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segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

A Regra do Jogo: a novela certa no momento errado


A Record estreou Os Dez Mandamentos uma semana após a Globo lançar Babilônia, que foi massacrada pelo grande público e fez a audiência do horário nobre despencar mais que os índices de aceitação do governo Dilma. Parte desse público que desaprovou a trama de Babilônia endossou a história bíblica da concorrente. As duas não chegaram a concorrerem no horário, mas se enfrentavam por alguns minutos. Com isso, a Globo antecipou o fim de Babilônia para tentar correr atrás do prejuízo e apostou todas as fichas em A Regra do Jogo, do mesmo autor de Avenida Brasil, como bem fez questão de avisar nas chamadas. Entretanto, a Globo ficou tão desesperada em se livrar logo de Babilônia que acabou sendo afetada pela décima praga do Egito: a falta de planejamento.


Sempre que uma novela começa, ou ela pega de cara ou precisa de um tempo para o telespectador comprar a nova história. Entretanto, estrear uma novela no mesmo momento e, praticamente, no mesmo horário em que o sucesso da concorrente está no auge é um tiro no pé. E foi isso que a Globo fez. A Regra do Jogo estreou  no mesmo dia em que a Record, devido aos bons números que sua trama vinha obtendo, reservou a melhor parte da história bíblica, a que chamaria mais a atenção do público para enfrentar a novidade global: as dez pragas do Egito. Não deu outra: Os Dez Mandamentos ditou as regras do jogo e deu um xeque-mate na audiência da Toda Poderosa. Será que a Globo foi tão ingênua de achar que A Regra do Jogo bombaria já no início só por ser do mesmo autor que o fenômeno Avenida Brasil, mesmo depois de Babilônia ter feito um estrago estrondoso no horário das nove por cinco meses? Pior: será que a Globo foi tão prepotente a ponto de subestimar a Record e estrear uma nova produção no momento em que a concorrente estava bem munida para detê-la?


Ao meu ver, qualquer novela que estreasse no lugar de Babilônia iria perder para Os Dez Mandamentos. Ninguém iria largar a história bíblica da Record em seu melhor momento para acompanhar qualquer novidade global que fosse, mesmo sendo do mesmo autor de Avenida Brasil, de Vale Tudo, de Senhora do Destino, de Roque Santeiro ou de qualquer outro fenômeno. Tanto é que a audiência de A Regra do Jogo só veio melhorar após o fim da saga de Moisés (Guilherme Winter), alcançando números acima dos 30 pontos (considerado o aceitável, no mínimo) e já aumentando a média geral do horário nobre em um ponto (até o momento) desde os 25 de média de Babilônia.

Aliás, as duas possuem algo em comum: são ambientadas em uma favela. A novela anterior se passava no morro da Babilônia, que existe de verdade. Já a atual tem parte de suas ações no fictício e colorido Morro da Macaca. Entretanto, a fórmula exaltada até pouco tempo não tem dado mais certo. O recente grupo de discussão feito de A Regra do Jogo apontou que o público reprova a favela na trama. Com razão, né? E olha que eu não concordo muito com os resultados dos grupos de discussão promovidos pela Globo, hein... Será que ninguém da Globo se tocou que colocar dois folhetins com a mesma temática na sequência iria acabar desgastando o público? Só pra ficar em um exemplo: em A Regra do Jogo, aconteceu o truque de um menor de idade plantar drogas na mochila do mocinho a mando do rival do mocinho só para incriminá-lo (com Bola/Pedro Maya e Juliano/Cauã Reymond), tal como em Babilônia (com Wolnei/Peter Brandão e Regina/Camila Pitanga). Foi um grande erro exibir essas duas novelas juntas. No lugar da trama de João Emanuel Carneiro, poderia estar no ar Velho Chico, por exemplo, para quebrar essa tendência, pois a emissora ainda tinha no ar I Love Paraisópolis, outra trama que glamourizou demais uma comunidade com personagens e situações inverossímeis. 


