Tu Criticas com tudo que teve de pior na programação do ano que já se foi. A lista é elaborada baseada unicamente na opinião deste que vos escreve e, portanto, é sujeita a injustiças e esquecimentos. Acompanhem e depois deixem sua opinião nos comentários!

17º lugar: Vade Retro

Quem esperava encontrar um novo Os Normais deu com a cara numa reedição de O Dentista Mascarado com toques de terror a la Zé do Caixão. Nem Tony Ramos e toda sua genialidade para dar vida ao próprio diabo conseguiu salvar a série, supostamente, de humor. O grande problema de Vade Retro foi na construção do texto. O maior trunfo da dupla Alexandre Young e Fernanda Machado em seus grandes trabalhos na TV eram os diálogos rápidos e cheios de ironia e humor corrosivo. Já em Vade Retro, para brincarem com o sobrenatural, usando da linguagem dos filmes de terror, os autores foram um tanto didáticos para explicar as situações absurdas do roteiro. E isso soou forçado. Piada precisa de ritmo, de timing. Lentas e de conteúdo pouco inspirado, as falas passaram longe da esgrima verbal que se espera de uma comédia.

16º lugar: Fim do Legendários

A Record não foi feliz em grande parte de suas decisões acerca de sua linha de shows em 2017. A principal delas ocorreu no início do ano, quando a emissora passou o Legendários das noites de sábado para a sexta-feira. O programa de Marcos Mion saiu de um horário consolidado para se aventurar num novo dia e se deu mal. A atração, no ar há sete anos, acabou cancelada. Uma perda tremenda para o público e para a própria Record. Besteirol espirituoso de primeira linha, o programa se assumiu como entretenimento puro e fez muito bem o que se propôs, sendo uma das pouquíssimas atrações da Record sem estar com o pé atolado no sensacionalismo e no dramalhão para ganhar audiência.

15º lugar: Amor e Sexo

Pelos temas que apresenta desde quando estreou, lá em 2009, Amor & Sexo sempre teve um pé ancorado no didatismo, mas sempre conseguiu ser um programa muito lúdico e divertido (já o coloquei na lista dos melhores do ano em retrospectivas passadas). Na temporada que estreou no final de janeiro de 2017, porém, a atração optou por uma mudança radical: a de dar lições de moral sérias sobre temas essenciais. Acabou caindo na chatice e virou um verdadeiro telecurso ao tratar de temas como feminismo, machismo, ideologia de gênero, entre outros. Por ser, acima de tudo, um programa de entretenimento, a temporada derrapou rude no didatismo, além de dificultar o debate de diferentes visões sobre um mesmo assunto.

14º lugar: Sophia Abrahão apresentadora

Ela é um fenômeno na internet e mobiliza milhares de fãs, que sobem hashtags a cada passo da moça e votam em prêmios populares. Mas será que "tudo" isso é o bastante para Sophia encarar o desafio de um programa ao vivo e ser efetivada como apresentadora na bancada do Vídeo Show? Definitivamente, não. Que os "tirulipos" me desculpem, mas a mulher é ruim demais! Sem experiência, nem conhecimento de TV, Sophia não acrescenta em nada na dinâmica do Vídeo Show e não consegue conversar com convidados com mais quilometragem de carreira. A presença dela ali é apenas uma prova de que qualquer pessoa pode cumprir exatamente a mesma posição. O grande atrativo de um programa ao vivo é poder improvisar, pirar, brincar e Sophia não tem o menor carisma para ser esse tipo de apresentadora. Nem pra ler o teleprompter direito ela serve. Sem jogo de cintura, a artista (que também atua e canta e, incrivelmente, também manda mal nas duas coisas) soa pouco natural lendo o texto do teleprompter e, quase sempre, se perde quando tenta fugir do roteiro, fazendo cara de paisagem.

13º lugar: O Rico e Lázaro

A Record conseguiu desgastar o formato de novela bíblica. Há dois anos que a emissora exibe no mesmo horário tramas com cenários e figurinos muito parecidos, dando a impressão de que é sempre a mesma novela. Não sei vocês, mas eu já estou cansado de ver tanta areia, figurinos suntuosos de reinos antigos, homens barbudos e cabeludos, falas empostadas e nomes esquisitos. É preciso diversificar. A trama em si também não foi livre de críticas, já que a história se revelou uma verdadeira "salada de chuchu sem tempero", enrolando seus trunfos por longos e longos meses para só "acontecer" nos momentos finais.

