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sábado, 15 de outubro de 2016

O Melhor e o Pior de “Laços de Família”



Uma vez sucesso, sempre sucesso! A reprise de Laços de Família chegou ao fim no Canal Viva marcada pelos altos índices de audiência para o canal pago e com grande repercussão nas redes sociais. Rever o folhetim pela terceira vez (sim, eu vi em 2000 e no Vale a Pena Ver de Novo) serviu para sentir saudade dos áureos tempos em que Maneco sabia criar um novelão, atestar a excelência da trama, mas também para reavaliar alguns pontos comprometedores que passaram despercebidos naquela época. Por isso, listo aqui o melhor e o pior de Laços de Família.

     O MELHOR     


Texto


Sem sombra de dúvida, sua maior qualidade. Foi com essa novela que Maneco confirmou a excelência de seus diálogos e seu potencial em desenvolver tramas folhetinescas com boa dose de realismo, o que garantiu a audiência da trama, se firmando, de vez, como cronista do cotidiano. As falas dos personagens soam como poesia. Suas histórias, suas lições, seus devaneios... Laços de Família, mais do que ver, é boa de se ouvir (tanto pelos diálogos bem escritos, quanto pela trilha sonora maravilhosa)! Sem contar que a trama, que Maneco retirou de uma notícia de jornal (em 1990, nos Estados Unidos, uma mulher tinha uma filha que estava com leucemia; então, ela engravidou para salvar a menina e conseguiu o que pretendia), foi muito bem construída, garantindo emoções a toda semana e desempenhos irretocáveis do elenco, conduzido pela direção primorosa de Ricardo Waddington. Novelão clássico!

Trilha sonora


Uma das melhores de todos os tempos. União perfeita de música sofisticada com apelo popular. Tudo nessa trilha remetia à novela: desde as ensolaradas bossas-novas, passando pelos hits ensolarados até as baladas mais românticas. Tudo tinha cara de sol, mar, Leblon e combinava com cada personagem. Destaco “Como vai Você” (tema da protagonista Helena num belíssimo arranjo e uma interpretação tocante de Daniela Mercury), “Próprias Mentiras” (tema de Íris na voz de Deborah Blando), “Solamente Una Vez” (tema de Alma cantada por Nana Caymmi), “Baby” (tema de Camila na voz dos Mutantes), “Man, I feel like a woman” (delicioso country que foi tema de Cíntia), “Save me” (da banda Hanson que embalava as cenas românticas de Camila e Edu), “Spanish Guitar” (tema de Capitu na voz de Toni Braxton) e “Love By Grace” (canção de Lara Fabian imortalizada na icônica cena em que Camila raspa os cabelos).

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Helena


Regina Duarte que me perdoe, mas considero a (deusa) Vera Fisher a melhor Helena de todas as novelas do Maneco! A Helena de Laços de Família nunca ligou para isso de que “mulher depois de certa idade não pode fazer isso, não pode fazer aquilo” e foi muito humana, forte e decidida (inclusive, cheia de erros e imperfeições) e muito mãe ao abnegar certas coisas de sua vida e cometer algumas loucuras pela sua filha (que era um porre, mas era filha dela). Atraente e sensual, Vera foi a escolha perfeita para viver a protagonista, o que tornou crível seu romance tanto com o novinho Edu, quanto com o maduro Miguel. É o melhor trabalho na vida da Vera Fisher. Uma pena que, depois da Helena, tenha decaído tanto na carreira, chegando ao abismo com a Irina (aquela que só vivia sentada e só fazia a contabilidade em Salve Jorge).


Camila vs Íris


Totalmente compreensível a rejeição do público à personagem de Carolina Dieckmann, antes da doença que a humanizou (e a tornou mais digerível, embora ainda irritante com sua infantilidade e vitimização exacerbadas). Impossível torcer por ela e seu romance com Edu, tamanho era o cinismo com que se dirigia a mãe e a sem-vergonhice com que avançava sobre Edu quando este ainda namorava Helena. Por sorte, tivemos a espevitada Íris (melhor papel da Débora Secco) para colocar a “Judas” em seu devido lugar! Enquanto todo mundo na novela achava tudo lindo, fofo e romântico, Íris ficava chocada cada vez que via Edu e Camila juntos e jogava a verdade na cara dos dois pilantras, representando o público com louvor e dando graça a trama com suas picuinhas e provocações. Um perfil complexo, onde a maldade e a fragilidade se misturavam a todo momento. O seu amor e dedicação pelo machão Pedro também rendeu cenas hilárias.

