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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Uma novela perfeita precisa mesmo de um núcleo cômico?


Há três anos atrás, a crítica rasgava-se em elogios com relação à Avenida Brasil. Elogios merecidos, afinal, trata-se da novela mais interessante dos últimos tempos. O mesmo acontece atualmente com A Regra do Jogo, que, apesar de estar passando por problemas de audiência, vem colhendo muitos elogios (merecidos também, diga-se de passagem) da maior parte dos críticos. No entanto, esses mesmos críticos tratam as partes cômicas do enredo como o ponto fraco de ambas as tramas. Mas quem tem boa memória deve se lembrar que a crítica também rasgou seda para A Favorita, do mesmo autor, mas apontou que um núcleo cômico fez falta para quebrar o clima denso da trama principal. Com isso, fica a pergunta: uma "novela perfeita" precisa mesmo de um núcleo cômico?


Um segmento voltado à comédia dentro de um drama é um recurso dentro de um folhetim no intuito de oferecer um certo "alívio" diante da tensão da trama principal. Serve aos telespectadores como um momento de descanso que preparará seu espírito para o que virá a seguir. Em suma, arrancar algumas risadas e fazer do hábito de acompanhar uma novela um momento de diversão. Mas por que imaginar que um drama folhetinesco não pode surgir calcado unicamente em histórias mais sérias?

No caso de Avenida Brasil, as críticas negativas eram em relação ao núcleo Cadinho (Alexandre Borges), cujo tom farsesco das cenas do malandro destoavam do restante do enredo. Enquanto a trama como um todo buscava o naturalismo, Cadinho e suas três mulheres surgiam com um proposital exagero que usava e abusava de situações pra lá de surreais e absurdas. Além disso, a história corria totalmente alheia à trama principal, como se fosse uma novela dentro da novela. O que não é nenhuma novidade nas obras de João Emanuel Carneiro, né? Em Da Cor do Pecado, o núcleo de Pai Helinho (Matheus Nachtergaele) corria sem qualquer relação com o restante do enredo. Enquanto a ação principal se passava no Rio de Janeiro, o falso pai de santo aprontava todas no Maranhão. Apenas no início, quando a protagonista, Penha (Taís Araújo), amiga de Pai Helinho, morava lá no Maranhão, e no final, quando ele se mudou para o Rio, que o núcleo conversou com as outras histórias da novela. Já em Cobras e Lagartos, a família de Eva (Eliane Giardini) também viveu situações que pouco tinham a ver com a saga principal. E até mesmo A Favorita, acusada de não ter núcleo cômico, ofereceu doses de surrealidade quando a ex-retirante Maria do Céu (Deborah Secco) se casa com o gay enrustido Orlandinho (Iran Malfitano), que depois vira ex-gay, e o cotidiano desse inusitado casal, totalmente dentro de um apartamento, passou a ser uma novela à parte.


No caso de Avenida Brasil, caso Cadinho e suas três mulheres não existissem, a novela pouco mudaria. Até porque a história ofereceu alívios cômicos (ou tragicômicos) em personagens que orbitavam ao redor do núcleo principal e estavam bem mais integrados ao enredo, tais como, Leleco (Marcos Caruso), Muricy (Eliane Giardini), Ivana (Letícia Isnard), Adauto (Juliano Cazarré) e Zezé (Cacau Protásio), e até mesmo na grande vilã Carminha (Adriana Esteves). A Regra do Jogo apresenta a mesma situação. Romero (Alexandre Nero), Ascânio (Tonico Pereira) e Atena (Giovanna Antonelli), por exemplo, são personagens bem ricos dramaturgicamente e vivem numa atmosfera pesada e sombria, mas possuem uma dose de humor negro e irônico que quebra toda a densidade nas cenas. E não é que o trio é bem mais engraçado que os ditos núcleos cômicos da trama?


A família do Feliciano (Marcos Caruso) não chega a ser ruim, mas também não empolga. A história não parece ter andado muito: começamos com Vavá (Marcello Novaes) casado com Janete (Suzana Pires) e a traindo com Mel (Fernanda Souza); agora temos Vavá "casado" com Mel e a traindo com Janete. Isso é tão sem graça e tão clichê que dá até vontade de mudar de canal quando eles entram em cena. Ainda não entendi direito porque Janete continuou morando na cobertura, de baixo do mesmo teto que a amante do ex-marido. Muita falta de amor próprio, não? No Morro da Macaca, o único núcleo que funciona, embora ainda esteja longe de ser considerado algo excelente, é o de Merlô (Juliano Cazarré) com a mãe, Adisabeba (Suzana Vieira), e suas Merlozetes (Roberta Rodrigues e Letícia Lima). Mas é quando chega nos casais Oziel (Fábio Lago) e Indira (Cris Vianna) e Rui (Bruno Mazzeo) e Tina (Monique Alfradique) que a coisa desanda de vez. Alguém aí se importa com a história da patricinha que se muda pro morro e tem que se adaptar a nova realidade? E com o fato de Tina ter virado "favelada" e caído nos braços de Oziel, melhor amigo do marido, Rui? Eu não! A impressão que eu tenho é que eles só existem para poder cumprir os sete meses de duração da novela.

Em contrapartida, enquanto A Regra do Jogo apresenta uma trama principal excelente, mas com tramas paralelas fraquíssimas, é a novela das seis quem apresenta um conjunto bem mais harmônico entre drama e comédia. O núcleo da família Pasqualino começou sem empolgar muito. Não por conta dos atores, mas pela trama batida da mãe que queria emplacar a filha no círculo social dos ricos. Mas não é que ele cresceu na trama e realmente conseguiu divertir? Me arrisco a dizer que o paizão Massimo (Luís Mello), a deslumbrada Salomé (Inês Peixoto), a desengonçada Bianca (Flora Diegues) e a espevitada Felícia (Mel Maia) é o melhor núcleo cômico das novelas nos últimos tempos! Estou curioso para saber como ficará a família Pasqualino na segunda fase de Além do Tempo...


Mas falando de novela de uma maneira geral, a necessidade de um núcleo cômico é questionável. Um dos motivos apontados pelo fracasso de tramas como Em Família e Máscaras foi justamente a falta de humor. Em contrapartida, sucessos como A Vida da Gente, Sete Vidas e Poder Paralelo foram muito bem construídas sem a necessidade de um quadro a la Zorra Total entre uma cena e outra. Núcleo cômico não deveria ser uma obrigação, e sim uma necessidade dramática. Um bom exemplo disso é Escrito nas Estrelas, que trazia uma trama espiritualista séria e interessante em seu centro, mas partia para cenas constrangedoras com os personagens ditos cômicos, aborrecendo, assim, o público. Caso o enredo não peça ou se não for para verdadeiramente divertir, melhor não ter!



5 comentários:

  1. Super concordo e só senti falta de Meu Pedacinho de Chão ai...n acredito q eu era a única q gargalhava nas cenas ...principalmente com o Rodapé....

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    1. Verdade, Amanda. Meu Pedacinho de Chão era maravilhosa em todos os sentidos!

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  2. Acho importante que haja um núcleo cômico para dar uma aliviada na seriedade, mas tem que ser bom não como em BABILÔNIA que os personagens faziam chorar ao invés de rir.

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  3. Em um contexto geral, os próprios protagonistas deveriam ser engraçados para não precisar dessa besteira do núcleo cômico.

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  4. A protagonista de "Da cor do pecado" não se chamava Penha.

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Bora comentar, pessoal!

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