12º lugar: Belaventura

Mais um exemplo que prova que a Record, definitivamente, foi infeliz em sua dramaturgia em 2017. A trama de Belaventura não passa de uma colcha de retalhos de clichês de histórias medievais e de capa e espada. Isso não seria um problema, não fossem as limitações nos cenários, que acabam por limitar também o roteiro. Parece que a Record e a Casablanca (a produtora parceira) economizaram para as novelas bíblicas. Além disso, adota uma direção teatral – uma temeridade em se tratando de um elenco tão inexpressivo, onde somente poucos conseguem dar dignidade ao texto de Gustavo Reiz e não repetem as falas empostadamente.

11º lugar: A Fazenda - Nova Chance

A ideia de reunir ex-participantes de reality shows em A Fazenda foi muito interessante. Entretanto, na prática, a reunião de ex-realities não funcionou. A Fazenda – Nova Chance tentou fazer uma mistura explosiva, trazendo vários participantes polêmicos. Mas montar um cast de um reality show é quase como uma "alquimia" e nem sempre a mistura aparentemente a prova de erros vai funcionar. E foi o caso. Juntos, os participantes de A Fazenda – Nova Chance não renderam muito, o que tornou a competição modorrenta e opaca. Boa parte deles teimaram em repetir os mesmos erros de suas participações anteriores em seus respectivos realities. A outra parte, não renderam nem em seus realities anteriores, nem nessa. E ainda tivemos que suportar, logo após o fim do BBB17, a presença nefasta de Marcos Harter, que, ainda por cima, recebia uma proteção visível de Roberto Justus. O "período sabático" não foi suficiente para o público sentir saudades da atração e prestigiar esta nova temporada. O programa já vinha numa curva decrescente de interesse e esta curva se tornou ainda mais acentuada na nova fase.

10º lugar: Os Dias Eram Assim

Foi a primeira novela das onze a receber a esquisita nomenclatura de "supersérie". Contudo, ela não teve nada de "super", nem de "série". Foi, na verdade, uma autêntica novela, com todos os maiores clichês do gênero. O que não seria uma crítica por si só, caso fosse um enredo bem conduzido. Mas não foi o que aconteceu. O texto raso e arrastado e o pano de fundo tendencioso e maniqueísta do período militar (propositalmente ou não, as autoras não conseguiram traduzir a complexidade do período que retrataram) cansou o público, apesar de sua boa audiência. Ficou bastante claro que ela não tinha sustentação para durar 88 capítulos, enrolando sua trama principal até não poder mais (consequentemente, criando a famosa "barriga").

09º lugar: Cidade Proibida

Nada se salvou na série. Vladimir Brichta viveu um protagonista, o detetive Zózimo Barbosa, extremamente caricato. Usando sempre da mesma expressão (e olha que o ator já provou ter muitas), ele viveu um personagem raso. Mas o pecado maior estava no texto proibitivo de Cidade proibida. E sem um texto à altura, não há Vladimir que faça milagre. Os diálogos eram carregados de frases feitas e, pior, retratavam um modo de pensar que poderia até ser aceito socialmente em 1950. Falar, sem tom de ironia, sentenças que tratam a mulher como um mero objeto de prazer masculino soa, no mínimo, antiquado ou apenas datado. A narração do próprio Zózimo também atrapalhou o andamento e mais aborreceu do que divertiu.

08º lugar: Adnight Show

Com a fraca repercussão da primeira temporada de Adnight, a Globo reformulou a atração e a rebatizou como Adnight Show. Pois o programa de Marcelo Adnet não só continuou sem graça, como ainda ficou sem propósito e sem identidade. Sem foco, ele atira para todas as direções: é programa de auditório, de humor, de esquetes, mas, ao mesmo tempo, não se deixa aprofundar por nenhuma destas porções. No ar, parecia mistura de nada com coisa nenhuma. O humorista, que é bom de serviço, continua dando murro em ponta de faca em seus voos solos na Globo, que insiste em dar a ele, um improvisador de primeira, um programa ensaiadinho.