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Capitu


Mãe solteira, a bela se prostituía as escondidas para sustentar a família e o filho e fugia daquele esteriótipo de que toda garota de programa era uma maníaca sexual malvada e louca por dinheiro. Capitu foi uma personagem tão do bem e sofredora que acabou se tornando uma das personagens mais queridas da trama. Ela passou por uma verdadeira via-crúcis, que incluiu as investidas do obcecado Orlando (Henri Pagnoncelli perfeito), as ameaças do marginal e pai de seu filho Maurinho, a falsiane Simone e era atazanada pela despeitada Clara (Regiane Alves maravilhosa), que não admitia perder o marido, Fred, para ela. Embora tenha tomado algumas decisões equivocadas e até meio incoerentes (alguém sabe explicar porque, após Clara revelar seu ofício para todo mundo, Capitu se sujeitou a um casamento com o pior de seus clientes, Orlando, ao invés de ser feliz com Fred?!), esse foi o primeiro papel de grande destaque da Giovanna Antonelli, que a fez alçar voos maiores, tornando-se a mais nova estrela global. 

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Alma


Belíssimo trabalho de Marieta Severo (que lhe rendeu até prêmio de melhor atriz). Alma fez de tudo pelos sobrinhos órfãos, Edu e Estela. Por trás de tanta dedicação, no entanto, havia inúmeros segredos. Foi a pedrinha no sapato de Helena e implicou com a Camila, quando esta ficou doente. A atuação da megera e as suas artimanhas para fazer com que as pessoas dançassem conforme a sua música foi um dos grandes destaques da trama.

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Miguel


Um plot muito poético da trama foi a exploração da solidão de Miguel, após perder a esposa e ter que criar de dois filhos jovens, Ciça (Julia Feldens) e Paulo (Flávio Silvino), este último com sequelas físicas do acidente que vitimara a mãe e, curiosamente, viveu na trama o drama que o próprio ator vive na realidade para tentar se reintegrar à sociedade. A relação de Miguel com Ciça foi uma delícia, transbordando amor e sintonia. Ela, com sua espontaneidade e sinceridade nas palavras, conseguia quebrar toda a formalidade dele. Tony conseguiu nos passar, por meio de um texto muito bem escrito, o vazio do personagem, que se enterrara nos livros e poemas para fugir da vida real. A sua paixão por Helena também rendeu belas cenas, apresentando um amor platônico e idealizado. E eu torci MUITO pelos dois (apesar dele ter sido compreensivo até demais com a Helena, que, verdade seja dita, brincou com os sentimentos dele).

Leucemia



Eu achei a Camila chata? Eu achei a Camila chata! Mas é preciso destacar o talento de Carolina Dieckmann, que apenas exerceu (muitíssimo bem) aquilo que lhe foi proposto, emocionando em cenas de forte carga dramática depois da virada que a sua personagem teve com a descoberta da leucemia. No capítulo em que Camila teve seu cabelo raspado por causa da doença (exibido originalmente em 11/12/2000, ao som de “Love By Grace”), 79% dos televisores ligados do país estavam sintonizados na novela. A produção trouxe para a tela uma sequência real, em que a atriz, aos prantos, tem as suas madeixas loiras tosadas na frente das câmeras, se tornando uma das cenas mais memoráveis e emocionantes da história da nossa teledramaturgia.

Essas imagens, inclusive, foram usadas posteriormente numa campanha da Globo sobre a doação de medula. Por essa campanha, a emissora foi a ganhadora do “BitC Awards for Excellence 2001”, na categoria “Global Leadership Award”, o mais importante prêmio de responsabilidade social do mundo. Isso só confirma a habilidade do Maneco em aliar uma boa narrativa com merchandising social. Nenhuma novela mostrou tão bem o tratamento do câncer passo a passo como Laços de Família. E isso se refletiu na vida real. De novembro de 2000 a janeiro de 2001 (enquanto a novela esteve no ar), a média de cadastrados no Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME) saltou de vinte para novecentos por mês (um crescimento de 4.400%). Um ótimo serviço prestado pela novela!

         O PIOR         



Machismo velado


A reprise de Laços de Família serviu para que eu pudesse notar a construção de estereótipos machistas velados, incapazes de serem percebidos por mim quando a vi pela primeira vez.

José Mayer é o galã desejado por dez entre dez telespectadoras. Mas é inadmissível que uma mulher se submeta ao tratamento machista do Pedro e, principalmente, que o personagem tenha sido considerado o galã-mor da trama na época. Pedro, na verdade, por preferir a companhia dos bichos e ser um personagem recluso, acabou se tornando uma besta fera irracional, uma composição de machismos hediondos. Maneco construiu o Pedro como se ele fosse tudo que um homem gostaria de ser: é másculo, viril, tem uma amante independente, tenta seduzir a prima e ainda tem na cola uma ninfeta que se “guardou” para ele. E absolutamente o tempo todo ele é perdoado, justificado e até admirado. A única pessoa que poderia contradizê-lo, que seria a Cíntia (Helena Ranaldi), acaba confirmando-o. Ficou a ideia de que, no fundo, toda mulher tem mesmo é tesão pelo homem que a maltrata, a humilha e lhe agarra a força. Um horror!

