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terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Difícil acreditar que uma novela tão fraca como Pega Pega tenha sido um sucesso


29 pontos de audiência. Pega Pega deverá fechar sua trajetória com média de 29 pontos de audiência na Grande São Paulo. É, nada mais, nada menos que a maior média de Ibope do horário das sete desde a inesquecível Cheias de Charme, de 2012. Só para efeito de comparação, Pega Pega superou tramas de qualidade como Totalmente Demais e sua antecessora, Rock Story, com folga. Encerrada sua exibição, não dá muito bem para entender (e aceitar) como Pega Pega foi bem sucedida tendo sido tão fraca.


Não é possível afirmar qual é a trama central da história. Na teoria, foi o roubo do Carioca Palace. O problema é que, lá pelo capítulo 40, se notou que tal roubo não segurava uma novela diária até o fim. Por isso mesmo, boa parte da trajetória da trama se fez diante de investigações falhas e cheias de furos da polícia da história. A policial Antônia (Vanessa Giácomo) se mostrou uma detetive bem mediana. Nada avançava na novela, criando a famosa barriga. Para tanto, se trouxe à baila um "quem matou Mirela?" sobre o misterioso (e desinteressante) assassinato da primeira mulher de Eric (Mateus Solano), cuja verdade dos fatos também se arrastou até a reta final. Depois, mais para o fim, a autora Claudia Souto lembrou do assalto e transformou tudo o que dissemos acima em trama paralela. Enquanto isso, seguiu apostando a trama num (suposto) humor infantiloide e bobo, cozinhando toda sua história em "banho maria". 

O texto da autora foi por diversas vezes confuso. Sem deixar claro o que queria, Pega Pega jogava tramas na cara do público aleatoriamente, mas não aprofundava. Quando desenvolvia, desenvolvia mal. Parece que Claudia só reparou que o roubo do Carioca Palace não dava uma novela com centenas de capítulos quando Pega Pega já estava no ar. Diante dos números expressivos de audiência, então, ficou uma novela cômoda. Várias vezes me peguei me perguntando quando que essa novela acabaria. As vezes em que assistia para ter o que comentar com vocês, pareciam uma eternidade os 45 minutos diários de capítulo – até mesmo na reta final. O julgamento do assalto do Carioca Palace, por exemplo, foi enfadonho até dizer chega.

Além disso, as atuações da novela foram muito irregulares. Camila Queiroz e Mateus Solano são atores talentosos, mas além de não terem química como o insosso casal Luiza e Eric, por vezes, senti um desleixo em cena. Como se estivessem ali apenas por estar. Trabalho e composição esquecíveis. O mesmo vale para o outro mocinho, Júlio. Tive a mesma sensação de desleixo, de "tanto faz", com Thiago Martins. Um certo desinteresse. Mas não os julgo. O texto não ajudava e a direção, também equivocada, muito menos. Os únicos do elenco que me chamaram a atenção positivamente foram Irene Ravache – ótima (sempre, né? rainha!) como a esnobe Sabine – e o trio que carregou a trama inteira nas costas: Nanda Costa (que se livrou de vez do "trauma" Salve Jorge e mostrou uma surpreendente veia cômica na pele da Sandra Helena, que virou a protagonista moral da novela), Marcelo Serrado e Mariana Santos (que superou a desconfiança inicial e mostrou que é uma boa atriz; quero vê-la em uma novela melhor e mais bem estruturada). Estes dois últimos, em especial, tiveram uma química incrível como o casal Malagueta e Maria Pia. Ofuscaram completamente os casais protagonistas Eric/Luzia e Júlio/Antônia (o que não foi lá muito difícil, né?).

Apesar de ter sido a maior audiência do horário das sete desde a trama das Empreguetes, Pega Pega não foi "que nem sarna" como ela. Não pegou. Não foi comentada. Não teve repercussão. Ninguém fala ou falou dela. Seu sucesso é daquelas coisas que a ciência exata não pode explicar ou mesmo compreender. Os tempos de crise econômica, concorrentes fracos, boa maré da Globo em audiência e público ligado em TV no automático talvez ajude a entender o feito. No fim das contas, só resta aceitar, já que 29 pontos é uma audiência respeitável nos tempos atuais. Mas Pega Pega, eleita com folga pelos nossos leitores como a pior novela do ano que passou (relembre AQUI), certamente, não será lembrada num futuro próximo. Ou até seja, no sentido de ser uma das novelas mais enfadonhas que já deram as caras na faixa das sete.

sábado, 21 de outubro de 2017

Melhor novela de Glória Perez, A Força do Querer recuperou o prazer de acompanhar com afinco uma boa novela das nove



Faz anos que pedimos uma novela que unisse todas as tribos como foi Avenida Brasil. E parece que, contrariando algumas expectativas, esse momento finalmente chegou. Imensamente criticada em Salve Jorge (não sem razão, pois foi sua pior novela), a autora surpreendeu e resgatou o prazer de acompanhar uma boa novela das nove com afinco. O resultado: um imenso sucesso em todos os sentidos - audiência, público, crítica e repercussão.

Abandonando a antiga fórmula adotada em O Clone e repetida em suas novelas posteriores, Glória Perez mostrou que aprendeu com boa parte de seus erros e apresentou um enredo repleto de histórias fortes, personagens densos e condução ágil em grande parte do tempo.

O ponto de partida de A Força do Querer desta vez trouxe não uma, mas três riquíssimas protagonistas: Ritinha (Isis Valverde), Jeiza (Paolla Oliveira) e Bibi (Juliana Paes). Como é tradição na carreira de Glória, foram elas que ditaram o tom das histórias principais, através de suas vivências, trajetórias, desatinos, sonhos e experiências. Os perfis das três mulheres se complementavam. Ritinha, a sedutora sereia paraense, era uma garota inconsequente e egoísta, capaz de mentir e manipular, mas que não tinha noção do que era certo ou errado e por isso não via maldade em suas ações. Jeiza, a policial e lutadora, foi a representação da mulher dos tempos atuais, que mostra que pode fazer o que quiser e não deixa de ser feminina e sensual mesmo estando em ambientes considerados masculinos. Bibi, inspirada na história de Fabiana Escobar, foi o perfil mais atraente e controverso, ao se envolver com o malandro Rubinho (Emílio Dantas) e embarcar no mundo do crime, para desespero da mãe - um relacionamento que mais tarde se mostraria bastante abusivo.

Em paralelo às protagonistas, se desenvolveram os dramas da família Garcia. Joyce (Maria Fernanda Cândido), casada com Eugênio (Dan Stulbach), acreditava ter uma família perfeita, mas seu castelo de ilusões desmoronou aos poucos ao descobrir que o filho Ruy traiu a noiva Cibele (Bruna Linzmeyer) com a sereia Ritinha e a filha Ivana (Carol Duarte) não se identificava com seu gênero, enquanto o marido, desanimado com o casamento, se deixou seduzir pela interesseira Irene (Débora Falabella). O merchandising social, também recorrente nas obras de Glória Perez, se fez presente através da abordagem de temas como o vício em jogos de azar, através de Silvana (Lilia Cabral); identidade de gênero, protagonizada por Ivana e por Nonato (Silvero Pereira), motorista que levava uma vida dupla, se travestindo como Elis Miranda; e o combate ao crime, através de Jeiza.

Nesta novela, Glória aprendeu com grande parte dos erros cometidos nas novelas anteriores. A autora desta vez trabalhou com um grupo mais enxuto e as histórias foram bem melhor entrelaçadas, permitindo uma maior integração entre os núcleos e personagens. Os dramas das protagonistas foram abordados através de um rodízio, onde uma tem destaque por um certo período, passando para a outra e assim por diante.

A direção da equipe de Rogério Gomes foi outro ponto positivo. A chegada do novo diretor foi um upgrade e tanto, o que permitiu que o afiado texto de Glória se agigantasse na tela. Além disso, várias grandes cenas foram de tirar o fôlego, especialmente as operações policiais e os bailes funks ocorridos no Morro do Beco. E a escolha do elenco foi um grande acerto em sua maioria, com alguns nomes vivendo os melhores papeis de suas carreiras e apresentando promissoras revelações.

Isis Valverde, Paolla Oliveira e Juliana Paes, três grandes estrelas, honraram a força do trio protagonista. Isis esteve fantástica na pele da sereia Ritinha, mostrando todas as facetas do papel com competência e deu um ar misterioso e sensual que coube como luva para a garota paraense. Paolla, por sua vez, ganhou sua protagonista mais completa. Jeiza foi uma personagem cativante e irresistível: policial competente, lutadora cheia de energia e mulher decidida, linda e sexy. E Juliana Paes, maior destaque entre as três, esteve em completo estado de graça, retratando genialmente a impulsiva Bibi, que foi capaz de entrar para o mundo do crime e colaborar com bandidos da pior espécie, em nome do desejo de ser idolatrada - nas palavras dela, "amar grande e ser amada grande". Bibi irritou em muitos momentos por sua extrema cegueira em relação ao Rubinho e por não ouvir sua mãe (e Juliana foi maravilhosa em todas estas fortes sequências. Assim como Ritinha, despertou paixões e ódios.

