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terça-feira, 1 de novembro de 2016

10 profissionais globais que precisam urgentemente descansar a imagem


Quem é noveleiro de carteirinha como eu, sempre tem preferência por esse ou aquele ator. O mesmo acontece entre autores e diretores de novela. Esse chamego artístico, no entanto, é uma máxima que vem se intensificando nos bastidores de escalação de elenco. Não sei vocês, mas a repetição de elenco cada vez mais tem me cansado. Um personagem ainda está vivo na mente de todos e, menos de cinco meses depois, o seu intérprete já está de novo na telinha.

O repeteco de carinhas nas novelas bíblicas da Record é até justificado, afinal, o staff da emissora é bem reduzido quando comparado ao da Rede Globo. Em compensação, na Vênus Platinada, que possui um elenco numerosíssimo em todos os setores (dramaturgia, jornalismo...), é difícil engolir a repetição ininterrupta de determinados atores e atrizes em detrimento a muito profissional capacitado que fica excluído da escolha de casting para novelas e minisséries.


Confira alguns casos:

Giovanna Antonelli - Papel de uma golpista sexy? "Chamem a Antonelli!". Precisam de uma dona de casa que se descobre lésbica? "Liguem para a Antonelli!". Uma delegata lançadora de modismos? "Escalem a Antonelli!". Uma mocinha romântica jovem e brasileira com alma oriental? "Antonelli! Antonelli! Antonelli!". É assim que tem acontecido na Globo. Ela virou um curinga da teledramaturgia do canal. A atriz se molda aos mais variados perfis de personagens.

Rafael Cardoso - Saiu de um mocinho no horário das nove (Vicente, Império) para dois meses depois viver outro no das seis (Felipe, Além do Tempo); e agora já está no ar em Sol Nascente.

Thiago Leiffert - Acabou de estrear o programa Zero1 nas madrugadas de sábado (após o Altas Horas), mas também apresenta o The Voice Brasil (quinta-feira) e o É de Casa (nas manhãs de sábado). E, a partir de janeiro, estará à frente do BBB no lugar do Pedro Bial. Sério, já deu!

Cauã Reymond - Quem aí já está cansado de ver o ator vivendo sempre aquele mocinho revoltado/justiceiro/problemático/vingativo? É... Eu também! Só muda de nome e de trama!

Bruno Gagliasso - Assim como Cauã, é um dos galãs mais disputados pelos autores da Globo. O lado positivo é que este, ao menos, transita com destreza por papéis muito diferentes e diversificados entre si (homossexual, esquizofrênico, psicopata, serial killer, mocinho, etc).

Alexandre Nero - Enquanto Adriana Esteves e Mateus Solano ficaram quase três anos sem fazerem novelas após viverem, respectivamente, os inesquecíveis Carminha (Avenida Brasil) e Félix (Amor À Vida), o mesmo cuidado, porém, não foi tomado com Nero. Pouco mais de um mês após encerrar a marcante atuação em Império, começou a gravar A Regra do Jogo, com outro protagonista de peso. Antes, inclusive, o ator já tinha emendado Além do Horizonte com Império. Ou seja, nos últimos dois anos, o incansável Nero fez três novelas, uma quase colada na outra.

Camila Pitanga - Um dia encerrou Babilônia e já no outro começou a gravar Velho Chico com outra protagonista romântica no horário nobre. Sorte dela, que teve a oportunidade de se redimir da insuportável Regina junto ao público. Mas precisava mesmo de tamanha repetição?

Marina Ruy Barbosa e Bruna Marquezine - Taí duas atrizes jovens (e talentosas) chamarizes de audiência que vivem emendando um trabalho após o outro, sem parar. Desde 2010, ambas não ficaram um ano sequer fora do vídeo.

Walcyr Carrasco - Uma verdadeira máquina de fazer novelas. Assim podemos defini-lo. Walcyr é o escritor mais requisitado do momento na Globo, que sempre encomenda várias novelas a ele (ao contrário do que ocorre com seus colegas, que têm um período de férias bastante longo quando terminam seus folhetins). No caso do escritor, é praticamente uma novela atrás da outra. E ele já está produzindo a sinopse de outra novela para meados de 2017, no horário das nove, hein...

EM TEMPO: Domingos Montagner, enquanto esteve vivo, assim como Nero, Murilo Benício e Rodrigo Lombardi (e José Mayer e Tarcísio Meira em outros tempos), Domingos foi uma das principais figuras masculinas galãs de meia-idade da Globo. Ele vinha numa crescente de papéis importantes na TV. Velho Chico foi seu auge. Pena que uma tragédia levou esse grande talento.

Que fique bem claro: nenhum desses atores citados tem culpa de serem desejados por tantos autores e diretores. A questão aqui é outra: o desgaste na imagem de atores que emendam um trabalho no outro, gerando uma indevida overdose de exposição no vídeo. Com intervalo mínimo entre um trabalho e outro, o ator pode não ter o tempo necessário para compor o novo personagem. Corre o risco de apresentar uma performance repetitiva. Há outro ponto a ser analisado também: a percepção do público. Acompanhar o mesmo ator em produções sequentes gera uma sensação de déjà-vu, uma reação emocional de já tê-lo visto em situação semelhante.

Descansar a imagem que é bom, parece que ninguém quer mais. Dar oportunidade a novas caras ou até mesmo aproveitar o contingente de profissionais que sempre se destacam em papeis coadjuvantes, também parece um caminho difícil para os responsáveis em escalar elenco.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Entre mortos e feridos, quem conseguiu se salvar do texto teatral de Eta Mundo Bom?



Quem acompanha as novelas do Walcyr Carrasco, sabe que o autor não tem um texto fácil e exige que o ator siga à risca o que ele escreve, sem cacos. Seu estilo teatral e empostado na escrita já foi visto em vários trabalhos anteriores e é até condizente com a proposta ora melodramática, ora farsesca de suas novelas das seis, como é o caso de Eta Mundo Bom. Percebam que na trama os personagens da cidade falam um português extremamente culto e corretíssimo, com o verbo sempre no infinitivo ("Sandra está a tramar algo!", "Estou a esperar""Hei de conseguir""Perdoo-te por me traíres", etc), enquanto os personagens da fazenda falam errado e com um sotaque caipira pra lá de caricato e estereotipado.