Danilo (Alexandre Borges) e Ritinha (Juliana Paes) em Laços de Família

Outro deslize calcado no machismo foi em relação a morte de Rita (Juliana Paes), que teve um caso com Danilo (Alexandre Borges), marido de Alma. A empregada morreu durante o parto e deixou os filhos gêmeos para que Alma criasse. Puniu-se a mulher, empregada que se “ofereceu” para o patrão. E perdoa-se o marido infiel, que, mais uma vez, “por ser homem”, teve apenas um “deslize”. Apresentado como inconsequente e imaturo e uma espécie de alívio cômico, tudo voltou a ser como era antes: Danilo terminou a novela outra vez na mansão da esposa, sem evoluir um milímetro de caráter, com os filhos sustentados por Alma e, muito provavelmente, com uma nova empregada, do tipo que aceitará de boa o assédio do patrão. Lamentável!

Em uma determinada cena, Silvia resolveu trocar as fechaduras de casa. O porteiro do prédio estava fazendo a troca, quando entram duas vizinhas pelo elevador. O seguinte diálogo acontece:

– Está trocando as fechaduras? Tentaram entrar? – Perguntam as vizinhas.
– Não, mas nunca se sabe. – Responde Silvia.
– Entraram no apartamento de um dos vizinhos, uma coisa horrível.
– Sim, eu li no jornal.
– Ainda por cima estupraram a empregada.

O porteiro, então, no alto de sua sabedoria, diz:
– Mas aquela ali também, usava umas saias curtíssimas. Estava procurando.

Silvia, então, faz uma cara de quem está com pressa e resmunga um “É”. Pronto, corte. Do lado de cá fiquei eu, esperando um momento onde alguma das TRÊS mulheres presentes falariam algo contra o machismo hediondo incutido na fala do porteiro. O que não aconteceu.

E teve vários outros momentos da trama que exalaram machismo e, em nenhum momento, Maneco sinalizou que era uma crítica a ser discutida. Como quando Ingrid ficava incomodada com o comportamento espevitado de Íris e dizia que a filha tinha puxado o gênio difícil do pai, mas que ele era homem (reticências impediram que ela completasse com “era homem e podia, meninas precisam ser recatadas”). Ou quando Dona Emma dizia para Capitu que ela deveria “casar na igreja, de branco, véu e grinalda, como toda moça direita e decente deve casar”.


Tratamento dado a Zilda


Mais uma vez, valeu a pena ver o quanto evoluímos em dezesseis anos. Em 2000, os elogios concedidos a Zilda (Thalma de Freitas) como "fiel escudeira e amiga da família" me faziam realmente acreditar que ela era bem quista pela patroa Helena e por todos com que com ela se relacionavam de alguma forma. Ledo engano! Zilda era tratada, praticamente, como uma escrava. Do início ao fim, passou 24 horas por dia vivendo unicamente em função da vida da Helena e arredores. Acumulava funções: de cuidar do almoço a babá dos filhos da Capitu e da Clara, das compras no mercadinho a enfermeira de Camila. Em nenhum momento é feito menção a sua jornada exaustiva de trabalho, recebimento de horas extras... Nada disso existia em 2000, então a gente aceitava um elogiozinho como recompensa. A amiga da família nunca foi convidada sequer para dividir a mesa com os patrões. E ainda ouviu certos impropérios por não ter cuidado de coisas que não lhe cabiam, como vigiar as temperamentais Camila e Íris ou não ter verificado que a fralda do Bruninho (filho da Capitu) estava suja. Com a PEC das domésticas, Zilda ficaria rica se processasse Helena, Camila, Clara e Capitu!

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Desperdício de talentos


Os primeiros capítulos indicavam planos mais ambiciosos para Ciça (Júlia Feldens), pedra no sapato de Helena e Camila pelo coração de Edu, infelizmente, pouco explorada no decorrer da narrativa. Lília Cabral também tomou chá de sumiço após a morte do marido e a mudança de Íris para o Rio de Janeiro, ficando sem nenhuma função lá na fazenda. E quando ela, finalmente, mudou para o Rio, acabou morrendo baleada durante um assalto (em uma cena emocionante, diga-se de passagem). Inclui-se aqui também a Sílvia (Eliete Cigarini), ex-mulher de Pedro, que jurou acabar com a vida dele após a separação e poderia ter rendido muito mais.


A cantoria de Ofélia


Se eu morasse no mesmo prédio que a Helena, já teria feito um abaixo-assinado para expulsar essa Ofélia do prédio por perturbação da paz. Ela não teve outra função na trama a não ser cantar (BERRAR!) ópera todo santo dia. Maneco poderia ter poupado meus ouvidos...