07º lugar: A Casa

Definitivamente, 2017 não foi um bom ano para o Marcos Mion. Além de perder seu Legendários, apresentou um dos piores reality shows de todos os tempos. A Casa é uma espécie de "Big Brother hard", no qual os participantes se submeteram a praticamente uma tortura física e psicológica em busca de um bom prêmio em dinheiro e, talvez, uns minutinhos de fama. Não conseguiram nem uma coisa, nem outra. 100 pessoas foram confinadas numa casa projetada apenas para 4 indivíduos, onde o prêmio de um milhão de reais era gasto ao longo das semanas para repor mantimentos e manter a casa. Não tinha a menor condição de acompanhar tanta gente em um mesmo ambiente (chegava a dar nervoso) e mal dava para decorar cinco nomes. A baixaria dos integrantes também ia tornando a competição insustentável e a audiência foi pífia.

06º lugar: Pega Pega

Eleita pelos nossos leitores a pior novela do ano de 2017 no Prêmio Eu Critico Tu Criticas (relembre AQUI). Com um humor infantiloide e bobo, o texto da autora foi por diversas vezes confuso. Sem deixar claro o que queria, Pega Pega jogava tramas na cara do público aleatoriamente, mas não aprofundava. Quando desenvolvia, desenvolvia mal. Parece que Claudia Souto só reparou que o roubo do Carioca Palace não dava uma novela com centenas de capítulos quando Pega Pega já estava no ar. Apesar dos seus robustos números de audiência, é uma das piores e mais enfadonhas novelas que já deu as caras no horário das sete. Já foi tarde!

05º lugar: Novos Trapalhões

Diferente do revival do Sai de Baixo ou do remake da Escolinha do Professor Raimundo, mesmo apesar de indiscutíveis boas atuações de Gui Santana, Mumuzinho e Lucas Veloso, a nova versão de Os Trapalhões não funcionou. Faltou o primordial para um programa de humor: fazer rir! Além disso, Nego do Borel esteve bem distante do hilário e saudoso Tião Macalé e Bruno Gissoni fez jus às críticas totalmente negativas que recebeu (falando sério, ele não devia nem tá ali, né?). Mesmo bem feitinha visualmente falando, os novos Trapalhões não funciona para seres humanos com idade mental superior a 14 anos. É bem infantil e mais próxima de A Turma do Didi, que, não por acaso, saiu do ar após perder público ao longo de seus últimos anos no ar.

04º lugar: Sem Volta

A Record tentou, mas não foi desta vez. Sem Volta prometeu, entrou com fôlego em seu primeiro capítulo no roteiro e em outros aspectos, mas tropeçou e não empolgou. Com overdose de violência nos episódios, flashbacks fracos e confusos, distribuídos em um enredo parado em poucas ambientações (o que não deu ideia de movimento) e subestimando o público com didatismo e obviedade, a série cansou o telespectador que se lançou a ver os 13 episódios. Isso sem falar em Dois Irmãos, que roubou a cena e ofuscou qualquer tentativa de brilho da concorrência. De modo geral, Sem Volta perdeu seu potencial e passou despercebida.

03º lugar: BBB17

Após uma aparente boa seleção de participantes, priorizando a diversidade, o reality se mostrou tedioso e repleto de pessoas sem carisma, atitude e lealdade alguma. Para culminar, a apresentação de Tiago Leifert se mostrou inconstante e a edição ultrapassou todos os limites da parcialidade, beneficiando claramente alguns jogadores – o casalzinho Marcos e Emilly (o Doutor Machista e a Serpemilly) –, influenciando o telespectador de forma descarada. E vários outros problemas foram detectados ao longo das semanas, como novos quadros que não surtiram o efeito desejado e tentativas fracassadas de movimentar um jogo morto. A décima sétima temporada do Big Brother Brasil pode ser definida em duas palavras: catastrófica e esquecível.