O problema é que o texto do Walcyr só funciona quando o ator é experiente. Até funciona no teatro, mas na televisão (e no cinema) há de se ter cuidado para não parecer que o ator não acabe resvalando no jogral de escola. Como uma faca de dois gumes, alguns conseguem pronunciá-lo sem perder a naturalidade e brilham em cena, enquanto outros acabam canastrando. Confira os destaques positivos e negativos do elenco da novela:

OS SOBREVIVENTES


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Sérgio Guizé - A alma de Eta Mundo Bom! Poucas vezes se viu um ator honrar o protagonismo de uma novela com tanto brilhantismo como ele, que não ficou devendo em nada ao Mazaroppi (que imortalizou o personagem do filósofo Francês Voltaire nos cinemas e que também inspirou a trama do Walcyr), dando um jeito próprio ao caipira. Nem mesmo o fato do Candinho ter ficado sem sua grande parceira em cena, visto que a Debora Nascimento não conseguiu se firmar como protagonista e par romântico (leia mais abaixo), abalou o sucesso e a credibilidade do personagem. Candinho poderia soar ridículo se mal construído e sua ingenuidade excessiva irritante, mas o domínio do ator foi tanto que a gente não apenas torce pelo Candinho, mas também tem vontade de cuidar dele, de orientá-lo, de abraçá-lo, de tê-lo por perto como amigo.

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Eliane Giardini - Quando uma grande atriz tem o seu talento valorizado, é sucesso na certa. Na pele da destemida Anastácia, a intérprete deu um show do início ao fim. Acabou sendo uma compensação do Walcyr, que não havia a valorizado em Amor A Vida, onde viveu a Ordália. 

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Bianca Bin - Foi a mocinha moral da história! O que seria dos personagens bons de Eta Mundo Bom se não fosse as investigações da Maria, que desconfia até do ar que respira? Praticamente, todos os planos infalíveis da Sandra foram por água abaixo graças a perícia na arte de investigar da personagem. Confesso que até cansou ver tanta desconfiança em uma só personagem, mas a Bianca Bin é tão boa atriz que um papel de coadjuvante era um espaço muito pequeno para o seu talento. O drama de Maria, aliado a excelente atuação da sua intérprete, engoliu a Filó.

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Marco Nanini - Depois de treze anos vivendo o Lineu de A Grande Família, ganhou os gêmeos Pancrácio e Pandolfo e um leque de personagens com os disfarces do Pancrácio durante todo o decorrer da trama. Confesso que, inicialmente, não via futuro naquela trama dos disfarces, que, verdade seja dita, já cansaram a muito tempo de tantas repetições. Até porque temos que saber "voar" muito (como diria Glória Perez) para achar verossímil que um homem velho desses consiga enganar todos os personagens disfarçado de noiva (?) ou bailarina (??). Porém, o Nanini é tão fantástico que a gente acaba perdoando a incoerência e não consegue parar de rir.

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Camila Queiroz e Rosi Campos - Após anos fazendo figuração de luxo em novelas (sua última personagem realmente relevante foi a icônica Mamuska de Da Cor do Pecado, de 2004), Rosi Campos finalmente foi valorizada como merecia em Eta Mundo Bom. A ingênua e engraçada Eponina foi interpretada com maestria por ela e se destacou sempre. Sua dupla com Camila Queiroz na busca em conhecer o "cegonho" também foi perfeita. Camila, aliás, já pode ser considerada uma das maiores revelações da TV dos últimos tempos. Fazer uma personagem marcante e complexa como a Angel de Verdades Secretas e, em tão pouco tempo, logo interpretar outro, não é tarefa fácil. Mas ela tirou de letra esse desafio na pele da ingênua Mafalda e provou que tem a trinca perfeita para uma boa atriz: beleza, talento e versatilidade.


JP Rufino, Nathália Costa e Xande Valois - A dobradinha de JP (como o serelepe Pirulito) com Sérgio Guizé, brilhando de igual para igual com o protagonista da trama, foi um dos pontos fortes de Eta Mundo Bom desde o início. Ele, Nathália (a doce Alice) e Xande (o cadeirante Cláudio) são uns amores e fazem mais do que decorar o texto na ponta da língua: passam naturalidade e emoção. Coisa que muitos adultos dessa novela não conseguiu (leia mais abaixo).


Arthur Aguiar e 
Ana Lúcia Torre - Os dois se saíram bem, mas acabaram sendo prejudicados pela outra ponta desse núcleo, Giovanna Grigio (leia mais abaixo). O casal Gerusa e Osório foi mais insosso que salada de chuchu sem tempero, mas Arthur correspondeu a altura nas cenas que lhe exigiram bastante emoção com o drama da doença da amada. A sorte é que os dois são amparados pela Ana Lúcia Torre (como Camélia), mas ela é grandiosa demais para ficar fazendo escada para ex-Chiquitita e ex-Rebelde, merecia uma personagem mais à sua altura.

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Ary Fontoura (repetiu com sucesso a boa parceria com Elizabeth Savala como o marido covarde, Quinzinho), Miguel Rômulo (Quincas), Jeniffer Nascimento (Dita), Dhu Moraes (Manuela) e Anderson Di Rizzi (que já se especializou em viver tipos meios bobos nas novelas do Walcyr, como o Zé dos Porcos) foram os outros destaques positivos do núcleo caipira.

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Flávio Migliaccio e Suely Franco - Sempre achei Donda Paulina meio sem função em Eta Mundo Bom. Apenas a dona do Dancing, realizava alguns números de música lá, algumas armações... Mas agora ficou ótima na reta final da novela ao se casar com Osias (com quem forma um par bonitinho) e juntar-se ao núcleo da fazenda, nos proporcionando cenas hilárias em parceria com a Savalla (falei disso AQUI). Flávio, mesmo em poucas cenas, sempre conseguiu divertir.

OS RESSUSCITADOS


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Flávia Alessandra - Logo que foi anunciada como a grande vilã da trama e seu visual loiro platinado, pronto, não faltaram vozes para dizer que a Sandra de Eta Mundo Bom seria nada mais que uma cópia da diabólica Cristina de Alma Gêmea (2005), personagem que marcou a carreira da atriz (sua melhor atuação) e que também é do autor Walcyr Carrasco. Inicialmente, Flávia estava muito robótica e parecia mesmo ser uma cópia barata da Cristina, mas, com o tempo, a atriz foi contornando os problemas e logo vimos que a Sandra em nada tem a ver com a Cristina. A personagem tem vida e perfil próprios. Mais sensata do que a Cristina (que era passional ao extremo), a Sandra é má por puro interesse financeiro. E Flávia soube distinguir muito bem as duas vilãs com o decorrer do tempo e se destacou cada vez mais nesta reta final.