Dan Stulbach e Maria Fernanda Cândido, atores que andavam sumidos das novelas, voltaram ao formato e se destacaram na pele do casal em crise - aliás, ela foi um dos maiores destaques da novela, mostrando sua competência ao interpretar a dondoca Joyce. Elizângela, intérprete de Aurora, mãe de Bibi, viu sua personagem crescer merecidamente com o destaque da trama de Bibi e emocionou com o desespero da mãe, tornando-se uma porta-voz do público. Zezé Polessa divertiu na pele da interesseira Edinalva, mãe de Ritinha; Emílio Dantas fez uma impecável composição do bandido Rubinho; Tonico Pereira e Luci Pereira formaram uma ótima dobradinha como Abel e Nazaré, pai e tia de Zeca; Lilia Cabral foi fantástica na pele de Silvana; Marco Pigossi e Humberto Martins mostraram versatilidade (dando ótimas nuances que distanciaram seus atuais perfis de outros personagens da carreira); Karla Karenina e Cláudia Mello fizeram de Dita e Zu ótimas confidentes; e Juliana Paiva, mesmo com um papel de orelha, finalmente se libertou dos traços de Fatinha, sua personagem em Malhação, e mostrou que é uma atriz promissora.

A novela ainda trouxe ótimas revelações, a começar por Carol Duarte. A estreante, responsável por Ivana, a garota transgênero que se transforma em homem (Ivan), mostrou uma impressionante maturidade para um primeiro trabalho e protagonizou sequências belíssimas. Silvero Pereira, intérprete do chofer Nonato, que se transforma em Elis Miranda, também esteve perfeito e formou uma excelente parceria com Carol. Dandara Mariana, como Marilda (amiga de Ritinha), fez uma divertida dupla com Isis Valverde. João Bravo, como Dedé, filho de Bibi e Rubinho, foi a grande revelação mirim do ano e emocionou em todas as cenas. Lorenzo Souza, o Ruyzinho, apesar de sua muito pouca idade, encantou pela graciosidade, fazendo todo o elenco (e o público) se apaixonar pelo filho de Ritinha.

Pouco mais tarde, foi a vez de Jonathan Azevedo cair nas graças do público. O intérprete do bandido Sabiá, com seu linguajar do morro, tornou o personagem um dos mais carismáticos da trama, apesar dos crimes nas costas (tanto que a autora desistiu de matar Sabiá e o deixou até o fim). E a novela ainda contou com o retorno de Carla Diaz, que estava atuando na Record, na pele da periguete Carine, a "protegida" de Rubinho, reeditando a parceria com Juliana Paes, agora como rivais.

Porém, mesmo numa boa novela, nem tudo funciona a contento. Também é preciso abordar onde a trama não foi feliz. O erro mais grave foi a escalação de Fiuk para o viver o Ruy. A falta de traquejo do rapaz e sua inexpressividade fizeram com que o personagem (um tipo imaturo e intragável em essência) se tornasse ainda mais insuportável, comprometendo seriamente o conjunto. Isto ficou ainda mais evidente nas cenas que exigiam mais dele, destoando muito dos demais.

Outro erro foi a vingança de Cibele. A ex-noiva de Ruy embarcou em um projeto de se vingar do rapaz que não teve resultado prático nenhum e só mostrou a falta de amor próprio da garota. Tanto que ela perdeu a função ao longo da novela e a personagem de Bruna Linzmeyer não tinha mais razão de existir. Aliás, Bruna não foi a única que ficou avulsa. Outros nomes não tiveram muito destaque, mesmo com um elenco mais enxuto e melhor aproveitado. Foram os casos de Edson Celulari (Dantas, um sócio de Eurico que era apaixonado por Silvana), Gustavo Machado (Cirilo, amigo de Caio), Michele Martins (Shirley, namorada de Dantas), Mariana Xavier (Biga, secretária de Eurico) e Lua Blanco (Anita, amiga de Cibele). A participação de Fafá de Belém como Almerinda, mãe de Zeca, também não disse a que veio.

A vilania de Irene, que prometia atingir todos os núcleos, se restringiu apenas a infernizar a vida de Joyce e Eugênio (inclusive com o surrado clichê da falsa gravidez). A psicopata, cujo nome verdadeiro era Solange Lima, não chegou a apresentar grandes maldades na novela. Ainda assim, Débora Falabella mostrou seu talento e versatilidade e a sequência da morte de Irene, com toques de filmes de terror, impactou.

Ainda se deve enfatizar a má condução do enredo de Silvana, que andou em círculos durante muito tempo e apresentou duas falsas viradas. Eurico chegou a descobrir o vício da mulher e ela foi para uma clínica psiquiátrica, mas logo ela conseguiu fugir e tudo voltou à estaca zero. A repetição cansou, bem como a eterna cumplicidade de Dita e o fato de Eurico não desconfiar de nada.

A novela também chegou a despertar críticas de setores mais conservadores, especialmente em função da história de Bibi - muitos enxergaram apologia e glamourização do crime no enredo. Neste caso, porém, a própria condução do enredo tratou de quebrar este argumento, através da presença de Aurora (a mãe desesperada pela vida criminosa da filha) e Jeiza, a policial competente, e Caio, o advogado incorruptível.

Um ponto que também desagradou foi a resolução dos principais dramas da novela apenas nos últimos capítulos (em vez de fazê-lo gradualmente ao longo do último mês). Com muitos desfechos a se resolverem, havia a chance de o final ficar corrido e as cenas não terem o impacto que mereciam. E, de fato, foi o que se viu em parte do último capítulo. Muitas soluções ficaram corridas, como o momento em que Eurico descobriu que Nonato se traveste como Elis Miranda (o empresário aceitou a situação de forma muito rápida) e o sequestro de Simone, em que Silvana finalmente admite ser viciada em jogos de azar. Também não ficou crível a repentina amizade entre Ruy e Zeca (que passaram a criar Ruyzinho juntos), após a tempestade que os dois enfrentaram novamente (como no primeiro capítulo). Alguns desfechos foram exibidos apenas no bloco final, narrados por Garcia (Othon Bastos). A novela merecia, no mínimo, mais uma semana para tudo ter sido desenvolvido com mais calma e satisfatoriamente.

De qualquer forma, com mais acertos que erros, Glória Perez conseguiu o que parecia improvável nos últimos anos: resgatar a mobilização em torno de uma novela das nove e fazê-la cair na boca do povo. Como resultado, se tornou o maior sucesso do horário desde Avenida Brasil, chegando na incrível (e dificílima de ser alcançada atualmente) casa dos 50 pontos no Ibope em seu último capítulo. Por tudo que apresentou, A Força do Querer não é apenas a melhor novela das nove dos últimos anos. É também a melhor novela de Glória Perez, superando até mesmo a aclamada O Clone. A autora mostrou uma clara reinvenção em seu estilo, criou grandes dramas e personagens ricos, escalou um time de primeira, com inúmeros talentos e poucas exceções, e apresentou uma novela forte, intensa e deliciosa de acompanhar. A Força do Querer já deixou saudades e fatalmente deverá ganhar diversos (e merecidos) prêmios no final do ano.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Novo Mundo: ótima junção de História e entretenimento



E acabou-se o que era doce... Hoje (25) chegou ao fim Novo Mundo. A trama das seis de Thereza Falcão e Alessandro Marson foi uma agradável surpresa que, ao misturar folhetim com figuras históricas, fazendo uma aventura de época inserida no início do Brasil Império, conseguiu manter o interesse do público e entregar uma trama redonda, divertida e sem barrigas.

A trama foi uma sucessão de acertos. A saga de Anna (Isabelle Drummond) seguiu a cartilha do folhetim básico, trazendo uma mocinha que tinha a sua força. Como era uma trama de época, a heroína, claro, era à frente do seu tempo, fugindo da chatice das protagonistas convencionais. Teve sua cota de dramalhão, sequestros e de cárcere, mas nada que prejudicasse o andamento da trama. Ao seu lado, outro herói idealizado, mas bem eficiente. Joaquim (Chay Suede) era quase um super-herói onipresente, mas funcionava, graças ao bom texto e ao carisma impresso pelo ator ao personagem.

Mas foi o casal que andou ao lado dos heróis que concentrou os olhares do público que curte uma boa história de amor. Os personagens históricos Dom Pedro I (Caio Castro) e sua primeira esposa, Leopoldina (Letícia Colin), caíram nas graças da audiência, sobretudo em razão do excelente trabalho da atriz, que deu humanidade à princesa. Assim, valeu a "licença poética" da trama, que aproveita do recorte da época retratada para dar um final feliz ao casal (infelizmente, na vida real, o destino da princesa foi bem melancólico), ao mesmo tempo em que conferiu ares de vilã à amante de Pedro, Domitila (Agatha Moreira).

