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sábado, 16 de janeiro de 2016

O Melhor e o Pior de 'Além do Tempo'


Quem acompanha o Eu Critico Tu Criticas na nossa fan page há algum tempo, sabe do meu imenso amor por Sete Vidas. Que novela maravilhosa! Dramaturgia da mais altíssima qualidade, com seu texto tão real, sensível e emocionante e seus personagens que tinham alma, tinham vida e nos faziam querer mergulhar mais e mais naquele enredo tão bem elaborado. E quando Sete Vidas chegou ao fim, criei, automaticamente, uma birra imensa com a sua sucessora, Além do Tempo. E não era só porque tinha ficado órfão da poesia diária de Sete Vidas, mas também por outros dois motivos: 1 - nunca fui lá muito fã de novelas espíritas; 2 - focada nos diálogos e sem vilões e mocinhos, a trama de Lícia Manzo fugia aos clichês normais do folhetim, enquanto a da Elizabeth Jhin seria aquele melodrama tradicional. Só fiquei mesmo animado com Além do Tempo assim que soube que ela teria a tão falada — e temida — mudança de fase. Então decidi deixar o orgulho de lado e acompanhei a trama das seis à espera do salto centenário. E não é que acabei me apaixonando pela história?


Apesar da aposta ousada da autora, a primeira fase da novela foi um verdadeiro "arroz com feijão". Sua história principal era o que há de mais clichê em toda a teledramaturgia mundial: um casal que se apaixona à primeira vista e que terá que enfrentar vários percalços, armações, intrigas, separações e vai-e-vem para viverem felizes para sempre no final. Nada além do que já vimos antes em outras novelas, seriados, filmes, contos de fadas, enfim... A novela usou e abusou dos mais variados clichês sem o menor pudor, com mocinhos (bons e sofredores) e vilões (cruéis) bem definidos, amores impossíveis, desencontros amorosos, ódio entre famílias, vinganças e mistérios, mas os utilizava com competência. E, apesar da narrativa um pouco mais lenta, Além do Tempo foi capaz de prender o telespectador. Fora o capricho e a beleza do material que se via no ar, havia muitos conflitos que geravam ótimos ganchos e desdobramentos e não deixavam a história chata nunca. Era um novelão!

Tudo funcionou tão bem na primeira fase que, se antes eu estava animado para o salto centenário, esse passou a ser o meu grande medo: será que a segunda fase seria tão boa quanto a primeira? Será que o clima dos dias atuais iria me fascinar tanto como o clima de época? Será que uma novela com uma temática tão clichê e folhetinesca se passando em 2015 não se tornaria enfadonha?


Elizabeth Jhin inovou ao mostrar "duas novelas em uma". Ela deixou de lado aquele velho recurso de uma primeira fase curta e outra longa para produzir praticamente a mesma quantidade de capítulos para as duas. A primeira parte, que se passava no século XIX, teve começo, meio e fim para dar lugar a um recomeço, com os mesmos atores vivendo os mesmos papéis nos dias atuais. Enquanto os personagens tentavam entender de onde vinham os sentimentos, dores e amores dessa vida, o público sabia exatamente o motivo de tantos traumas e tormentos. A estranha dor de Melissa (Paolla Oliveira), o medo que Lívia (Alinne Moraes) sentia de cachoeira e os pesadelos de Alex (Kadu Schons) remetiam à morte trágica da vilã e dos mocinhos dois séculos atrás, a "alergia" de Massimo (Luis Mello) ao casamento vinha da experiência conturbada com sua louca família do passado, assim como o fato de Roberto (Rômulo Estrela) querer ter o filho de Anita (Letícia Persiles) que rejeitou na vida passada. Isso sem falar dos romances e reencontros inexplicáveis (para eles, não para nós, telespectadores fiéis). Teoricamente, tudo parecia perfeito. Mas, na prática, acabou não dando tão certo assim.


A segunda fase da novela teve uma queda brusca de ritmo. Particularmente, não chegou a ser um grande problema, afinal, a primeira fase também não foi tão ágil assim. A grande diferença é que a trama das seis teve uma reta final no meio. Foram muitos acontecimentos, revelações e cenas épicas, o que geralmente só acontece no fim. Além do Tempo vinha num ritmo alucinante e os primeiros capítulos no século XXI, cheios de novidade, foram atípicos, já que início de novela tem um pegada mais calma. A grande questão é que a história ficou parecendo "mais do mesmo" no século XXI. Ainda que os personagens carregassem algumas características e "contas a acertar" das vidas passadas e estivessem remanejados em outras posições (sociais e familiares), ficou tudo previsível e igual demais, sem grandes novidades. Nesse ponto, Elizabeth Jhin poderia ter ousado mais. Seria interessante, por exemplo, se ela tivesse deixado o público dividido entre duas "mocinhas" (Lívia e Melissa) disputando de igual para igual o amor de Felipe (Rafael Cardoso) ou tivesse transformado a Lívia na vilã da vez.

Outra questão que me incomodou bastante foi o tom didático que a trama ganhou para explicar ao telespectador o sentido da reencarnação dos personagens através das conversas entre o Anjo Ariel (Michel Melamed), seu colega Cícero (Saulo Arcoverde) e o Mestre dos Magos? (Othon Bastos), que seguiram observando e interferindo na vida dos personagens. Isso sem falar nos excessivos flashbacks intercalando a maioria das cenas a fim de explicar (exaustivamente!) as relações passadas. Se vimos uma primeira fase que atravessou meia novela, não era necessária tanta repetição, né?