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Elizabeth Savala - Outra atriz que foi muito criticada inicialmente por sua atuação muito, mas muito acima do tom (era necessário diminuir o volume da TV quando a Dona Boca de Fogo, digo, Cunegundes entrava em cena). Mas uma atriz do quilate da Elizabeth sabe como poucas driblar críticas e se manter digna a um trabalho. Não deu nem um mês e o tom acima da Cunegundes acabou virando a marca registrada da personagem e lhe deu um charme peculiar, o que lhe transforma em uma das mais queridas da novela, mesmo sendo uma espécie de vilã interesseira. Quem consegue segurar o riso quando ela grita "O meu nome é CU-ne-gun-des"? Eu não.

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Tarcísio Filho e Priscila Fantin - Me lembro que, no início, esse núcleo me dava nos nervos. Tudo bem que existem homens extremamente machistas, mas Walcyr pesou a mão quando criou o Severo. Pelo menos, no início. Conforme ele foi se envolvendo com a Diana e, principalmente, depois do golpe que sofreu do filho, o personagem, enfim, ganhou um pingo de humanidade. E foi aí que o núcleo, depois de tanto andar em círculos, ganhou novos contornos. Tarcísio e Priscila (que estava meio deslocada no Dancing) esbanjaram química. Gostei da Pata e do Pato.

OS MORTOS


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Eriberto Leão - Sandra merecia um comparsa bem mais a sua altura. O Ernesto não passou de uma figuração de luxo perto dela. Muito por culpa da atuação canastrona do seu intérprete, forte candidato ao prêmio de pior ator do ano. Sua sorte é que teve química com a Flávia.

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Klebber Toledo e Juliane Araújo - Não adiantou mostrar o bumbum em pleno horário das seis inúmeras vezes (suas melhores cenas foram essas), porque no quesito atuação ficou devendo. Melhor o Romeu ficar com a Sarita mesmo. Ela também ficou devendo (e muito) nesse quesito.

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Rainer Cadete - De um inescrupuloso cúmplice da irmã Sandra, o amor por Maria transformou Celso em um homem bom e honesto. Pena que, ao contrário da Camila Queiroz (ele também fez Verdades Secretas), Rainer não conseguiu vencer esse desafio de se despir de um papel e viver outro em pouco tempo. Por vezes, parecia que o Visky ia soltar as frangas a qualquer momento na novela. Nem mesmo a química com Bianca Bin conseguiu redimir sua má atuação. 



Flávio Tolezani e Maria Carol - Formam um casal perfeito: o Sr. e a Sra. Inexpressividade!

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Giovanna Grigio - Pense numa garota doente mais inexpressiva da história das novelas.... Gerusa!!! Ô garotinha chata! Se a intenção dessa trama da leucemia dela era emocionar, missão realizada sem sucesso. Além da doença ter sido tratada de forma superficial e desinteressante na trama, a canastrice da Giovanna Grigio pôs tudo a perder. Ela não passa emoção nenhuma em cena. Desse jeito, vai ficar difícil para a ex-Chiquitita firmar carreira na Globo...

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Rômulo Neto e Guilhermina Guinle - Em meio a tantos personagens maniqueístas, Rômulo tinha em mãos um que destoava dos demais (o Braz, um tipo pra lá de ambíguo e controverso), mas não soube corresponder à altura, com expressão, entonação e trejeitos lineares, sem nuances (como bem pedia o personagem). O excesso de botox fez mal para a Guilhermina: está completamente robótica! Não convenceu nenhum pouco como madrasta má. Até o episódio do Chaves em que ele, Quico e Chiquinha visitam a casa da Bruxa do 71 deu mais medo que ela.

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Débora Nascimento - Ao que tudo indica, o prêmio de pior atriz do ano já é dela. Filomena foi uma das piores mocinhas de todos os tempos, extremamente cansativa, chorona, burra e insuportável. O seu sotaque caipira soava extremamente falso, o que só piorou o resultado (o sotaque caipira de Filó sumiu misteriosamente num passe de mágica). Pra piorar de vez, não teve química alguma com Candinho, que só não foi prejudicado pela fraqueza da intérprete de Filó porque Sérgio Guinzé está muitíssimo bem no papel (como já falei anteriormente). Em determinados momentos, ficou esquecida e sem função nenhuma na novela. Não deu outra: foi ofuscada pelo brilho da Bianca Bin e a Maria virou a mocinha oficial da história! Cheguei até a pedir que o mandato de Filomena como mocinha na novela fosse cassado (relembre AQUI).

Concordam com a lista? Faltou mais alguém? Dê sua opinião nos comentários!


terça-feira, 16 de agosto de 2016

Por quais novelas nossos autores merecem uma medalha de ouro, prata e bronze?



Todo mundo sabe como funciona o Brasil antes de um evento de grande porte. A gente reclama de tudo, desde a infraestrutura até do gasto que teremos (NÃO VAI TER COPA!!! NÃO VAI TER OLIMPÍADA!!!), mas quando começa o que acontece? TODO MUNDO AMA! Sim, estou assistindo todos os jogos (na TV, é claro, porque não tenho dinheiro pra comprar ingresso), estou torcendo para os nossos atletas e vibro a cada medalha ganhada. Mas como isso aqui é um blog de novelas, e se fizéssemos uma Olimpíada para os nossos novelistas? Por quais novelas eles merecem ganhar uma medalha de ouro, prata e bronze? Isso você confere agora:











Claro que faltaram outros grandes autores e esse texto é baseado unicamente na minha opinião, portanto, fiquem a vontade para concordar ou não e dar suas sugestões nos comentários!

segunda-feira, 27 de junho de 2016

A Favorita: o apogeu da genialidade e da ousadia de João Emanuel Carneiro


"Duas amigas que se tornaram rivais. Uma das duas cometeu um crime e está mentindo. São duas versões de uma mesma história. Quem, afinal, está dizendo a verdade? Flora ou Donatela?". Foi com essa premissa que João Emanuel Carneiro revolucionou a teledramaturgia brasileira.


Donatela (Claudia Raia) perdeu os pais num trágico acidente e acabou sendo adotada pela família de Flora (Patrícia Pillar), que era bem humilde. Quando crianças, as duas eram melhores amigas, ao ponto de, na juventude, formar uma dupla sertaneja, Faísca e Espoleta, administrada pelo caça-talentos Silveirinha (Ary Fontoura) e que chegou a fazer razoável sucesso na época. A parceria, porém, foi interrompida após as duas conhecerem os amigos Marcelo e Dodi (Murilo Benício), de quem se tornaram noivas. Donatela casou-se com Marcelo, filho do poderoso Gonçalo Fontini (Mauro Mendonça), dono de uma indústria de papel e celulose, enquanto Flora tornou-se esposa de Dodi, que era pobre e trabalhava na firma do pai do amigo.