02º lugar: A Lei do Amor

Nem de longe lembrou outras novelas assinadas por Maria Adelaide Amaral e Vicente Villari, como Sangue Bom e TiTiTi, elogiadas por terem textos inteligentes com ótimas sacadas. A Lei do Amor estreou com potencial para ser um verdadeiro thriller na televisão, mas a audiência capengou e as mudanças não demoraram a aparecer. E foi aí que o que já era ruim ficou ainda pior. Descaracterizada e sem rumo, o folhetim testou a paciência do público com tramas chatas, bobas e repetitivas, situações pra lá de inverossímeis e conduções equivocadas no roteiro, além de personagens pouco cativantes que sofriam transformações esdrúxulas de personalidade quando era convencional ao roteiro. Foi A Lei do Horror, isso sim!

01º lugar: Lazinho com Você

O novo programa de Lázaro Ramos acabou ficando de fora da seleção do Prêmio Eu Critico Tu Criticas 2017, mas não poderia esquecer de colocá-lo nessa retrospectiva. O Lazinho com Você é o mais novo relicário dos vícios que condenaram o domingo televisivo à prisão perpétua das lágrimas e do assistencialismo. Muito simpático, Lázaro passa o programa inteiro nas ruas do Brasil. Seu papel é glorificar a pobreza do povo, mostrando que o esgoto a céu aberto pode ser compensado com capoeira, abraços e sorrisos amarelos. Tudo em Lazinho com Você é colaborativo. Das vinhetas às coreografias, nada escapa da sanha contemporânea do todos-somos-um-e-juntos-não-existe-mal-nenhum. Com a informalidade forçada do Esquenta, da Regina Casé, em resumo, é um textão do facebook patrocinado pela Globo. Tedioso, foi um ótimo convite para se tirar aquele cochilo gostoso após o almoço em família de domingo.

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Difícil acreditar que uma novela tão fraca como Pega Pega tenha sido um sucesso


29 pontos de audiência. Pega Pega deverá fechar sua trajetória com média de 29 pontos de audiência na Grande São Paulo. É, nada mais, nada menos que a maior média de Ibope do horário das sete desde a inesquecível Cheias de Charme, de 2012. Só para efeito de comparação, Pega Pega superou tramas de qualidade como Totalmente Demais e sua antecessora, Rock Story, com folga. Encerrada sua exibição, não dá muito bem para entender (e aceitar) como Pega Pega foi bem sucedida tendo sido tão fraca.


Não é possível afirmar qual é a trama central da história. Na teoria, foi o roubo do Carioca Palace. O problema é que, lá pelo capítulo 40, se notou que tal roubo não segurava uma novela diária até o fim. Por isso mesmo, boa parte da trajetória da trama se fez diante de investigações falhas e cheias de furos da polícia da história. A policial Antônia (Vanessa Giácomo) se mostrou uma detetive bem mediana. Nada avançava na novela, criando a famosa barriga. Para tanto, se trouxe à baila um "quem matou Mirela?" sobre o misterioso (e desinteressante) assassinato da primeira mulher de Eric (Mateus Solano), cuja verdade dos fatos também se arrastou até a reta final. Depois, mais para o fim, a autora Claudia Souto lembrou do assalto e transformou tudo o que dissemos acima em trama paralela. Enquanto isso, seguiu apostando a trama num (suposto) humor infantiloide e bobo, cozinhando toda sua história em "banho maria". 

O texto da autora foi por diversas vezes confuso. Sem deixar claro o que queria, Pega Pega jogava tramas na cara do público aleatoriamente, mas não aprofundava. Quando desenvolvia, desenvolvia mal. Parece que Claudia só reparou que o roubo do Carioca Palace não dava uma novela com centenas de capítulos quando Pega Pega já estava no ar. Diante dos números expressivos de audiência, então, ficou uma novela cômoda. Várias vezes me peguei me perguntando quando que essa novela acabaria. As vezes em que assistia para ter o que comentar com vocês, pareciam uma eternidade os 45 minutos diários de capítulo – até mesmo na reta final. O julgamento do assalto do Carioca Palace, por exemplo, foi enfadonho até dizer chega.

