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terça-feira, 11 de abril de 2017

BBB17 | A omissão da Globo e a distorção de valores e o fanatismo de 77% do público que apoiou o machismo de Marcos



Achei que a semana passada havia sido um divisor de águas. O caso José Mayer agitou as redes sociais e suscitou uma campanha contra o assédio liderada pelas funcionárias da Globo. O bafafá foi tão grande que a própria emissora precisou aderir ao movimento, suspendendo o ator e noticiando o episódio inteiro em seus telejornais. Os abusos cometidos pelos homens em casa, no trabalho ou em qualquer lugar não serão mais perdoados, pensei eu. A sociedade está evoluindo e mais consciente, refleti. Que tolo eu fui.

O que aconteceu no programa neste fim de semana foi gravíssimo e um verdadeiro inferno para quem tem o mínimo de discernimento sobre o certo e o errado para a vida em sociedade. Um certo participante em uma relação, até então, amorosa com uma colega de confinamento a abusou e agrediu física e verbalmente. Isso não é nem a pior parte, mas as consequências que a ação teve. Independente da trajetória da Emilly no programa (que demonstrou atitudes péssimas ao longo do jogo), o que ela sofreu nas mãos do Marcos foi algo nojento e inaceitável. Ele gritando. Cara de ódio. Dedo na cara. Aperta. Belisca. Machuca. Deixa marcas no corpo. Encurrala num canto. Agarra à força quando ela pede para ele se afastar. Força beijar quando ela não quer. Impede que ela fale. Ameaça e intimida valendo-se da maior força física. Esses foram alguns dos atos feitos pelo Marcos contra Emilly, que se encolhia, com o corpo tenso de medo. Depois, pediu perdão e chorou lágrimas de crocodilo, jurando que a amava. Idêntico ao que milhões de homens fazem com suas mulheres pelo mundo afora. E ela acreditou e nem percebeu a relação abusiva em que estava. Idêntico ao que milhões de mulheres vivem diariamente (e acabam sendo assassinadas por isso).

A internet entrou em erupção. Ao longo de todo domingo (9), a hashtag #MarcosExpulso ganhou força. Tive a sensação de que o cara seria defenestrado pelo público depois do show de machismo explícito. Ou talvez até retirado do programa pela Globo. Afinal, por muito menos, um tapinha, Ana Paula foi expulsa da edição passada. A partir daí, ser #ForaMarcos deixou de ser uma simples questão de torcida e se tornou um assunto sobre o Brasil onde nós queremos viver, dando a chance do público mostrar o que realmente não pode mais ser tolerado. Mas, dessa vez, a Globo não interferiu, deixando para Emilly a responsabilidade de se livrar de seu agressor ou não – se ela quisesse, poderia expulsá-lo. E o mais chocante aconteceu: Marinalva foi eliminada com expressivos 77% dos votos. A audiência preferiu salvar Marcos. Por fim, a última pá de cal foi ver Emilly comemorar alegremente a vitória do brutamontes e sua própria família nem tchun pra isso, defendendo, inclusive, Marcos aqui fora. Por mais mulheres sensatas como a Vivian:


Relacionamento abusivo é o que acontece entre Marcos e Emilly. E, pior, ela sofre, sabe que sofre, mas volta atrás. Dizem que quem ama perdoa, mas quem ama alguém precisa se amar primeiro e se proteger, se manter sã e segura. Emilly perdeu sua consciência ao permitir que isso continuasse. Num país onde o assunto mais comentado na última semana foi o assédio sexual cometido por um ator veterano da Globo, a própria emissora, que puniu o seu funcionário, ter ficado omissa diante de tudo isso que aconteceu dentro de suas dependências, num reality onde tudo é monitorado e acompanhado por várias pessoas em todo o país, foi uma atitude covarde e lastimável. Teve que o pessoal do Twitter pressionar e ir uma delegada da Divisão de Polícia de Atendimento a Mulher ao Projac para investigar a conduta agressiva de Marcos e realizar exame de corpo de delito na Emilly para só assim a emissora tomar alguma providencia (expulsar Marcos do programa). A Globo voltou todas aquelas casas que avançou em nome da audiência.