A felicidade de Donatela e Marcelo, porém, durou pouco. O primeiro filho do casal, Mateus, foi sequestrado com seis meses de idade e nunca mais apareceu. Desde então, os dois passaram a se desentender com frequência. Flora, por sua vez, separou-se de Dodi e, depois, teve um caso com Marcelo. Engravidou dele e deu à luz uma menina, Lara (Mariana Ximenes), o que abalou ainda mais a relação entre Donatela e Marcelo e, principalmente, entre as duas amigas.

No auge da crise da ex-dupla Faísca e Espoleta, Marcelo é assassinado com três tiros disparados do revólver que estava nas mãos de Flora, pega em flagrante. Com base nos depoimentos da manicure Cilene (Elizângela), que presenciou o crime, e do Dr. Salvatore (Walmor Chagas), médico que prestou socorro a Marcelo no hospital e diz ter ouvido ele dizer o nome da mulher que o matou minutos antes de morrer, ela foi presa, condenada e separada de sua filha (na época, com três anos de idade). Donatela, que não perdoa a amiga de infância pela traição e por ter matado o marido, decide criar Lara e, tempos depois, se casa com Dodi.

A história de A Favorita, no entanto, começa bem depois de tudo isso, dezoito anos após o crime, a partir do momento em que Flora sai da prisão querendo provar a sua inocência, acusando a ex-amiga do crime pelo qual ela pagou, e se reaproximar de Lara. Donatela, por sua vez, não mede esforços para impedir que ela chegue perto de Lara, a quem diz amar como se fosse sua própria filha. No caminho das duas, surge o sedutor jornalista investigativo Zé Bob (Carmo Dalla Vecchia), que se envolve com Flora e depois com Donatela. Ele e Lara, mais do que nunca, se tornam o alvo de disputa entre essas duas mulheres que, um dia, foram amigas.


Com referências nas séries americanas e nos filmes de suspense (tanto pela condução da história, quanto pela fotografia escura e cheia de sombras), A Favorita revolucionou a teledramaturgia brasileira ao subverter o esquema folhetinesco tradicional apresentando uma história policial com uma protagonista e uma antagonista em detrimento de uma história de amor com um casal romântico central e em não revelar logo de cara quem era a vilã e quem era a mocinha da história. Durante os 55 primeiros capítulos, a novela girou em torno desse mistério e confundiu o público, que não sabia para quem torcer, pois o roteiro não deixava claro quem era a verdadeira assassina de Marcelo, quem estava mentindo, se Flora ou Donatela.

Ambas tinham versões muito bem convincentes. Donatela afirmava que Flora nutria uma inveja obsessiva por ela e sempre quis tomar tudo que é seu. Ela defende que Flora se casou com Dodi só para poder ficar perto dela e de Marcelo e atrapalhar seu casamento. Mas quando percebeu que, mesmo conseguindo engravidar dele, Marcelo nunca iria se separar, resolveu matá-lo. Segundo Donatela, Flora premeditou o assassinato, mas as coisas não saíram como o previsto. Ela conta que, no dia do crime, saiu de casa, mas voltou ao se lembrar que havia marcado hora com Cilene, sua manicure. Quando chegou, flagrou Flora atirando em Marcelo, o que foi confirmado por Cilene, única testemunha do caso. Depois de atirar em Marcelo, Flora ainda ia atirar nela. Para se defender, iniciou uma briga com a rival e quem pôs fim à luta foi Cilene, que conseguiu imobilizar Flora. Na briga, Flora e Donatela deixaram suas impressões digitais na arma, mas o depoimento de Cilene foi decisivo para condenar Flora. Assim como também o de Dr. Salvatore, que prestou socorro a Marcelo no hospital e garantiu que ouviu ele dizer que foi assassinado pela Flora minutos antes de morrer. De acordo com Donatela, ela e Dodi foram vítimas de Flora e a tragédia os aproximou. Ela ainda garante que ama Lara mais do que tudo nessa vida, que a garota lhe "salvou" no momento mais doloroso da sua vida e que, mesmo ela sendo fruto da traição do marido, decidiu criá-la como se fosse sua por ter se afeiçoada a menina e como uma forma de compensar o vazio deixado por Mateus, seu filho sequestrado.

Já na versão de Flora, Donatela é quem nutria uma inveja obsessiva por ela e sempre desejou tudo o que era seu, inclusive os rapazes com quem se envolvia. Flora alega que Donatela e Dodi sempre foram amantes e tanto ela como Marcelo foram vítimas de um golpe minuciosamente planejado. Donatela teria dado em cima de Marcelo já com o intuito de se casar com o jovem milionário, enquanto Dodi conquistaria Flora para se manter próximo à amante e ao dinheiro que ela passaria a ter. Além disso, o filho sequestrado de Donatela e Marcelo, na verdade, seria filho de Dodi. Para que Marcelo não descobrisse a verdade, o casal teria dado um jeito de sumir com a criança. Como a verdade veio à tona, Flora e Marcelo se aproximaram e redescobriram o amor. Quando Donatela descobriu que Marcelo iria se separar dela e que ela perderia todo o dinheiro que sempre quis, premeditou o assassinato, junto com Dodi. E deu um jeito para que Flora estivesse na casa de Marcelo no momento do crime e pagou para que Cilene e Dr. Salvatore testemunhassem para incriminá-la, o que acabou conseguindo. Segundo Flora, Donatela só criou Lara de olho na herança, já que a garota é a única herdeira de todo o patrimônio dos Fontinis.

Essa indefinição em saber em quem confiar também foi traduzida através dos personagens. Principalmente, pelo casal Irene (Glória Menezes) e Gonçalo, pais de Marcelo e avós de Lara. Irene se tornou a primeira aliada em defesa de Flora, acreditando em sua inocência e fazendo de tudo para reaproximá-la da neta. Ela sempre teve reservas em relação a Donatela, a quem julga ignorante e fútil. Gonçalo, por sua vez, sempre teve uma ótima relação com Donatela e não poupou esforços para afastar Flora de Lara. Um dos dois estava cometendo um erro terrível em defender a assassina do próprio filho. Pedro (Genésio de Barros), pai de Flora, também insiste em dizer que a própria filha é muito perigosa e nem um pouco confiável. A guerra declarada entre a mãe biológica e aquela que a criou deixa Lara abalada e confusa: ela, assim como Zé Bob e o público, não sabe em qual dessas diferentes versões de um mesmo assassinato acreditar.



