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quarta-feira, 25 de maio de 2016

Os Dez Mandamentos perde sua essência bíblica e vira um tremendo besteirol



Essa semana, finalmente tomei coragem e dediquei (ou perdi) meu tempo assistindo um capítulo inteiro de Os Dez Mandamentos. O que achei? Uma sessão de tortura. Só queria entender como uma desgraça dessas consegue atingir 15 pontos de média no Ibope. Milagre? Duvido muito que seja intervenção divina. Deus tem coisas muito mais importantes com que se preocupar.

Pra começar, a novela já começou toda errada. O momento em que Deus entrega a Moisés as duas tábuas da Lei é o clímax da narrativa bíblica. A Record, porém, disposta a continuar espremendo o sucesso da saga de Moisés até o bagaço, ludibriou os telespectadores ao não exibir a conclusão deste episódio, deixando-o para o primeiro capítulo desta nova fase. Só que esta nova fase não tem nada de "os dez mandamentos" e sim relata o longo êxodo no deserto, que durou 40 anos segundo a Bíblia. Portanto, chamar esta história de Os Dez Mandamentos é um absurdo. Até porque a segunda temporada já começou avançada e não exibiu o momento em que Deus entrega a Moisés as duas tábuas da Lei. Ou seja, o ciclo "os dez mandamentos" não teve uma conclusão (pelo menos, não exibida no ar, só subentendido). Teria sido bem melhor se a novela tivesse terminado com a abertura do Mar Vermelho. Assim, ela fecharia o ciclo no Egito e iniciaria outro nessa nova fase com a luta dos hebreus no deserto para chegarem à Terra Prometida. Mas esperar coerência e planejamento da Record é pedir muito, né?

Mas este é um problema menor diante do malabarismo que Vivian de Oliveira está sendo obrigada a fazer para manter de pé uma novela bíblica sem parecer documentário. Eu nunca morri de amores pela primeira temporada de Os Dez Mandamentos. Gostava sim, até assistia e comentava bastante, mas nunca achei esse novelão todo que muitos dizem. Mais do que em qualquer outra produção bíblica, na primeira temporada, a autora se permitiu total liberdade de criação, seja em relação à linguagem quanto ao texto, e não teve pudor algum em inventar personagens (como a maravilhosa vilã Yunet) e histórias sem qualquer relação com a Bíblia, caprichando no drama, nos romances e amores impossíveis. O que acabou dando um tom rejuvenescedor para uma história já tão contada e conhecida há séculos em várias produções.


Vivian, porém, está pesando a mão no melodrama açucarado. Pelo menos nesse início da nova fase, o que se vê são mulheres hebreias com fogo na periquita de olho nos homens hebreus e vice-versa. Em todo capítulo, a maior parte dos diálogos se limitam a falar de namoros, rejeições, dúvidas sobre intenções amorosas, adultério, virgindade, casamentos, beijos, paquera e disputas amorosas. A azaração e fornicação rola solto. Contanto que não mostrem o ato carnal, os moralistas de plantão vão continuar assistindo e chamando de "a novela da família brasileira".

Esse tipo de assunto tratado na trama bíblica acaba descaracterizando a novela. Se ainda fossem boas histórias, eu até daria um desconto. Mas não. Essas historinhas de amor me dão sono. Enquanto cozinha em banho-maria o final da saga dos hebreus rumo a terra prometida, a Record vai perdendo no meio do caminho o público cativo que a primeira fase de Os Dez Mandamentos cativou com o puro e simples folhetim, porém, regado a muita história da Bíblia.

De resto, Os Dez Mandamentos segue com aquela mesma falta de qualidade de sempre. O elenco é irregular. Com poucas exceções (Hugo Vitor, Leonardo Vieira, Marcela Barrozo, Denise Del Vechio e Larissa Maciel estão ótimos), a grande maioria dos atores deixa (muito) a desejar. O texto da autora continua sofrível. Formal demais, reverencial demais, teatral demais... Quem reclama da lentidão de Velho Chico, está reclamando de barriga cheia, porque as coisas em Os Dez Mandamentos estão bem pior, com uma história que parece se arrastar agonizadamente e capítulos que não provocam nenhuma curiosidade em torno do que irá acontecer no próximo. Isso sem falar no padrão Record de qualidade, né? Os figurinos, adereços e objetos de cena parecem recém-saídos da embalagem. Só falta aparecer a etiqueta com o preço. Fica falso.


Com médias em torno de 13 a 16 pontos, a audiência da novela está razoavelmente boa, mas nem de longe chega perto da explosão de audiência (e repercussão) que foi a primeira temporada. O que só comprova um evidente desinteresse por essa nova saga de Moisés. Não há mais o chamariz dos efeitos especiais das dez pragas do Egito e da abertura do Mar Vermelho para atrair o público. Será apenas a história mesmo a responsável pelo interesse do público, que já está acompanhando a saga dos hebreus pelo deserto até chegarem a Canaã (o que dará início a próxima novela, A Terra Prometida, que virá na sequência). O episódio mais "emocionante" dessa vez anunciado pela Record nas campanhas publicitárias que tem feito é o momento em que a terra "se abrir e engolir" o vilão Corá e seus asseclas por afrontarem as ordens de Deus. Como a primeira temporada só decolou pra valer com o início das pragas, será que vai ser só a partir desse momento que a segunda temporada explodirá também no Ibope? É esperar pra ver.

Uma pena que uma história considerada sagrada, tenha dado lugar a tramas desinteressantes e sem noção. Que fique bem claro: adaptar uma história bíblica para novela criando novas histórias e personagens é uma coisa; agora, exagerar no melodrama e fazer perder seu contexto bíblico, é outra coisa totalmente inadmissível. Os Dez Mandamentos virou um tremendo besteirol.

Não se esqueça de visitar a nossa fan page para assistir A Favorita, que está sendo exibida de segunda à sábado, sempre ao meio dia. Clique na foto para ver os capítulos.


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