Além disso, as atuações da novela foram muito irregulares. Camila Queiroz e Mateus Solano são atores talentosos, mas além de não terem química como o insosso casal Luiza e Eric, por vezes, senti um desleixo em cena. Como se estivessem ali apenas por estar. Trabalho e composição esquecíveis. O mesmo vale para o outro mocinho, Júlio. Tive a mesma sensação de desleixo, de "tanto faz", com Thiago Martins. Um certo desinteresse. Mas não os julgo. O texto não ajudava e a direção, também equivocada, muito menos. Os únicos do elenco que me chamaram a atenção positivamente foram Irene Ravache – ótima (sempre, né? rainha!) como a esnobe Sabine – e o trio que carregou a trama inteira nas costas: Nanda Costa (que se livrou de vez do "trauma" Salve Jorge e mostrou uma surpreendente veia cômica na pele da Sandra Helena, que virou a protagonista moral da novela), Marcelo Serrado e Mariana Santos (que superou a desconfiança inicial e mostrou que é uma boa atriz; quero vê-la em uma novela melhor e mais bem estruturada). Estes dois últimos, em especial, tiveram uma química incrível como o casal Malagueta e Maria Pia. Ofuscaram completamente os casais protagonistas Eric/Luzia e Júlio/Antônia (o que não foi lá muito difícil, né?).

Apesar de ter sido a maior audiência do horário das sete desde a trama das Empreguetes, Pega Pega não foi "que nem sarna" como ela. Não pegou. Não foi comentada. Não teve repercussão. Ninguém fala ou falou dela. Seu sucesso é daquelas coisas que a ciência exata não pode explicar ou mesmo compreender. Os tempos de crise econômica, concorrentes fracos, boa maré da Globo em audiência e público ligado em TV no automático talvez ajude a entender o feito. No fim das contas, só resta aceitar, já que 29 pontos é uma audiência respeitável nos tempos atuais. Mas Pega Pega, eleita com folga pelos nossos leitores como a pior novela do ano que passou (relembre AQUI), certamente, não será lembrada num futuro próximo. Ou até seja, no sentido de ser uma das novelas mais enfadonhas que já deram as caras na faixa das sete.

domingo, 7 de janeiro de 2018

Os maiores destaques positivos da TV aberta brasileira em 2017



Pensaram que não ia ter retrospectiva? Nananinanaão! Demorou, mas saiu! A primeira parte da retrospectiva 2017 do Eu Critico Tu Criticas lista os maiores destaques positivos da programação do ano que já se foi. A lista é elaborada baseada unicamente na opinião deste que vos escreve e, portanto, é sujeita a injustiças e esquecimentos. Acompanhem e depois deixem sua opinião nos comentários!

14º lugar: Power Couple Brasil

Tão boa quanto a primeira, a segunda temporada do Power Couple ofereceu bom entretenimento e diversão para aqueles que procuram apenas passar o tempo em frente a TV. Os casais desta edição foram escolhidos de um modo bem certeiro, com aqueles tradicionais perfis, que iam desde o casal bonitinho e fofo, o casal polêmico (Rafael Ilha sempre), o casal representando uma vibe mais alternativa e os famosos ex-famosos. A edição do programa também foi esperta, ágil e mostrou um pouco de tudo: intriga (mas sem forçar ao extremo), romance (que aqui fica restrito aos casais mesmos), diversão e muitas conversas, além de, claro, as provas físicas e de relacionamento. Roberto Justus continua sendo um nome que não combina tanto com o programa, mas, ainda assim, não prejudica muito o resultado final. O Power Couple Brasil se consolidou como um dos bons e divertidos realitys da TV dos últimos anos.

13º lugar: Popstar

Bem-sucedida missão de substituir o malfadado SuperStar. Alardeado como um "formato original", mais pareceu uma mistura de The Voice, SuperStar e Dança dos Famosos, com artistas conhecidos da Globo tendo a chance de mostrar à audiência que sabem cantar (alguns apenas tentaram). De qualquer forma, foi um programa divertido de se acompanhar. Popstar acertou ao mostrar os famosos fora de sua zona de conforto, mobilizando torcidas de modo que o público passou a torcer pelo seu ídolo. O elenco foi bem escolhido pela direção do programa, que apostou num time de forte apelo, carisma e muito talento. Fernanda Lima como apresentadora esteve ótima, muito mais solta e descontraída que nos tempos de SuperStar. Sua segunda temporada, já confirmada para meados desse ano, será muito bem-vinda.