Entretanto, embora ainda não houvesse uma vilã declarada, todas as evidências do roteiro apontavam Flora como uma mocinha injustiçada. O autor conduzia a trama justamente para que a cara de vítima da personagem conquistasse a confiança de quem assistia. Flora tinha um jeito simples, olhar sofrido, fala mansa e andar arrastado. Usava roupas discretas, sem nenhuma ostentação e até um pouco gastas. Como um anjinho, tinha os cabelos cacheados e loiros. Boa filha, amava e cuidava do pai, mesmo com Pedro a odiando e dizendo para que a filha não valia nada. Com uma história de vida sofrida, tinha uma postura de quem apenas queria se defender e tentar convencer a todos que pagou por um crime que não cometeu. Como não se sensibilizar com o drama de uma ex-presidiária, renegada pelo próprio pai, que tenta reconstruir a vida e luta para provar sua inocência e conseguir o amor da filha? Além disso, tinha como trilha sonora "É o que me interessa", de Lenine, uma música linda com um ritmo delicado e sensível.

Já Donatela era uma perua legítima. Metida e, por vezes, arrogante, vivia de nariz em pé e tinha um jeito exagerado de falar e gesticular. Usava um figurino tão espalhafatoso quanto ela: muito brilho, muita joia, muito luxo. Morena, cabelos sedosos e bem cuidados, pisa duro e parece estar pronta para passar por cima de quem atravessar seu caminho, mesmo que para isso tenha que usar de meios controversos. Dona de um gênio forte, tempestuosa, falastrona, vultosamente dramática, politicamente incorreta, de pavio curto, xinga, grita, briga, humilha. Uma dondoca fútil que se acha a dona do mundo, não faz questão nenhuma de trabalhar e adora comprar, gastar, ostentar e esbanjar dinheiro??? Não... Ela jamais poderia ser a mocinha da novela, nunca!

Dessa forma, Flora não se encaixaria de maneira nenhuma no papel de vilã da trama, mesmo quando passou a adotar estratégias tão desonestas quanto a rival para se vingar de Donatela (como convencendo Cilene e Dr. Salvatore a mudarem suas versões do assassinato de Marcelo na base da chantagem). Existe uma linha tênue entre justiça e vingança. Nada de surpreendente, portanto, que a certa altura ela achasse razoável se tornar tão cafajeste quanto a aparente vilã da história para provar sua inocência. Mas bastou um único capítulo para JEC desconstruir de maneira gradual tudo aquilo em que o público foi induzido a acreditar desde o início da novela.


Contrariando os clichês dramatúrgicos, onde a vilã é sempre a rica mimada e a mocinha a pobre batalhadora, o autor apresentou um capítulo recheado de tensão (sua principal característica) e o telespectador viu, após muitas semanas de mistério, a mulher humilde se revelar um demônio quando ficou cara a cara com sua rival, desencadeando novos entrechos e novos mistérios para a trama. Naquele momento, a novela tomava fôlego e caía definitivamente nas graças do público (uma vez que, devido ao início inovador e ao sucesso da tosca Os Mutantes, na Record, a trama enfrentava uma certa rejeição e o Ibope deixava a desejar), virando mania nacional.

A partir do capítulo 56, A Favorita virou outra novela. Ainda mais interessante e envolvente, com a derrocada de Donatela, que passa a ser perseguida por um crime que não cometeu, enquanto a vilã declarada consegue se infiltrar no clã dos Fontinis, dando-se início a um jogo de gato e rato. A partir daí, temos a chance de repararmos uma grande injustiça e finalmente torcer para a verdadeira mocinha da história conseguir provar sua inocência e desmascarar Flora.


Flora enganou a todos direitinho. Ela é uma psicopata clássica, pois por trás de seu jeito doce, carrega uma alma sombria e é capaz das maiores atrocidades. A grande questão é que A Favorita não é uma simples trama sobre a rivalidade entre duas mulheres. Ela é bem mais complexa e foi muito mais além do que isso. Flora amava Donatela. Um amor distorcido, doentio, às avessas. Mas não é um amor lésbico, de uma mulher por outra. Donatela é o motor da vida da Flora, o objetivo dela. Prova disso é que, quando descobre que a Donatela está viva, ela volta a ter a "razão" de viver, passando a persegui-la novamente. Donatela sabe que Flora foi uma menina que tinha medo do escuro e sofreu alucinações. Ela usa, nos últimos capítulos, essa tortura psicológica para assustar a vilã e faze-la confessar seus crimes. A Favorita não é apenas uma história policial, mas sim um drama psicológico. Se Donatela não fosse uma pessoa tão importante para a Flora, a vilã não iria fazer tudo para ficar com o rancho onde ela morava e com tudo o que foi dela. Teria fugido depois de ter ficado com todo o dinheiro dos Fontinis.

Patrícia Pillar, que já brilhava desde a estreia, mostrou sua capacidade cênica e fez de Flora uma das melhores vilãs da teledramaturgia, a partir da emblemática cena em que cai a máscara da víbora. E Cláudia Raia comprovou que sabe fazer drama com a mesma competência que faz comédia. Sua Donatela, que no início estava no comando, sofreu horrores e comoveu o público.


Um grande sucesso, A Favorita cativou a audiência e tornou a personagem de Patrícia Pillar um hit. Até hoje, Flora é uma referência de vilã. E ainda trouxe de volta ao imaginário popular a música Beijinho Doce, criação de Nhô Pai, que na novela era interpretada pela antiga dupla sertaneja Faísca e Espoleta. A música fez tanto sucesso que ganhou remixes na internet, com batidas pop, dance e funk, e a inclusão de frases e bordões marcantes de Flora. Não faltaram elogios ao ritmo alucinante que a trama apresentou, com ótimos ganchos e muitos acontecimentos em cada capítulo, não deixando-a como as famosas "barrigas" nunca.

A Favorita marcou a estreia de João Emanuel Carneiro no horário nobre e carimbou sua permanência no time de autores do primeiro escalão da Globo. Contendo cenas inesquecíveis de suspense (como o macabro assassinato de Gonçalo), várias viradas e uma trama central empolgante, a novela foi um sucesso de público e crítica, tendo em seu elenco grandes nomes como Glória Menezes, Mauro Mendonça, Mariana Ximenes, Ary Fontoura, Jackson Antunes, Murilo Benício e Lilia Cabral, que protagonizaram grandiosas sequências ao longo da trama.