Barriga na reta final


É de se lamentar que, justo em sua fase mais emocionante, a novela mergulhou no período mais morno de sua narrativa. Praticamente, nada aconteceu após a descoberta da doença de Camila (só Helena mandando às favas a sua tão valorizada sinceridade, rompendo com Miguel para se deitar com Pedro). Muitos destes últimos capítulos deram sono. É óbvio que essa “barriga” não comprometeu a novela como um todo, mas digamos que rolou uma decepçãozinha e muita paciência para ouvir “Love by Grace” de 5 em 5 minutos em todo santo capítulo.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

A Favorita: o apogeu da genialidade e da ousadia de João Emanuel Carneiro


"Duas amigas que se tornaram rivais. Uma das duas cometeu um crime e está mentindo. São duas versões de uma mesma história. Quem, afinal, está dizendo a verdade? Flora ou Donatela?". Foi com essa premissa que João Emanuel Carneiro revolucionou a teledramaturgia brasileira.


Donatela (Claudia Raia) perdeu os pais num trágico acidente e acabou sendo adotada pela família de Flora (Patrícia Pillar), que era bem humilde. Quando crianças, as duas eram melhores amigas, ao ponto de, na juventude, formar uma dupla sertaneja, Faísca e Espoleta, administrada pelo caça-talentos Silveirinha (Ary Fontoura) e que chegou a fazer razoável sucesso na época. A parceria, porém, foi interrompida após as duas conhecerem os amigos Marcelo e Dodi (Murilo Benício), de quem se tornaram noivas. Donatela casou-se com Marcelo, filho do poderoso Gonçalo Fontini (Mauro Mendonça), dono de uma indústria de papel e celulose, enquanto Flora tornou-se esposa de Dodi, que era pobre e trabalhava na firma do pai do amigo.

A felicidade de Donatela e Marcelo, porém, durou pouco. O primeiro filho do casal, Mateus, foi sequestrado com seis meses de idade e nunca mais apareceu. Desde então, os dois passaram a se desentender com frequência. Flora, por sua vez, separou-se de Dodi e, depois, teve um caso com Marcelo. Engravidou dele e deu à luz uma menina, Lara (Mariana Ximenes), o que abalou ainda mais a relação entre Donatela e Marcelo e, principalmente, entre as duas amigas.

No auge da crise da ex-dupla Faísca e Espoleta, Marcelo é assassinado com três tiros disparados do revólver que estava nas mãos de Flora, pega em flagrante. Com base nos depoimentos da manicure Cilene (Elizângela), que presenciou o crime, e do Dr. Salvatore (Walmor Chagas), médico que prestou socorro a Marcelo no hospital e diz ter ouvido ele dizer o nome da mulher que o matou minutos antes de morrer, ela foi presa, condenada e separada de sua filha (na época, com três anos de idade). Donatela, que não perdoa a amiga de infância pela traição e por ter matado o marido, decide criar Lara e, tempos depois, se casa com Dodi.

A história de A Favorita, no entanto, começa bem depois de tudo isso, dezoito anos após o crime, a partir do momento em que Flora sai da prisão querendo provar a sua inocência, acusando a ex-amiga do crime pelo qual ela pagou, e se reaproximar de Lara. Donatela, por sua vez, não mede esforços para impedir que ela chegue perto de Lara, a quem diz amar como se fosse sua própria filha. No caminho das duas, surge o sedutor jornalista investigativo Zé Bob (Carmo Dalla Vecchia), que se envolve com Flora e depois com Donatela. Ele e Lara, mais do que nunca, se tornam o alvo de disputa entre essas duas mulheres que, um dia, foram amigas.


Com referências nas séries americanas e nos filmes de suspense (tanto pela condução da história, quanto pela fotografia escura e cheia de sombras), A Favorita revolucionou a teledramaturgia brasileira ao subverter o esquema folhetinesco tradicional apresentando uma história policial com uma protagonista e uma antagonista em detrimento de uma história de amor com um casal romântico central e em não revelar logo de cara quem era a vilã e quem era a mocinha da história. Durante os 55 primeiros capítulos, a novela girou em torno desse mistério e confundiu o público, que não sabia para quem torcer, pois o roteiro não deixava claro quem era a verdadeira assassina de Marcelo, quem estava mentindo, se Flora ou Donatela.

Ambas tinham versões muito bem convincentes. Donatela afirmava que Flora nutria uma inveja obsessiva por ela e sempre quis tomar tudo que é seu. Ela defende que Flora se casou com Dodi só para poder ficar perto dela e de Marcelo e atrapalhar seu casamento. Mas quando percebeu que, mesmo conseguindo engravidar dele, Marcelo nunca iria se separar, resolveu matá-lo. Segundo Donatela, Flora premeditou o assassinato, mas as coisas não saíram como o previsto. Ela conta que, no dia do crime, saiu de casa, mas voltou ao se lembrar que havia marcado hora com Cilene, sua manicure. Quando chegou, flagrou Flora atirando em Marcelo, o que foi confirmado por Cilene, única testemunha do caso. Depois de atirar em Marcelo, Flora ainda ia atirar nela. Para se defender, iniciou uma briga com a rival e quem pôs fim à luta foi Cilene, que conseguiu imobilizar Flora. Na briga, Flora e Donatela deixaram suas impressões digitais na arma, mas o depoimento de Cilene foi decisivo para condenar Flora. Assim como também o de Dr. Salvatore, que prestou socorro a Marcelo no hospital e garantiu que ouviu ele dizer que foi assassinado pela Flora minutos antes de morrer. De acordo com Donatela, ela e Dodi foram vítimas de Flora e a tragédia os aproximou. Ela ainda garante que ama Lara mais do que tudo nessa vida, que a garota lhe "salvou" no momento mais doloroso da sua vida e que, mesmo ela sendo fruto da traição do marido, decidiu criá-la como se fosse sua por ter se afeiçoada a menina e como uma forma de compensar o vazio deixado por Mateus, seu filho sequestrado.