A Regra do Jogo também implicou em outra overdose: o excesso de realidade. Ninguém aguenta mais ver nas manchetes dos jornais e no noticiário de TV corrupção, tiroteio, mortes violentas, bandidos de colarinho branco, tráfico de drogas, políticos falcatruando com empreiteiras e se saindo limpos, o dinheiro comprando o silêncio, enfim. Mal acabava o Jornal Nacional e, quando o público ia relaxar e tentar fugir dos problemas do dia a dia por uma hora, lá veio outra vez na telinha derramamento de sangue, o morro, tiroteio, chantagens, corrução, mortes violentas, facção criminosa... A Regra do Jogo não é uma novela fácil e prioriza a ação policial ao invés do romance com uma trama complexa. Não era a história certa para este momento de desencanto da população com a situação do nosso país.

A Band já percebeu o deslize global e apostou em sonho de verdade trazendo da Turquia a trama Mil e Uma Noites; a Record reviveu com sucesso Os Dez Mandamentos e continuará apostando na religiosidade em suas futuras produções, do jeitinho que a família brasileira gosta; e o SBT elevou até uma novela infantil, Carrossel, ao horário nobre. Até porque as outras produções de outros horários da Globo (Totalmente Demais e Além do Tempo) também estão apostando nesse "escapismo" da realidade. Pensando nisso, a emissora resolveu adiar a trama de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, que sucederia A Regra do Jogo, para o final de 2016, por ser mais uma trama contemporânea cheia de violência e criminalidade sobre a política. Assim, começou a busca por uma história menos polêmica para o início do ano. E quem venceu foi Velho Chico, novela de Benedito Ruy Barbosa com temática rural sobre a transposição do Rio São Francisco. As questões políticas estarão presentes, é claro, mas de forma mais sutil, dando espaço para as paisagens, disputas familiares e romancZZzzZz.


Acompanho audiência de novelas faz uns bons anos e uma das coisas que era sempre fato era que os capítulos de sábado tinham sempre muito menos audiência que os outros da semana. Por esse motivo, os autores concentram as histórias principais durante a semana e o sábado ficava ruinzinho mesmo, continuando o ciclo vicioso. João Emanuel Carneiro, entretanto, parece não estar nem aí para isso. A Regra do Jogo já nos apresentou vários capítulos maravilhosos no sábado: a revelação de que Zé Maria (Tony Ramos) era bandido (com direito a cenas de flashback dele metralhando todo mundo no ônibus naquele fatídico "Massacre da Seropédica"), o assassinato de Djanira (Cassia Kiss), o surgimento de Kiki (Debora Evelyn)... Mas porque deixar capítulos tão emblemáticos como esses para serem apresentados no sábado, dia em que, tradicionalmente, a audiência é menor? Isso não chega a ser novidade para quem acompanha as tramas do JEC. Quem não se lembra que a Nina (Débora Falabella) foi enterrada pela Carminha (Adriana Esteves) nesse maravilhoso dia da semana? Só que no caso, Avenida Brasil era um sucesso. Já A Regra do Jogo vem passando por problemas de audiência. De qualquer forma, reservar um momento tão importante dentro da trama para um sábado pode indicar bala na agulha para mais fortes emoções na próxima semana. Mas a Globo deveria remanejar melhor as exibições dos capítulos. Segunda-feira, por exemplo, é o dia em que, geralmente, o Ibope é maior.


E como tudo que é ruim sempre dá pra piorar, adivinhem quando o capítulo 100 de A Regra do Jogo será exibido? No dia 24 de dezembro! Isso mesmo... Em plena véspera de natal (dia que a audiência da TV brasileira em geral sempre despenca)! Todos nós sabemos que o JEC adorar guardar algo surpreendente para os centésimos capítulos de suas novelas, que é quando ocorrem uma grande reviravolta... Menos para A Regra do Jogo, cuja reviravolta (a revelação da identidade do Pai da facção) aconteceu uma semana antes do centésimo ir ao ar porque iria cair no mesmo dia em que  nos fartamos de comer peru (olha a maledicência!), esperamos o Papai Noel e tentamos fugir de perguntas do tipo "E as namoradinhas?" daquela tia chata. Que puta azar, hein JEC! Como diria a Kátia...



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