Como eu disse certa vez nessa matéria AQUI, as tramas paralelas é o grande "calcanhar de aquiles" do JEC. Em A Favorita, não foi diferente, tanto é que foram cortadas da nossa edição sem grandes perdas para a história central. Entretanto, não posso deixar de mencionar uma subtrama muito interessante abordada na novela: a violência doméstica contra a mulher, missão dada e cumprida brilhantemente bem por Lilia Cabral, que conseguiu discutir um assunto difícil de ser abordado pela sua fragilidade - e a provável homossexualidade entre mulheres na relação de amizade de sua Catarina com Stela (Paula Burlamaqui). Jackson Antunes vivendo o marido machista Léo foi esplendoroso. Outro destaque foi o personagem Romildo Rosa (Milton Gonçalves), que interpreta um deputado corrupto envolvido no esquema de tráfico de armas. Fora todo embate ético, foi a primeira vez que uma família negra foi vivida numa novela das nove onde a temática do preconceito racial (ou social) não foi abordado como bandeira principal. Não que o racismo tenha acabado, longe disso. Mas, mostrar para o grande público que uma família negra possui outros conflitos inerente a origem racial foi algo inédito - e bem explorado.

Por tudo isso, considero A Favorita a melhor novela do JEC e, sim, bem melhor que Avenida Brasil (que também foi muito boa, é bom deixar claro isso). Desculpaê, Carminha!!!


A Favorita está sendo exibida (num compacto em 54 capítulos) atualmente na nossa página do facebook desde o início de maio e acaba de entrar em sua última semana. Você não pode perder! Clique bem AQUI para acompanhar.


sábado, 5 de março de 2016

O "calcanhar de aquiles" do João Emanuel Carneiro



Todo folhetim precisa ter subtramas para a história central poder se sustentar por vários meses no ar. Caso contrário, não há criatividade e reviravoltas que consiga elaborar constantes conflitos para o núcleo principal se manter atraente por longos meses. Portanto, nada mais normal do que a criação dos enredos paralelos. E é fundamental que o autor desenvolva situações secundárias tão envolventes quanto a central. Porém, não é o caso de João Emanuel Carneiro. Apesar de ser um dos autores mais criativos e venerados da atualidade e ter escrito obras e personagens memoráveis e de sucesso que sempre caem na boca do povo, as tramas paralelas são o seu maior "calcanhar de aquiles".


Em Da Cor do Pecado, haviam três núcleos cômicos: a família Sardinha, liderados pela Mamuska (Rosi Campos), o casal Edu e Verinha (Ney Latorraca e Maitê Proença) e o núcleo de Pai Helinho (Matheus Nachtergaele), que, dos três, era o único que corria sem qualquer relação com o restante do enredo. Enquanto a ação principal se passava no Rio de Janeiro, o falso pai de santo aprontava todas no Maranhão. Apenas no início, quando a protagonista, Penha (Taís Araújo), amiga de Pai Helinho, morava lá no Maranhão, e no final, quando ele se mudou para o Rio, que o núcleo conversou com as outras histórias da novela. A família de Eva (Eliane Giardini) também viveu situações que pouco tinham a ver com a saga principal de Cobras e Lagartos. Se não existisse, não faria a menor falta, até porque a trama tinha um apelo cômico fortíssimo que ia desde os principais, com Foguinho e Ellen (Lázaro Ramos e Taís Araújo), até aos coadjuvantes, com a divertidíssima Milu (Marília Pera).


E até mesmo A Favorita, acusada de não ter tido núcleo cômico, ofereceu doses de surrealidade quando a ex-retirante Maria do Céu (Deborah Secco) se casa com o gay enrustido Orlandinho (Iran Malfitano), que depois vira ex-gay, e o cotidiano desse inusitado casal, totalmente dentro de um apartamento, passou a ser uma novela à parte. Com exceção do ótimo drama da Catarina (Lília Cabral), dona de casa que sofria violência doméstica do marido, Léo (Jackson Antunes), nenhuma trama paralela se salvava na novela. Gente, o que era aquele personagem maluco do José Mayer (Augusto César, ex-roqueiro que acreditava em extraterrestres)?! Surreal! E chata! Muito chata!


E nem mesmo o fenômeno Avenida Brasil escapou das críticas negativas. Nesse caso, em relação ao núcleo Cadinho (Alexandre Borges), cujo tom farsesco das cenas do malandro destoavam do restante do enredo. Enquanto a trama como um todo buscava o naturalismo, Cadinho e suas três mulheres surgiam com um proposital exagero que usava e abusava de situações pra lá de surreais e absurdas. Além disso, a história corria totalmente alheia à trama principal. Se Cadinho e suas três mulheres não existissem, a novela pouco mudaria. Até porque a história ofereceu alívios cômicos (ou tragicômicos) em personagens que orbitavam ao redor do núcleo principal e estavam bem mais integrados ao enredo, tais como, Leleco (Marcos Caruso), Muricy (Eliane Giardini), Ivana (Letícia Isnard), Adauto (Juliano Cazarré) e Zezé (Cacau Protásio), e até mesmo na grande vilã Carminha (Adriana Esteves).


 A Regra do Jogo apresenta a mesma situação. Ascânio (Tonico Pereira) e Atena (Giovanna Antonelli), por exemplo, são personagens bem ricos dramaturgicamente e vivem numa atmosfera pesada e sombria, mas possuem uma dose de humor negro, sarcástico e irônico que quebra toda a densidade nas cenas. E não é que a dupla é bem mais engraçada que os ditos núcleos cômicos da trama?


O Morro da Macaca está para A Regra do Jogo como a Turquia estava para Salve Jorge, ou seja, poucos personagens dos muitos apresentados têm importância ou ligação com a trama central. É claro que não daria para colocar no morro só personagens chaves. Os coadjuvantes fazem parte. Mas poderiam ser em menor quantidade e ter alguma graça. É o caso do núcleo do funkeiro Merlô (Juliano Cazarré) e suas confusões amorosas com as dançarinas Ninfa (Roberta Rodrigues) e Alisson (Letícia Lima). As situações quase sempre se repetem a cada sequência, assim como a obsessão de Adisabeba (Susana Vieira) pelo filho. É um suplício ver aquele monte de personagens chatos na família do Feliciano (Marcos Caruso) em tão pouco espaço físico. Um tanto de gente sem função nenhuma naquela cobertura. Apesar de Caruso, Carla Cristina Cardoso (a empregada Dinorá) e Suzana Pires (a manicure Janete) se sobressaírem, o restante pouco podem fazer com situações que não atraem.