Já na versão de Flora, Donatela é quem nutria uma inveja obsessiva por ela e sempre desejou tudo o que era seu, inclusive os rapazes com quem se envolvia. Flora alega que Donatela e Dodi sempre foram amantes e tanto ela como Marcelo foram vítimas de um golpe minuciosamente planejado. Donatela teria dado em cima de Marcelo já com o intuito de se casar com o jovem milionário, enquanto Dodi conquistaria Flora para se manter próximo à amante e ao dinheiro que ela passaria a ter. Além disso, o filho sequestrado de Donatela e Marcelo, na verdade, seria filho de Dodi. Para que Marcelo não descobrisse a verdade, o casal teria dado um jeito de sumir com a criança. Como a verdade veio à tona, Flora e Marcelo se aproximaram e redescobriram o amor. Quando Donatela descobriu que Marcelo iria se separar dela e que ela perderia todo o dinheiro que sempre quis, premeditou o assassinato, junto com Dodi. E deu um jeito para que Flora estivesse na casa de Marcelo no momento do crime e pagou para que Cilene e Dr. Salvatore testemunhassem para incriminá-la, o que acabou conseguindo. Segundo Flora, Donatela só criou Lara de olho na herança, já que a garota é a única herdeira de todo o patrimônio dos Fontinis.

Essa indefinição em saber em quem confiar também foi traduzida através dos personagens. Principalmente, pelo casal Irene (Glória Menezes) e Gonçalo, pais de Marcelo e avós de Lara. Irene se tornou a primeira aliada em defesa de Flora, acreditando em sua inocência e fazendo de tudo para reaproximá-la da neta. Ela sempre teve reservas em relação a Donatela, a quem julga ignorante e fútil. Gonçalo, por sua vez, sempre teve uma ótima relação com Donatela e não poupou esforços para afastar Flora de Lara. Um dos dois estava cometendo um erro terrível em defender a assassina do próprio filho. Pedro (Genésio de Barros), pai de Flora, também insiste em dizer que a própria filha é muito perigosa e nem um pouco confiável. A guerra declarada entre a mãe biológica e aquela que a criou deixa Lara abalada e confusa: ela, assim como Zé Bob e o público, não sabe em qual dessas diferentes versões de um mesmo assassinato acreditar.



Entretanto, embora ainda não houvesse uma vilã declarada, todas as evidências do roteiro apontavam Flora como uma mocinha injustiçada. O autor conduzia a trama justamente para que a cara de vítima da personagem conquistasse a confiança de quem assistia. Flora tinha um jeito simples, olhar sofrido, fala mansa e andar arrastado. Usava roupas discretas, sem nenhuma ostentação e até um pouco gastas. Como um anjinho, tinha os cabelos cacheados e loiros. Boa filha, amava e cuidava do pai, mesmo com Pedro a odiando e dizendo para que a filha não valia nada. Com uma história de vida sofrida, tinha uma postura de quem apenas queria se defender e tentar convencer a todos que pagou por um crime que não cometeu. Como não se sensibilizar com o drama de uma ex-presidiária, renegada pelo próprio pai, que tenta reconstruir a vida e luta para provar sua inocência e conseguir o amor da filha? Além disso, tinha como trilha sonora "É o que me interessa", de Lenine, uma música linda com um ritmo delicado e sensível.

Já Donatela era uma perua legítima. Metida e, por vezes, arrogante, vivia de nariz em pé e tinha um jeito exagerado de falar e gesticular. Usava um figurino tão espalhafatoso quanto ela: muito brilho, muita joia, muito luxo. Morena, cabelos sedosos e bem cuidados, pisa duro e parece estar pronta para passar por cima de quem atravessar seu caminho, mesmo que para isso tenha que usar de meios controversos. Dona de um gênio forte, tempestuosa, falastrona, vultosamente dramática, politicamente incorreta, de pavio curto, xinga, grita, briga, humilha. Uma dondoca fútil que se acha a dona do mundo, não faz questão nenhuma de trabalhar e adora comprar, gastar, ostentar e esbanjar dinheiro??? Não... Ela jamais poderia ser a mocinha da novela, nunca!