Além do folhetim tradicional, os autores foram felizes ao usar a temática histórica para fazer um paralelo com o Brasil atual. Com muita sagacidade, Thereza Falcão e Alessandro Marson colocaram na boca de seus personagens diálogos de duplo sentido, que encaixavam perfeitamente no contexto atual do país. O resultado foi uma novela com diversas camadas, que não saía de seu objetivo principal, o entretenimento, mas que também era capaz de provocar o público e despertar a reflexão.

Além disso, Novo Mundo tinha uma galeria de personagens simpáticos, carismáticos e muitos divertidos, que sempre protagonizavam ótimas cenas e situações. Uma delas é a atriz Elvira Matamouros, sem dúvidas o melhor trabalho de Ingrid Guimarães na TV. A personagem começou como uma vilã, que fazia de tudo por amor a Joaquim, atrapalhando o romance dele com Anna. Quando cumpriu sua missão nesta trama, caminhava para a morte, mas o público tratou de "salvá-la". A solução encontrada pelos autores, então, foi armar uma falsa morte para Elvira, fazendo sua trama andar, mas colocando-a como uma carta na manga, para ser sacada num momento oportuno. E, quando voltou, Elvira assumiu de vez sua porção cômica, em novas situações. Elvira formou uma equipe e tanto com Germana (Vivianne Pasmanter) e Licurgo (Guilherme Piva), tipos impagáveis donos de uma pavorosa estalagem. Intrometidos, sem asseio e com muita cara-de-pau, o casal roubou todas as cenas com muito humor e até alguma crítica social. Elvira, Germana e Licurgo, juntos, foram os responsáveis pelos melhores momentos da trama.

Outro destaque foi o interessante triângulo amoroso formado por Wolfgang (Jonas Bloch), Diara (Sheron Menezzes) e Ferdinando (Ricardo Pereira). Os três personagens tão simpáticos, que ficou difícil tomar partido na situação. E o núcleo ganhou um tempero e tanto com a entrada da terrível Greta, mais um trabalho brilhante de Julia Lemmertz. Outro acerto foi a presença dos piratas que, embora pontual, teve trajetória sempre marcante. Fred Sem Alma (Leopoldo Pacheco) foi um vilão e tanto. Tal como Sebastião (numa interpretação terrivelmente fantástica de Roberto Cordovani, ator premiado na Europa) e, claro, o diabo-mor Thomas (Gabriel Braga Nunes).

Tantos acertos fizeram de Novo Mundo um novelão da melhor qualidade. Agora é aguardar mais um clichezão daqueles que será Tempo de Amar, mas torcer para que nela sejam bem utilizados também.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Os Dias Eram Assim: de "super", só se foi super ruim



Os Dias Eram Assim foi a primeira novela das onze a receber a esquisita nomenclatura de "supersérie". Contudo, encerrada sua exibição nesta segunda (18), pode-se afirmar que nela não teve nada de "super", nem de "série". Foi, na verdade, uma autêntica novela, com todos os elementos do gênero. O que não seria uma crítica por si só, caso fosse um enredo bem conduzido. Não foi o que aconteceu. O texto raso, arrastado, tendencioso e maniqueísta cansou o público, apesar de sua boa audiência (por causa do sucesso de A Força do Querer, é bom deixar claro, que beneficia as atrações seguintes).

Basicamente, Os Dias Eram Assim se apresentou como uma história de amor convencional, cujos mocinhos Alice (Sophie Charlotte) e Renato (Renato Góes) viviam um amor proibido, tendo como um dos obstáculos os desdobramentos dos "anos de chumbo" brasileiros.O pano de fundo funcionava, a ambientação dos anos 1970 era extremamente bem-feita e a trilha sonora, embora não fugisse do lugar-comum, ajudava o telespectador a mergulhar no período histórico ainda recente. O tempo passou e a abertura política no Brasil ganhou força, desde a Lei da Anistia (1979) até as Diretas Já (1984). Neste momento, os mocinhos, finalmente, se reencontram. Parecia que a história finalmente ganharia um novo impulso. Ledo engano.

Alguns capítulos depois, tudo voltou à pasmaceira de sempre. A abordagem do período militar se esvaziou completamente, estando presente apenas na militância de Gustavo, o que irritou bastante. Os personagens perderam suas essências e ficaram cansativos (e isso também inclui os protagonistas, outrora cativante)s. Os núcleos paralelos (como a história envolvendo Toni e Monique; e, principalmente, os personagens que usavam as artes como protesto político, no qual se enquadravam Maria, Leon e Vera) se revelaram todos soltos, mal desenvolvidos e quase sem espaço. A morte de Arnaldo ficou esquecida por muito tempo e só foi relembrada (sem emoção) na reta final.

Para piorar, a loucura de Vitor com a rejeição de Alice chegou a níveis absurdos e surreais, resultando em cenas gratuitas, como a sequência em que o delegado Amaral abusa de Alice. Foi agonizante e desnecessário ver tamanho terror em uma cena sem a menor razão de existir, feita apenas para chocar.



Outro ponto que deixou claras as limitações do enredo da novela foi a personalidade excessivamente maniqueísta dos personagens: os opositores eram sempre os jovens românticos, enquanto os apoiadores eram os malvadões mais velhos. As autoras não conseguiram (ou fizeram isso de forma proposital) traduzir a complexidade do período que escolheram retratar. Nem todos os militares eram brucutus sanguinários que sentiam tesão em torturar alguém, assim como nem todos os "subversivos" eram anjinhos caídos do céu perseguidos inocentemente. Com um tema tão complexo quanto o que a trama retratava, aqui não cabia maniqueísmo: não estamos falando de uma luta do bem contra o mal, entre vilões e mocinhos, mas sim de revolucionários que praticavam terrorismo para implantar um regime comunista no Brasil, enquanto eram reprimidos com torturas e crimes obscuros pelo governo militar. Isto ficou evidente especialmente na personalidade de Gustavo, o tipo mais irritante da história. O rapaz prejudicou a família inteira em nome de sua militância, mas era colocado pelas autoras como um herói da resistência traumatizado pela tortura. Ficou pouco crível. E o que dizer daquelas verdadeiras aulas que a professora Natália dava para seus alunos (e para o público) para "explicar"o período histórico? Sem a menor sutileza e totalmente enfadonhas.

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Ainda assim, apesar dos pesares, houve acertos, como a abordagem da AIDS através de Nanda (Julia Dalavia), irmã mais nova de Alice. Seu desempenho nos desdobramentos da revelação da AIDS de Nanda emocionou o público e foi impossível não se sentir tocado pelo desespero da garota. A entrega da atriz Julia Davila, que emagreceu bastante para o papel, se refletiu em uma impressionante maturidade cênica e a fez sair de cena ainda mais forte do que entrou, pronta para maiores desafios. Também chamou atenção a primorosa trilha sonora, repleta de clássicos dos anos 60, 70 e 80. Ainda merece destaque a inserção de imagens de arquivo dos anos 70 e 80 (embora estas, muitas vezes servissem como muletas para disfarçar a ausência de história).

Inicialmente planejada para o horário das 18h, Os Dias Eram Assim foi promovida para a faixa de maior liberdade artística da Globo após a suspensão do projeto de Jogo da Memória, da talentosa Lícia Manzo - alegou-se na época que a proposta de Lícia poderia não ter história suficiente. No entanto, a trajetória de Os Dias Eram Assim fez esta motivação cair por terra, uma vez que não teve estofo para segurar 88 capítulos (um número excessivo para uma trama das 23h).

Em resumo, a "supersérie" não passou de uma novela fraquíssima, decepcionou em muitos aspectos e se arrastou por muito tempo, deixando a sensação de que não acabava nunca. Personagens maniqueístas, enredo raso e tendencioso, clichês mal-usados e ritmo excessivamente arrastado foram as principais marcas desta que pode ser considerada facilmente a pior novela já exibida na atual faixa das onze. Um roteiro que não honrou o horário em que foi exibido e será rapidamente esquecido. E pensar que cancelaram "Jogo da Memória", da talentosa Lícia Manzo (com a alegação de que a proposta dela poderia não ter história suficiente), para exibirem essa porcaria, viu...

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Bem construída e cheia de boas cartas na manga, Rock Story sai de cena vitoriosa



E Rock Story chegou ao fim nesta segunda (05). Foi um capítulo final sem grandes surpresas, pois grande parte das histórias da trama já estava praticamente resolvida. E isso não foi um problema, muito pelo contrário. É apenas um sinal que Rock Story teve uma trama redonda do início ao fim, bem construída, sem excessos e que correu sem sustos, trazendo sempre novidades que mantiveram a novela quente por todo o seu período de exibição. Maria Helena Nascimento, novelista estreante, está longe de ser uma amadora. Em sua primeira novela como titular, mostrou uma rara maturidade na condução de seu enredo.