12º lugar: Pesadelo na Cozinha

A Band foi feliz ao entregar a versão nacional do Kitchen Nightmares ao carismático Erick Jacquin, do (já cansativo) MasterChef. Em novo reality show, o francês aprontava poucas e boas ao orquestrar verdadeiras operações de guerra na tentativa de salvar restaurantes à beira da falência. Duro em suas análises dos pratos (foi comum vê-lo dizendo na cara dos participantes que sua criação era "muito ruim" ou "horrível"), mas terno em momentos estratégicos (tornando-o, assim, uma espécie de ogro simpático), a presença de Jacquin fez toda a diferença e tornou o programa um entretenimento da melhor qualidade.

11º lugar: Tamanho Família

Repetindo a boa impressão causada em 2016, sua segunda temporada serviu como um respiro na programação dominial dominada por sensacionalismo e apelação. A maior qualidade do semanal de Marcio Garcia (que é um poço de carisma no palco) é justamente essa: conseguir promover gincanas divertidas com famosos (ou seja, entreter) e, ao mesmo tempo, com os mesmos convidados causar emoção neles, nos familiares, plateia, no apresentador e em quem acompanha de casa, contagiando todo mundo. Mas não o tipo de emoção provocada pelos concorrentes de Garcia, às custas de desgraça alheia: as lágrimas vêm depois de lindas apresentações de pessoas queridas dos famosos. O único ponto negativo vai para a Globo: o Tamanho Família merecia temporadas maiores.

10º lugar: Carinha de Anjo

Desde que voltou a investir no filão de novelas infantis, o SBT só colheu bons resultados. E, a cada nova produção, percebe-se uma evolução, tanto técnica quanto criativa. Por isso mesmo, não é nenhum exagero afirmar que Carinha de Anjo é a melhor novela dentre todas já exibidas desde que a faixa foi criada. A saga de Dulce Maria (Lorena Queiroz) se mostra sempre encantadora e irresistível. As peripécias da menina realmente divertem e todos os personagens que orbitam em torno dela têm história para contar. O amor envolvendo seu pai, Gustavo (Carlo Porto), e a ex-freira Cecília (Bia Arantes), é do mais básico folhetim e, por isso, atrai tanto as crianças quanto os pais delas. Carinha de Anjo, assim, é um produto mais familiar, que agrada a todas as idades, além de ser cheia de tipos coadjuvantes carismáticos (como a Irmã Fabiana da eterna Rouge Karin Hills e a Tia Perucas da Priscila Sol). Sem nenhum sinal de cansaço e ainda cheia de fôlego, a versão nacional, mesmo com as gravações já encerradas, se mostra capaz de ir ainda mais longe.

09º lugar: Talk shows das madrugadas

Em meio a tantos talk shows engraçadinhos que surgiram nos últimos anos, apenas dois seguiram na briga diária pela audiência das madrugadas: o The Noite, do SBT, e o Programa do Porchat, da Record. Com um humor afiado e muitas vezes maroto, ambos os programas fecham o dia do telespectador com chave de ouro, entretendo com maestria. Danilo é massacrado por muitos por seu humor e suas opiniões, mas atualmente estamos vivendo em uma era em que todo mundo se leva a sério. Esse é o segredo dele: não se levar a sério e mostrar realmente o que ele acha. Não vive para agradar ninguém. Sem dúvida nenhuma, Danilo é o melhor antídoto contra a caretice que estamos vivendo. Embora seu The Noite tenha mais tempo de estrada e seja líder de audiência, Porchat não fica por baixo. Como entrevistador, não tem qualquer ambição de fazer entrevistas aprofundadas, mas consegue arrancar boas respostas de seus convidados ao usar o humor para desarmá-los. Nessa guerra entre os dois pela audiência, quem ganha somos nós em qualidade.

08º lugar: Bake Off Brasil

Sua terceira temporada demorou um pouco para estrear em 2017, porém, a espera não foi à toa, pois o programa realmente mostrou a que veio e se tornou o melhor reality culinários da TV atualmente na opinião desse que vos escreve. Quando foi anunciado que Carol Fiorentino iria substituir Ticiana Villas Boas após as polêmicas envolvendo o marido de Tici, muitos, inclusive eu, ficaram receosos quanto à isso, mas ela se mostrou um grande acerto, conseguindo comandar super bem o programa. Destaque também para os jurados Fabrizio Fasano Jr e Beca Milano: a química dos dois ficou perfeita. Vale destacar aqui também a qualidade do programa, a fotografia, a edição, o cenário, tudo absolutamente lindo, de encantar os olhos. Isso prova que quando o SBT quer e investe, faz sim bons programas.

