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quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Enxuto, elenco de Velho Chico é um dos melhores da história da teledramaturgia



Se existisse algum troféu de melhor elenco nas premiações de TV, Velho Chico seria a grande vencedora. Escolhido a dedo, enxuto e com muitos nomes desconhecidos do público da TV, é um dos melhores elencos que já vi na história da teledramaturgia. A fase atual soma menos de trinta atores fixos (sem as participações ocasionais), em poucos núcleos, o que possibilita que todo mundo apareça e tenha destaque. E elogiar este elenco é citar todos, sem exceção. Com certeza, o grande destaque de Velho Chico são as grandes interpretações, dignas de Oscars, de seu elenco tão bem afiado que mais parecem pedaços de sedas, um tecido fino e caro.

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Domingos Montagner - Não é exagero dizer que Domingos estava no melhor momento de sua carreira. Como o Santo de Velho Chico, o ator havia atingido um patamar na carreira em que nunca chegou. Domingos compôs um protagonista incrível. Com seu estilo único de atuação, o ator viveu um personagem intenso, de bom coração e que se esforçava para mudar o mundo e torná-lo mais justo, mas sem se tornar chato. Com Camila Pitanga, formou um casal que dava gosto de torcer. Sua morte trágica interrompeu uma carreira de alto nível. Triste demais.

Irandhir Santos - Já é característica do Irandhir se entregar até a alma para um personagem. Ele vem de uma carreira consagrada no teatro e sempre imprimiu seu talento ímpar nas produções que participou (como em Meu Pedacinho do Chão e Amores Roubados). Mesmo sendo um personagem que oscila entre a trama ficcional e a parte social de Velho Chico, onde Bento grita na nossa cara todos os desmandos que acontecem em Grotas e que pipocam igualmente no Brasil a fora, consegue nos dois eixos deixar o Bento numa linha coerente e digna de aplausos.

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Selma Egrei - A única atriz que passou pelas três fases da novela. Fico imaginando o que seria de Velho Chico sem os tremiliques e frases de efeitos da Dona Encarnação. Teria sido um tiro no pé se ela tivesse morrido mesmo na segunda fase, como estava programado. A atriz, que fez participações pontuais na TV e tem sua carreira toda alicerçada no cinema e teatro, é um espetáculo à parte na pele da velha mais rabugenta da teledramaturgia. Claro que a Encarnação tem toda aquela (perfeita) maquiagem de envelhecimento que ajudam na caracterização da centenária, mas sem o talento da Selma Egrei de nada adiantaria a pesada maquiagem.

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Marcelo Serrado - Inicialmente mostrado apenas como um personagem servil, o deputado Carlos Eduardo ganhou outros contornos nesta reta final e confesso que passei a gostar mais do personagem. Nesta última semana, ele botou as manguinhas de fora, se revelou o grande vilão da história e virou o novo Coronel Saruê, pondo abaixo a sua máscara inclusive para Afrânio, seu criador. A transformação do personagem serviu para mostrar também do que um ator é capaz quando tem um personagem que gosta em mãos. Era claro que o Serrado estava totalmente desmotivado com o Carlos Eduardo do início, praticamente, sem sentido dentro da trama, a não ser o fato de ser o marido da Tereza. O que na trama nunca serviu de empecilho para ela viver o amor ao lado de Santo. O ar asqueroso do ex-vereador, com aquele bigodinho quase imoral, deixa o personagem ainda mais crível e adoravelmente detestável.

Os atores que se redimiram dos erros e saem sob aplausos:


Camila Pitanga - No início, toda vez que via a Pitanga em cena, ficava esperando ela começar a latir que nem um cachorro louco querendo justiça pela morte do pai, acusando alguém sem provas ou armando um barraco por qualquer coisinha. Ainda tinha algo da insuportável Regina de Babilônia na Maria Tereza. Começando pela sofrência e o chororô. Felizmente, a atriz conseguiu encontrar o tom certo e mostrou todo o seu talento em muitas das cenas dramáticas que protagonizou. Regina foi, definitivamente, morta e enterrada à beira do São Francisco!