Rock Story foi vitoriosa em todos os sentidos. Primeiro, por trazer personagens muito humanos, reconhecíveis, fáceis de identificar e torcer por eles. Gui Santiago (Vladimir Brichta) foi um herói meio anti-herói, bastante impulsivo, que costumava resolver seus assuntos na base do grito e da violência. Mas, ao mesmo tempo, era um pai amoroso e um amigo dedicado. Ao seu apaixonar por Júlia (Nathalia Dill), se envolver com o filho Zac (Nicolas Prattes) e, ainda, partir para a terapia, Gui se transformou e se tornou um homem melhor. Sem forçação de barra, nem pirotecnias. A construção de Gui foi muito vitoriosa. Além do texto, sempre muito bem escrito, e da direção acertada, o personagem ainda ganhou mais camadas graças ao seu intérprete, Vladimir Brichta. Grande ator, um galã maduro e com talento dramático, Vladimir fazia falta às novelas, e retornou em grande momento. Fez um dos melhores protagonistas de novela dos últimos anos. Vladimir não tem somente estampa: é um ator da melhor qualidade.

E teve ao seu lado uma ótima parceira. A trama envolvendo Júlia foi muito bem desenvolvida, sempre com muitas reviravoltas e emoções. A mocinha era cheia de problemas, passou boa parte da novela fugindo da polícia, mas era otimista, carismática e com muitas qualidades. Esteve longe de ser uma mocinha chata. E Nathália Dill se mostra uma atriz cada vez mais madura, fazendo uma mocinha solar e bastante interessante. Além disso, mostrou talento ao viver a irmã gêmea de Júlia, Lorena. A atriz conseguiu marcar bem as diferenças entre as duas personagens, fazendo o espectador acreditar que se tratava, realmente, de uma outra pessoa.

Outra personagem cheia de surpresas e camadas era a vilã Diana (Alinne Moraes). Era uma vilã, mas com bastante humanidade. Diana, muitas vezes, era dura com a filha, além de armar, provocar e prejudicar Gui Santiago. No entanto, mostrava-se uma mulher de carne e osso, atenta às suas qualidades e seus defeitos. Ela meteu os pés pelas mãos várias vezes, se arrependeu de muitas bobagens, pedia desculpas e assumia seus erros. Alinne Moraes não precisa provar mais nada: é uma atriz da melhor qualidade e emplacou mais uma grande personagem à sua galeria.


Além da trinca, Rock Story apresentou uma gama de personagens e atores que merecem todos os aplausos. Rafael Vitti, revelação de Malhação Sonhos, foi uma grata surpresa como Léo Regis, fenômeno da música adolescente. O ator abusou do carisma e de seu jeito meio gaiato para fazer um tipo meio deslumbrado, quase uma caricatura de um astro da música. Ao mesmo tempo, teve sensibilidade para conduzir a derrocada de Léo, que teve um rumo surpreendente. Ana Beatriz Nogueira, sua mãe Neia, já é uma ladra de cenas profissional. Fez de uma personagem, a princípio sem muito destaque, um grande acontecimento. Também merece menção Viviane Araújo que, como Edith, mostra que se tornou, de fato, uma atriz das boas. Herson Capri, o Gordo, Laila Garin, a Laila, Alexandra Richter, a Eva, também fizeram trabalhos grandiosos. E a dupla de bandidos Romildo (PauloVerlings) e William (Leandro Daniel) foi outra grata surpresa.

Rock Story foi muito feliz na abordagem do mundo da música. Criou uma dicotomia interessante entre a música de qualidade e a puramente comercial, brindando o público com uma trilha sonora das melhores. Além disso, a novela não economizou trama e conseguiu manter a atenção do público graças às "cartas na manga" que a autora guardava, fazendo uso delas sempre com cuidado.

Quando a novela começou, Júlia foi vítima de um golpe, quando o namorado metido com tráfico de drogas a usou como "mula", tentando transportar uma encomenda para os Estados Unidos. Assim, a mocinha foi obrigada a fugir da polícia e se passar por sua irmã gêmea, Lorena. Então, acompanhamos as diversas fugas de Júlia, enquanto ela procurava o vilão Alex (Caio Paduan) e tentava provar sua inocência. Esta "caçada" teve seus desdobramentos, até que Alex fingiu sua morte e saiu de cena, dando espaço para que Lorena, até então vista apenas na tela de um tablet, chegasse de vez à trama. A "gêmea má" chegou trazendo novos conflitos, agitando ainda mais a vida de Júlia. No fim, acabou morrendo e inocentando a irmã, enquanto Alex foi preso. Que novela com gêmea má e gêmea boa você já viu onde uma delas morre antes do final?! Parecia o início de uma fase calma na vida da protagonista de Rock Story, que finalmente iria viver seu amor com Gui Santiago sossegada.

Aí a autora sacou outro trunfo: Mariane (Ana Cecília Costa), a mãe de Zac, que chegou para colocar mais lenha na fogueira da vida de Gui e Júlia. Quando a moça sai de cena, chega a vez de Alex sair da cadeia e propor o conflito final. Outra personagem que entrou e saiu em momentos oportunos foi Laila. Ela entrou para virar a vida de Gordo. Depois o enganou e saiu da cidade, deixando o caminho livre para que Eva crescesse na trama e engatasse um romance com o dono da gravadora Som Discos. Surgiu aí uma enteada para ela, gerando novos conflitos. Na reta final, Laila retornou, trazendo ainda mais acontecimentos. Ou seja, com estes entrechos sendo propostos a todo o momento, Maria Helena Nascimento deixou sua história movimentada o tempo todo, evitando ao máximo as indesejáveis "barrigas".


Como se não bastassem tantas qualidades, Rock Story ainda foi feliz ao trazer ao horário das sete uma trama com uma cara mais adulta, diferente das comédias quase infantis que fizeram o horário nos últimos três anos. Além disso, diminuiu o tom de comédia romântica do horário, com uma história de contornos mais dramáticos. Por estas e outras, Rock Story sai de cena como uma das melhores novelas das sete dos últimos anos. Vai deixar saudades.


ACABEI DE ATUALIZAR O MEU DESGRAÇÔMETRO DAS NOVELAS DAS 7 DA DÉCADA ATUAL (DE 2010 PARA CÁ). CONFIRA CLICANDO AQUI OU NA FOTO ACIMA.


quinta-feira, 27 de abril de 2017

Mudanças sem sentido fazem de 'Pro Dia Nascer Feliz' mais uma decepção



Emanuel Jacobina retornou à Malhação após a elogiada temporada Sonhos, desenvolvida por Rosane Svartman e Paulo Halm. Intitulada Seu Lugar no Mundo, a história desenvolvida por Jacobina parecia interessante no começo, mas foi se perdendo em meio a conduções inverossímeis, personagens perdendo suas funções e abordagens equivocadas. Ainda assim, parecia que a chance de se redimir viria com a temporada seguinte, intitulada Pro Dia Nascer Feliz, que chega ao fim semana que vem. Ledo engano.

A atual edição conseguiu repetir os mesmos erros da anterior, apesar de apresentar um elenco um pouco melhor. Foram aproveitados poucos personagens para o novo enredo, entre eles Jéssica (Laryssa Ayres), Nanda (Amanda de Godoi), Krica (Cynthia Senek) e Cleiton (Nego do Borel). Enquanto isso, como exemplo, Marina Moschen e Nicolas Prattes, que viveram o casal Luciana e Rodrigo (malconduzido pelo autor), estão repetindo o par em Rock Story, atual novela das sete, desta vez de forma bem mais rica e realmente convincente, interpretando respectivamente a patricinha Yasmin e o cantor Zac, líder da banda 4.4.

Um dos erros é a personalidade da mocinha Joana (Aline Dias). De início uma protagonista de atitude e pulso firme, ao longo do tempo, a personagem se tornou muito intrometida e chata. A falta de química com Felipe Roque (que vive o mocinho Gabriel e também mostrou altas doses de canastrice) também foi evidente, a ponto de Joana passar a se envolver com o irmão dele, Giovane (Ricardo Vianna).

A rival de Joana, Bárbara (Bárbara França), também sofreu com as mudanças estapafúrdias. A filha mais velha de Ricardo (Marcos Pasquim) sempre foi uma vilã voluntariosa, a ponto de fazer ofensas racistas e xenofóbicas contra a rival. Até aí, sem problemas. Porém, a personagem guardava um lado humano interessante em função da convivência com suas irmãs Juliana (Giulia Gayoso) e Manuela (Milena Melo). Essa complexidade foi esquecida sem qualquer motivo aparente. As brigas entre as personagens, que deveriam ser usadas como um bom recurso para a relação conflituosa entre elas, tornaram-se constantes a ponto de cansar. Dia sim e dia também Bárbara e Joana tinham longas cenas de discussão, brigando sempre pelos mesmos motivos: ora pelo Gabriel, ora pelo pai Ricardo, ora pela academia... Ai, que soninho...