Não sou mulher para falar com propriedade do caso e até me sinto um pouco estranho escrevendo sobre isso, mas não ficarei calado. Eu, homem, me senti acuado e assustado com as atitudes de Marcos – que já vinha encurralando, assediando e agredindo verbalmente os outros candidatos de uns tempos pra cá, sendo entre eles uma idosa e outra deficiente física – e não desejaria ver minha mãe ou minha irmã na situação que Ieda, Vivian, Marinalva e, principalmente, Emilly passaram. Saindo do mérito da Globo e sua parcela de culpa pela total omissão, é preciso tocar num ponto ainda mais importante: a torcida votante.


Sabe quando você pensa "não tem como tal coisa acontecer"? Pois é, foi o que eu pensei... Não tem como apoiarem um cara desses depois de tamanha falta de caráter e, acima de tudo, falta de humanidade que o mesmo demonstrou ter em rede nacional. Não tem como. Por que raios apoiariam? Vai contra todos os valores que a gente aprende desde cedo. Só que, infelizmente, eu estava enganado. Erroneamente enganado. Chegamos ao ponto onde esses fã-clubes de BBB se apoia em um fanatismo inexplicável e passa por cima de tudo acima citado. Caráter. Humanidade. Compaixão. VALORES UNIVERSAIS. Tudo porque escolheram amar e idolatrar um, até então, desconhecido. Amar e idolatrar alguém a quem não devem absolutamente nada. Amar, idolatrar e ignorar qualquer coisa que o mesmo fez, faça ou venha fazer.

A partir do momento que escolhem, poucos tem a dignidade de dizer, no decorrer do programa: "Pera lá, não estou aprovando as atitudes dessa pessoa". E menos ainda são os que abrem mão dela. Surreal, não? Se obrigam a estar com um desconhecido independentemente do que ele fizer. E o que esse fez, em questão, foi algo que me fez sentir desgosto e tristeza. E não só a mim. Eu vi milhares de telespectadores que detestam a Emilly defendendo ela, enquanto a própria torcida dela defendeu o indefensável. E mesmo assim não adiantou. O fanatismo falou mais alto do que todos nós e nos deu um xeque-mate.

Não adianta culpar apenas o programa por todas as incontáveis vezes que fizeram edições tendenciosas favorecendo o casal Mally (falei disso AQUI). Mas a culpa do que aconteceu no paredão de domingo é exclusivamente desses seres humanos que se cegam, que criam motivos absurdos para apoiarem outros absurdos, que passam da linha tênue entre torcer e perder a razão. Seres humanos jovens que são o futuro do país, que viram a cena que me horrorizou e ignoraram. Ou pior: concordaram. Concordaram com um homem expondo um assunto pessoal de um ex-amigo (Ilmar) que confiou nele, que se abriu e mostrou toda a sua preocupação e dor, falando ao vivo para o Brasil inteiro que esse ex-amigo não é um bom pai, expondo, inclusive, uma criança inocente. Concordaram com atitudes absolutamente machistas, onde este mesmo homem agrediu moralmente quase todas as mulheres da casa, até a própria namorada.


Ou seja: sujeitos como Marcos e José Mayer ainda têm a simpatia de uma parcela imensa da população. O comportamento deles não só é admitido, como perdoado, relativizado e recompensado. Sei que ninguém é perfeito e muitos ali já cometeram diversos erros, mas nada nunca foi tão triste de se assistir quanto o que aconteceu neste final de semana. Como bem disse Bial na edição do ano passado, o BBB não é vitrine de vícios e virtudes, porém, apoiar Marcos é de uma distorção de valores sem fim. E a campanha "Mexeu com Uma, Mexeu com Todas" ainda não pegou. Nem no público, nem na cúpula da Globo. Lastimável!

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