Iolanda vai atrás de Afrânio (Foto: TV Globo)

Antonio Fagundes - Na mudança da primeira fase para a atual de Velho Chico, todo mundo detonou a repentina mudança visual e psicológica, sem um motivo realmente convincente, do ''jovem Coronel Saruê'', vivido (brilhantemente) por Rodrigo Santoro, que se transformou no ''velho Coronel Saruê'' completamente diferente quando passou a ser interpretado por Antônio Fagundes. O novo personagem em absolutamente nada lembrava o antigo. O visual bufão, com peruca e roupas coloridas, o jeito bonachão e caricato de coronel arrogante ficou quilômetros longe da imagem humanizada criada por Santoro. Além da interpretação caricata de Fagundes, lhe pesavam seus trejeitos conhecidos do público de tipos como Bruno Mezenga (de O Rei do Gado) e Juvenal Antena (de Duas Caras). Nesta reta final, porém, a medida que Afrânio foi se desfazendo da sua máscara social e repensando a vida, o personagem se tornou mais humano e crível Antonio Fagundes deu um show de interpretação. Antes tarde do que nunca, né?

Christiane Torloni - Vivida magistralmente pela Carol Castro na primeira fase, houve bastantes discrepâncias na troca de fases com a Iolanda da Christiane Torloni, que transformou a personagem numa perua, daquelas que a atriz sempre interpreta na TV. Além disso, a Iolanda da fase atual foi murchando depois que veio viver ao lado do Saruê. Christiane, porém, aos poucos, conseguiu pegar macetes e trejeitos da Carol Castro e conseguiu transformar a Iolanda em um mulher excepcional e uma personagem inesquecível (e totalmente diferente) no seu currículo.

Os novatos que brilharam de igual para igual com os mais experientes:


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Lucy Alves - Camila Queiroz que me desculpe, mas Lucy é a maior revelação na TV dos últimos tempos! Cantora e compositora paraibana, Lucy ganhou fama na segunda temporada do The Voice Brasil, do qual ficou entre os finalistas. Por causa da carreira musical, sua estreia em Velho Chico foi vista com desconfiança, porém, de estreante, virou a grande sensação por sua interpretação visceral da, não menos visceral, Luzia. Ora louca, ora passional, nos acostumamos a amar a Luzia e até perdoar algumas maldadezinhas que ela fez no decorrer da novela. As cenas em que brigava pelo amor do marido, Santo, com a "cutruvia" da Tereza eram impagáveis.

Zezita Matos - Conhecida como a grande dama do teatro paraibano, não poderia ter estreado na TV de forma melhor do que na pele da doce e forte Piedade, a matriarca da família dos Anjos. Confesso que fiquei preocupado com a mudança de fases pensando em quem assumiria o papel que foi defendido nas duas primeiras pela perfeita Cyria Coentro. Mas, logo na primeira cena, felizmente, o receio se desfez e me apaixonei pela personagem e pelo talento dessa grande atriz que não poderia ter ficado tanto tempo reservado apenas para uma região do país.

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Giullia Buscacio e Gabriel Leone - Após dois trabalhos na Record, Giullia estreou na Globo em I Love Paraisópolis. Velho Chico foi sua terceira novela e a primeira das nove, porém, a jovem atriz atuou com segurança e chamou a atenção pela atuação firme. Como Olívia, protagonizou um romance bem shippável com Miguel, cujo intérprete, oriundo de Malhação, amadureceu e confirmou o talento que já havia mostrado em Verdades Secretas, brilhando, principalmente, nas cenas em que batia de frente com Afrânio. Os dois viraram os protagonistas da história.

Lucas Veloso - Filho do saudoso humorista Shaolin, ele usou Velho Chico para superar a morte do pai, de quem herdou o talento para a comédia. Na pele do menino Lucas, poderia ter passado em branco na trama se não fosse seu carisma e talento nato, conquistando o público ao imitar Silvio Santos, Tom Cavalcante e Galvão Bueno. O personagem cresceu em cena e, em muitos momentos, serviu como alívio cômico com suas tiradas dentro da densa e angustiante história.

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Lee Taylor - Se Lucy é a maior revelação feminina da novela, Lee é a maior revelação masculina. Ele tem grande experiência no teatro e no cinema, mas na TV é desconhecido do grande público (só havia feito apenas duas séries na HBO). Mesmo assim, foi convidado pelo diretor Luiz Fernando Carvalho para dar vida a Martim, um dos personagens mais importantes e ricos dramaturgicamente da novela. Em sua estreia, Lee surpreendeu pelas cenas de confronto com Antonio Fagundes e Marcelo Serrado e ganhou nossa simpatia por sua integridade e busca por justiça, além de todo charme e o jeitão meio rústico do ator. Sua morte, aliás, dói até agora.