Juliana, por sua vez, tinha uma interessante relação de gato e rato com Lucas (Bruno Guedes). As provocações entre os dois faziam do par o mais promissor da temporada. Até que ela se apaixonou por Jabá (Fábio Scalon) e houve uma inversão de personalidades entre eles: o primeiro, arrogante, virou uma boa pessoa, enquanto Lucas virou um babaca irresponsável. Este chegou a se envolver com Martinha (Malu Pizzatto) sem nunca ter sido amigo dela e, para piorar, ela ficou grávida. A abordagem da gestação foi erroneamente desenvolvida, parecendo algo engraçadinho e super legal na vida de um adolescente - e não uma coisa séria, como deveria ser - e repetindo o erro cometido com Krica e Cleiton na temporada anterior.

Nanda, por sua vez, chegou a se envolver com Rômulo (Juliano Laham) para tentar esquecer Filipe (Francisco Vitti), todavia, as constantes desconfianças e a indecisão amorosa dela a transformaram em um tipo irritante e cansativo, desvalorizando o talento de Amanda de Godoi (a mais promissora revelação de Seu Lugar no Mundo). Para piorar, entrou na história o professor Renato (Jayme Matarazzo), para quem supostamente o coração do ex foi doado. O triângulo nada acrescentou e o autor resolveu recorrer a cenas de Filipe como fantasma (bem cafonas, diga-se de passagem) e aproximar Rômulo de Sula (Malu Falangola), amiga cearense de Joana, para fazer ciúmes em Nanda. Nada disso funcionou. Inclusive, fez o efeito contrário, já que Rômulo e Sula formaram, inesperadamente, um casal até que bonitinho.

Agora, foi a vez de Caio (Thiago Fragoso) também sofrer com a mudança de personalidade. O cunhado de Ricardo, irmão da esposa falecida deste, era uma boa pessoa, embora guardasse mágoa do dono da academia Forma em função do acidente. Entretanto, foi transformado em um psicopata perverso, a ponto de se disfarçar de enfermeiro para matar o próprio irmão, assassinar a ex-namorada de Ricardo e sequestrar Tita. Tudo com a maior frieza do mundo. Algo que em nada condiz com seu perfil inicial.

Apesar dos problemas, o elenco consegue tirar proveito do fraco roteiro e aproveita todas as oportunidades. Bárbara França é o maior destaque da temporada e uma das maiores revelações da Malhação dos últimos tempos. Sua entrega total a personagem foi fantástica! Aline Dias, Malu Falangola, Giulia Gayoso, Amanda de Godoi, Laryssa Ayres e Milena Melo são outros bons nomes da turma jovem. Entre os adultos, Deborah Secco também está muito bem como Tânia e Thiago Fragoso, bom ator que é, consegue convencer em todas as nuances de Caio (apesar dos pesares). A grandiosa Joana Fomm, em participação especial, emociona como a avó de Gabriel e Giovane, dona Cleo. Como pontos negativos, as fracas atuações de Felipe Roque (Gabriel), Nego do Borel (Cleiton) e Juliano Laham (Rômulo).

Apesar da boa audiência, Malhação - Pro Dia Nascer Feliz sai de cena nada feliz, repetindo a fraca trajetória de sua antecessora e novamente se perdeu em meio a uma condução pífia e ao desperdício de personagens e enredos, por parte do autor Emanuel Jacobina. Com isto, só resta torcer pela próxima temporada, intitulada Viva a Diferença e assinada pelo cineasta Cao Hamburger, responsável por produções como Castelo Rá-Tim-Bum, Pedro e Bianca e Que Monstro Te Mordeu?, exibidas na TV Cultura.

sábado, 1 de abril de 2017

Autores precisam ter a liberdade de bancarem suas ideias para evitar novos "Frankensteins" como A Lei do Amor


"Lá vai o trem sem destino...". Esse trecho da música de abertura de A Lei do Amor ("O trenzinho do caipira") resume perfeitamente toda a sua trajetória: uma novela desgovernada e sem rumo!

Maria Adelaide Amaral é uma das autoras que mais gosto e uma das mais bem-sucedidas da TV. É dela os ótimos remakes de Anjo Mau e Ti ti ti e as excelentes minisséries Os Maias, A Muralha, JK e A Casa das Sete Mulheres. Sua última novela antes de A Lei do Amor, Sangue Bom, escrita também com Vincent Villari, foi mais uma produção vitoriosa. Portanto, é de se espantar o que aconteceu com a atual novela das nove. A autora nunca havia passado pela experiência dolorosa de ver sua obra desagradar e ser tão criticada pelo telespectador. Não dá para dizer que Adelaide e Vincent se perderam, porque, novelistas do quilate que são, eles não perderiam o rumo da história que queriam contar. A impressão que se tem é que os dois, na verdade, não contaram o que tinham planejado e, sim, que foram modificando a trama original ao sabor das circunstâncias. Só isso explica a sucessão de erros em que se transformou A Lei do Amor.


Os problemas já começaram na primeira fase, toda centrada no casal principal, Pedro (Chay Suede/Reynaldo Gianecchini) e Helô (Isabelle Drummond/Claudia Abreu), e na armação de Magnólia (Vera Holtz) para separá-los. Quando saltou 20 anos no tempo, toda a armação que ganhou destaque na primeira fase logo foi desnudada. Assim, quem comprou todo o romantismo e as intrigas da primeira semana da novela acabou ficando a ver navios, pois nada daquilo se mostrou verdadeiramente importante para a continuidade da narrativa. A história do casal apaixonado que foi separado na juventude por uma intriga da vilã e se reencontra anos depois ganhou cores de trama policial, passando a girar em torno dos mistérios do atentado de Fausto (Tarcísio Meira) e Suzana (Gabriela Duarte/Regina Duarte).

Soma-se a mudança brusca de rumo do enredo: o elenco numeroso — repleto de atores jovens e desconhecidos (que faziam da trama uma espécie de Malhação em horário nobre) e figuras tarimbadas em papéis aquém (como Cláudia Raia, Maria Flor, Ana Flor e Tato Gabus Mendes) — com núcleos desconexos; os erros absurdos de escalação do elenco entre as duas fases (como Mag e Fausto serem Vera Holtz e Tarcísio Meira desde o começo, mas Tião ser Thiago Martins e depois virar José Mayer, para mais adiante surgir uma Mag jovem em cenas de flashback); e, claro, a chatice extrema de Letícia (Isabella Santoni). A audiência não reagiu e, a partir daí, foram feitos os chamados "grupos de discussão" com o público. Infelizmente, o que já havia acontecido em Babilonia se repetiu: estes grupos, que deveriam orientar a condução da história, acabaram iniciando um desgaste que afetou a história irreversivelmente.

Com a intromissão de Silvio de Abreu no roteiro da novela, várias revelações e entrechos foram antecipados, personagens promissores foram eliminados, outros tiveram suas personalidades alteradas sem motivo aparente e conflitos foram inseridos sem nada acrescentar. A entrada do autor Ricardo Linhares piorou ainda mais a situação, uma vez que o autor vinha de Babilônia, maior fracasso do horário das nove, e, com isto, não tinha sentido que justamente ele "ajudasse" a melhorar outra novela.

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Se antes eram prejudicados pela falta de conflitos, Pedro e Helô foram destruídos por situações que não condiziam com o perfil dos personagens. O retorno de Laura (Heloísa Jorge), uma ex-namorada de Pedro, em nada acrescentou, tornou Helô (antes, uma pessoa de mente aberta) uma ciumenta possessiva e repetiu uma situação do começo: o mocinho tinha outra filha da qual não sabia da existência. Em função dos ciúmes, Pedro passou a conviver com Laura e chegou ao ponto de transar com ela, virando um sujeito machista, totalmente diferente da pessoa íntegra de outrora. A lei do amor ou do machismo e da traição?

O machismo também esteve presente no malfeito triângulo entre Tiago (Humberto Carrão), Letícia e Isabela/Marina (Alice Wegmann). Letícia era uma garota voluntariosa e irritante. Tiago, seu então noivo, passou a se envolver com Isabela, sem desfazer o seu compromisso com a mulher. Enquanto Pedro foi "vítima" do ciúme excessivo da Helo, Tiago foi colocado pelo roteiro como "vítima" da personalidade mimada da noiva. Após um acidente, Isabela desaparece e volta como Marina para se vingar do rapaz — pois pensava que ele havia tentado matá-la — e apresenta um temperamento totalmente diferente: mais sensual e misterioso. Ela começa um jogo de sedução que novamente faz Tiago trair Letícia, sendo outra vez posto como vítima da ardilosa Marina e da passividade da agora esposa, que se tornou menos insuportável. Aliás, foi justamente para "salvar" Letícia que se prolongou o sumiço de Isabela no mar. Um tiro que acabou saindo pela culatra. O que era para ser solucionado em breve tomou proporções imensas, sendo arrastado até o último capítulo e deixando o público totalmente desinteressado com esse "mistério".