Dessa forma, Flora não se encaixaria de maneira nenhuma no papel de vilã da trama, mesmo quando passou a adotar estratégias tão desonestas quanto a rival para se vingar de Donatela (como convencendo Cilene e Dr. Salvatore a mudarem suas versões do assassinato de Marcelo na base da chantagem). Existe uma linha tênue entre justiça e vingança. Nada de surpreendente, portanto, que a certa altura ela achasse razoável se tornar tão cafajeste quanto a aparente vilã da história para provar sua inocência. Mas bastou um único capítulo para JEC desconstruir de maneira gradual tudo aquilo em que o público foi induzido a acreditar desde o início da novela.


Contrariando os clichês dramatúrgicos, onde a vilã é sempre a rica mimada e a mocinha a pobre batalhadora, o autor apresentou um capítulo recheado de tensão (sua principal característica) e o telespectador viu, após muitas semanas de mistério, a mulher humilde se revelar um demônio quando ficou cara a cara com sua rival, desencadeando novos entrechos e novos mistérios para a trama. Naquele momento, a novela tomava fôlego e caía definitivamente nas graças do público (uma vez que, devido ao início inovador e ao sucesso da tosca Os Mutantes, na Record, a trama enfrentava uma certa rejeição e o Ibope deixava a desejar), virando mania nacional.

A partir do capítulo 56, A Favorita virou outra novela. Ainda mais interessante e envolvente, com a derrocada de Donatela, que passa a ser perseguida por um crime que não cometeu, enquanto a vilã declarada consegue se infiltrar no clã dos Fontinis, dando-se início a um jogo de gato e rato. A partir daí, temos a chance de repararmos uma grande injustiça e finalmente torcer para a verdadeira mocinha da história conseguir provar sua inocência e desmascarar Flora.


Flora enganou a todos direitinho. Ela é uma psicopata clássica, pois por trás de seu jeito doce, carrega uma alma sombria e é capaz das maiores atrocidades. A grande questão é que A Favorita não é uma simples trama sobre a rivalidade entre duas mulheres. Ela é bem mais complexa e foi muito mais além do que isso. Flora amava Donatela. Um amor distorcido, doentio, às avessas. Mas não é um amor lésbico, de uma mulher por outra. Donatela é o motor da vida da Flora, o objetivo dela. Prova disso é que, quando descobre que a Donatela está viva, ela volta a ter a "razão" de viver, passando a persegui-la novamente. Donatela sabe que Flora foi uma menina que tinha medo do escuro e sofreu alucinações. Ela usa, nos últimos capítulos, essa tortura psicológica para assustar a vilã e faze-la confessar seus crimes. A Favorita não é apenas uma história policial, mas sim um drama psicológico. Se Donatela não fosse uma pessoa tão importante para a Flora, a vilã não iria fazer tudo para ficar com o rancho onde ela morava e com tudo o que foi dela. Teria fugido depois de ter ficado com todo o dinheiro dos Fontinis.

Patrícia Pillar, que já brilhava desde a estreia, mostrou sua capacidade cênica e fez de Flora uma das melhores vilãs da teledramaturgia, a partir da emblemática cena em que cai a máscara da víbora. E Cláudia Raia comprovou que sabe fazer drama com a mesma competência que faz comédia. Sua Donatela, que no início estava no comando, sofreu horrores e comoveu o público.


Um grande sucesso, A Favorita cativou a audiência e tornou a personagem de Patrícia Pillar um hit. Até hoje, Flora é uma referência de vilã. E ainda trouxe de volta ao imaginário popular a música Beijinho Doce, criação de Nhô Pai, que na novela era interpretada pela antiga dupla sertaneja Faísca e Espoleta. A música fez tanto sucesso que ganhou remixes na internet, com batidas pop, dance e funk, e a inclusão de frases e bordões marcantes de Flora. Não faltaram elogios ao ritmo alucinante que a trama apresentou, com ótimos ganchos e muitos acontecimentos em cada capítulo, não deixando-a como as famosas "barrigas" nunca.

A Favorita marcou a estreia de João Emanuel Carneiro no horário nobre e carimbou sua permanência no time de autores do primeiro escalão da Globo. Contendo cenas inesquecíveis de suspense (como o macabro assassinato de Gonçalo), várias viradas e uma trama central empolgante, a novela foi um sucesso de público e crítica, tendo em seu elenco grandes nomes como Glória Menezes, Mauro Mendonça, Mariana Ximenes, Ary Fontoura, Jackson Antunes, Murilo Benício e Lilia Cabral, que protagonizaram grandiosas sequências ao longo da trama.

Como eu disse certa vez nessa matéria AQUI, as tramas paralelas é o grande "calcanhar de aquiles" do JEC. Em A Favorita, não foi diferente, tanto é que foram cortadas da nossa edição sem grandes perdas para a história central. Entretanto, não posso deixar de mencionar uma subtrama muito interessante abordada na novela: a violência doméstica contra a mulher, missão dada e cumprida brilhantemente bem por Lilia Cabral, que conseguiu discutir um assunto difícil de ser abordado pela sua fragilidade - e a provável homossexualidade entre mulheres na relação de amizade de sua Catarina com Stela (Paula Burlamaqui). Jackson Antunes vivendo o marido machista Léo foi esplendoroso. Outro destaque foi o personagem Romildo Rosa (Milton Gonçalves), que interpreta um deputado corrupto envolvido no esquema de tráfico de armas. Fora todo embate ético, foi a primeira vez que uma família negra foi vivida numa novela das nove onde a temática do preconceito racial (ou social) não foi abordado como bandeira principal. Não que o racismo tenha acabado, longe disso. Mas, mostrar para o grande público que uma família negra possui outros conflitos inerente a origem racial foi algo inédito - e bem explorado.