Batoré e Saulo Laranjeira - Ex-A Praça É Nossa, Batoré estava fora da TV quando foi convidado para atuar em Velho Chico e surpreendeu em seu primeiro papel dramático na carreira como delegado. A participação seria apenas no início da novela, porém, o humorista agradou e foi chamado para a segunda fase. Ganhou novo cargo (secretário de segurança) e até nome (Queiroz) e foi fundamental na trama de Afrânio e Carlos Eduardo. O prefeito de Velho Chico também veio da A Praça É Nossa. Saulo Laranjeira saiu do humorístico, onde interpretava o deputado João Plenário, para atuar diretamente com Antonio Fagundes, Marcelo Serrado e outros atores do núcleo político da novela das nove. Raimundo, prefeito de Grotas de São Francisco cínico e conivente com a corrupção, é detestável e, ao mesmo tempo, risível.


Mariene de Castro - Cantora de samba, Mariene estreou na TV como Dalva, empregada da mansão dos de Sá Ribeiro. Com pouca experiência como atriz, ela impressionou nos capítulos finais, em que se empoderou, confrontou Carlos Eduardo, cansou das humilhações da família de Afrânio e deixou o trabalho para viver cantando, tal como a atriz. E que voz linda ela tem, né?

Os coadjuvantes que conseguiram agigantar um papel pequeno:


Gésio Amadeu e Suely Bispo - Uma trama com elenco enxuto tem suas vantagens. Os coadjuvantes, por mais pequenos que sejam, encontram mais espaço em cena para brilhar e quando esse coadjuvante está sendo interpretado por um grande ator, aí é nitroglicerina pura. São os casos desses dois. Interpretado pelo grande Gésio Amadeu, Chico Criatura e seu bar viraram uma espécie de ponto de encontro entre as famílias Saruê e dos Anjos nesta eterna guerra de forças. Chico, porém, sempre se manteve neutro e presenteou o telespectador com frases de efeito a cada novo embate. O mesmo vale para Suely com sua Doninha, cuja relação com a difícil Encarnação se não beirava a amizade, chegava perto disso e emocionou.


Luci Pereira - Ela já havia provado que consegue agigantar um papel por mais pequeno que seja. Ou vocês não se lembram da divertida Creusa, empregada intrometida que, assim como a gente, shippava  com todas as forças a Donelô com o Seu Stênio em Salve Jorge? Em Velho Chico, não foi diferente. A Ceci Raizeira é interpretada de uma forma tão crível que é impossível imaginar que aquilo tudo seja apenas encenação. É muita entrega de uma profissional a um personagem. Claro que o sotaque e a regionalidade da atriz ajudam muito na caracterização, mas independentemente dessa caracterização as cenas longas de diálogos entre ela e Dira Paes são verdadeiros espetáculos que só uma atriz com um talento ímpar consegue proporcionar.

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Umberto Magnani e Carlos Vereza - No retorno ao universo rural, Velho Chico recolocou em cena, em lugar de destaque, um personagem que andava em baixa na teledramaturgia: o padre. Seguidor de São Francisco de Assis, Romão buscava ser o moderador em uma região onde coronéis sempre fizeram o papel do estado. Ele não era um ''padre de passeata", mas não era servil aos poderosos. Magnani deu cara a este homem calmo e bom, que buscava permanecer íntegro e respeitado diante da paróquia submetida ao poder do coronel Afrânio. Devido a morte do ator, o personagem foi substituído por outro padre, Benício, seguidor da mesma filosofia religiosa. E Carlos Vereza não deixou a peteca cair, esbanjando sensibilidade e emoção.

É preciso também citar os ótimos trabalhos de Dira Paes (Beatriz), José Dumont (Zé Pirangueiro) e Marcos Palmeira (Cícero). Isso sem falar nos atores da primeira fase, né? Marina Nery (Leonor), Julio Machado (Clemente), Rodrigo Lombardi (Ernesto Rosa), Fabiula Nascimento (Eulália), Chico Diaz (Belmiro), Cyria Coentro (Piedade), Tarcísio Meira (Jacinto), Carol Castro (Iolanda), Júlia Dallavia (Tereza), Rodrigo Santoro (Afranio)... Todos impecáveis!

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Adorei o texto, porém gostaria de saber a sua opinião sobre a atuação da atriz que faz a Sophie (bom eu amei a personagem, e amei a novela)

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  3. Não curti muito não. Falei sobre ela nesse link, Álvaro >>> http://blogdoeucriticotucriticas.blogspot.com.br/2016/07/o-melhor-e-o-pior-da-semana-10-167.html?m=1

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