O núcleo político de A Lei do Amor, que foi usado como justificativa para o seu adiamento e a entrada de Velho Chico no horário, não rendeu o que deveria. A campanha pela sucessão municipal de São Dimas se transformou em uma piada, contradizendo a alegação do Silvio de Abreu de que o mote político poderia ser prejudicado com as eleições daquele ano. Até mesmo Luciane (Grazi Massafera), uma das melhores personagens da história, perdeu função na mesma, devido à repentina saída de Venturini (Otávio Augusto), com quem formava uma ótima dobradinha. Yara (Emanuelle Araújo) e Misael (Tuca Andrada) também sofreu com a falta de um enredo mais consistente, prejudicado pela saída da problemática Aline (Arianne Botelho), que retornou à novela como prostituta de luxo; além de ter soado forçado o envolvimento de Misael com Flávia (Maria Flor) e, posteriormente, com Ruty Raquel (Titina Medeiros); que, por sua vez, formava um casal divertidíssimo com Antonio (Pierre Baitelli), que foi desfeito sem mais, nem menos.

Outra trama paralela que sofreu com a má condução foi a de Salete (Cláudia Raia), dona de um posto de gasolina, que se envolveria com os frentistas de seu estabelecimento. Estes foram retirados da trama e ela passou a se envolver com Gustavo (Daniel Rocha), bandido que participou do atentado que matou Suzana e deixou Fausto em coma. O romance não funcionou e os autores reeditaram um drama de Verdades Secretas, colocando o rapaz para sofrer com o uso de drogas. Não convenceu. Assim como também a transformação de Ciro (Tiago Lacerda) de vilão cruel a bom samaritano, a do bobão Hércules (Danilo Grangheia) em mestre do crime na reta final e tantas outras que daria para eu ficar horas comentando.

Ainda merece destaque (negativo, é claro!) a trama em que Tião se vinga de Magnólia, que acabou se tornando um dos eixos centrais do que sobrou da sinopse. As cenas de humilhação foram todas previsíveis. Um embate arrastado que careceu de tensão verdadeira. A atriz Vera Holtz, coitada, não teve muito o que fazer com a apatia do roteiro, mas interpretou Magnólia com inspiração e dominou a novela.

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Muito se fala sobre a prática de pautar as decisões sobre as novelas de acordo com os famosos grupos de discussão. Mas desde quando o público que vê novela sabe o que quer? E o que é melhor? Se a novela inova demais, o telespectador reclama. Se ela é "mais do mesmo", reclamam. Se é violenta demais, reclamam. Se é muito bobinha, reclamam também. Velho Chico não foi nem de longe a minha novela preferida, mas o autor Benedito Ruy Barbosa (e, nesse caso, o diretor Luiz Fernando Carvalho, que não aceitava intromissões) fez um trabalho original e coerente. A Regra do Jogo seguiu o mesmo caminho porque João Emanuel Carneiro não muda uma vírgula do que quer contar. É por isso que insisto em dizer que os autores precisam de liberdade para trabalhar e que errem seus próprios erros. Fica mais bonito e mais digno do que transformar uma novela num verdadeiro Frankenstein como, infelizmente, se tornou A Lei do Amor.

Confira o Desgraçômetro atualizado das últimas novelas das 9:



terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Escrava Mãe foi novelão na veia



A Record atirou no que viu e acertou no que não viu. Escrava Mãe foi uma novela que passou por tantos percalços antes de estrear que muitos passaram a duvidar da qualidade da história de Gustavo Reiz, que pretendia narrar a trajetória da mãe da famosa Escrava Isaura. A trama foi aprovada quando se buscava uma substituta para Vitória, novela de Christiane Fridman que não conseguiu ampliar os índices de audiência das novelas da Record. Entretanto, a novela perdeu a vaga quando a direção da emissora decidiu transformar o projeto da minissérie Os Dez Mandamentos em novela. Aí, ficou decidido que Escrava Mãe seria sua sucessora e a trama entrou em produção, realizada pela Casablanca e gravada em Paulínia, no interior de São Paulo. Depois, nova mudança: com o sucesso de Os Dez Mandamentos, a emissora decidiu dedicar a faixa das 20h30 apenas às produções bíblicas e, mais uma vez, Escrava Mãe foi deixada de lado.

Enquanto isso, as gravações da trama prosseguiam e foram tantos adiamentos e indefinições sobre sua exibição que Escrava Mãe foi totalmente concluída sem estrear, ficando engavetada por longos  e longos meses, enquanto era promovido um reprisaço de quase todas as produções bíblicas da emissora. Até que a direção da Record, finalmente, decidiu abrir a faixa das 19h30 para lançar a novela. E a surpresa foi altamente positiva: Escrava Mãe mostrou-se a melhor novela da emissora em anos. O Ibope também respondeu positivamente, revelando que a Record acertou em cheio ao reavivar a nova faixa de horário.


Escrava Mãe foi um acerto em todos os sentidos. O texto de Gustavo Reiz foi correto, redondo e trouxe os principais elementos do bom e velho folhetim clássico sem pudores, apostando fundo numa história de amor proibido, cheia de idas e vindas e reviravoltas, além da ousadia de um final trágico (que já era esperado, mas, mesmo assim, deu um nó no coração). Além disso, tratou com muita propriedade de seu pano de fundo, o período da escravidão (abordou o tema de forma bem mais interessante que Liberdade Liberdade, como disse AQUI). Primeira novela que teve sua produção terceirizada nessa nova leva, o orçamento de toda a história da mãe da Isaura não paga nem o artefato de ouro falso na cabeça do Ramsés em Os Dez Mandamentos. O custo de Escrava Mãe foi infinitamente menor que o da novela do Moisés e, mesmo assim, o que vimos na tela foi algo de outro nível. Saiu o Egito antigo que mais parecia cenário de alguma produção mexicana dos anos 60 e entrou um Brasil colonial com uma fotografia belíssima.

Com uma carpintaria bem delineada, Escrava Mãe contou ainda com tramas paralelas interessantes e que não perdiam de vista a história principal. Entre elas, destaque para a saga de Filipa, que inicialmente se disfarçava de homem para circular pela boemia da Vila de São Salvador, até que se apaixona pelo poeta Átila, partindo daí uma envolvente história de amor. Outro núcleo que rendeu boas histórias foi o da taberna de Rosalinda Pavão, que movimentou a trama com sua rixa hilária com a baronesa falida Urraca.

Aliás, a produção foi muito feliz na escalação de seu elenco, todos muito bem em cena. Gabriela Moreyra, prata da casa, não decepcionou com sua primeira protagonista e o ator português Pedro Carvalho foi uma grata revelação. Os doiz esbanjaram química com o casal Juliana e Miguel. Isso sem falar em veteranos como Jussara Freire (Urraca), Antonio Petrin (Custódio), Luiz Guilherme (Quintiliano), Bete Coelho (Beatrice), Zezé Motta (Tia Joaquina) e Jayme Periard (Osório), entre outros, que emprestaram suas credibilidades à obra. Thaís Fersoza também se mostra cada vez mais madura e roubou a cena como a vilã Isabel. Merecem ainda destaques: Leo Rosa (Átila), Adriana Lessa (Catarina), Milena Toscano (Filipa), Roberta Gualda (Teresa), Sidney Santiago (Sapião), Lidi Lisboa (Esméria) e Fernando Pavão (Almeida). Escrava Mãe também contou com uma direção segura de Ivan Zettel e uma produção impecável da Casablanca, que abusou de uma fotografia mais naturalista, dando um ar cinematográfico aos takes.


Uma pena que uma novela com tantos êxitos como Escrava Mãe seja substituída pela enésima reprise de A Escrava Isaura. Por melhor que seja a novela de 2004, protagonizada por Bianca Rinaldi, sua produção é muito mais modesta que a de Escrava Mãe e as comparações serão inevitáveis. Aliás, é preciso mencionar que o autor não fez direitinho o dever de casa antes de bolar essa história "prequela" e a Record nem se preocupou, pois há incoerências vergonhosas e muitos erros de continuidade entre as duas histórias (falei sobre isso detalhadamente AQUI). De qualquer forma, a faixa das 19h30 da Record, recém-inaugurada, merecia ser continuada por uma produção inédita, até para consolidar seu público. Que Belaventura, também escrita pelo Gustavo Reiz e que deve substituir A Escrava Isaura, não demore muito a estrear.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Exagerada, Haja Coração conseguiu rir e emocionar, mas poderia ter sido melhor



Despretensiosa, simples, com bastante romance açucarado e humor ingênuo e meio infantil. Esta é a fórmula adotada pela direção de teledramaturgia da Globo que colocou a faixa das sete numa curva crescente de audiência desde a estreia de Alto Astral, em 2014. De lá para cá, o público diante da TV no horário só cresceu com I Love Paraisópolis e Totalmente Demais. Todas coloridas, de humor pueril e muitos sonhos. Haja Coração, do mesmo Daniel Ortiz que reergueu a faixa, é mais um êxito no filão, colocando a faixa das sete num patamar de acertos que ela não via há décadas. No passado, era este o horário que mais dava trabalho à Globo; hoje, é a faixa das nove que dá mais dor de cabeça aos Marinhos. Parece que o jogo virou, não é mesmo?