Por tudo isso, considero A Favorita a melhor novela do JEC e, sim, bem melhor que Avenida Brasil (que também foi muito boa, é bom deixar claro isso). Desculpaê, Carminha!!!


A Favorita está sendo exibida (num compacto em 54 capítulos) atualmente na nossa página do facebook desde o início de maio e acaba de entrar em sua última semana. Você não pode perder! Clique bem AQUI para acompanhar.


quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Clássicos: Beto Rockfeller


Não é só do fenômeno Avenida Brasil que vive a nossa teledramaturgia. Pensando nisso, o Eu Critico Tu Criticas adotou a filosofia da grande cantora e pensadora contemporânea Débora do Falsete e também "vamos levar cultura para esse povo" com a seção Clássicos, que relembrará sucessos do passado que marcaram toda uma geração desde os primórdios da teledramaturgia brasileira. E para começarmos com pé direito, nosso primeiro clássico será a revolucionária Beto Rockfeller.


Era para ser só mais uma noite na boate Dobrão, local da moda em São Paulo no final dos anos 60, do qual o autor Cassiano Gabus Mendes, então diretor artístico da Tupi, era um dos sócios. Ele e o ator Luiz Gustavo passaram horas entretidos com um sujeito simpático e boa-pinta, que roubava as atenções da mesa onde se comemorava o aniversário de uma jovem da alta sociedade. O rapaz chegou, entregou flores à aniversariante, arrancou gargalhadas do grupo, tirou a garota para dançar e pediu que tocassem um tango. Os dois deram um show na pista de dança, foram aplaudidos e saíram juntos da boate. Curioso, Luiz Gustavo se aproximou da mesa e perguntou quem era o convidado. Ninguém conhecia. Tampouco ele havia sido convidado para a festa. O ator se lembra até hoje do comentário de Cassiano Gabus Mendes: "Este cara dá um ótimo personagem". Naquela noite, os dois já saíram dali com o nome do personagem definido: Beto, apelido bem brasileiro, e Rockfeller, sobrenome de uma das maiores fortunas internacionais da época. O próximo passo foi entregar a ideia nas mãos de Bráulio Pedroso, mas como o autor era do teatro e pouco entendia sobre televisão, seus textos eram adaptados pelo diretor da novela, Lima Duarte. Cassiano, Bráulio e Lima estavam por trás de uma trama simples, mas que marcou uma grande revolução na televisão brasileira.

Exibida e produzida pela extinta TV Tupi entre 4 de novembro de 1968 a 30 de novembro de 1969 no horário das oito da noite, Beto Rockfeller contava a história de Alberto (Luiz Gustavo), mais conhecido como Beto, um charmoso representante da classe média-baixa que morava com os pais e a irmã num bairro pobre de São Paulo e trabalhava como vendedor em uma loja de sapatos. Malandro e ambicioso que só, ele se transforma em Beto Rockfeller, primo em terceiro grau de um magnata norte-americano, e consegue penetrar na alta sociedade, através de sua namorada rica, Lu (Débora Duarte), filha dos milionários Otávio e Maitê (Wálter Forster e Maria Della Costa). Assim, ele consegue frequentar as badaladas festas e as rodas da mais alta sociedade paulistana, cheia de gente bonita e famosa mas sem poder tirar selfie com ninguém porque naquela época isso ainda não existia.
Nessas, Beto acaba ficando indeciso entre duas mulheres: a temperamental e sofisticada Lu, rodeada de gente importante, e a inocente Cida (Ana Rosa), sua humilde namoradinha da vizinhança. Quem Beto preferirá afinal? Enquanto vacilava entre esses dois extremos, Beto tinha de fazer todo tipo de trapaça para que sua origem pobre, que já não era mais segredo para Renata (Bete Mendes), jovem grã-fina decadente, não fosse descoberta pela grã-finagem. Para se safar das confusões, o malandro conta sempre com a ajuda dos fiéis amigos Vitório e Saldanha (Plínio Marcos e Ruy Rezende).