Também merece ser mencionado o quadrilátero amoroso envolvendo Tina e Rui (Monique Alfradique e Bruno Mazzeo) e Oziel e Indira (Fabio Lago Cris Vianna), com situações repetitivas de trocas entre os casais. Uma outra trama paralela, que não é de humor, mas também é pouco atrativa, é o núcleo de Domingas (Maeve Jinkings) com César (Carmo Dalla Vecchia). Inicialmente como um novo amor para ela, que sofria com a violência do marido Juca (Osvaldo Mil) em uma trama (mal) requentada de A Favorita, César, na verdade, se chamava Rodrigo e era um homem desaparecido que se culpava pela morte dos filhos em um acidente. As cenas de César são pouco atrativas em parte devido ao fraco desempenho de Dalla Vecchia, que outra vez interpreta um homem misterioso atormentado.


Como pode-se constatar, as tramas centrais sempre foram o forte das novelas do JEC. Já as paralelas, sempre foram um problema mesmo nas novelas de grande sucesso do autor, pois, em sua grande maioria, não acrescentam em nada à história principal. De fato, a história de vingança de Nina (Debora Falabela) contra Carminha (Adriana Esteves), o embate entre Donatela (Claudia Raia) e Flora (Patrícia Pilar), a história da facção em A Regra do Jogo e todas as tramas centrais das outras novelas do autor foram tão boas que são passíveis de perdão. Então só nos resta reservar os momentos das tramas paralelas nas novelas do JEC para tomar uma água, mexer no celular ou fazer xixi!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Walcyr Carrasco: o Rei da Versatilidade e da Audiência



Uma máquina de fazer novelas. Assim podemos definir Walcyr Carrasco. O mais versátil dos autores da atualidade, já escreveu para todas as faixas de novelas e conseguiu emplacar sucessos em todos os horários. Tanto que é um dos escritores mais requisitados da Globo, que sempre encomenda várias novelas a ele, ao contrário do que ocorre com seus colegas, que têm um período de férias bastante longo quando terminam seus folhetins. No caso do escritor, é praticamente uma novela atrás da outra.



A primeira novela dele foi no SBT, quando escreveu Cortina de Vidro (1989). Na década de 90, foi para a TV Manchete, onde escreveu três minisséries: Rosa dos Rumos (1990), Filhos do Sol (1991) e O Guarani (1991). Mas seu grande sucesso mesmo na extinta emissora foi a polêmica Xica da Silva (1996), que o despontou como autor. O folhetim era extremamente forte e, apostando alto no erotismo, trouxe de volta à Rede Manchete o segundo lugar no ranking de audiência da televisão, fazendo com que a extinta emissora recobrasse seu prestígio depois de anos de crise (pena que, dois anos depois, faliu). Xica da Silva foi uma novela empolgante, caprichada, sensual, realista e não poupou em cenas de violência explícita. São inúmeras as sequências de assassinatos, execuções, torturas e até mesmo bruxarias. Vários foram os destaques do elenco. Além de Taís Araújo, a primeira protagonista negra da história da nossa teledramaturgia, revelada nessa novela, destacou-se também Drica Moraes, ao interpretar a diabólica vilã Violante, um papel marcante e o melhor da carreira da atriz.



Vale lembrar que Walcyr assinou a obra sob o pseudônimo de Adamo Rangel, pois era contratado do SBT na época. Descoberto, Silvio Santos obrigou Carrasco a escrever uma novela para o SBT, como punição: Fascinação (1998). Com o estilo de novelas mexicanas melodramáticas e filmes água com açúcar, a novela teve uma boa audiência: 10 pontos, quando se esperava 7. Parece pouco, mas competia com a novela das nove, Torre de Babel, em sua fase de rejeição com o público (leia aqui).



Já em 2000, o autor foi contratado pela Globo, onde está até hoje. Sua estreia foi em grande estilo. Ele simplesmente escreveu, em parceria com Mário Teixeira, um dos maiores e mais lembrados sucessos das seis: O Cravo e a Rosa, comédia romântica leve e divertida que alavancou a audiência no horário das seis como poucas vezes se viu. Baseada no clássico A Megera Domada, de William Shakespeare, a trama conquistou o público e foi brilhantemente protagonizada por Adriana Esteves e Eduardo Moscóvis. Catarina e Petruchio eram um casal apaixonante e hilário. Ney Latorraca, Maria Padilha, Drica Moraes, Luís Mello, Pedro Paulo Rangel, Suely Franco, Eva Todor, Sueli Franco e Taumaturgo Ferreira, entre outros do elenco, também mostraram um ótimo lado cômico em cena.

Depois desse grande acerto, o autor teve seu primeiro tropeço na carreira. Um dos poucos. Talvez, o único. Empolgada com o êxito da primeira novela dele na emissora, a Globo encomendou logo outro trabalho e veio, em 2001, A Padroeira. O tema central foi a devoção à imagem de Nossa Senhora da Aparecida, encontrada por pescadores. Mas a história morna foi rejeitada pelo público e teve baixa audiência. Sofreu inúmeras modificações na história e na personalidade dos personagens. Parte do elenco original saiu e novos personagens foram criados para dar mais "vida" à história. Reformulada por completo, apresentou uma ligeira melhora no Ibope, mas terminou como um fiasco.

Em 2002, ele foi chamado às pressas para assumir a péssima Esperança, que estava naufragando o horário nobre. Conseguiu melhorar os índices com as alterações no roteiro, mas não fez milagre.



Foi apenas em 2003 que Walcyr fez as pazes com o sucesso com um acerto e tanto. Novamente de volta ao horário das seis, o autor escreveu a deliciosa Chocolate com Pimenta. O folhetim esteve nas alturas e é o segundo maior Ibope do horário das 18 horas desse século. Vários fatores contribuíram para o sucesso: um par de atrizes jovens, bonitas e talentosas nos postos de heroína e vilã (Mariana Ximenes e Priscila Fantin, respectivamente), veteranos de renome em papéis cômicos, uma excelente reconstituição de época e a direção inspirada de um especialista em humor, Jorge Fernando, marcando o início da boa parceira com o Walcyr. Esta foi também a primeira trama do escritor que abusou das guerras de comida, virando uma de suas marcas principais em histórias mais leves.