Baseada em Sassaricando, o novelista mudou o perfil de alguns personagens, transformou a coadjuvante de 1987 em protagonista, criou novos tipos e acrescentou tramas. A aposta revelou-se acertada: Haja Coração chega ao fim com média de 27 pontos no Ibope da Grande São Paulo, a mesma da trama anterior no horário, Totalmente Demais. Apesar disto, a qualidade da novela, infelizmente, não acompanhou a audiência, pois a trama promissora logo deu lugar a uma grande barriga, que prejudicou o desenvolvimento da história, repleta de altos e baixos.

Mariana Ximenes, que aceitou a bomba de encarnar uma das personagens mais icônicas da nossa teledramaturgia, sai sob merecidos aplausos. Ela criou sua própria Tancinha e o fez com muita verdade, imprimindo seu carisma ao papel, fazendo uma personagem mais romântica, em comparação com o furacão sensual e bonachão que foi a versão original de Cláudia Raia. A competência de Mariana driblou o estranhamento inicial envolvendo sua escalação. O problema foi a falta de um enredo mais consistente para a feirante ao transformá-la em protagonista.


A trama de Tancinha mostrou-se limitada, resumida à indecisão amorosa entre Apolo e Beto. Para piorar, o caminhoneiro mostrou-se, logo de cara, um sujeito insuportável, marrento e machista, cuja inexpressividade de seu intérprete, Malvino Salvador, só piorou a situação. Enquanto isso, João Baldasserine, com todo seu talento e carisma, fez Beto cair nas graças do público com seu humor involuntário, em face de suas atitudes inicialmente inconsequentes e do sentimento que alimentou ao se apaixonar de verdade. Ainda assim, o grupo de discussão da novela revelou algo surpreendentemente inacreditável: Apolo era o personagem mais querido da novela. Desde então, o autor fez de tudo para forçar sua aceitação, proporcionando um excessivo destaque e prejudicando o enredo de Tancinha. A armação de Beto, que culminou na separação da feirante com o caminhoneiro, foi um golpe baixíssimo para favorecer Apolo!

Além disto, a procura da protagonista pelo pai, Guido, foi abandonada sem qualquer explicação, sendo retomada apenas na reta final. Isto evidencia um equívoco cometido por Ortiz, que foi promover a trama original de Tancinha para protagonista sem reforçá-la com conflitos que a tornassem mais densa; bem como a rivalidade inicial com Fedora, desprezada ao longo dos meses. Elas mal contracenaram, mesmo tendo rendido cenas ótimas juntas. A inimizade da patricinha rica com a feirante pobre tinha tudo para render bastante, o que não ocorreu.

Tarzan e Safira são pegos com a 'boca na botija' (Foto: TV Globo) Teodora fica chocada com o que vê (Foto: TV Globo)

Sem o peso de ser a trama principal, a saga de Varella e da família Abdalla se viu livre para usar e abusar do humor. Neste núcleo, o nonsense imperou. O principal destaque foi Teodora, personagem tão bem defendida por Grace Gianoukas, que acabou escapando da morte (inicialmente, ela morreria para valer, tal como em Sassaricando) e retornando com tudo na reta final. O núcleo, porém, foi prejudicado pela sua falsa morte, que deixou todos os personagens sem função. Com o desaparecimento, a trama passou a andar em círculos, desperdiçando o talento de vários atores envolvidos. Fedora (Tatá Werneck funciona muito mais no improviso), meio perdida no início com aquela história de se tornar a rainha das redes sociais, ganhou substância quando sua parceria com o marido Leozinho (Gabriel Godoy) se fortaleceu; e mais ainda quando surgiu Safira (Cristina Pereira, revivendo a "velha" Fedora de Sassaricando). Teodora, Fedora e Safira protagonizaram excelentes momentos. Pena que Cláudia Jimenez (Lucrécia) e Marcelo Médici (Agilson) acabaram tendo seus talentos desperdiçados.

Deve-se lamentar também o pífio desenvolvimento de Tamara (Cleo Pires), que sofria com transtornos de personalidade. A personagem demorou vários capítulos para aparecer, sendo praticamente uma figurante de luxo. Pouco depois, se envolveu com Apolo, em um relacionamento atraente e repleto de química, tornando o piloto mais tragável. Porém, tudo se esvaiu quando Tamara, que era segura de si, foi transformada em uma mulher obsessiva, no momento em que Apolo se reaproximou de Tancinha para adotar os irmãos Carol, Nicolas e Bia (outra trama mal conduzida que demorou longos meses para acontecer e, enfim, mexer com a trama). A fraca condução do autor prejudicou um dos tipos mais promissores da novela.


Outra trama porcamente desenvolvida foi a de Nair (Ana Carbati) e Adônis (José Loreto canastríssimo), com um plot já manjado na nossa teledramaturgia: o filho que sente vergonha da mãe. Para culminar, só no penúltimo capítulo que Nair soube que o rapaz não usou o seu dinheiro para pagar a faculdade e sim curtir a vida. Outro equívoco que merece ser citado foi o péssimo personagem dado a Conrado Caputo, depois do sucesso do Pepito em Alto Astral. O ator ficou avulso o tempo todo (Renan, no início, era um vlogger fracassado e virou ajudante da cantina de Tancinha), assim como Marcella Valente (Larissa, irmã de Apolo e Adônis).

A história de Giovanni, Camila e Bruna chegou a ter bons momentos, mas também sofreu com a condução equivocada do autor, onde o excesso de bondade da Camila pós-acidente a transformou numa completa idiota. Isso sem falar na facilidade com que ela perdia e recuperava a memória e na cegueira de Giovanni em cima dos surtos de Bruna. Duas situações pra lá de inverossímeis, convenientes apenas para a enrolação do enredo. Apesar dos pesares, destaque para a atuação de Fernanda Vasconcellos, que driblou o fraco desenvolvimento do roteiro e chamou atenção pela versatilidade, vivendo uma vilã psicopata após várias mocinhas seguidas.

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O roteiro do trio de amigas, juntamente com a empregada Dinalda (Renata Augusto), se mostrou limitado para tantos meses no ar. O resultado foi a perda de destaque delas, incluindo a inserção de Rebeca (Malu Mader) em repetitivas e tediosas idas e vindas com Aparício, a separando sutilmente das demais. A única que conseguiu manter situações atrativas foi Leonora, que passou a formar uma dupla com Dinalda, protagonizando divertidas cenas em busca da fama. Ellen Roche sambou na cara de muita gente e mostrou que pode viver papéis que não explorem só seu corpo. A participação da ex-BBB Ana Paula deu um gás para o núcleo. Já Penélope (Carolina Ferraz) formou um lindo casal com Henrique (Nando Rodrigues), mas os dois acabaram ficando de lado após Beto descobrir que o melhor amigo estava namorando sua mãe, sem grandes conflitos. Só nas semanas finais houve a entrada da mãe esnobe do rapaz (vivida pela Sônia Lima), proporcionando boas cenas com a futura nora, ambas quase da mesma idade. Mas era tarde e a falta de aproveitamento de um casal que havia funcionado ficou claro.


A história mais bem-conduzida da trama foi a do casal Shirlei e Felipe. Sabrina Petraglia e Marcos Pitombo esbanjaram química, gerando uma enorme torcida e se tornando o maior destaque da novela, apesar de, em alguns momentos, a ingenuidade excessiva de Shirlei e o tom romântico de conto de fadas ter esbarrado no piegas, com direito a duas vilãs perversas: Jéssica e Carmela (Karen Junqueira e Chandelly Braz ótimas). Marisa Orth e Paulo Tiefenthaler também formaram um casal adorável como Francesca e Rodrigo, principalmente em relação às "maluquices" dele (que sofria de TOC). Marisa, aliás, se saiu muitíssimo bem no drama.

