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sábado, 29 de abril de 2017

Fraca, Os Dias Eram Assim decepciona em não traduzir a real complexidade do que retrata



De um lado da história, temos Arnaldo (Antonio Calloni), um vilão com tintas carregadas. Um empresário arrogante, que maltrata a mulher Kiki (Natália do Vale) e tenta controlar a filha Alice (Sophie Charlotte). Mas vai além: não só apoia financeiramente o aparato repressor do regime militar, como sente um prazer sádico em acompanhar as sessões de tortura. Do outro lado, o idealista Túlio (Caio Blat), que adere à luta armada. Sim, idealista, pois na minissérie (ou supersérie ou qualquer outro nome que a Globo queira dar para suas novelas mais curtas) não existem as palavras comunistas e terroristas. Logo no primeiro capítulo, ele comete um atentado "light": solta uma bomba na entrada da fictícia Construtora Amianto, que pertence a Arnaldo. Sem vítimas, só uns poucos danos materiais, que é para manter a simpatia do público. Imediatamente capturado pela polícia, morre ao som de Walter Franco – um requinte a mais de crueldade.

Entre os dois extremos, há uma dezena de personagens que não está nem aí para a política. Como o protagonista Renato (Renato Góes), que se apaixona por Alice à primeiríssima vista numa passeata onde ambos estavam por acaso. Renato é irmão de Gustavo (Gabriel Leone), que é amigo de Túlio. Só por causa disso, o pai da mocinha irá infernizar sua vida, acusando-o de envolvimento com a subversão. Afastado através de mentiras de seu grande amor, o jovem médico será obrigado a se exilar do país. Esta é, em linha gerais, a trama central de Os Dias Eram Assim. Um romance proibido que começa em 1970 e vai até 1984.


As autoras Angela Chaves e Alessandra Poggi, pela primeira vez como titulares de uma obra, já colaboraram em inúmeras novelas e séries alheias. Aprenderam todos os clichês da nossa teledramaturgia, embora ainda não tenham conseguido traduzir a complexidade do período que escolheram retratar aqui. Nem todos os militares eram brucutus sanguinários que sentiam tesão em torturar alguém, assim como nem todos os "subversivos" eram anjinhos caídos do céu perseguidos inocentemente. Naquele momento, vários grupos que se diziam revolucionários estavam praticando atos contra o governo, desde sequestros de diplomatas estrangeiros a assaltos a bancos, passando por crimes contra figuras que apoiavam o regime. A maioria deles, inclusive, não lutavam pela democracia coisa nenhuma e sim para implantar o comunismo no Brasil.

Não estou querendo defender a ditadura militar. Longe disso. Porém, é como dizem: "o lobo sempre será mau se você ouvir apenas a versão da chapéuzinho vermelho". Os atos terroristas dos comunistas na série são amenizados e retratados como se fossem pura molecagem, sem vínculo com nenhuma organização de esquerda. Com um tema tão complexo quanto o que a série retrata, aqui não cabe maniqueísmo: não estamos falando de uma luta do bem contra o mal, entre vilões (os militares) e mocinhos (os comunistas), mas sim de revolucionários que praticavam terrorismo para implantar um regime comunista no Brasil, enquanto eram reprimidos com torturas e crimes obscuros pelo governo militar. Não havia inocentes. Não é à toa que a série vem fracassando na audiência (chegando a míseros 12 pontos) e repercute na web mais por conta dos telespectadores mais conservadores que resgatam imagens e vídeos daquela época para confrontar com a atualidade (através da hashtag #OsDiasNãoEramAssim) do que pela trama em si.

Pelo menos, nessas suas duas primeiras semanas, a supersérie carregou nas tintas do romance, distorcendo a real história e não se preocupando em examinar as contradições de um tempo ainda pouco explorado pela nossa teledramaturgia. Perdeu uma oportunidade de ouro. Não fosse pelas poucas cenas de violência, a série poderia ser facilmente uma novela das seis (como estava inicialmente prevista).

2 comentários:

  1. Triste a dona do blog apagar os comentários

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  2. Decepciona quem heim cara pálida, quanta gentinha sabichona ne, vai te catar

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Bora comentar, pessoal!

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