Dois anos depois, Walcyr conseguiu superar a si mesmo. Isso porque, se mantendo na faixa das 18h, escreveu o maior fenômeno do horário do século: Alma Gêmea (2006). Sua audiência foi estrondosa, já que ultrapassava a audiência da catastrófica novela das sete, Bang Bang, e, vez ou outra, a novela das nove, Belíssima. Assim como Chocolate com Pimenta e O Cravo e a Rosa, era ambientada nos anos 20 e arrebatou o público com uma trama espírita folhetinesca ao extremo (uma mocinha muito sofredora, vilãs muito más e núcleos cômicos bem divertidos) e de grande apelo popular. Destaque para as vilãs vividas por Ana Lúcia Torre e Flávia Alessandra, Débora e Cristina, mãe e filha. Alma Gêmea consagrou de vez Walcyr como autor de novelas e lhe rendeu a fama de ser o Rei das Seis.



A princípio, parecia que Walcyr ficaria limitado ao horário. Mas logo foi transferido para a faixa das sete, como experimentação. Não deu certo inicialmente. Sete Pecados (2007), cujo enredo era voltado para os sete pecados capitais, foi uma novela problemática e ele ainda teve um bloqueio criativo, pedindo ajuda ao colega Silvio de Abreu. A trama não foi um fracasso, mas passou longe de ser um sucesso. Parecia que o escritor não tinha se adaptado bem ao novo desafio. Porém, sua versatilidade começou a ser exposta dois anos depois. De narrativa rápida e humor escrachado, Caras & Bocas (2009) foi um dos maiores sucessos da faixa das 19h e, na época, chegou a ter mais audiência que Viver a Vida, a novela das nove. O autor ousou ao colocar um macaco como protagonista (Xico) e conquistou o telespectador com uma gama de personagens atrativos e carismáticos.



Em 2011, o autor emplacou outro sucesso, após um início conturbado. Morde & Assopra tinha uma proposta ousada, mostrando que o escritor nunca teve medo de sair da mesmice. O pano de fundo era o avanço da ciência, através do personagem Ícaro (Mateus Solano), que construía vários robôs, incluindo um clone da sua esposa desaparecida, e a pesquisa de arqueólogos em busca de fósseis de dinossauros. A trama enfrentou problemas de audiência no começo, mas, após algumas pequenas mudanças, o folhetim caiu nas graças do público. Muito por causa do carisma da doce e ignorante Dulce (vivida magistralmente por Cássia Kiss), que virou, praticamente, a protagonista da história.



Depois de ter emplacado sucessos da faixa das seis e das sete, o autor foi escolhido para escrever o remake de Gabriela (2012), a segunda novela da, até então, nova faixa das onze. Missão novamente cumprida com sucesso. A produção foi um grande acerto e teve boa repercussão. Walcyr imprimiu à esta adaptação suas marcas registradas: diálogos ferinos e espirituosos, frases no imperativo, personagens caricatos em situações engraçadinhas, camas quebradas, tortas na cara, etc. Até um bichinho de estimação arrumou para Gabriela (Juliana Paes). Ao mesmo tempo, Gabriela teve cenas densas, seja pela violência ou pela emoção. O elenco de primeira e a direção primorosa de Mauro Mendonça Filho ajudaram bastante. Uma bela novela, bela de se ver, numa produção requintada.


E eis que, em 2013, Walcyr Carrasco, finalmente, recebeu o premio de escrever uma novela das nove: Amor À Vida, que apresentou o primeiro beijo gay entre homens na história da teledramaturgia. Um sucesso que divide opiniões. Os meses iniciais de Amor À Vida foram movimentados. A atração causou espanto pela direção que imprimiu agilidade na narrativa e pelas tomadas de tirar o fôlego. Mas logo a novela entrou no ritmo normal de um tradicional folhetim do autor, com todas as qualidades, vícios e problemas característicos do novelista. Só não teve torta na cara! Aliás, falando em problemas, é bom lembrar que Walcyr Carrasco possui um grande defeito que incomoda até mesmo em seus maiores sucessos: o texto didático, cujos diálogos são artificiais demais e lembram muito jograis, com muita recitação teatral. E ai de quem não declamar o texto exatamente como está escrito no roteiro! O autor tem a fama de ser vingativo com os atores que colocam "cacos" no seu texto e é totalmente avesso ao improviso. Não é a toa que o seu sobrenome é carrasco, né?


De volta ao horário das onze, Walcyr escreveu a polêmica Verdades Secretas, novela de maior repercussão e audiência do horário, chegando a alcançar 30 pontos em plena madrugada, sucesso absoluto nas redes sociais. Sem dúvidas nenhuma, foi o maior sucesso de 2015, fazendo o público ir dormir mais tarde para acompanhar os nudes e as verdades secretas de personagens amorais em uma ousada história de um homem que se casa com uma mulher apenas para ser amante da filha dela. O submundo da moda serviu como pano de fundo para discutir temas como prostituição de luxo (o chamado book rosa), drogas, bissexualidade e alcoolismo de forma primorosa e chocante.



Depois de dois sucessos seguidos no horário nobre, muitos autores se sentiriam rebaixados se fossem escalados para um horário menos nobre como o das 19h e 18h. O que é uma grande besteira. Autor bom de verdade escreve novela boa em qualquer horário. E Walcyr não se incomoda com isso. Tanto é que, em menos de quatro meses desde o fim de Verdades Secretas, já voltou para o ar com mais uma comédia leve e romântica dos anos 20 aos moldes de O Cravo e a Rosa, Chocolate com Pimenta e Alma GêmeaEta Mundo Bom! já é a maior audiência das seis desde 2010 e, apesar de ainda ter um longo caminho pela frente, ao que indica, será mais um sucesso para a carreira do autor.

A imensa versatilidade de Walcyr Carrasco é incontestável. O autor é o único que transita com maestria por diferentes universos e estilos, seja rurais ou urbanos, comédias ou dramas, de época ou contemporâneas, pesadas ou leves, das 23h ou das 18h, da Globo ou não. Com uma coleção diversificada de sucessos e personagens que caíram na boca do povo, o autor é o verdadeiro coringa da Globo, principalmente em tempos de dificuldades de audiência. Sua capacidade para criar novas histórias, em um curto intervalo de tempo, impressiona muito. Que bom seria se todos os autores fossem assim. Adoraria, por exemplo, ver um João Emanuel Carneiro da vida escrevendo de novo uma novela das sete, um Manoel Carlos novamente no horário das seis, ou um Aguinaldo Silva e uma Glória Perez se aventurando numa novela das onze... Nem sempre a novela das nove é a melhor.

Vida longa ao Walcyr Carrasco!


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