07º lugar: Dois Irmãos

Uma verdadeira obra de arte na TV. Luiz Fernando Carvalho manteve intacta a sua assinatura, mas se mostrou mais acessível e menos lúdica e exótica que as suas produções anteriores, aumentando o pé na realidade. O tom barroco permaneceu, mas dialogou perfeitamente com a época e a trama em si. Deixando a plástica sempre eficiente da equipe do diretor de lado, Dois Irmãos também teve o mérito do texto afiado. A trama, apesar do ritmo lento, foi intensa, inquietante. A saga dos gêmeos Omar e Yaqub foi um forte drama familiar e humano cheio de camadas, impossível de se manter indiferente. Também não deu para ficar alheio com tantos bons atores em cena e tão entregues ao enredo. Aliás, também faz parte da assinatura do diretor o intenso trabalho de preparação de atores, arrancando de todos o seu melhor. Matheus Abreu, Antonio Fagundes, Eliane Giardini, Juliana Paes, Irandhir Santos, Antonio Calloni, Cauã Reymond... Todos plenos, viscerais e donos de grandes momentos.

06º lugar: Malhação - Viva A Diferença

Ela não reinventou a roda, longe disso. Os clichês do folhetim estão lá. Mas a sensibilidade e ousadia feita por Cao Hamburguer e toda a equipe é inédito se tratando de Malhação e deu um novo fôlego para a novelinha teen. Com as limitações que o horário tem, mas com criatividade, pela primeira vez o jovem se vê de verdade numa temporada de Malhação, que sempre retratou o universo jovem de maneira caricata, negando dilemas reais e experimentações que, de fato, todos nós vivemos quando somos adolescentes. A trama dinâmica e o texto muito bom de Cao reforçam isso. Além disso, poucas vezes um elenco jovem foi tão bem escalado. As cinco protagonistas dão um show particular diariamente no fim de tarde da Globo. Não dá pra falar que uma em si se destaca mais. Todas vão muito bem. O elenco coadjuvante também vai bem. A safra de novos talentos com potencial e carisma está bem grande. Definitivamente, Viva a Diferença é a melhor temporada da Malhação em muitos anos.

05º lugar: Novo Mundo

Revelando mais dois novos autores de novelas, Thereza Falcão e Alessandro Marso, com um texto maduro, inteligente e cheio de boas sacadas, fizeram de Novo Mundo uma grata surpresa. Dirigida com competência por Vinícius Coimbra, primou pelo capricho estético do primeiro ao último capítulo, mesclando contextos históricos com o folhetim tradicional, havendo espaço ainda para momentos de pura fantasia, remetendo a clássicos como Piratas do Caribe. Os autores conseguiram juntar perfis históricos que realmente existiram (como Dom Pedro/Caio Castro, sua primeira esposa Leopoldina/Letícia Colin e sua amante Domitila/Agatha Moreira) a outros meramente ficcionais com maestria, presenteando o telespectador com personagens bem construídos e, acima de tudo, carismáticos e com conflitos convidativos, sem poupar história. Isso porque a novela não teve barriga (período de enrolação, onde nada de relevante acontece), expondo a criatividade dos autores na elaboração de ótimas viradas ao longo do enredo (com alguns leves deslizes). Eles ainda foram felizes ao usar a temática histórica para fazer um paralelo com o Brasil atual.

04º lugar: Rock Story

Outra grata surpresa de uma estreante em novelas, Maria Helena Nascimento. Apostando menos na comédia infantil que vinha se tornando uma constante no horário (o que deu um respiro interessante à faixa) e mais dramática que suas antecessoras, a história mostrou que há um público para isso às sete da noite. Rock Story se destacou pelo enredo muito bem construído, no qual a autora criou diversas situações que funcionaram como uma espécie de "curinga", uma carta na manga que ela tinha para utilizar no momento certo. Assim, a novela não caiu no marasmo não economizando trama e foi propondo novos acontecimentos ao longo de toda a sua trajetória. Por isso mesmo, chegou ao final já sem um conflito grande, pois todos eles foram sendo resolvidos aos poucos, nas semanas derradeiras. Não é um demérito: é um sinal de que a trama funcionou. Tanto que não perdeu fôlego e nem audiência. Outra grande qualidade da história foi o desenvolvimento de personagens complexos, que foram muito além das caricaturas convencionais do "mocinho" e "vilão". Ninguém ali, dos protagonistas aos coadjuvantes, foi 100% bom ou 100% ruim, o que tornou as relações entre eles cheias de camadas e muito mais interessantes de se acompanhar.