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As loucuras de Fedora para conseguir mais seguidores na internet. O filho mau-caráter que rejeita e engana a mãe pobre e batalhadora. O príncipe encantado que coloca o sapatinho de cristal (no caso, bota ortopédica) na Cinderela. As vilãs terrivelmente más e diabólicas. As aulas de balé que Tancinha fazia, onde sofria bullying das colegas; bem como as armações de Fedora e Leozinho para sabotar a cantina da feirante, como se disfarçar de velhinhos e criar uma guerra de cupcakes, e as brigas ao estilo pastelão entre as duas. Haja Coração passou longe do sútil e apostou na ótica do exagero, pesando a mão tanto no melodrama, quanto na comédia. Ainda sim, mesmo que decepcionando pelo desenvolvimento fraco de várias tramas que poderiam tornar a novela ainda melhor do que foi, conseguiu divertir e emocionar sem deprimir o telespectador que liga a TV às 7 da noite querendo assistir a algo leve e efêmero.

sábado, 1 de outubro de 2016

Velho Chico: tecnicamente linda e perfeita, dramaturgicamente irregular e angustiante



Um espetáculo em forma de novela. Assim podemos definir Velho Chico, que chega ao fim entrando para a história como uma das novelas mais belas e inspiradas da nossa dramaturgia. Pelo menos, esteticamente falando sim. Ao apostar num texto sensível e cheio de metáforas e crítica social e numa direção que traduziu tais metáforas imprimindo uma estética barroca e lúdica, a transformaram num feito cinematográfico que não deixou a desejar a nenhuma produção hollywoodiana. É digna de ganhar o Emmy (anotem o que digo). Entretanto, deixando a mensagem visual de lado, novelisticamente falando, Velho Chico se mostrou muito irregular.

sábado, 27 de agosto de 2016

Eta Mundo Bom foi um "feijão com arroz" requentado que deliciamos como um manjar dos deuses



Existem duas formas de assistir Eta Mundo Bom. Ou você embarcava na total despretensão da novela (deixando de lado os vícios do autor e de parte do elenco) e acabava se divertindo com o universo criado por Walcyr Carrasco ou fincava o pé no perfeccionismo e torcia o nariz para as inúmeras repetições e problemas que a trama apresentou. O público preferiu a primeira opção, afinal, a novela se tornou um fenômeno de audiência e terminou com média geral de 27 pontos na Grande São Paulo (a maior do horário das seis desde 2007, com o fim de O Profeta).

Particularmente, em qualidade, nesse período de 2007 pra cá, ainda prefiro largamente tramas como Sete Vidas, Além do Tempo, Lado a Lado, Cama de GatoA Vida da Gente Cordel Encantado e considero-a a mais fraquinha das tramas das seis escritas pelo Walcyr (Alma Gêmea, Chocolate com Pimenta e O Cravo e a Rosa foram bem superiores). Se eu fizer um "Encontre o erro" em Eta Mundo Bom, não hei de terminar de apontar todos eles tão cedo.

O mais evidente deles é a Filomena (Débora Nascimento), uma das mocinhas mais fracas e insuportáveis da teledramaturgia brasileira, tanto pela má trajetória criada pelo autor, quanto pela má atuação de sua intérprete (leia AQUI). Aliás, o que não faltou em Eta Mundo Bom foram atuações canastronas. São os casos, além da dita cuja, de Eriberto Leão (Ernesto), Rainer Cadete (Celso), Klebber Toledo (Romeu), Flávio Tolezani (Araújo), Giovanna Grigio (Gerusa), Rômulo Neto (Braz), Guilhermina Guinle (Ilde), entre outros. Falei mais detalhadamente sobre os atores e atrizes que mais se destacaram (para o bem e para o mal) na novela bem AQUI.

O texto (didático) do Walcyr também foi outro ponto sofrível. Enquanto os personagens da cidade falavam um português extremamente culto e corretíssimo, com o verbo sempre no infinitivo ("Sandra está a tramar algo!", "Estou a esperá-lo", "Hei de conseguir", etc), os da fazenda falavam todos errado e com um sotaque caipira pra lá de caricato e estereotipado.


Poderia falar também dos núcleos que não foram bem desenvolvidos ou que só serviram para encher linguiça. Como o casal Gerusa e Osório (Arthur Aguiar), que teve inspirações em A Culpa é das Estrelas e foi afetado pela atuação inexpressiva da Giovanna Grigio e pela falta de química entre os dois atores. Se o tema da leucemia era para emocionar, missão realizada sem sucesso. Outro núcleo dispensável era a da madrasta má com o enteado cadeirante. Nada ali fazia sentido: nem o ódio gratuito que Ilde sentia pelo enteado, nem o fato de Cláudio (Xande Valois) nunca revelar ao pai as humilhações que sofria dela. Depois de mais de cem capítulos adormecido em seu jardim secreto, o núcleo só veio ganhar função a partir do momento em que Sandra (Flávia Alessandra) usou Araújo para roubar a fortuna da titiiiiiia. A vingança de Braz contra o pai também demorou demais para, enfim, ter função e ganhar outros desdobramentos. Aquele povo lá da radionovela "Herança de Ódio" também foi dispensável e poderiam serem excluídos sem grandes prejuízos. Aliás, pruma novela que promove uma radionovela de verdade em seu site oficial ("Herança Do Ódio" existiu no Gshow), pouquíssimos personagens de Eta Mundo Bom a ouviram. E o que dizer daquele núcleo da Emma (Maria Zilda Bethlem) e dos "amigos" Tobias (Cleiton Morais) e Lauro (Marcelo Arjenta)? Totalmente desnecessários!

Poderia criticar também a repetitividade e os inúmeros giros dos acontecimentos da trama que foram se desgastando até cansar. Alguns casos: as maldades de Ilde contra Cláudio, as inúmeras tentativas do Romeu em se casar com Mafalda (Camila Queiroz) e comprar a fazenda, as inúmeras tentativas da família de Cunegundes (Elizabeth Savalla) tentando vender a fazenda (que estava em leilão desde o começo da novela), os inúmeros planos mirabolantes da Sandra e do Ernesto tentando dar um golpe em Anastácia (Eliane Giardini), as inúmeras tentativas de fazer o cegonho do Pandolfo (Marco Nanini) voar, os inúmeros disfarces do Pancrácio (Marco Nanini), as centenas de vezes que Gerusa e Osório dançaram valsa, a indecisão de Mafalda sobre qual cegonho escolher (ela só decidiu no último capítulo), os casamentos desfeitos em pleno altar, as guerras de comida, os banhos de chiqueiro, entre outros ciclos viciosos.


Também foi possível identificar milhares de semelhanças em Eta Mundo Bom com outros folhetins do Walcyr. O autor conduziu sua história reutilizando vários elementos conhecidos de suas novelas anteriores da faixa, como a comédia pastelão através das guerras de comida, dos banhos de chiqueiro, casamentos fracassados, núcleo na fazenda com caipiras e bichinhos de estimação e na tentativa de emplacar bordões e expressões à constante repetição (os principais exemplos foram o bordão "Meu nome é CU-negundes!" , dito pela fazendeira quando alguém lhe chamava de "Boca de Fogo", e a expressão cegonho para se referir ao órgão sexual masculino). A Sandra (pelo menos, no início), em muito, lembrou a Cristina de Alma Gêmea (ainda mais porque ambas são loiras e vividas pela Flávia Alessandra); assim como a Mafalda parecia mais uma reedição da Mirna (Fernanda Sousa) de Alma Gêmea (só trocou a pata pela porquinha) e o final de Gerusa e Osório, felizes para sempre "em outra vida", lembrou muito o desfecho de Serena e Rafael (Priscila Fantini e Eduardo Moscóvis) de Alma Gêmea. Já vimos também mulheres encalhadas como a Eponina sonhando em se casar e o Ari Fontoura vivendo um marido submisso em outras tramas do autor. Para alguns, esta ideia se caracteriza uma total falta de ousadia e criatividade, enquanto outros pareceram não se importar com o fato.

Foi como eu disse no início dessa matéria: ou você embarcava na total despretensão da novela (deixando de lado os vícios do autor e de parte do elenco) ou fincava o pé no perfeccionismo e torcia o nariz para as inúmeras repetições e problemas que a trama apresentou. Quem optou pela primeira opção e ligou o "dane-se" para todos esses pontos negativos apontados fartamente anteriormente, acabou se divertindo com o universo criado por Walcyr Carrasco. E, afinal de contas, não é isso que se espera de uma comédia romântica? Fazer rir?


Com sua receita simples, seus personagens queridos, populares e carismáticos (como Candinho, Pancrácio, Anastácia, Pirulito/JP Rufino, Mafalda, Cunegundes, Eponina, Zé dos Porcos e Maria/Bianca Bin) e, principalmente, sua mensagem otimista de que tudo que acontece de ruim na vida da gente é para melhorar (falei sobre isso AQUI), o autor conseguiu um feito admirável e que poucos autores de novelas alcançam com tanta frequência quanto ele: a de unir todas as massas em torno de uma mesma história em um determinado horário.

Em tempos de noticiário carregado de violência e escândalos das mais variadas origens, a trama virou um antídoto eficiente contra a soturna realidade. Eta Mundo Bom nos remeteu aquelas clássicas novelas em que nos tornávamos público cativo, sentadinhos à frente da TV, naquele horário certinho, levantando só para ir ao banheiro na hora do intervalo para não perder nadinha. Mesmo nesses tempos de concorrência acirrada, com outras formas de entretenimento e mil possibilidades de se assistir o que se quer à hora que se deseja (como pelo próprio Globo Play, da emissora), o gostinho de vê-la às 18hrs na TV tinha um sabor mais do que especial. Foi um feijão com arroz requentado que deliciamos como um manjar dos deuses. Eta novela boa!


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