Com uma história simples, Beto Rockfeller promoveu uma grande inovação na TV, dividindo a teledramaturgia brasileira em duas fases: antes e depois de Beto Rockfeller. Se o público atual reclama bastante dessa overdose de tramas realistas com repetição de ambientação (favela + Rio de Janeiro) e temáticas (realidade + violência urbana) que o horário nobre da Globo vem apresentando, nos anos 60, a overdose era de superproduções melodramáticas, privilegiando tramas rocambolescas de capa e espada, romanticamente fantasiosas e, em geral, ambientadas em longínquos cenários. A Tupi já estava em crise e, como não tinha condições para bancar uma superprodução, queria uma novela de baixo custo. A melhor maneira de baratear foi evitar vestuários e cenários de época para usar roupas comuns e incluir locações e externas. Essas mudanças exigiram inovações no texto. Bráulio Pedroso recorreu ao cotidiano urbano brasileiro, usando um tom coloquial nos diálogos, dando espaço para os improvisos dos atores e centrando o foco num anti-herói: um mero funcionário de uma loja de calçados que se infiltra na alta sociedade. Tudo isso fez Beto Rockfeller virar mania nacional.



O protagonista, que consagrou Luiz Gustavo como um dos melhores atores da teledramaturgia brasileira e o alçando a popularidade nacional, passava longe do galã convencional. Esperto, malandro, ambicioso e cheio de ginga, abusava do charme para se passar por milionário e manter duas namoradas, uma humilde e outra ricaça. Era uma ousadia um personagem como este nos anos 60. Se existiram tipos como Foguinho (Lázaro Ramos) e o Comendador José Alfredo (Alexandre Nero), devemos agradecer a Beto Rockfeller, o Pai de todos os galãs anti-heróis da nossa dramaturgia.

O tom leve e brincalhão era realmente bem diferente das novelas produzidas na época. Tudo o que se fazia, até então, era pautado pelo melodrama. Por isso, Beto Rockfeller foi um divisor de águas. O sucesso foi tanto que a novela acabou esticada em vários meses, provocando uma "barriga" imensa na história (mas que continuou mantendo a alta audiência) e uma verdadeira "deserção" na equipe. Bráulio foi substituído por uma trinca de autores, liderados por Eloy Araújo, Walter Avancini entrou no lugar de Lima Duarte e o próprio Luiz Gustavo se ausentou algumas semanas das gravações. É que a Tupi não queria terminar a novela de jeito nenhum. Tipo a Record com Os Dez Mandamentos, sabe? Por isso, em 1970, no rastro do sucesso da novela, foi lançado o filme Beto Rockfeller, dirigido por Olivier Perroy e protagonizado pelo ator-personagem Luiz Gustavo, mas nem de longe conseguiu obter a mesma repercussão. Em 1973, Bráulio Pedroso escreveu uma continuação: A Volta de Beto Rockfeller, com parte do elenco original. E, novamente, não conseguiu a repercussão esperada.

Foi em Beto Rockfeller que a telenovela recebeu o primeiro merchandising. Como Beto bebia muito uísque, Luiz Gustavo fez um acordo com um fabricante de um remédio contra ressaca, o Engov, e faturava cada vez que engolia o produto em cena. O combinado do ator com a empresa do Engov, que estava chegando ao mercado, era: cada vez que Beto dissesse a palavra “Engov”, o ator ganharia 3 mil cruzeiros (o salário da Tupi era só de 900 por mês). A novela foi também a primeira a utilizar tomadas aéreas. Os técnicos voaram de helicóptero para gravar uma cena de pesadelo do personagem-título. Outra inovação foi a trilha sonora, que deixou de trazer temas sinfônicos tocados por orquestras e utilizou sucessos pop da época para dar tema aos personagens e embalar as cenas de festa.

O diretor Lima Duarte representou, pelo menos, uns cinco papéis de personagens que desapareciam da trama sem que seus rostos fossem conhecidos pelas câmeras. Neste caso, não pela falta de um ator, mas pela carência do cenário. Ainda houve uma cena polêmica em Beto Rockfeller que causou o maior escândalo: uma cena de sexo entre os personagens de Ana Rosa e Luiz Gustavo. Os dois se beijam, se abraçam, a câmera desce para os pés e só mostra o vestido e o sutiã dela caindo, dando a entender que transariam. A censura da época caiu em cima, mesmo tendo sido sutilmente dirigida.

Hoje, infelizmente, não existem mais os capítulos da novela. O pouco que sobrou de suas filmagens está guardado na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Quase todos os capítulos foram apagados pela própria Tupi, que usava as fitas para gravar por cima os capítulos seguintes. A Tupi já passava por dificuldades financeiras e todos os projetos que apareciam tinham de ser feitos com baixos custos, mas que trouxessem lucros para a emissora. Beto Rockfeller foi um caso a parte, sendo um fenômeno de audiência e repercussão e obrigando a Globo a mudar completamente sua dramaturgia com Véu de Noiva. Mas essa história fica pra outro dia…


FONTES: Extratos da reportagem Antes e Depois de Beto, sobre os 40 anos da novela (jornal 'O Estado de São Paulo'), Teledramaturgia (do Nilson Xavier), De Noite Tem... Um Show de Teledramaturgia na TV Pioneira (de Mauro Gianfrancesco e Eurico Neiva, 'Giz Editorial') e Revista Pesquisa FAPESP.


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