03º lugar: Dancing Brasil

2017 não foi um ano bom para a Record. A emissora fez escolhas equivocadas, promoveu mudanças que não surtiram efeito e, ainda, passou meses fora do ar na TV paga, sendo o canal mais prejudicado no imbróglio envolvendo a joint venture Simba. Um de seus poucos destaques foi o talent show Dancing Brasil, sobretudo, pela qualidade de sua produção. A atração, semelhante à Dança dos Famosos da Globo, driblou as inevitáveis comparações ao oferecer grandes espetáculos de dança, numa estrutura que chamava a atenção pelo investimento e capricho. Cenários suntuosos, takes de câmera ousados, bom ritmo e jurados técnicos que (ao contrário dos do quadro do Faustão) realmente faziam críticas ácidas e certeiras aos "famosos" imprimiram um entretenimento da melhor qualidade nas noites de segunda-feira do canal. A grande audiência esperada, contudo, não veio. Mas, ao menos, serviu para apagar a má impressão do extinto Xuxa Meneghel. Mesmo com um excesso de texto que reduzia sua naturalidade, Xuxa esteve muito bem à frente do formato e colecionou elogios, ao contrário da repercussão de sua atração anterior.

02º lugar: Sob Pressão

2017 não foi lá um ano muito bom na produção de séries e minisséries da Globo. A única que ainda chamou atenção tanto de crítica, público e audiência foi Sob Pressão. Merecidamente, é claro. Derivada do filme de Andrucha Waddington, a série mostrou, com competência e alta voltagem dramática, o cotidiano de profissionais da saúde num centro hospitalar onde falta todo tipo de recurso. Apostando num segmento amplamente explorado pela TV estadunidense, o drama hospitalar, Sob Pressão o fez em consonância com a realidade nacional. Assim, não estava apenas bem servida de dramas humanos dos mais envolventes, como também serviu de plataforma para uma importante denúncia acerca do descaso dispensado à saúde do Brasil como um todo. A direção (Andrucha Waddington e Mini Kerti) impressionou. Toda a angústia da impotência dos médicos diante da precariedade de recursos para trabalhar foi expressa com sutileza e sensibilidade. A ação muitas vezes se desenrolou acertadamente lenta. Cenas longas serviram para agravar a sensação de que era preciso pressa para salvar vidas. Foi muito bom. O elenco também merece as melhores palavras, com um desfile de participações luxuosas a cada episódio. A segunda temporada será muito bem-vinda!

01º lugar: A Força do Querer

A redenção de Glória Perez após o samba do crioulo chamado Salve Jorge. Muitos foram os trunfos de A Força do Querer, que devolveu ao público o prazer de acompanhar a fio uma trama das nove. O folhetim foi feliz na abordagem sensível de vários assuntos espinhosos, na construção humana da relação dos personagens, no elenco muito bem escalado e na direção criativa de Rogério Gomes e Pedro Vasconcelos, que conseguiu fugir do lugar-comum, ao mesmo tempo em que mantiveram as características do gênero. A agilidade deu o tom destes 173 capítulos, em que a autora mostrou todo o seu poder de fogo e conhecimento acerca dos temas trabalhados. Todos aqueles diálogos eram extremamente próximos da realidade e do dia a dia dos telespectadores. O principal produto da Globo veio de forma clara para discutir sem rodeios todos os aspectos do mundo contemporâneo. Por tantos acertos, nada mais justo que A Força do Querer tenha se tornado um fenômeno de público, crítica, audiência e repercussão desde Avenida Brasil. A trama trouxe qualidades que mexeram com o público e mostrou que a novela, enquanto entretenimento e agente social, ainda tem uma força bastante duradoura.



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