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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O que seria de Eta Mundo Bom! sem o clã caipira?


A doce caipirice sempre foi o ponto alto das novelas das seis do Walcyr Carrasco. Em outros tempos, a mocinha casadora Mirrrrrna (Fernanda Souza) roubava a cena em Alma Gêmea. O irmão da donzela, Crispim (Emílio Orciollo Netto), espantava todos os pretendentes da irmã e jogava os rapazes no chiqueiro. Em O Cravo e a Rosa, o caipira bronco, rude e grosseirão de Petruchio (Eduardo Moscovis) foi capaz de conquistar o carinho do público e amansar o coração da geniosa Catarina (Adriana Esteves), uma combinação improvável, mas adorável. Impossível não lembrar também da divertidíssima Márcia (Drica Moraes), que, em Chocolate Com Pimenta, sonhava em ficar rica e não arrumava marido por ser muito exigente. É que ela era muito chique, benhê! Com Eta Mundo Bom!, mais uma vez, um núcleo caipira se torna o grande destaque de uma trama assinada por Walcyr.


Candinho (Sergio Guizé) foi para a cidade grande, mas não perdeu a ternura. Entretanto, é a família adotiva do protagonista, que ainda vive na fazenda, a grande atração da trama. Cunegundes e Quinzinho tentam, a todo custo, vender suas terras, mas sempre há algo bizarro e divertido que acontece. Elizabeth Savalla interpreta essa mulher brava e opressora, que tem o apelido de Dona Boca de Fogo. Manda no marido e vive tentando casar as filhas com homens ricos para tentar sair do buraco. Figurinha carimbada nas novelas do Walcyr, ela é sempre muito bem valorizada pelo autor. Mesmo com um sotaque caipira puxadíssimo que chega a dar dor nos ouvidos, ainda mais quando começa a espernear, é a Cunegundes que dá o tom da novela e consegue arrancar boas risadas do mesmo jeito. Ainda mais ao lado de Ary Fontoura. Os dois possuem uma ótima parceira em cena.

Em meio às confusões do casal, está a doce, ingênua e romântica Mafalda, filha de Quinzinho e Cunegundes, uma jovem que já está "ficando pra titia", afinal, "é arta demais e os hômi não gosta". Impossível não amar a personagem e sua porquinha Lili! Camila Queiroz vem comprovando porque é uma das maiores revelações da TV nos últimos tempos, com uma personagem que lhe exige tanto quanto a Angel de Verdades Secretas. Outra solteirona que marca presença nesse núcleo familiar é Eponina, irmã de Quinzinho. Uma interpretação cuidadosa e brilhante de Rosi Campos, que há tempos era subaproveitada e não ganhava um papel à altura do seu talento. Apesar de Anderson Di Rizzi ser um ator limitado e estar sempre interpretando o mesmo personagem em toda novela, é preciso admitir que ele também vem se destacando positivamente com seu Zé dos Porcos. Completam o quadro familiar: Miguel Rômulo (o filho Quinzinho), Dhu Moraes e Jennifer Nascimento (as empregadas Manoela e Dita) e Flavio Migliaccio (o vizinho Josias); todos muito bem afinados.

É fato que desde que os protagonistas Candinho e Filomena (Débora Nascimento), filha de Quinzinho e Cunegundes, partiram para a cidade, o clã caipira foi ficando cada vez mais distante da história central da novela. Entretanto, o que seria de Eta Mundo Bom! sem a família da Dona Boca de Fogo?



Sempre defendi que a telenovela foi e sempre será feita para fazer o espectador sonhar e usar aquilo como um escapismo de um dia ruim de trabalho. Todos os detalhes presentes na atual trama das seis não estão lá a toa, muito pelo contrário. Eles mostram o amor de Walcyr Carrasco pela cidade de São Paulo, mesmo sendo a cidade grande da década de quarenta. Apesar de desprezar o contexto histórico que ela passava naquele momento, vivendo um espantoso e sangrento êxodo rural de nordestinos tentando a vida melhor na cidade grande, o texto e os cenários possuem a intenção de trazer de volta o gosto do telespectador em assistir aquela novela de raiz, que se dá ao luxo de criar uma barriga de vez em quando, reciclar velhos clichês e divertir do telespectador mais velho ao mais novo. Talvez, seja devido a esse escapismo da realidade que Eta Mundo Bom! é um sucesso de audiência. Até o momento, a trama possui média geral de 22 pontos, a maior do horário das seis em quatro anos.

Infelizmente, tem alguns pontos que não são do meu agrado. O texto do Walcyr Carrasco é uma faca de dois gumes. Milimetricamente dito e marcado, empostado, quase um jogral, e teatral demais, alguns conseguem pronunciá-lo sem perder a naturalidade. São os casos de Elizabeth Savalla, Priscilla Fantin, Camila Queiroz, Rosi Campos, Sergio Guizé, Marcos Nanini, Eliane Giardini e Bianca Bin. Outros, no entanto, acabam ficando robóticos em cena. Servem como exemplos: Eriberto Leão, Débora Nascimento, Klebber Toledo, Flavio Tolezani, Rômulo Neto, Tarcísio Filho e, principalmente, Rainer Cadete (extremamente caricato, precisa se arriscar mais, se expressar com mais vontade).

Eta Mundo Bom! é uma novela muito lenta e sem grandes histórias. Nem mesmo o núcleo principal consegue me cativar. Para Anastácia (Eliane Giardini), achar o filho será uma grande alegria, mas se não achar também, que se dane. Até Maria do Bairro nos passava mais emoção quando estava a procura do seu filho. A mocinha Filomena é uma chata nível hard (já falei sobre ela aqui) e não desperta torcida alguma. O romance entre Gerusa (Giovanna Grigio) e Osório (Arthur Aguiar) é uma salada de chuchu sem tempero. Ainda não consegui entender o contexto de todo esse ódio exagerado e gratuito da Ilde (Guilhermina Guinle) com o enteado, Claudinho (Xande Valois). Por tudo isso, o clã caipira liderado por Cunegundes acaba destoando dos demais núcleos da novela, onde as histórias ainda engatinham e a maioria dos personagens não se mostrou totalmente ou não disse a que veio. Sandra (Flavia Alessandra) como vilã é uma delas. Cadê a Cristina 2 que a gente está esperando?!


Eta Mundo Bom! ainda não me pegou. É bonitinha, divertidinha, fofinha... É tudo muito "inha" demais. Nada acontece e as situações se repetem demais. Falta ação, falta gancho, falta motivo para assistir no dia seguinte. Nessa mesma altura da novela, que já está há mais de um mês no ar, Além do Tempo já estava super movimentada e nos enchendo de emoção. Com a atual, se você perde um capítulo, nem parece que perdeu. A trama tem um looooongo caminho pela frente. Estima-se mais de 200 capítulos. Conhecendo o histórico de Walcyr Carrasco, "barriga" é o que não vai faltar!

Se A Regra do Jogo deveria ser só o núcleo central, Eta Mundo Bom! deveria ser só o da fazenda.

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