Lívia foi uma mocinha muito bem construída pela autora. Embora tenha sido a típica heroína folhetinesca, ela chorou menos do que poderia, não era uma passiva idiotizada e acabou ganhando a nossa torcida. O casal Livipe esbanjava química. Alinne Moraes soube aproveitar todos os dilemas da sua mocinha para mostrar todo o seu talento e Rafael Cardoso evoluiu muito como ator, dando conta do recado. No entanto, os conflitos entre os mocinhos nos dias atuais não empolgaram tanto quanto na outra vida. Se no passado os dois estavam às voltas com conflitos familiares, contestação de vocação religiosa e segredos não revelados, desta vez, seus percalços eram somente a presença dos antagonistas, Pedro (Emílio Dantas, que construiu com perfeição um vilão psicopata e foi expondo seu lado sombrio e doentio gradativamente) e Melissa (Paolla Oliveira, que abusou do gestual largo, das caras e bocas e voz alterada, mas ainda assim transformou a vilã numa personagem real e crível).

A grande sacada que valeu por toda a segunda fase foi o acerto de contas entre Emília (Ana Beatriz Nogueira) e Vitória (Irene Ravache). No primeiro ato, Vitória era a vilã poderosíssima que impediu o romance entre seu filho Bernardo (Felipe Camargo) com a humilde Emília. A Condessa nutria um ódio profundo pela nora e armou poucas e boas para se livrar dela. Anos depois, as duas reencarnam como mãe e filha. A rivalidade permanece, porém, as posições foram trocadas: Emília agora é rica e usou do dinheiro para passar por cima de quem quer que fosse e foi a vilã da vez, planejando artimanhas para se vingar da mãe, pois acreditava que ela a abandonou no passado quando era criança. É que Alberto (Juca de Oliveira), pai de Emília, criou a filha estimulando um ódio profundo por Vitória e criou uma mentira terrível para se vingar da ex-esposa por tê-lo abandonado. Essa foi a trama mais forte e empolgante da segunda fase. O trio Irene-Ana-Juca foram levados a demonstração extrema de emoção e presentearam o público diariamente com cenas épicas e dilaceradoras. Irene, sem dúvida nenhuma, foi a dona da novela. Quando a história se passava no século XIX, ela conseguiu expor com maestria todo o ódio de uma vilã fria, arrogante e cruel, assim como teve uma habilidade incrível para exibir um lado mais frágil e carente dessa dura mulher, fazendo com que o público nutrisse certo carinho por ela. Agora, na segunda fase, Irene, mais uma vez, conseguiu provocar a piedade e a torcida do público e soube, sem perder a essência da personagem, dar uma outra cara à megera nos dias atuais.


Pena que alguns personagens tenham perdido espaço nessa nova fase, como foi o caso de Zilda, que virou quase uma figurante de luxo. E olha que Nívea Maria tinha brilhado em cada sequência quando Zilda ainda era aquela rancorosa governanta espezinhada constantemente pela Condessa, formando uma bela dupla com a Irene. Luís (Carlos Vereza), que era padre na primeira fase e tinha certa importância, virou um prefeito passivo na segunda. O paizão Massimo (Luís Mello), a deslumbrada Salomé (Inês Peixoto), a desengonçada Bianca (Flora Diegues) e a espevitada Felícia (Mel Maia) formavam o melhor núcleo cômico das novelas nos últimos tempos, mas, na segunda fase, a Família Pasqualino virou um porre. Em contrapartida, Dani Barros nadou contra a corrente e foi uma que cresceu bastante. Ela passou para o núcleo principal e batia de frente com Melissa em grandes sequências. Assim como Dorotéia, que roubou a cena e divertia com suas ótimas tiradas.

Também merece elogios a direção competente de Rogério Gomes, que entendeu perfeitamente a ideia da autora e sempre exibiu belíssimas sequências de encher os olhos e tirar o fôlego. Gostei muito da maneira como os capítulos terminavam, com diálogos importantes da fase anterior num fundo musical arrepiante. Emocionante! Sacada de gênio de quem teve essa ideia!

Final de "Além do Tempo" teve redenção de vilã, mocinhos juntos e mensagem de Chico Xavier Fábio Rocha / GShow, divulgação/GShow, divulgação

A boa notícia é que, desta vez, os personagens do bem tiveram seus merecidos finais felizes, os casais que se desencontraram em outras vidas ficaram juntos para sempre e os vilões, cujos erros se repetiram, tiveram o castigo que mereceram, enquanto aqueles que aprenderam com os erros da vida passada tiveram a chance de mudar. A má notícia é que essa história, agora sim, teve um desfecho, já que não haverá uma terceira fase. Mas os ensinamentos dos últimos meses ficarão marcados nos telespectadores muito além do tempo. E quando uma novela é tão boa e nos prende do primeiro ao último capítulo, fica um sentimento de "luto" quando a história chega ao fim. Vai ser difícil desapegar, mas valeu a pena mergulhar nessa história nos últimos meses. Que venha as tortadas de Walcyr!


Minha nota é 8. E vocês? Que nota dão para Além do Tempo?



Um comentário:

  1. Nunca fui de ver novela (na verdade só assisti na minha infância), mas em tempo de quarentena resolvi assistir além do tempo, por indicação de um amigo, e confesso que fiquei apaixonado. Não consegui parar de ver, de repente de vi torcendo, rindo e chorando a cada capítulo... com atuações fantásticas da grande atriz Irene Ravache e praticamente de quase todo o elenco essa novela entrou no meu coração. Recomendo a todos que vejam essa grande novela.

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